Páginas

sábado, 30 de agosto de 2014

Nesta mata tem Marina

A pesquisa Datafolha encomendada pela “Folha de São Paulo” e divulgada ontem mostra a reviravolta que tomou de conta da eleição presidencial desde o trágico acidente aéreo do último dia 13, que vitimou Eduardo Campos e sua equipe. Em meio ao luto os comentários eram acerca de seus efeitos sobre a “candidata natural” do PSB, a acreana Marina Silva.

A leitura comum era de que a ex-senadora seria beneficiária de uma grande comoção nacional pela morte de Eduardo, o que resultaria no acirramento da corrida pelo Planalto. Passadas duas semanas desde a fatalidade em Santos (SP), os resultados estão aí. Há quem diga, contudo, que este “boom” de Marina está associado muito mais ao seu bom capital político-eleitoral, do que necessariamente à morte do ex-governador de Pernambuco.

De fato é. O mesmo Datafolha apontava Marina com 28% das intenções ainda em abril, sendo a única candidata capaz de levar a sucessão para o segundo turno, evitando mais quatro anos de Dilma Rousseff (PT) já em 5 de outubro. Este favoritismo se concretiza gora. Foi em Marina Silva e não em Aécio Neves (PSDB) o candidato que o eleitor parece ter encontrado a sua válvula de escape contra o governo e seu desejo de mudança após 12 anos de PT.

O mais surpreendente é o crescimento de Marina. Na terça o Ibope mostrava Marina distante apenas cinco pontos de Dilma. Analistas apontavam como certo a ex-ministra encostar na adversária petista, mas não que isso acontecesse num período de tempo tão curto. O mais provável seria este acirramento em uma ou duas semanas. Levando em consideração os dados do Ibope divulgados na terça e o levantamento do Datafolha na quinta, foi apenas um dia para o “fenômeno” Marina estar em empate técnico.

Há quem fale em vitória da ex-senadora já num primeiro turno. Isso poderia acontecer? Talvez sim, porém a pesebista precisa continuar a manter este bom desempenho, tirando (mais) voos de Aécio e, sobretudo, atrair os (ainda) eleitores de Dilma. Infeliz o homem que acha que a política é ciência exata.

Segundo plano
O “furacão” Marina Silva causou um efeito nunca visto antes na história recente do Acre: o ofuscamento da eleição para governador e senador. Em todas as esquinas o assunto deixou de ser a guerra PT x PSDB para ser a possibilidade real de uma acreana saída do seringal virar a presidente da República. Até mesmo aqueles eleitores mais radicais do anti-Marina tornaram-se seus cabos eleitorais.

Segundo plano 2
Num Estado pequeno como o Acre, cuja participação na corrida presidencial nunca influenciou esta disputa, era muito mais comum os cidadãos se digladiarem por seus postulantes ao Palácio Rio Branco ou Senado. O acreano que estava com seu sentimento de acreanidade ferido por tantos desmandos e escândalos de corrupção que colocaram o Estado nas páginas policiais da imprensa nacional, agora reencontra o sentimento de orgulho com sua “filha mais ilustre” sendo manchete no mundo inteiro.

Queda dilmês
Preocupado com a avalanche de votos que Marina tende a obter do eleitorado local, recuperando-se do vexame de 2010, o governo começou campanha pesada pedindo votos para Dilma Rousseff (PT), para também evitar a repetição de outro fiasco. Tião Viana (PT) passou a ser o garoto-propaganda de Dilma no Estado, apresentando-a como “amiga dos acreanos” e responsável por liberar grande volume de recursos para investimentos em seu governo.

Editado e pronto
Desde quarta Dilma passou a aparecer no programa eleitoral pedindo voto para Tião. O problema é que se trata daqueles vídeos produzidos em Brasília, com padrão único para todos os seus candidatos a governador nos Estados, onde, apenas no final, há uma menção ao seu companheiro de palanque. Isso mostra o desprestígio da gestão petista do Acre com o Planalto, com a presidente não tendo a delicadeza de gravar uma saudação especial ao abandonado eleitor do Acre.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Poeta e a seringueira

Um dos pontos altos da participação de Marina Silva (PSB) no “Jornal Nacional” desta quarta (27) foi a pertinente pergunta de Patrícia Poeta sobre o fato da presidenciável, na disputa de 2010, ter ficado em terceiro lugar em sua terra natal. Quatro anos atrás, Marina perdeu de goleada para o paulista José Serra (PSDB), que nunca antes tinha posto seus pés em solo acreano –ou acriano, como bem entender.

