Páginas

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Usina de votos

A presidente Dilma Rousseff (PT) esteve ontem pela enésima vez em Porto Velho (RO), enquanto que nos quatro anos de mandato pisou apenas uma vez aqui na terra onde o PT governa por mais tempo –e muito rapidamente. Mas esta não é a questão, pois o prestígio do Acre ante a pessoa da petista não é o dos melhores. Com sua comitiva oficial, ela foi a Rondônia fazer uso eleitoral das usinas do rio Madeira, Santo Antônio e Jirau.

Apresentando as obras como a redenção de um novo tempo para o desenvolvimento do país, através de uma segura produção energética em nossos rios amazônicos, Dilma apenas se esqueceu dos efeitos que estas obras causaram aos mais de 700 mil habitantes do Acre, outros milhares em Rondônia e também milhares na Bolívia.

Especialistas no assunto são contundentes em afirmar que as barragens do Madeira tiveram, sim, influência na cheia histórica do início do ano que deixou o Acre isolado do restante do Brasil, cidades rondonienses submersas e uma destruição sem igual no país vizinho. Os defensores da usina, incluindo Dilma, negam esta possibilidade, preferindo atribuí-la a questões climáticas.

Dilma, por exemplo, chegou a culpar o companheiro Evo Morales por não ter se comportado bem em 2013, e por isso São Pedro o ter castigado com chuvas torrenciais na Bolívia. Por sua vez, os bolivianos tinham um único culpado: as usinas brasileiras no rio Madeira. Aqui não preciso relembrar que, para nós acreanos, a mega-cheia teve como consequência o fechamento da BR-364, nos deixando sem alimentos e combustíveis.

O palanque montado pelo PT nas usinas nesta terça reacendeu a polêmica da questão ambiental travada em torno das obras, justo no momento em que a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, Marina Silva, posiciona-se como a adversária direta de Dilma na disputa presidencial. O andamento desta construção, por sinal, foi um dos pontos para azedar a relação entre as então companheiras de ministério de Lula.

Dilma criticava Marina por retardar a liberação das licenças ambientais. A ex-petista não se via segura para liberar a obra pois não havia estudos seguros para dizer quais seriam os impactos das usinas. Com a eleição se aproximando e Lula preocupado em fazer a sucessora, não deu outra? Marina perdeu a batalha e pediu demissão.

Coincidências ou não, o fato é que talvez a cautela ambiental de Marina estivesse certa, como presenciamos agora este ano. Dilma está preocupada com a questão? Nem um pouco, o importante é gerar energia para o Sul e Sudeste, enquanto aqui no Acre continuamos com as tarifas mais caras do país.

E se o Madeira invadir a rodovia de novo em 2015? Podemos voltar para o Peru, já que foi quem nos acudiu de nosso isolamento das Terra Brasilis. Nunca antes na história deste país a Amazônia foi tão sugada para salvar o Brasil de um apagão. Quais os benefícios destas obras para nós? Até agora não vimos. O único presente que recebemos foi ver nossa biodiversidade ameaçada, e milhares de pessoas vulneráveis a seus impactos.

E Assim caminha o Brasil. Viva a Amazônia, viva Santo Antônio, viva Jirau e viva Belo Monte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário