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segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Chico, a reserva e o boi

Aos 25 anos, reserva Chico Mendes já perdeu 7% de sua cobertura florestal 


FABIO PONTES

Expansão da pecuária ainda é grande desafio da Resex Chico Mendes
Idealizada por Chico Mendes para ser uma das principais frentes de resistência ante o avanço da pecuária na Amazônia durante as décadas de 1970 e 1980, a reserva extrativista que leva o nome do líder seringueiro, assassinado em dezembro de 1988 pelo filho de um fazendeiro, continua sob forte pressão do gado passados 25 anos desde o decreto de sua criação, e já perdeu 7% da cobertura florestal de seus quase um milhão de hectares.

De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), a a Reserva Extrativista Chico Mendes está a 30 mil hectares de atingir o limite máximo de desmatamento estabelecido há duas décadas em seu plano de manejo.  Dos 97 mil hectares previstos para sofrerem impactos com o desmatamento, 67.900 já não são mais floresta..

E é no entorno de Xapuri (AC), a terra de Chico Mendes, onde a reserva tem sido mais impactada pela atividade pecuária. Além do boi, a ocupação irregular de terra e o desmatamento ilegal colocam em risco a preservação de uma das últimas áreas de floresta na região leste do Acre.

Já em Capixaba, cidade vizinha a Xapuri, o plantio da cana-de-açúcar vem ganhando território graças a uma usina de álcool que tem o governo do Acre como um dos principais investidores.

Ao todo, a reserva tem 970.537 hectares espalhados por sete municípios acrianos (Xapuri, Brasileia, Assis Brasil, Capixaba, Epitaciolândia, Rio Branco e Sena Madureira).

“E a pecuária é a principal responsável por alimentar este desmate”, diz Silvana Souza, chefe da Reserva Extrativista Chico Mendes. O último censo realizado pelo ICMBio na reserva, de 2009, estimava a existência de 21 mil cabeças de bois.

Além da criação própria dos moradores, ainda há o chamado “gado de meia”, que é quando grandes fazendeiros arrendam pastagens dentro da unidade, deixando metade ou uma parte menor das cabeças levadas para a reserva como forma de pagamento aos seringueiros pelo uso do pasto.  

De acordo com Silvana Souza não há um limite máximo para a criação de bois nas propriedades. Segundo ela, a fiscalização do instituto se dá no tamanho da área de cada propriedade; se ocorrer desmatamento para se ampliar a pastagem o morador está sujeito a sofrer algum tipo de punição.    

O ICMbio considera como moradores legais as famílias cadastradas no levantamento de 2009; de lá para cá, quem passou a morar na unidade é classificado como “posseiro”. O instituto estima que há hoje 2.000 famílias morando dentro da unidade.

Boi x Extrativismo 

Dionísio, o Daú, presidente da Cooperfloresta
O lucro rápido e alto do boi é o que leva os moradores a investirem mais na pecuária do que em atividades extrativistas, como a coleta da castanha, o cultivo do açaí ou a extração do látex.

Apesar de investimentos terem sido realizados pelo governo do Acre nos últimos anos para garantir competividade ao extrativismo, este segmento ainda não se tem mostrado atrativo para quem vive dentro da reserva abandonar o boi.

Sebastião Pereira, 56, morador da reserva há 40 anos, tem na extração do látex e na coleta da castanha um complemento para sua criação de gado. Ele afirma ter 25 cabeças em sua propriedade de 700 hectares, divididos entre a pastagem e a floresta intacta. Por ano o lucro com o boi chega a R$ 6 mil; já com o extrativismo a renda é de R$ 2 mil.

“Se não fosse o boi nossa situação estaria bem pior do que já está”, diz Pereira observando os tratores que trabalham na melhoria das condiçõeso da estrada de barro (chamadas na região de ramal) que passa bem em frente sua casa.