A observação é lógica: como pode ela ter obtido este resultado onde nasceu e consolidou sua trajetória política, começando como vereadora de Rio Branco, depois deputada estadual e, enfim, senadora. Este resultado negativo em 2010 seria uma reprovação dos acreanos à atuação dela em 20 anos de mandatos pelo Estado?

Como bem ressaltou Patrícia Poeta, é natural que um candidato a presidente da República tenha pelo menos uma boa votação em seu reduto eleitoral. Seria como Aécio Neves (PSDB) ficar atrás de Marina ou Dilma Rousseff (PT) em Minas Gerais, ou o mesmo com o falecido Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco.

A resposta foi natural tanto quanto a pergunta: “santo de casa não faz milagre”. Mas isso por si só não explica o vexame de Marina no Acre. Ela ainda falou sobre estruturas pesadas do PT e PSDB em torno de seus candidatos ao Planalto, enquanto o nanico PV penava para colocar sua campanha na rua.

Isso também não justifica o terceiro lugar: num Estado pequeno cujo eleitorado não chega a 1% de participação nacional, a corrida presidencial tem influência quase zero. Se José Serra fosse depender da organização e estrutura dos tucanos no Acre, ele poderia ter dividido a última posição com Plínio de Arruda (Psol).

O acreano votou em massa no ex-governador paulista porque não queria Dilma Rousseff (PT), resultado do cansaço de até então 12 anos de governo petista, e por ainda ver na testa de Marina a estrelinha vermelha do PT. O modo quase ditatorial do PT governar o Acre fez a população chegar a níveis recordes de rejeição ao partido, e Marina ainda era vista como uma boa militante petista pelo acreano.

Em um Estado pobre (em todos os sentidos) como o Acre a atuação macropolítica de Marina Silva não lhe renderia bons dividendos eleitorais. Por aqui o que rende a aprovação popular, infelizmente, é a velha política do assistencialismo. A compra de votos é uma praga institucionalizada que nos faz ter uma das piores representações na Assembleia Legislativa, nas Câmaras e nos governos.

Debater questões como meio ambiente, sustentabilidade, compromissos com o tripé macroeconômico e royalties do pré-sal leva o político a ser apedrejado em praça pública. Não que este seja o comportamento de toda a sociedade, mas de uma maioria que ainda vive na pobreza, com uma educação pública de péssima qualidade.

Nossa política é muito provinciana. Aqui o eleitor deixa de votar num bom candidato só pelo fato de que “ele nunca passou aqui em casa, nunca falou comigo”. Marina também era criticada por ter “abandonado” sua terra natal. “Ela nem pisa mais aqui”, ouvia-se nas ruas. O cargo de ministra do Meio Ambiente a afastou de sua base, o que resultou na rejeição num eleitorado bairrista.

Políticos com a qualificação intelectual da ex-senadora têm “vida curta”. Perpetuam-se no poder aqueles que instrumentalizam a compra de voto e mantêm um assistencialismo eficiente capaz de render votos.

Nossa origem nordestina da política do cabresto e do coronelismo ainda está enraizada na sociedade acreana do século 21. Hoje temos uma versão moderna dos coronéis de barranco, como ficaram conhecidos os donos dos grandes seringais do século passado.

Mas há momentos em que o povo decide se livrar das amarras e mandar seus coronéis –seja da direita ou da esquerda - para bem longe, como foi em 2010.  Por muito pouco o PT não saiu derrotado das eleições para o governo, e perdeu uma das duas cadeiras do Senado –ocupada por Marina Silva.

A própria eleição da ambientalista para o Senado em 1994 foi um momento de revolta do eleitor, fadigado da hegemonia do PMDB. Mesmo com todos estes fatores contrários, o acreano tem tido a capacidade de buscar o equilíbrio no poder, não deixando que um único partido tenha toda a concentração.

