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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Os Camelis e os Vianas

Se a vida costuma, vez por outra, nos aprontar surpresas que nos faz acreditar no chamado destino, a política também tem das suas. E esta eleição no Acre representa bem isso. A disputa pelos votos voltou a colocar em colisão duas das principais famílias políticas do Estado: os Camelis e os Vianas. Esta rivalidade já dura 20 anos, com cada lado lutando para mostrar quem dos dois tem mais força; uma queda de braço bastante interessante.

A vitória do jovem Gladson Cameli (PP) para o Senado recoloca um membro dessa influente família do Vale do Juruá nos caminhos dos irmãos petistas Jorge e Tião Viana. A relação destes grupos é quase de amor e ódio. Enquanto serviam aos interesses do Vianismo, os Camelis representavam o que havia de melhor na face da terra. Quando algo foi contrariado, não ficou pedra sobre pedra nas ladeiras de Cruzeiro do Sul.

O primeiro encontro ocorreu na eleição de 1994. Na disputa pelo governo estavam Orleir Cameli (tio de Gladson), Flaviano Melo (PMDB) e Tião Viana (PT). À época o petismo era uma terceira via em fase de crescimento, mas sem forças para enfrentar estas outras duas correntes tradicionais.

Ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, Orleir foi eleito. O seu principal pecado foi ter na oposição um PT com seu estilo agressivo. Visto como um político de pouca liderança e com seu governo envolvido em várias denúncias de corrupção, Orleir enfrentava dificuldades na condução do governo. Tinha a oposição petista e de parte peemedebista.

Foi graças à fragilidade e a impopularidade do governo que o petismo surgia como a salvação para o Acre, após duas décadas de insucesso de governos da direita. Um Acre arruinado por 20 anos de desordem institucional possibilitou ao jovem Jorge Viana ganhar as eleições de 1998. Desde então 20 anos se completarão de PT no poder.

E estas duas décadas os petistas precisam agradecer aos Camelis. Primeiro pelo fato de o governo de Orleir ter contribuído de forma indireta por conta dos desgastes. (Uns dizem até que, estivesse Orleir disposto a ir para a reeleição em 98, certamente seria vitorioso).

Em segundo lugar, para manter sua hegemonia no Acre, o PT precisou fazer aliança com os mesmos Camelis tanto tempo demonizados por eles. O apoio da família era essencial para assegurar a manutenção do partido no Palácio Rio Branco com os votos do Juruá, região que até bem pouco tempo era anti-PT. A aliança foi selada com a indicação do primo de Orleir, César Messias, para ser o vice do sucessor de Jorge, Binho Marques (PT).

Messias permaneceu como vice de Tião Viana. Com o Juruá menos refratário, o PT “dispensou” o apoio dos Camelis neste pleito. Na verdade se viu obrigado a dispensar pelo rompimento do herdeiro político da família, Gladson, com a Frente Popular e sua ida para a oposição.

Do ponto de vista político as duas famílias estão rompidas desde 2010, mas restaram alguns acordos econômicos. (O pai de Gladson, contudo, optou por não ter mais nenhum contrato).

As eleições de 2014 ainda nem tinham se encerrado e Gladson já era apontado como o candidato da oposição para o governo em 2018. Ele é visto como o único capaz de por fim ao ciclo dos Vianas no governo. Seu carisma foi o suficiente para derrotar a poderosa máquina em torno da candidatura de Perpétua Almeida (PCdoB), que com todas as ofensivas não evitou a derrota massacrante.

Gladson Cameli terá os próximos anos para se consolidar como uma das grandes lideranças por meio de seu mandato no Senado, o espelho que refletirá seu preparo para subir ou não as escadarias do Palácio Rio Branco.

Se tudo caminhar como o “desenhado” pelo destino, caberá a um Cameli derrotar o petismo no Acre, depois deste ter sido vencedor em cima da desconstrução de um Cameli, isso dezesseis anos atrás.

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