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sábado, 20 de outubro de 2018

Amazônia à direita

Encerrada a votação do último dia 7 de outubro e a aproximação do fim do segundo turno, que como apontam todas as pesquisas divulgadas até aqui, consagrará a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) para a Presidência da República, a luz vermelha sobre a sobrevivência da Floresta Amazônica nos próximos anos já está acesa.

O discurso antiambiental do capitão do Exército é reforçado pelos governadores eleitos ou dos candidatos que ainda estão na busca de votos dos eleitores no Norte do país. A grande maioria teve como discurso o desenvolvimento econômico a partir de bases que, se não aplicadas com critérios de sustentabilidade, tendem a causar grandes danos à maior floresta tropical do mundo.

Aqui pelo Acre, por exemplo, o governador eleito Gladson Cameli (PP) teve como uma de suas principais bandeiras de campanha fortalecer o agronegócio, sendo a plantação de soja vista como a grande redentora da economia acreana. O mesmo discurso foi adotado pelo candidato do PT, Marcus Alexandre, que tinha em seu plano de governo até afrouxar as regras de licenciamento ambiental para ganhar o apoio do setor rural.

A postura ambiental dos próximos governos regionais na Amazônia Legal vai depender, sobretudo, da adotada por quem estiver na cadeira de presidente do Brasil. Bolsonaro já deu declarações claras de que em uma eventual gestão sua, a política ambiental será desmantelada.

Sua principal proposta para o setor é acabar com o Ministério do Meio Ambiente, transformando-o numa espécie de secretaria subordinada ao Ministério da Agricultura - seria como entregar o galinheiro aos cuidados da raposa. O candidato do PSL é apoiado em massa pela bancada ruralista no Congresso Nacional, que a todo momento se articula para fragilizar e até acabar com a legislação ambiental brasileira.

Bolsonaro também já disse que vai retirar o Brasil do Acordo de Paris, o mais importante instrumento mundial de redução nas emissões dos gases de efeito estufa, e que contribuem para as mudanças climáticas por que passamos. Um dos principais compromissos do Brasil é justamente reduzir (e até zerar) o desmatamento da Amazônia. Com um governo Bolsonaro, todas as políticas de enfrentamento à derrubada da floresta tendem a ser extintas;.

O presidenciável é contra as terras indígenas e as unidades de conservação, principais ferramentas de contenção ao avanço do desmatamento na Amazônia. Segundo ele, as terras indígenas são um país dentro de outro país - logo ele que presta continência à bandeira norte-americana e deixa em dúvida até que ponto manterá a soberania nacional.

No Acre a dúvida é pertinente. Após 20 anos de governos petistas e sua política da florestania, o setor ambiental está em alerta com a chegada de Gladson Cameli ao Palácio Rio Branco. É lógico que o ideal de desenvolvimento sustentável de base florestal colocada em prática por Jorge Viana entre 1999 e 2010 não foi a nossa grande salvação; problemas ocorreram e o governo de seu irmão, Tião Viana, decidiu abandoná-la.

Contudo, grandes avanços também foram obtidos neste período. Foi mantida de pé 86% de nossa cobertura florestal amazônica. Temos a maior biodiversidade do planeta no Vale do Juruá. Temos um grande número de famílias ribeirinhas, extrativistas e indígenas que dependem da floresta em pé. O Acre avançou em sua política de captação de recursos a partir do mercado de carbono - segmento que ainda patina no mundo todo.

Temos nosso programa de pagamento por serviços ambientais. A nossa floresta não pode ser vista como um entrave, mas uma aliada ao desenvolvimento econômico; ela é um grande ativo econômico.

Ao contrário do discurso radical de Jair Bolsonaro, o senador Gladson Cameli adota uma postura mais comedida quando trata da questão ambiental. Disse que investiria no agronegócio, mas sem a necessidade de destruir novas áreas de mata, respeitando as regras do Código Florestal. Já é um bom sinal diante de tanto radicalismo contra a pauta ambiental acreana espalhado por seus aliados, como o senador eleito Márcio Bittar (MDB).

Manter a Floresta Amazônica em pé não é um discurso da elite intelectual - é uma questão de sobrevivência não só nossa, mas de todo o planeta. A Amazônia é responsável por regular o regime de chuvas em todo o país e manter o equilíbrio do clima no mundo.

Às pessoas que vivem dentro dela deve-se levar uma política econômica diferenciada, valorizando e garantindo valor de mercado aos produtos de origem florestal - madeireiros e não-madeireiros. Temos várias iniciativas espalhadas por toda a região que mostram ser possível conciliar crescimento econômico com respeito à floresta.

Que o radicalismo do futuro presidente do Brasil não coloque em risco a manutenção deste e dos outros biomas do país, e das populações que neles vivem.