Em meio a tudo isso, o acreano vai construindo sua história política. Por aqui se diz que não há povo mais politizado do que o acreano (tenho minhas dúvidas). Em meio à pobreza social e econômica em que estão mergulhados, nossos cidadãos tiveram a capacidade de revelar ao mundo figuras como Chico Mendes e Marina Silva, também frutos desta mesma “miséria social” em que a Amazônia está submersa.

Que a biografia da presidenciável, alfabetizada aos 16 anos de idade, sirva de inspiração ao nosso povo para quem sabe, um dia, possamos sair deste oceano verde de miséria social, econômica e educacional.  

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O passado te condenou

Na manhã de 12 de dezembro de 1990, o fórum de Xapuri ficou pequeno para o público que acompanhava o julgamento dos acusados pelo assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, ocorrido dois anos antes. Jornalistas, familiares e amigos se exprimiam e revezavam-se para saber a sentença. Entre os presentes e pedindo justiça estava uma das amigas mais próximas de Chico Mendes, a hoje candidata a presidente da República, Marina Silva (PSB).

Darly Alves da Silva e Darci Alves Pereira (pai e filho) foram condenados a 19 anos pela morte de Chico. Passados 24 anos daquele episódio que chamou a atenção do mundo, os caminhos dos algozes do líder ambientalista voltam a se encontrar com os de Marina.

A ex-senadora terá como um de seus militantes no Acre o irmão de Darly e tio de Darci, Aleci Alves da Silva. Candidato a deputado estadual pelo PSB, ele promete empenho na campanha presidencial da parceira de luta de Chico Mendes nos seringais da Amazônia.

“O meu compromisso é com a eleição da Marina, terei empenho total, estarei nas ruas pedindo voto para ela e estarei no seu palanque”, afirma Alves. Funcionário público, ele mora na cidade de Senador Guiomard (a 24 km de Rio Branco), onde também é sua base eleitoral. Questionado se esta aliança não o deixa constrangido, ele afirma que as divergências entre sua família e o grupo político da candidata “são coisas do passado”.

“Isso já passou, águas passadas não movem moinho. O que importa é o presente e o futuro, e por isso eu apoio a reeleição do [governador do Estado] Tião Viana [PT] por acreditar que ela é o melhor para o Acre. Eu sou um soldado do PSB”, diz Alves, que aos eleitores faz questão de se apresentar como irmão do mandante da morte de Chico Mendes. “Eu acho que isso me ajuda, né? Ele ficou famoso no mundo inteiro.”

Darly Alves foi condenado como responsável por ordenar o assassinato do líder dos seringueiros. O fazendeiro se sentia incomodado pelos movimentos de resistência dos seringueiros organizados em torno de Chico contra a destruição da floresta para dar lugar aos pastos. A militância rendeu ao líder várias ameaças de morte, sendo uma delas concretizada na noite de 22 de dezembro de 1988, quando o tiro disparado por Darci Alves atingiu o peito do parceiro de Marina.  

“Eu tenho orgulho do meu irmão e ele me autorizou a usar seu nome.” Darly, segundo ele, hoje mora em sua fazenda, a Fazenda Paraná, em Xapuri. O desafeto de Chico agora é evangélico –“um homem de Deus -, e cuida do gado e da pequena plantação. “Ele é um homem trabalhador, de Deus e que não faz mal a ninguém. Tenho orgulho dele porque sempre foi um homem muito trabalhador”, ressalta o militante pesebista.

Para sorte (ou azar?) de Marina, a candidatura de Aleci Alves foi indeferida pela Justiça Eleitoral. Como ele não comprovou filiação partidária, e não recorreu dentro dos prazos, ele está praticamente fora das eleições. Há ainda uma chama de esperança no TSE, mas como pouca possibilidade de reversão. Mesmo de fora, ele assegura compromissos com a eleição de Tião Viana e Marina Silva.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Nova e velha Marina

A acreana Marina Silva (PSB) é a capa das grandes revistas semanais do país. Seu rosto estampado traz questões como a possibilidade dela ganhar a disputa presidencial em outubro, sua capacidade técnica para governar e sua biografia que chama a atenção de todo o mundo. Do nascimento no Seringal Bagaço à primeira vitória para o Senado em 1994, Marina tem uma história de vida capaz de cativar muitas pessoas –e votos.