O ramal vem sendo recuperado para oferecer condições de tráfego aos caminhões das toras retiradas do primeiro plano de manejo madeireiro da reserva Chico Mendes. Executado pela Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta), o manejo está autorizado a explorar uma área de 917 hectares e retirar quase 13 mil metros cúbicos de madeira.

As duas associações de moradores (Rio Branco e Simitumba) das comunidades onde está autorizada a extração da madeira são as detentoras do manejo.

O manjo madeireiro é uma das apostas dos responsáveis pela reserva para tentar amenizar a pressão da pecuária, o desmatamento ilegal e incentivar as famílias a investirem no extrativismo. “O ICMbio tem muita expectativa [com o manejo[ porque a ideia é que a gente traga quem está ilegal para a atividade legal”, comenta Silvana.

Com a primeira retirada de madeira manejada de sua área este ano, Sebastião Pereira –o mesmo que apontou o boi como sua redenção econômica – obteve R$ 7,5 mil de lucro; R$ 1,5 mil a mais do que com o gado.

Já o agricultor Francisco Maurício Rios, 66, prefere apostar mais no roçado do que na pastagem. Em sua propriedade de 400 hectares divididos com outros dois irmãos ele planta mandioca, banana e milho.

O novo investimento dele são as seringueiras de cultivo. O látex extraído delas será vendido para a fábrica de preservativos mantida pelo governo estadual em Xapuri. Ao lado de sua casa está a esplanada, área onde são colocadas as toras retiradas do manejo comunitário.

“Tirei pouca coisa, não investi muito. É uma atividade nova para nós”, diz Rios. Ele não lembra quantos metros cúbicos extraiu, apenas o seu lucro: R$ 1,4 mil.    

A Cooperfloresta tem toda a sua madeira certificada pelo selo FSC, que assegura a adoção de práticas sustentáveis e de redução dos impactos ambientais no processo de extração da madeira. A certificação garante mais valor na hora de comercializar a produção.

“Nosso maior problema é a concorrência do desmatamento ilegal dentro da própria reserva. Queremos mostrar ao seringueiro que a madeira manejada é bem mais lucrativa e que pode ser uma fonte segura de renda”, diz Dionísio Barbosa de Aquino, o Daú, presidente da cooperativa.


Trator recupera "ramal" por onde passa toras retiradas de manejo
Amigo de Chico Mendes, Daú esteve ao lado do ex-seringueiro nos principais movimentos de resistência à entrada da pecuária na floresta, conhecidos como “empates” –correntes humanas colocadas em frente a máquinas e jagunços contratados pelos fazendeiros para abrirem pastos.

Se no passado ele formou os “empates”, este ano Dáu e sua cooperativa enfrentaram embates em torno da manejo madeireiro na reserva. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri –berço da militância política de Chico Mendes – apresentou ao Ministério Público Federal denúncias relatando danos ambientais no processo de extração da madeira, e o pagamento de valores baixos aos seringueiros pelo metro cúbico da madeira.

A Cooperfloresta nega irregularidades, dizendo que o valor repassado a seus cooperados está acima do praticado pelo mercado comum. Sobre os impactos na floresta, a cooperativa afirma que segue todas as normas de boas práticas do manejo sustentável, e que nenhuma de suas operações é realizada sem a devida comunicação ao ICMbio.



ENTREVISTA 

Primo de Chico Mendes defende pecuária de subsistência e diz que manejo madeireiro tem menos impactos que boi 

Raimundo Mendes, o Raimundão, primo de Chico Mendes
Braço direito de Chico Mendes nos principais movimentos de resistência à entrada da pecuária no Acre entre as décadas de 1970 e 1980m Raimundo Mendes, 71, primo do líder seringueiro, defende a criação de pequena quantidade de boi entre os moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes. Ele afirma ser contra, porém, a transformação dos extrativistas em médios ou grandes criadores de gado.

“Todo seringueiro tem o direito a ter suas cabeças de gado, não para ser um médio ou grande criador. Ele pode ter suas 10, 15 cabeças, e isso está autorizado” afirma ele.

