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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Os Camelis e os Vianas

Se a vida costuma, vez por outra, nos aprontar surpresas que nos faz acreditar no chamado destino, a política também tem das suas. E esta eleição no Acre representa bem isso. A disputa pelos votos voltou a colocar em colisão duas das principais famílias políticas do Estado: os Camelis e os Vianas. Esta rivalidade já dura 20 anos, com cada lado lutando para mostrar quem dos dois tem mais força; uma queda de braço bastante interessante.

A vitória do jovem Gladson Cameli (PP) para o Senado recoloca um membro dessa influente família do Vale do Juruá nos caminhos dos irmãos petistas Jorge e Tião Viana. A relação destes grupos é quase de amor e ódio. Enquanto serviam aos interesses do Vianismo, os Camelis representavam o que havia de melhor na face da terra. Quando algo foi contrariado, não ficou pedra sobre pedra nas ladeiras de Cruzeiro do Sul.

O primeiro encontro ocorreu na eleição de 1994. Na disputa pelo governo estavam Orleir Cameli (tio de Gladson), Flaviano Melo (PMDB) e Tião Viana (PT). À época o petismo era uma terceira via em fase de crescimento, mas sem forças para enfrentar estas outras duas correntes tradicionais.

Ex-prefeito de Cruzeiro do Sul, Orleir foi eleito. O seu principal pecado foi ter na oposição um PT com seu estilo agressivo. Visto como um político de pouca liderança e com seu governo envolvido em várias denúncias de corrupção, Orleir enfrentava dificuldades na condução do governo. Tinha a oposição petista e de parte peemedebista.

Foi graças à fragilidade e a impopularidade do governo que o petismo surgia como a salvação para o Acre, após duas décadas de insucesso de governos da direita. Um Acre arruinado por 20 anos de desordem institucional possibilitou ao jovem Jorge Viana ganhar as eleições de 1998. Desde então 20 anos se completarão de PT no poder.

E estas duas décadas os petistas precisam agradecer aos Camelis. Primeiro pelo fato de o governo de Orleir ter contribuído de forma indireta por conta dos desgastes. (Uns dizem até que, estivesse Orleir disposto a ir para a reeleição em 98, certamente seria vitorioso).

Em segundo lugar, para manter sua hegemonia no Acre, o PT precisou fazer aliança com os mesmos Camelis tanto tempo demonizados por eles. O apoio da família era essencial para assegurar a manutenção do partido no Palácio Rio Branco com os votos do Juruá, região que até bem pouco tempo era anti-PT. A aliança foi selada com a indicação do primo de Orleir, César Messias, para ser o vice do sucessor de Jorge, Binho Marques (PT).

Messias permaneceu como vice de Tião Viana. Com o Juruá menos refratário, o PT “dispensou” o apoio dos Camelis neste pleito. Na verdade se viu obrigado a dispensar pelo rompimento do herdeiro político da família, Gladson, com a Frente Popular e sua ida para a oposição.

Do ponto de vista político as duas famílias estão rompidas desde 2010, mas restaram alguns acordos econômicos. (O pai de Gladson, contudo, optou por não ter mais nenhum contrato).

As eleições de 2014 ainda nem tinham se encerrado e Gladson já era apontado como o candidato da oposição para o governo em 2018. Ele é visto como o único capaz de por fim ao ciclo dos Vianas no governo. Seu carisma foi o suficiente para derrotar a poderosa máquina em torno da candidatura de Perpétua Almeida (PCdoB), que com todas as ofensivas não evitou a derrota massacrante.

Gladson Cameli terá os próximos anos para se consolidar como uma das grandes lideranças por meio de seu mandato no Senado, o espelho que refletirá seu preparo para subir ou não as escadarias do Palácio Rio Branco.

Se tudo caminhar como o “desenhado” pelo destino, caberá a um Cameli derrotar o petismo no Acre, depois deste ter sido vencedor em cima da desconstrução de um Cameli, isso dezesseis anos atrás.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Desistir da oposição?


O retorno melancólico das boas terras de Manacapuru levará a oposição a analisar o que foram as eleições deste ano. É preciso refletir sobre os erros, ver os pontos fracos e trabalhar para corrigi-los para as próximas disputas. Assim como 2010 e 2012, a bola bateu na trave e não entrou. O tão esperado grito de gol dos oposicionistas está entalado na garganta. 