Desde a trágica morte de Eduardo Campos ela passou a ser o centro das atenções. De acordo com informações, do empate técnico com Aécio Neves (PSDB) apontado pelo Datafolha na semana passada, a ex-senadora já está bastante encostada em Dilma Rousseff (PT). Num segundo turno com a presidente,  a ex-senadora venceria numa espécie de Alemanha contra Brasil (7 a 1).

A “nova política” pregada por Marina tem chamado a atenção do eleitor, fadigado da polarização do “bem contra o mal”; ou seja, PT x PSDB. Seus discursos agradam ao eleitor em busca da renovação na política brasileira.

Que ela representa o novo isso não podemos negar, mas olhando seu comportamento político desde o rompimento com o PT em 2010, veremos que em nenhum momento ela cortou os laços umbilicais com o petismo acreano há 16 anos no poder –e até se beneficiou dele.

Até o último dia 18 seu marido, Fabio Vaz, recebia um salário de R$ 18 mil do governo de Tião Viana (PT). Durante a gestão Binho Marques (PT) (de quem Marina e Vaz sempre foram mais ligados na área “florestana” do PT), o companheiro da ex-ministra era apontado como o braço direto do agora secretário do MEC. A mesma influência foi exercida com Jorge Viana (1999-2006).

Disputando a Presidência pelo PV quatro anos atrás, e com laços desfeitos com os petistas, ela apoiou a candidatura de Tião Viana (PT); em 2014 é certo que seu gesto se repita, já que o PSB mantém juras de amor ao governo. Em 2012 veio a Rio Branco para subir no palanque de Marcus Alexandre (PT).

Marina Silva posiciona-se a favor da nova política, mas em sua terra natal faz vista-grossa com a política retrógrada dos (ex) companheiros de legenda. Para se manter há 16 anos no governo o petismo tem recorrido aos métodos mais velhos e antidemocráticos.

Censura com força a imprensa, coopta as lideranças sindicais, desconfigura os demais Poderes, pratica fisiologismo do leilão de cargos em troca de apoios e faz alianças com o que há de mais atrasado da política acreana. Nada disso, contudo, impede que a presidenciável rompa com a idosa gestão petista. É a máxima do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.

domingo, 24 de agosto de 2014

Sucessor do Ibope

A disputa eleitoral no Acre vinha até aqui num certo “nível elevado”. Os principais candidatos ao governo (ainda) mantêm certa compostura, evitando partir para ataques pessoais, ficando no campo político. Mas nos bastidores seus apoiadores travam uma verdadeira guerra de informações.

E como em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade. Isso ficou bem resumido na semana passada com a divulgação da pesquisa Vox Populi e o embate em torno das emendas de Gladson Cameli (PP).

Vamos por partes

Primeiro nos deparamos com uma pesquisa divulgada pela imprensa (quanto desserviço) que não retrata nem um pouco a realidade da disputa para o Palácio Rio Branco. A manipulação dos dados levantados nas ruas passou a ser a melhor tática dos candidatos para enfraquecer os adversários, pois acreditam que a vantagem nos gráficos influencia o voto do eleitor indeciso, ou daquele que não gosta de perder o voto.

Na primeira pesquisa Vox Populi, Tião Viana (PT) tinha 54% das intenções. Agora aparece com 49%. Considerando a margem de erro, perdeu ao menos quatro pontos. Para onde eles foram? Dois foram tirados de Márcio Bittar (PSDB) e outros dois acrescidos a Tião Bocalom (DEM). Como a coluna revelou semanas atrás, o Vox Populi colocaria Bocalom à frente de Bittar para enfraquecer o tucano, apontado como o candidato mais forte contra o petista e por isso alvo de desidratação.

Os números Vox Populi não podem ser levados a sério. A primeira razão para a descrença é a sua falta de segurança estatística. Em segundo lugar por não retratar a realidade de mais de dois meses de campanha, tampouco aferir o impacto dos primeiros dias de propaganda no rádio e na TV.

O levantamento foi feito no final de julho, estava guardado a sete chaves e a decisão de divulga-lo ocorreu após os resultados negativos para o governo das pesquisas Ibope e Delta, sinalizando cenário de segundo turno, e a vantagem de Cameli sobre Perpétua Almeida (PCdoB).