Raimundão, como é chamado por conta de seus mais de 1,80 m, ainda vive do extrativismo no Seringal Floresta, em Xapuri. Além do látex e da castanha, desde o ano passado passou a ser manejador madeireiro comunitário.

Apesar de críticas terem sido realizadas pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri ao manejo madeireiro dentro da reserva –onde militou ao lado de Chico na década de 1980 – ele diz que o manejo, se bem praticado, causa bem menos impactos ambientais que a pecuária.

Raimundão concedeu a seguinte entrevista ao blog em sua passagem por Rio Branco após ter participado, no final de outubro, do Terceiro Chamado da Floresta, organizado em Santarém (PA) pelo Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS).
 
Como o senhor avalia a importância da Reserva Extrativista Chico Mendes nestes 25 anos? O que ela representou para o movimento seringueiro que lutou pela criação de uma unidade de conservação como esta?  

Raimundão: A nossa reserva foi fruto de uma luta muito grande. Ela tem sido um objeto de sossego para nós, seringueiros. Hoje nós não temos mais a presença do latifundiário. Hoje nós temos a presença do Estado, o que não existia antes. Eu nasci e me criei no seringal e sei bem disso. Nós não tínhamos o Estado levando para dentro da floresta aquilo que era nosso direito, como saúde e escola para nossos filhos. Isso só foi possível a partir de muita luta, tendo como liderança maior o companheiro Chico. A reserva nos trouxe tranquilidade. Os nossos produtos, principalmente na nossa região [Xapuri] tem valor. Nossa borracha tem valor graças à criação da fábrica de preservativo. Antes da fábrica vendíamos a borracha a R$ 0,60, quando muito R$ 1; agora recebemos R$ 8. A castanha saia por R$ 2 ou R$ 3 [a lata], hoje pagam mais de R$ 30. Hoje o Estado constrói ramais quando antes só se chegava ou saia da floresta por varadouros, e a energia elétrica está chegando.

Mas apesar desta valorização dos produtos da floresta citados pelo senhor a pecuária ainda continua sendo a principal fonte de renda para os moradores da reserva. Como o senhor avalia este conflito entre extrativismo e pecuária? 

Alguns seringueiros não percebem o valor e a importância que devemos ter com nossa reservam e se enganam vendendo suas áreas por R$ 30 mil, achando que terão uma vida melhor na cidade. Como os fazendeiros já não têm mais para onde expandir suas pastagens, eles procuram os seringueiros para colocarem seus bois dentro da reserva e muitos acabam aceitando pois parte daquelas cabeças será deles como acordo.

Como o senhor avalia a entrada do manejo madeireiro dentro da unidade como uma nova alternativa econômica para os seringueiros? O senhor acha que o manejo tem condições de se mostrar mais rentável do que o boi? 

O manejo é uma atividade que está se iniciando agora e que precisa de uma séria de adaptações. É algo ainda muito novo para nós. Só começamos a explorar este recurso a partir do ano passado. O manejo é uma atividade que vai ajudar na cesta [de alternativas econômicas] do seringueiro. Já temos a borracha, a castanha, sua pequena criação. Todo seringueiro tem o direito a ter suas cabeças de gado, não para ser um médio ou grande criador. Ele pode ter suas 10, 15 cabeças, e isso está autorizado. O gado para fornecer seu leite e sua carne [para o seringueiro]. O manejo madeireiro não é uma atividade predatória, desde que se faça dentro das regras de sua concepção. Ao tirar uma árvore temos o cuidado de que ela não maltrate aquelas que estão próximas. Já o pasto você derruba toda a área e ainda usa o fogo. Temos muita madeira dentro de nossa reserva, e se soubermos podemos explorar de forma sustentável. O bom seria se a madeira tirada da reserva fosse beneficiada ainda lá dentro, não sair só a tora. E isso estamos trabalhando com nossa cooperativa [Cooperfloresta] para implantar duas serrarias comunitárias que vão gerar mais ganho para o seringueiro, garantindo emprego para nossos filhos. O manejo pode não ser mais rentável que o boi, mais ambientalmente é bem melhor para nossa reserva; o manejo não devasta a floresta, a pecuária devasta.