Continuará como a ampla minoria na Assembleia Legislativa, e ainda perde quadros que garantiam certa qualidade no debate. Entre estas perdas estão Major Rocha (PSDB) de malas prontas para a Câmara dos Deputados, e a derrota de Gilberto Diniz (PTdoB), que, apesar de seu jeito bonachão, tinha discursos qualificado se incomodava bastante o governo.

A vereadora e deputada eleita Eliane Sinhasique (PMDB) caminha para ser a principal referência da oposição neste segundo mandato de Tião Viana (PT). O prefeito Marcus Alexandre (PT) agradece sua saída da Câmara Municipal e joga o pepino para o Palácio Rio Branco.

Desta disputa podemos destacar Márcio Bittar (PSDB) e Gladson Cameli (PP) como as grandes referências da oposição daqui em diante. A votação recebida por Márcio e Gladson os gabaritam a conduzir os processos para as eleições de 2016 e 2018. As eleições municipais não serão fáceis. Tirando raras exceções, a maioria dos prefeitos da oposição eleitos em 2012 foi um fiasco.

É pouco provável que se repita aquele boom do PSDB e PMDB nas prefeituras. Pode ocorrer um rodizio: estas cidades voltam para o governo, e as da FPA mudam tudo. Caberá às lideranças cobrar dos prefeitos mais profissionalismo e responsabilidade na administração dos municípios. 

Se assim não for, o PT retoma a hegemonia nas cidades. A conquista de mais uma cadeira para o Senado assegura à oposição uma força política considerável. 

Glason Cameli e Sérgio Petecão (PSD) podem fazer muitos estragos ao governo ou deixar tudo como está. A situação deles é complicada. Seus partidos estão na base de Dilma, mas adversários do Vianismo no Estado. 

É uma espécie de oposição dupla-face. Para não atrair a antipatia de um eleitor acreano dividido, e que votou em ambos pela campanha de se apresentarem como adversários do petismo. Agora precisam mostrar posições firmes e dizer ao cidadão o motivo de estarem no Senado. 

O PSDB continuará como a trincheira oposicionista em Brasília e aqui. E neste sentido Wherles Rocha pode se destacar fazendo barulho na Câmara, pegando no pé do governo Dilma e Tião. O fato de ficar sem mandato não impedirá Bittar de ser o líder em seu partido e outras siglas onde exerce influência. 

Seu trabalho será manter as bases, fortalece-las e até ampliá-las. Os próximos quatro anos vão requerer muitos estudos e dedicação para chegar afiado ao pleito de 2018, seja qual for o cargo a disputar: governo ou Senado. Na política é assim: acaba uma eleição e começa a próxima. E para quem não está no poder, os desafios são bem maiores. 
  

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O segundo mandato de Tião

Passada a ressaca da vitória para uns e da derrota para outros, é momento de refletir e tentar analisar como serão os próximos quatro anos no Brasil e no Acre. No campo político, Tião Viana (PT) não enfrentará nenhuma dificuldade. Tem amplo domínio da Assembleia Legislativa e seu partido, sozinho, terá cinco das 24 cadeiras. Isso garante uma posição mais confortável ao governador, ficando menos refém do fisiologismo de sua atual base, reunida em torno do nanico PEN.

Como cada deputado petista eleito deve render todo agradecimento ao Palácio Rio Branco, não há motivos para Tião ceder a pressões em momentos importantes no Parlamento. Já no campo econômico os cenários não são os melhores. Logo na segunda-feira o mercado reagiu péssimo à reeleição de Dilma: a Bolsa caiu, o dólar subiu e as ações da Petrobras e outras estatais se desvalorizaram.

Na quarta houve um leve sinal de recuperação. Porém, as perspectivas são de baixo crescimento para o país nos próximos anos. O governo federal terá que fazer ajustes nada agradáveis. E esta economia, com vistas ao controle a inflação, terá impactos diretamente em Estados altamente dependentes das transferências da União.

Já de olho neste prognóstico, Tião Viana precisará apertar os cintos na Fazenda acreana caso queria que, de fato, o segundo mandato seja melhor do que o primeiro. Apesar de não ter feito o pior dos governos, deixou muito a desejar. Gastou por demais com cargos políticos e comprometeu a execução de seus principais programas de campanha d 2010.