Portanto, os números Vox Populi não podem ser levados a sério por não aferir o humor do eleitor com um mês de defasagem. Neste período muitas coisas aconteceram, como a morte de Eduardo Campo (PSB). Talvez hoje pesquisas mostrem Marina Silva (PSB) em vantagem sobre Dilma (PT) e Aécio Neves (PSDB) no Acre.

O eleitor-leitor precisa estar atento aos bombardeios a que está sujeito nesta “guerra da informação”. Num Estado onde pesquisas passaram a ser motivo de deboche por conta de seus erros históricos, a descrença é ainda maior com o amadorismo praticado pelo governo usando o já conceituado Vox Populi.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Iguais, mas desiguais

“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” é considerada uma das obras clássicas do sociólogo alemão Max Weber. Nela, ele analisa as diferenças entre as sociedades protestantes e católicas do mundo ocidental. Em resumo, compara o desenvolvimento rápido do capitalismo nos países protestantes, que têm como base a valorização do trabalho e a não proibição do acúmulo de riquezas, com o catolicismo contra a acumulação, tida como pecado, logo levando o cidadão ao fogo do inferno.

No Acre estamos para escrever outra obra. Parafraseando Weber seria uma espécie de “A Ética Comunista e o espírito (indomável) do Capitalismo”. Desde o início da propaganda eleitoral na mídia o candidato ao Senado Gladson Cameli (PP) vem sendo crucificado e queimado na fogueira por ser de uma família notadamente rica no Acre e em parte do Norte.

Numa campanha apelativa e quase desesperadora, a Frente Popular ataca a honra dele e de seu pai, o empresário Eládio Cameli, dono de uma das maiores empreiteiras da região. Segundo os governistas, enquanto eles farão uma campanha limpa e de debates com o povo (o velho moralismo de sempre), o candidato da oposição iria comprar o mandato graças ao poderio econômico da família.

Mas o que pretendo aqui debater não é esta questão. Mas sim a demagogia com que a carcomida esquerda acreana trata aqueles que detêm um pouco mais de capital. Eles que antes de chegar ao poder “arrastavam a cachorrinha”, hoje moram nas melhores mansões de Rio Branco e nos bairros com suas guaritas longe da patuleia em sua miséria.

Gladson Cameli argumenta bem: “Ao contrário da minha família, aqueles que me chamam de “riquinho” enriqueceram da noite para o dia após entrar na política. Minha família saiu do seringal e foi ralar muito, trabalhou dia e noite para poder construir um patrimônio. Agora é fácil ficar rico a partir de um mandato na Câmara e conseguir uma casa no bairro mais conceituado de Rio Branco”.

Em 16 anos de governo, petistas e comunistas não conseguiram tirar o Acre da lanterna no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Os nossos socialistas revolucionários não foram capazes de garantir uma distribuição de renda mais justa –pelo contrário, mantiveram e ampliaram a concentração de grande parte da renda na mão de uma pequena burguesia. A redução da desigualdade foi quase nula.

Aliás, o petismo acreano é hoje o maior símbolo da burguesia no Estado, enquanto quase metade da população vive de um Bolsa Família que já não dá para comprar nada com a inflação que corrói seu poder de compra. Eles criticam quem é “riquinho”, mas seu capitalismo selvagem é mais feroz do que de um especulador de Wall Street.

Chamar Gladson de “riquinho” não vai reduzir sua vantagem apontada nas pesquisas. É melhor ter um rico no poder e que talvez não vá se locupletar do patrimônio público para aumentar o capital, a eleger as “vítimas do capitalismo” para lá triplicarem seus bens. A ética do comunismo a História já nos mostrou, onde todos são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros (Como bem definiu George Orwell em seu clássico “A Revolução dos Bichos”).

Enquanto cubanos e norte-coreanos vivem em plena miséria, seus líderes supremos desfrutam do que de melhor o capitalismo pode oferecer.

O eleitor não merece ficar sujeito a esta disputa rasteira e sem proposta. Ao invés de acusar o adversário por ser rico, a Frente Popular deveria apresentar um plano de governo capaz de oferecer aos cidadãos menos favorecidos a oportunidade de sair da pobreza, gerar sua riqueza para um dia, quem sabe, também serem “riquinhos”. Dessa forma teremos uma sociedade bem melhor, sem miséria e com o capital sobrando no bolso de cada acreano.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Estreia na TV

O primeiro programa eleitoral na corrida pelo Palácio Rio Branco ficou dentro das expectativas. Os dois principais concorrentes, Tião Viana (PT) e Márcio Bittar (PSDB), evitaram a linha do ataque direto –como oposicionista o tucano não poderia fugir do script e cutucou o governo.