Como o senhor avalia hoje a luta de Chico Mendes 30 anos atrás em defesa da Amazônia, pela manutenção da floresta em pé, pela criação de áreas protegidas, como a reserva que levou o nome dele? Qual o papel da reserva e de outras unidades de conservação neste atual debate de alterações no clima?  

A luta em defesa da floresta tem muito a ver com estas questões que estamos vendo nas mudanças climáticas. E se isso [a proteção da Amazônia] não acontecer o futuro será muito mais trágico. Nós seringueiros, extrativistas, moradores da Amazônia, precisamos estar unidos para evitar que nossas florestas continuem sendo dizimadas, pois elas sem dúvidas são um componente muito importante para o equilíbrio do planeta. Quando eu era criança, pois nasci e me criei no seringal, nunca pensei ver o que estamos vendo hoje, e não falo só da poluição dos carros, das fábricas, mas da perda de nossas florestas.

A criação das reservas extrativistas era a principal bandeira do Chico Mendes para preservar a Amazônia. O senhor acha que a criação destas unidades no Brasil só aconteceu por conta do assassinato do Chico, ou se ele estivesse vivo essa sua busca teria saído do papel? 

Tinha sim saído do papel. O Chico tinha um carisma, tinha um poder de dialogar, tinha uma boa habilidade política, um poder de mobilização. Não vai nascer outro seringueiro com esta mesma personalidade que tinha aquele caboco. Se não fosse a morte dele, nós o movimento, íamos fazer acontecer [a criação da reserva extrativista].



sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Dossiê Belo Montes

Dossiê Belo Monte: prevenção e mitigação não se concretizam e obra causa novos impactos sobre indígenas

Texto: instituto Socioambiental (ISA) 

A hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira (PA), já está praticamente concluída sem que tenham sido implementadas as medidas previstas para proteger os territórios indígenas (regularização fundiária e fiscalização) e mitigar outros impactos. O resultado é que os povos indígenas da região perderam o controle sobre parte de seus territórios e os recursos naturais nele existentes. Eles vêm sofrendo com o aumento do desmatamento, riscos à segurança alimentar, piora no atendimento à saúde e perda de autonomia, entre outros impactos.

Mais que isso: a obra acabou trazendo outras consequências negativas não previstas. Em decorrência do atraso na contratação do Projeto Básico Ambiental do Componente Indígena (PBA-CI), foi implementado um Plano Emergencial, com 24 meses de duração. Nele, deveriam ser implantadas algumas ações de mitigação, antes do início efetivo da obra. Seu desenvolvimento, porém, deflagrou um dos processos mais perversos de cooptação de lideranças indígenas e desestruturação social promovidos por Belo Monte.

Os indígenas passaram a elaborar “listas de mercadorias” (incluindo todo tipo de bem de consumo, durável ou não), a serem fornecidas pelo empreendedor. Os impactos adversos sobre a organização socioeconômica e a autonomia política das aldeias foram diversos. O exemplo mais evidente é a perda da capacidade de produzir alimentos de forma contínua (segurança alimentar), o que teve graves consequências na saúde e autonomia dos povos indígenas da região.

As conclusões são do dossiê “Belo Monte – Não há condições para a Licença de Operação”, lançado pelo ISA no final de junho.


Leia o Dossiê aqui 

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Bela energia?

Ibama prevê que Belo Monte comece a gerar energia em 
março de 2016

Agência Brasil 

O diretor de Licenciamento Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Thomaz Miazaki de Toledo, disse hoje (24) que a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, deve começar a gerar energia em março de 2016 na casa de força principal. Segundo Toledo, o enchimento do primeiro reservatório ocorrerá nos próximos 50 dias.