Reeleito, o momento requer pegar o papel e caneta para saber onde melhor aplicar os recursos. O governador não pode trabalhar os quatro anos pensando em uma enxurrada de recursos federais enviados para o Ace. A filosofia até 2018 deve ser aproveitar melhor cada centavo de recursos próprios para não ficar tão refém do sobe e desce dos repasses de Brasília, que se comportará conforme o humor (ou a falta dele) da economia mundial.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Voto divorciado


No jargão político costuma-se chamar de voto casado a opção do eleitor de escolher candidatos de diferentes cargos mas que estão no mesmo partido ou coligação. Por exemplo, o voto em Tião Viana e Dilma Rousseff neste domingo, por serem do PT, é um voto casado. Mas nem sempre o cidadão é adepto desta prática, optando por se simpatizar pela figura do candidato do que pelo partido (Se Tião Viana dependesse da imagem do PT, não estaria comemorando a reeleição agora).

Desde 2002 o acreano tem se mostrado um tucano de bico aprumado na disputa presidencial, mas escolhendo o PT para o governo estadual. Neste domingo o eleitor da floresta se mostrou um aecista de carteirinha. O Acre rendeu ao tucano Aécio Neves a terceira maior votação proporcional do país, perdendo para São Paulo (reduto do PSDB) e Santa Catarina.

O senador mineiro ficou com 63,68% dos votos válidos. Em números quantitativos, ele recebeu o apoio de 243.530 acreanos. Votação bem superior à do governador reeleito, Tião Viana. O petista ficou com 196.509 votos, ou 51,29%. Aécio Neves também obteve mais apoio do que o candidato ao Senado, Gladson Cameli (PP), com 218 mil votos.

A grande questão é: por que os acreanos não casaram o voto do PSDB, escolhendo os tucanos Márcio Bittar e Aécio Neves? Se o deputado federal tivesse obtido mais 5% dos votos dados a Aécio, hoje o governador seria ele.

Mas esta tendência do “voto divorciado” não é de hoje. Lula e Dilma sempre perderam no Acre, mas os candidatos de oposição com palanque presidencial tucano não surfaram no banzeiro para desbancar o PT.

Uma explicação lógica não há, pois se houvesse a política não seria uma ciência humana. A opção do eleitor talvez se justifique pela visão mais crítica e rejeição ao governo do PT em Brasília do que aqui. Casar o voto do 45 pode não ser vista como a melhor opção, com o eleitorado receoso de alguma mudança. Os tucanos locais talvez não transmitam a mesma confiabilidade do que as lideranças paulistas.

O eleitor pode aprovar o petismo local, mas rejeitar o nacional. Isso soa contraditório, pois não fosse o apoio de Brasília os petistas acreanos não se sustentariam tanto tempo no poder, administrando um Estado pobre e que depende em mais de 70% da ajuda federal para tocar investimentos de retornos eleitorais.

Portanto, se formos analisar o que passa pela cabeça do eleitor, precisaríamos de um confortável divã para meditarmos até as eleições de 2016. Uma conclusão é certa: voto casado não funciona. Ou seja, o discurso do “unidos somos mais” não cola no eleitor acreano. É cada um por si em busca de seus respectivos votos.

domingo, 26 de outubro de 2014

A máquina pesa, companheiro

Após mais uma disputa campal e quase sanguinária, o PT assegurou o seu quinto mandato à frente do governo acreano. Com isso, o partido que teve como um de seus maiores militantes a ex-senadora Marina Silva, chegará a um ciclo de 20 anos na nossa hegemonia política. Depois de uma vitória apertadíssima em 2010, Tião Viana (PT) não conseguiu reverter a rejeição ao petismo em seus quatro anos de governo. Prova maior disso foi a realização do segundo turno deste domingo.

Para um líder que afirmava aos quatro cantos ter 90% de aprovação popular partir para uma campanha agressiva contra os opositores, uma outra vitória apertada, numa diferença de 10 mil votos, mostra que, não fosse o peso sufocante da máquina do Estado, certamente o partido teria chegado ao fim do ciclo nesta eleição.