O petista, por sua vez, também ficou no roteiro ao apresentar a família na exposição de largada e mostrar os feitos de sua gestão para convencer o eleitor a lhe dar mais quatro anos.

É certo que esta linha paz e amor não perdure por muito tempo. A depender do resultado das pesquisas nas próximas semanas para aferir o impacto da propaganda no rádio e TV, os candidatos podem mudar a postura. Se Tião Viana observar o crescimento de Márcio Bittar, a tendência é partir para ofensiva e ir para o tudo ou nada.

Do outro lado a mesma coisa; se Bittar constatar o crescimento e não a queda de Viana, a solução é vestir a farda e preparar o armamento. Ao se observar as pesquisas Ibope e Delta de semanas atrás, há mais probabilidade de crescimento da candidatura tucana. Bittar tem o menor índice de rejeição entre os eleitores, o maior tempo de exposição e um programa eleitoral cuja qualidade técnica não deixou a desejar –ao menos na estreia.

Apesar de ser o vice líder em rejeição, Tião Viana tem o seu governo bem avaliado, e isso ajuda muito. Ao longo da campanha trabalhará para convencer o eleitor de que ele é a “mudança continuada”, que a troca do “certo pelo duvidoso” pode colocar em risco as “conquistas” dos últimos anos.

Em resumo, a campanha na mídia vai depender muito do humor do eleitor. Se ele tender para a troca de governo, a oposição sai ganhando, mas se for convencido de que o momento ainda não é propício para alterações, tudo continua como está.

Para passar suas mensagens, os candidatos terão como concorrentes o controle remoto e a internet. Na época da popularização da TV por assinatura, muitos preferem mudar de canal no início da propaganda eleitoral obrigatória –e antigamente sem escapatória.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Usina de votos

A presidente Dilma Rousseff (PT) esteve ontem pela enésima vez em Porto Velho (RO), enquanto que nos quatro anos de mandato pisou apenas uma vez aqui na terra onde o PT governa por mais tempo –e muito rapidamente. Mas esta não é a questão, pois o prestígio do Acre ante a pessoa da petista não é o dos melhores. Com sua comitiva oficial, ela foi a Rondônia fazer uso eleitoral das usinas do rio Madeira, Santo Antônio e Jirau.

Apresentando as obras como a redenção de um novo tempo para o desenvolvimento do país, através de uma segura produção energética em nossos rios amazônicos, Dilma apenas se esqueceu dos efeitos que estas obras causaram aos mais de 700 mil habitantes do Acre, outros milhares em Rondônia e também milhares na Bolívia.

Especialistas no assunto são contundentes em afirmar que as barragens do Madeira tiveram, sim, influência na cheia histórica do início do ano que deixou o Acre isolado do restante do Brasil, cidades rondonienses submersas e uma destruição sem igual no país vizinho. Os defensores da usina, incluindo Dilma, negam esta possibilidade, preferindo atribuí-la a questões climáticas.

Dilma, por exemplo, chegou a culpar o companheiro Evo Morales por não ter se comportado bem em 2013, e por isso São Pedro o ter castigado com chuvas torrenciais na Bolívia. Por sua vez, os bolivianos tinham um único culpado: as usinas brasileiras no rio Madeira. Aqui não preciso relembrar que, para nós acreanos, a mega-cheia teve como consequência o fechamento da BR-364, nos deixando sem alimentos e combustíveis.

O palanque montado pelo PT nas usinas nesta terça reacendeu a polêmica da questão ambiental travada em torno das obras, justo no momento em que a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina Silva, posiciona-se como a adversária direta de Dilma na disputa presidencial. O andamento desta construção, por sinal, foi um dos pontos para azedar a relação entre as então companheiras de ministério de Lula.

Dilma criticava Marina por retardar a liberação das licenças ambientais. A ex-petista não se via segura para liberar a obra pois não havia estudos seguros para dizer quais seriam os impactos das usinas. Com a eleição se aproximando e Lula preocupado em fazer a sucessora, não deu outra? Marina perdeu a batalha e pediu demissão.