O instituto concedeu nesta terça-feira licença de operação à empresa Norte Energia e autorizou o enchimento do reservatório da usina, que está em construção há quatro anos e cinco meses no Rio Xingu.

A presidenta do Ibama, Marilene Ramos, disse que mais de 90% das condicionantes ambientais foram cumpridas no projeto. “Postergar a licença de operação seria penalizar o Brasil porque essa usina possibilitará, quando estiver funcionando plenamente, o desligamento de 19 usinas termelétricas que emitem 19 milhões de toneladas de carbono equivalente ao ano.”

Marilene destacou que adiar a concessão da licença seria atentar contra a “modicidade tarifária”, pois a geração de energia térmica é mais cara.

Segundo a presidenta do Ibama, esta é apenas mais uma etapa do licenciamento ambiental. “Qualquer descumprimento das condicionantes ensejará medidas contra a Norte Energia. Isso vale para o reassentamento da população, a pesca, o componente indígena”, disse Marilene. Ela acrescentou que o Ibama tem uma equipe fixa em Altamira para fazer o acompanhamento das exigências estabelecidas e que essa turma deve ficar no local, a princípio, por três meses.

Toledo reforçou que o licenciamento ambiental do empreendimento não se encerra com a licença de operação. “É apenas uma etapa do processo. A partir do enchimento do reservatório, vamos passar para uma nova fase do projeto em que novos impactos passarão a ocorrer. Há uma série de obrigações que a Norte Energia terá que cumprir no âmbito da licença de operação.”

Em nota, a Norte Energia informa que Belo Monte terá capacidade instalada de 11.231 megawatts (MW), energia suficiente para abastecer até 60 milhões de pessoas. Em leilão realizado em 2010, 70% da energia da hidrelétrica foi vendida para concessionárias de distribuição de energia elétrica e vai ser distribuída em 17 estados, segundo a empresa.

“Para o cumprimento do projeto básico ambiental, foram investidos cerca de R$ 4 bilhões em ações socioambientais nos cinco município da área de influência direta de Belo Monte: Altamira, Anapu, Brasil Novo, Senador José Porfírio e Vitória do Xingu”, acrescenta a nota da empresa.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Inverno quente



O mês de novembro em parte da região amazônica tradicionalmente é um dos mais chuvosos do ano. Ele representa o início do chamado “inverno amazônico”, que é o período de intensas chuvas e que se estende até o fim de abril. Mas em 2015 a situação tem sido bem diferente, e tudo por conta do El Niño, o aquecimento das águas do Pacífico.

Esta foto retrata bem os efeitos do fenômeno na Amazônia. O período de estiagem prolongado causa a vazante dos rios. Em Manaus, o rio Negro chegou a registrar uma de suas menores cotas este ano, com sérias consequências para a navegação. Áreas antes tomadas pelas águas agora formam grandes praias. A seca afeta diretamente as populações ribeirinhas, que dependem dos rios para sua sobrevivência.

Aliás, o El Niño tem causado impactos em todo o Brasil e no mundo. Enquanto o Norte tem temperaturas elevadas, secas e queimadas, no Sul a chuva e tempestades castigam a população.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Desastre mineral

Samarco admite que duas barragens podem se romper em Mariana

Agência Brasil

Representantes da Samarco, mineradora responsável pela barragem que se rompeu em Mariana (MG) no dia 5, disseram hoje (17) que há riscos de rompimento das represas de Santarém e de Germano, que ficam próximas à primeira. Eles afirmaram ainda que a de Santarém não se rompeu, diferentemente do que a empresa informou.

“Tem o risco e nós, para aumentarmos o fator de segurança e reduzirmos o risco, estamos fazendo as ações emergenciais necessárias”, disse o gerente-geral de Projetos Estruturais da Samarco, Germano Lopes.