Dizer que Tião Viana fez um governo ruim seria injusto. O mais certo seria um governo atabalhoado, confuso e, em alguns pontos, hilário. Traumatizado com as urnas de 2010, procurou redesenhar a roda por uma reeleição mais tranquila. Para isso, tomou para si as principais bandeiras de seu adversário, Tião Bocalom (DEM). Deixou a “florestania” do irmão Jorge Viana (PT) de lado e adotou uma linha mais “desenvolvimentista”, investindo pesado no campo.

Foram vários projetos de Norte a Sul do Estado. Tomou para si a Bocalândia e fez a Cidade do Povo. O Ruas do Povo serviu para conquistar a simpatia do eleitor abandonado na lama e na poeira. Mesmo com todos estes investimentos Tião não foi capaz de amenizar a fadiga de material da gestão petista. A eleição para a prefeitura de Rio Branco foi outra guerra épica, com a vitória de Marcus Alexandre (PT) sendo  possível somente com muito uso da máquina.

O PT montou uma estrutura de dominação do Estado que lhe assegura a permanência no Poder. Uma legião de acreanos depende diretamente de milhares de cargos pagos pelo governo e prefeitura. E sabemos que a cada eleição estas pessoas são obrigadas a empunhar a bandeira pelo candidato de plantão caso não queiram perder o emprego. Estes 10 mil votos de diferença representam bem isso.

Temos uma sociedade acreana bastante dividida, o que é simbolizado pelos resultados desde 2010. É somente com a dominação destes cargos políticos que o petismo tem conseguido a sua sobrevivência. Mas isso faz parte do jogo. O uso da máquina ocorre por todos os partidos, em menor ou maior grau. Os tucanos não dominam São Paulo há mais de 20 anos por serem bonzinhos.

O governo ganha perdendo (se bem que o importante é vencer). Obteve uma reeleição no sufoco e perdeu mais uma cadeira para o Senado. O PT pode comemorar a dominação na Assembleia Legislativa e nos demais Poderes do Estado. É esta dominação, que não poupa Legislativo, Judiciário e outros que também assegura esta sobrevivência.

O futuro da oposição? 2014 mostrou que a sua divisão não é a melhor das opções. Ou se unem de fato numa grande frente partidária e trabalham para a construção de um projeto seguro, ou continuarão a bater na trave e deixar que a vontade de mudança do eleitor seja derrotada pela força abrupta do aparelho estatal.

Que venha 2016!  

Mais 4 anos

Tião Viana é reeleito para mais quatro anos no governo do Acre 

O médico Tião Viana (PT) foi consagrado nas urnas na noite deste domingo para comandar o Acre por mais quatro anos a partir de 2015. O petista venceu o adversário Márcio Bittar (PSDB) com 51,30% dos votos válidos.

Já o tucano obteve 48,70%. A vitória assegura o quinto mandato consecutivo do PT à frente do Palácio Rio Branco, dando ao partido 20 anos de hegemonia no Estado. Depois de uma eleição acirrada no primeiro turno, Viana venceu Bittar com uma diferença de pouco mais de 10 mil votos.

Em relação à votação do último dia 5, a diferença caiu para mais de 60 mil votos. Apesar de garantir a reeleição, Viana não foi capaz de conter o favoritismo do presidenciável tucano Aécio Neves no Acre. Ele venceu Dilma com uma margem de folga: 63% contra 36%.

Com o resultado, a militância petista invadiu as ruas de Rio Branco para comemorar a vitória. O tradicional estacionamento da Arena da Floresta é o ponto de encontro. Os votos na capital, por sinal, foram bastante disputados. Apenas um por cento separou o petista do tucano. Enquanto o petista obteve 99 mil votos, Bittar ficou com 97 mil. Com isso, Viana reverteu o resultado do primeiro turno quando os votos da oposição, somados, ultrapassaram a Frente Popular.

Já em Cruzeiro do Sul, segundo maior colégio eleitoral, apenas 800 votos evitou o petista de amargar a derrota. Em Sena Madureira, com o terceiro maior número de eleitores, Bittar saiu vitorioso: 56% a 43%.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

DF, o melhor lugar para se viver na Amazônia


A Frente Popular tem deitado e rolado com uma gravação do senador Sérgio Petecão (PSD), cabo eleitoral de Márcio Bittar (PSDB), em que ele declara ir embora do Acre caso o PT vença as eleições de domingo. Os governistas usam o áudio para exemplificar o descompromisso de lideranças da oposição com o Estado, dizendo que os mesmos só querem usar o Acre para se eleger e depois dar as costas, indo morar bem longe.