Coincidências ou não, o fato é que talvez a cautela ambiental de Marina estivesse certa, como presenciamos agora este ano. Dilma está preocupada com a questão? Nem um pouco, o importante é gerar energia para o Sul e Sudeste, enquanto aqui no Acre continuamos com as tarifas mais caras do país.

E se o Madeira invadir a rodovia de novo em 2015? Podemos voltar para o Peru, já que foi quem nos acudiu de nosso isolamento das Terra Brasilis. Nunca antes na história deste país a Amazônia foi tão sugada para salvar o Brasil de um apagão. Quais os benefícios destas obras para nós? Até agora não vimos. O único presente que recebemos foi ver nossa biodiversidade ameaçada, e milhares de pessoas vulneráveis a seus impactos.

E Assim caminha o Brasil. Viva a Amazônia, viva Santo Antônio, viva Jirau e viva Belo Monte.

A mudança eleitoral

Principal adversário de Tião Viana não é a oposição, mas sentimento de mudança do eleitor
Os dados apontam que mais de 75% dos eleitores querem mudança, sendo ela relacionada à troca de governo ou um novo modelo de governar

A campanha que de fato começa a partir de hoje com a propaganda eleitoral de TV e rádio mostra que o principal adversário de Tião Viana (PT) em busca pela reeleição não é, necessariamente, a oposição dividida em dois palanques. O principal adversário do petista será o sentimento de mudança expresso pelo eleitor em todas as pesquisas realizadas, seja da Frente Popular, seja dos opositores.

Os dados apontam que mais de 75% dos eleitores querem mudança, sendo ela relacionada à troca de governo ou simplesmente um novo modelo de governar. A favor de Tião pesa a sorte de, até aqui, a oposição não ter tido a capacidade de espelhar esta vontade popular.

O pensamento que ainda predomina é o “ruim com eles, pior sem”. Mas mesmo com estes fatores, o eleitor não tem pensado duas vezes, e atira no escuro com aqueles candidatos que disputaram as últimas eleições. Prova disso são os resultados cada vez mais apertados nas eleições, com o governo tendo que travar campanhas hercúleas para evitar a derrota.

Em 2014 Tião Viana terá dois concorrentes em busca de capitalizar ao máximo estes mais de 70% dos eleitores ansiosos por alterações: Márcio Bittar (PSDB) e Tião Bocalom (DEM). As últimas pesquisas apontam empate técnico entre eles, mas uma análise dos números nos permite concluir que o maior calo para o petista será Bittar.

Bocalom tem hoje boa memória eleitoral, mas carrega consigo uma “fadiga de material”. Tem 29% de rejeição –o campeão – e seus discursos já estão batidos para a grande maioria do eleitor. Em sucessivas disputas majoritárias desde 2006, demonstra não passar segurança nem capacidade de autorrenovação para o eleitor, sobretudo os de classe média, mais escolarizados e de maior renda.

Por sua vez, Márcio Bittar aparece como a “novidade”. Desde 2006 ele não concorre a uma majoritária. Mesmo longe das urnas em oito anos, seu nome empata e até ultrapassa Bocalom recém-saído de segundo turno na capital em 2012, e ainda apresenta a menor rejeição. Tem o maior tempo de TV entre todos os candidatos e um estilo mais técnico, que pode cativar aquele eleitor em busca de um oposicionista que lhe transmita segurança.

Mas contra ele pesa o fato de carregar as velhas figuras da oposição, o que pode comprometer a imagem da “novidade” para a mudança. Porém, com o petismo há 16 anos no poder, é difícil falar em novo. Para tentar amenizar o dano da caduquice do PT, Tião Viana precisará desvencilhar-se dos governos de Binho Marques (2007-2010), e do irmão Jorge Viana (1999-2006).

Terá ele coragem de fazer isso? Talvez não, pois não há como negar o bom legado destes dois governos, mas Tião não poderá ficar preso a eles. Também não há como esquivar-se, pois é herdeiro da gestão petista, não fazendo nada diferente dos antecessores. O desafio dele é convencer o eleitor de que mais quatro anos de fato representam “mais mudança”, um dos motes de sua campanha. O jogo começa agora.