“O monitoramento dessas barragens está sendo feito de forma online. Todos os dias os fatores de seguranças são reportados. A gente não percebeu ainda nenhuma movimentação nessas barragens. Existe uma plano de ação montado [caso haja rompimento da barragem]”, completou o diretor de Operações e Infraestrutura da empresa, Kléber Terra.

Segundo Terra, o fator de segurança na barragem de Santarém é 1,37. Na de Germano, o dique Celinha, uma das estruturas, tem índice de 1,22, o menor em todo o complexo. Esse índice vai de 0 a 2. O nível mínimo de segurança recomendado por lei é 1,5.

De acordo com os técnicos, estão sendo feitas obras emergenciais nas duas barragens, com a colocação de blocos de rocha de cima para baixo para reforçar a estrutura. Nesta semana, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais divulgou imagens feitas por drones da corporação que mostram uma rachadura na barragem de Germano.

“Nós estamos com aproximadamente 90 dias para transportar todo o material lá pra baixo, fazermos o preenchimento da erosão na margem direita, nivelamento da crista da barragem, de forma a aumentar o nível de segurança da estrutura e permitir o tratamento da água dentro do reservatório de Santarém”, disse o engenheiro e geotécnico da empresa José Bernado.

Nesta terça-feira, os representantes da empresa explicaram que a única barragem que se rompeu foi a de Fundão, diferentemente do que a própria Samarco informava desde o dia da tragédia. A empresa dizia que, além de Fundão, Santarém havia rompido. Segundo os técnicos, 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos desceram, erodindo Santarém.

Para o Kléber Terra, “não é o caso de pedir desculpas” à população pela tragédia. “Nós somos profissionais orgulhosos dessa empresa. Não acho que seja o caso de pedir desculpas. É o caso de verificar claramente o que aconteceu. Nós somos parte de um processo que foi muito sofrido para tudo mundo”, afirmou o diretor de Operações e Infraestrutura da Samarco. Ele disse ainda que "não está poupando recursos" para investigar as causas do rompimento.


O rompimento da barragem de rejeitos da Samarco, que tem como acionistas a Vale e a BHP Billiton, criou uma onda de lama que destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana. A lama atingiu outros municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo e chegou ao Rio Doce, causando a morte de animais e prejudicando o abastecimento de água. Doze pessoas permanecem desaparecidas. Sete mortos foram identificados e quatro corpos aguardam identificação.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Extremos amazônicos

Na Amazônia, Estados mais impactados pelo agronegócio têm menores índices de extrema pobreza 

Balsa é carregada com soja, no rio Madeira, em Porto Velho (RO)
Motivo de perda de sono para ambientalistas que atuam na Amazônia, o agronegócio vem se apresentando nos últimos anos como um dos caminhos mais curtos para a redução da pobreza e suas consequências na região Norte. Pelo menos esta é a conclusão que se pode tirar a partir do “Atlas da extrema pobreza no Norte e Nordeste do Brasil”, referente a 2010, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

De acordo com os dados, Rondônia e Tocantins, Estados que tiveram boa parte de sua vegetação natural impactada por este setor da economia, apresentam os menores números de pessoas vivendo na pobreza e extrema pobreza. Na outra ponta, Amazonas, Acre, Amapá e Roraima, com extensas áreas de floresta mantida em pé em seus respectivos territórios, estão com os piores desempenhos.

Quando se analisa as condições de vida das populações rurais dos Estados amazônicos, Rondônia e Tocantins voltam a ter larga vantagem sobre seus vizinhos. Enquanto o Amazonas (com 90% de floresta preservada) tem 32% de sua população vivendo na pobreza, em Rondônia este índice cai pela metade: 16%.  Rondônia tem a oitava maior pecuária do país e figura entre os principais produtores de soja. Em Tocantins a pobreza chega a 22%.

O Amazonas é seguido por Acre (31%), Roraima (27%) e Amapá (25%). Mas atribuir somente aos negócios do campo benefícios na economia regional cai por terra ao se analisar o Pará, que apresenta os mesmos 32% do Amazonas de habitantes na pobreza. O Pará é um dos que mais sofrem impactos com o desmatamento para a ampliação de pastagens e áreas de cultivo de grãos.