Mas se a oposição tem políticos que se encaixam neste perfil, o petismo também não fica atrás. Vide o caso do ex-governador Binho Marques. Ele tinha como bordão de governo a transformação do Acre no melhor lugar para se viver na Amazônia.

Repetia tal frase à exaustão, fazendo algumas pessoas até a acreditar nisso de fato. Binho era um destes, tanto que, tão logo passou a faixa de governador para Tião Viana (PT), pegou as malas e foi morar em Brasília. Não há como Binho negar que o Acre é o melhor lugar para se viver na Amazônia estando ele no Planalto, com a pensão de R$ 24 mil, paga pelos acreanos, por ter sido governador por quatro anos.

O Acre é tão bom para Binho que nem vir aqui para pedir voto para seu colega Tião Viana ele veio. Não fosse a disposição de Jorge Viana em ir atrás do parceiro, certamente o eleitor nem se lembraria quem foi o governador entre 2007 e 2010. Jorge é um excelente cabo eleitoral. Além de ficar distribuindo santinhos no semáforo, ele sai de terno e tudo das sessões do Senado em busca de depoimento dos companheiros de luta de antigamente.

O programa do PT em que Binho ressurge das cinzas comprova isso. Jorge aparenta ter acabado de sair do Senado. Ainda de gravata mas sem o paletó, ele procura um cenário para tentar disfarçar que ambos estão a milhares de quilômetros de terras acreanas.

Afinal de contas, quem mesmo só quer usar o Acre para se dar bem?


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Carta ao Povo Acreano

O candidato do PSDB ao governo do Acre, Márcio Bittar, tem enfrentado neste segundo turno uma das maiores investidas já realizadas pela Frente Popular para desconstruir a candidatura e a imagem de um adversário. Talvez ofensiva semelhante só a patrocinada contra Tião Bocalom (DEM), também no segundo turno pela prefeitura de Rio Branco, em 2012. Assim como há dois anos, o PT nunca tinha se sentido tão ameaçado em perder uma cadeira importante quanto agora.

Bittar tem sofrido todo o tipo de ataque. A militância vermelha espalha boataria pelos quatro cantos do Estado, apresentando o tucano como um retrocesso. Sua vitória seria o fim do Bolsa Família, o abandono da Cidade do Povo e Ruas do Povo, a demissão em massa de terceirizados e cooperados. No debate de quarta ficamos sabendo –vejam só – que também vai privatizar a nada lucrativa OCA.

Para enfrentar este tsunami de boatos que acabam por virar verdade –afinal, uma mentira contada tantas vezes torna-se verdade – Bittar passou a adotar estratégia semelhante à de um petista, isso há doze anos. A chamada Carta ao Povo Brasileiro foi essencial para assegurar a vitória (enfim) de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2002. Aproveitando oito anos de desgaste de governo FHC, Lula liderava todas as pesquisas.

Porém, enfrentava a resistência do mercado. A cada crescimento nas sondagens as bolsas caiam, o dólar subia e a economia ia pela lona. Para reverter estes efeitos, Lula redigiu a carta assumindo o compromisso de não alterar em nada as bases da política econômica implementada nos governos tucanos. Com este sinal, Lula ganhou a simpatia do mercado e teve caminho livre para o Planalto.

A pergunta agora é: terá Márcio Bittar o mesmo efeito de Lula? Numa espécie de Carta ao Povo Acreano, registrada em cartório, ele se compromete a não fazer nada daquilo que seus oponentes espalham por aí. Assegura a manutenção do Bolsa Família (algo que como governador jamais poderia eliminar), manter os contratos de terceirizados e cooperados, concluir as atuais obras e não atrasar o pagamento dos salários.

Num Estado pequeno, de conversa de pé de ouvido, onde uma conversa sempre é aumentada, o tucano tem um desafio enorme. Ele terá até sexta, dia do último programa eleitoral, para massificar a mensagem de sua carta, e fazer seus principais pontos ecoar entre aqueles que foram “contaminados” pela boataria.

