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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O passado te condenou

Na manhã de 12 de dezembro de 1990, o fórum de Xapuri ficou pequeno para o público que acompanhava o julgamento dos acusados pelo assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, ocorrido dois anos antes. Jornalistas, familiares e amigos se exprimiam e revezavam-se para saber a sentença. Entre os presentes e pedindo justiça estava uma das amigas mais próximas de Chico Mendes, a hoje candidata a presidente da República, Marina Silva (PSB).

Darly Alves da Silva e Darci Alves Pereira (pai e filho) foram condenados a 19 anos pela morte de Chico. Passados 24 anos daquele episódio que chamou a atenção do mundo, os caminhos dos algozes do líder ambientalista voltam a se encontrar com os de Marina.

A ex-senadora terá como um de seus militantes no Acre o irmão de Darly e tio de Darci, Aleci Alves da Silva. Candidato a deputado estadual pelo PSB, ele promete empenho na campanha presidencial da parceira de luta de Chico Mendes nos seringais da Amazônia.

“O meu compromisso é com a eleição da Marina, terei empenho total, estarei nas ruas pedindo voto para ela e estarei no seu palanque”, afirma Alves. Funcionário público, ele mora na cidade de Senador Guiomard (a 24 km de Rio Branco), onde também é sua base eleitoral. Questionado se esta aliança não o deixa constrangido, ele afirma que as divergências entre sua família e o grupo político da candidata “são coisas do passado”.

“Isso já passou, águas passadas não movem moinho. O que importa é o presente e o futuro, e por isso eu apoio a reeleição do [governador do Estado] Tião Viana [PT] por acreditar que ela é o melhor para o Acre. Eu sou um soldado do PSB”, diz Alves, que aos eleitores faz questão de se apresentar como irmão do mandante da morte de Chico Mendes. “Eu acho que isso me ajuda, né? Ele ficou famoso no mundo inteiro.”

Darly Alves foi condenado como responsável por ordenar o assassinato do líder dos seringueiros. O fazendeiro se sentia incomodado pelos movimentos de resistência dos seringueiros organizados em torno de Chico contra a destruição da floresta para dar lugar aos pastos. A militância rendeu ao líder várias ameaças de morte, sendo uma delas concretizada na noite de 22 de dezembro de 1988, quando o tiro disparado por Darci Alves atingiu o peito do parceiro de Marina.  

“Eu tenho orgulho do meu irmão e ele me autorizou a usar seu nome.” Darly, segundo ele, hoje mora em sua fazenda, a Fazenda Paraná, em Xapuri. O desafeto de Chico agora é evangélico –“um homem de Deus -, e cuida do gado e da pequena plantação. “Ele é um homem trabalhador, de Deus e que não faz mal a ninguém. Tenho orgulho dele porque sempre foi um homem muito trabalhador”, ressalta o militante pesebista.

Para sorte (ou azar?) de Marina, a candidatura de Aleci Alves foi indeferida pela Justiça Eleitoral. Como ele não comprovou filiação partidária, e não recorreu dentro dos prazos, ele está praticamente fora das eleições. Há ainda uma chama de esperança no TSE, mas como pouca possibilidade de reversão. Mesmo de fora, ele assegura compromissos com a eleição de Tião Viana e Marina Silva.

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