Isso, contudo, não se apresenta o suficiente para o enfrentamento à miséria. A concentração de grandes porções de terra nas mãos de poucos grupos dominantes, a ausência do Estado na intermediação de conflitos e adoção de políticas para um equilíbrio na geração de riquezas são vistos como fatores para empurrar os paraenses para a pobreza.

Quando se analisa a população rural da Amazônia, o Pará tem 56% das pessoas que integram este grupo vivendo na pobreza, e outros 32% na extrema pobreza. Em Rondônia estes números são, respectivamente, de 36% e 14%. O Amazonas é o campeão de moradores do campo em situação de pobreza: 68%; logo abaixo seguem Roraima (62%) e Amapá (57%).

Como se pode observar a partir do atlas elaborado pela ONU, atribuir às atividades da pecuária e agricultura as únicas saídas para uma melhor qualidade de vida para os 25 milhões de habitantes da Amazônia é um risco. O Pará fica como exemplo de que, não basta somente desmatar a floresta em busca de alternativas, é preciso o envolvimento do poder público para se amenizar as distorções.

Rondônia e Tocantins aparentam ter feito o papel certo, apesar de ambos ainda terem muitos desafios a vencer. Além de fomentar as atuais atividades bem-sucedidas do ponto de vista econômico e social para as comunidades locais, exige-se a adoção de novas práticas que gerem melhores resultados. A floresta mantida em pé, com seus recursos explorados de forma sustentável, pode ser um grande ativo econômico nas próximas décadas.  

Por sinal, a atual conjuntura do Planeta exige uma Amazônia preservada e conservada...

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Educação navegante

Reportagem do jornal “A Crítica” mostra como o comportamento dos rios na Amazônia –com vazantes e enchentes cada vez mais intensas – influenciam o desenvolvimento do ensino dos filhos dos ribeirinhos e outras comunidades.



Veja a matéria aqui

sábado, 7 de novembro de 2015

Made in Rondônia


A séria de nossa trágica comédia o Acre não Existe ganha mais um interessante capítulo: a falência da fábrica da Coca-Cola em Rio Branco. A última notícia que alguém poderia esperar seria a do fechamento de uma unidade produtora do refrigerante mais desejado e vendido do mundo –isso mesmo em tempos de crise. Mas como o Acre é o Acre, isso aconteceu por estas bandas.

O fato poderia ser hilário não fosse a tragédia de quase 200 pessoas ficarem desempregadas num Estado de economia já cambaleante e com raríssimas ofertas de emprego. O mais interessante é vermos o fechamento de uma fábrica em tempos em que o governo prega a prosperidade econômica do Acre, fazendo-nos acreditar que somos modelo para Estados Unidos, China, Japão e até Marte, onde talvez a fábrica da Coca fechada aqui seja aberta já que descobriram água por lá.

O governo Tião Viana (PT) até mudou o slogan da gestão neste segundo mandato para enfatizar o nosso salto rumo a um PIB chinês (Governo parceiro, povo empreendedor). Como tudo o que acontece há quase 20 anos de Frente Popular comandando o Acre, trata-se de mais uma propaganda enganosa, entre muitas. A Zona de Processamento de Exportação (ZPE), que seria nossa redenção, até hoje não saiu do papel mesmo com os milhões de reais já torrados.

Nenhuma indústria do país mostra interesse em investir nela. Se as poucas que ainda funcionam no Acre já estão arrumando as malas, o que dirá alguma desembarcar.

Enquanto isso o governo vai beneficiando empresas onde há o interesse direto deste mesmo governo, como a nova indústria de madeiras em Manoel Urbano, a Agrocortex. Para se instalar no Acre ela recebeu incentivos fiscais de R$ 135 milhões. Já outros setores da economia enfrentam sérias dificuldades e não veem outra alternativa senão a de encerrar as atividades.

A boa notícia é que nem tudo está perdido. Continuaremos a beber Coca-Cola. O problema é que, para os intelectuais do governo Tião Viana, haverá sempre o gosto amargo de ver nas embalagens dos refrigerantes da marca o selo “Made in Rondônia”.

(P.S. Em tempos da falência até da esquerda brasileira, de uma coisa os petistas acreanos terão orgulho: dirão que arruinaram o maior símbolo dos imperialistas ianques. Nem tudo está perdido no Acre)


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

El Sí de Evo

Foto: Agência Boliviana de Informação
Nunca antes na história nossos vizinhos bolivianos foram tanto às urnas como nesta quase uma década do mesmo presidente ocupar o cargo. Tal constatação aparenta ser contraditória para um país onde os opositores definem Evo Morales como “ditador”, “tirano” e “antidemocrático”.

Depois de garantir o terceiro mandato a Morales no ano passado, a Bolívia volta às urnas no início de 2016 para dizer se o líder esquerdista tem direito a concorrer a mais um mandato em 2019, e ficar no cargo até 2025.

Perdeu as contas? Ele está no cargo desde 2006; até aqui já são nove anos de governo. Com uma eventual re re reeleição em 2019, terá somado quase 20 anos de domínio político. Este também era o projeto do PT no Brasil, mas por se ver encharcado nas denúncias de corrupção e na crise econômica, o partido poderá se contentar somente com 16 anos – isso se a companheira Dilma não deixar o cargo antes (mesmo com a ameaça de intervenção militar da Bolívia no Brasil).

Ao contrário do Brasil, a Bolívia está muito bem, obrigado, no tocante à economia. O vizinho é o que mais cresce na América do Sul, com taxas superiores a 5% ao ano, enquanto nós estamos em recessão amarga. E isso favorece a permanência de Evo Morales na presidência.

Pesquisa do instituto Ipsos publicada no fim de outubro aponta que 48% dos bolivianos votarão no “Sim” no referendo sobre o direito ou não de Morales de disputar o quarto mandato. Os dados mostram uma nação dividida, algo que é característico desde que a Bolívia é Bolívia.

Enquanto o presidente goza de ampla vantagem entre os moradores da zona rural (leia: indígenas, onde ele iniciou sua militância política), nas cidades a situação é menos confortável. A diferença do “Sim” para o “Não” em, todo o país é de 10% - no campo esta diferença salta para 33%.

Se a nação mais pobre de nosso continente continuar a registrar bom desempenho na economia até a data prevista do referendo (21 de fevereiro de 2016), é muito certo que o “Sim” ganhe. Agora, saber se essa mesma economia permanecerá dinâmica e beneficiando os eleitores até a próxima eleição, é a dúvida, que alimenta outra dúvida: a capacidade de Morales em obter o quarto mandato.

Analistas preveem que este ciclo de crescimento da Bolívia já está se esgotando. Percebendo isso, Morales anda pelo mundo em busca de novos parceiros econômicos. Com seus grandes financiadores como Venezuela, Brasil e Argentina encrencados até o pescoço com seus problemas internos, a solução foi atravessar o Atlântico. Esta semana Evo Morales cumprirá uma série de agendas na Europa, começando com a poderosa Alemanha. Lá, foi recepcionado por Angela Merkel.

Mas, independentemente de prognósticos, Morales já entrou para a história como o presidente boliviano a permanecer por mais tempo no cargo. Numa nação onde se dormia numa noite com um presidente e acordava com outro, já é um grande feito. E isso aconteceu sem a necessidade do uso de armas ou golpes militares.

Mesmo assim, seus críticos questionam o modo centralizador e autoritário de governo, sufocando a oposição e colocando sob sua batuta os poderes Legislativo e Judiciário, que chancelam sem nenhum questionamento as decisões políticas do presidente.

E assim caminha a Bolívia...