Se tudo sair como o previsto, mais uma vez teremos uma carta que entrará para a história da política. Se antes ela foi usada pelo PT para derrotar o PSDB, o efeito agora seria o inverso.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O saudoso regime militar?

Mensalão petista, mensalão tucano, petrolão, trensalão. São tantos “ãos” ligados a corrupção, que o brasileiro está enojado de ler o noticiário. A cada dia as coisas só pioram. É dinheiro na cueca, na meia, é dinheiro percorrendo os oleodutos da Petrobras que ninguém sabe mais quem é quem neste jogo todo.

E justo num dos momentos mais importantes de nossa história, quando vamos às urnas escolher o futuro presidente da República, percebe-se um pensamento estranho na nossa sociedade.

Pode ser um caso ali e outro acolá, mas parece ganhar força a cada manchete de um político flagrado surrupiando os cofres da nação: a simpatia das pessoas pelo regime militar que dominou o País entre 1964 e 1985. “Naquele tempo não existia isso”. “Se o cara roubasse era punido”. “Tem que fechar esse Congresso e colocar o Exército na rua.”

São frases como essas que se ouve de pessoas mais velhas e outros nem tanto assim. Os abusos nos casos de corrupção e a impunidade destes crimes têm levado os brasileiros a um ponto de intolerância que os leva a defender o absurdo.. As pessoas estão preferindo abrir mão de um regime democrático para voltar a viver numa ditadura, na esperança de que a corrupção seja amenizada.

Dizer que não existia corrupção nos governos militares é como afirmar que o mensalão foi tudo uma farsa da “imprensa golpista”. A questão é que a repressão à liberdade de imprensa impedia a divulgação de qualquer notícia negativa aos comandantes de então.

Com uma imprensa tendo o seu papel de fiscalizador dos Poderes assegurado pela Constituição pós-ditadura, o cidadão tem a oportunidade de saber como, de fato, os governantes cuidam do bem público.

A transparência é hoje uma realidade, bem diferente dos anos de chumbo. Fechar o Congresso é o mais grave dos atentados contra a democracia. Sendo bem ou mal composto, sua existência é vital para tentar controlar a sanha de Poder do chefe do Executivo. No papel, as suas funções são as mais belas possíveis, mas na prática a realidade é outra.

Muito mais do que ocupar o Senado e a Câmara com tropas, nossa melhor arma é o voto. Além do mais, precisamos exigir que o governo pare de transformar o Legislativo numa espécie de sua secretaria ou ministério.

A reforma política –a mãe de todas as reformas – precisa ser votada urgentemente. Ou os congressistas se mobilizam neste sentido, contrariando alguns de seus interesses, ou não achem ruim quando soldados estiverem no plenário, e a sociedade aplaudindo.

O Brasil não precisa e nem queremos um novo regime militar –aliás, não aceitamos nenhum tipo de ditadura, seja de esquerda ou de direita. Precisamos de políticos melhores e com coragem para enfrentar este modelo político-partidário falido e corrupto.

O nosso atual sistema pode até estar péssimo, mas é melhor continuarmos nesta bagunça democrática, onde temos a liberdade de dizer o que penamos (mesmo que nem tão livres assim) a um regime opressor que costumava torturar e eliminar seus opositores.

G7 (Parte 2)

MPF denuncia sobrinho de Tião Viana por formação de quadrilha e fraudes 

O MPF (Ministério Público Federal) apresentou na última sexta-feira (17) denúncia à Justiça contra o sobrinho do governador do Acre, Tião Viana (PT), Tiago Viana Neves, por suposta formação de quadrilha e fraudes em licitações. Este é o primeiro desdobramento do processo judicial da operação G7, deflagrada em maio do ano passado pela Polícia Federal, que prendeu secretários do governo e empresários da construção pelos mesmos crimes.

Tiago Viana foi incluído no processo por, ao longo das investigações, a polícia encontrar uma eventual participação dele em esquema de desvio de verbas do SUS com um dos empreiteiros envolvidos. Segundo o MPF, Narciso Mendes Júnior, em parceria com outros sócios, fundou a Centro Medicina Diagnóstica Ltda.

Como então diretor de análises clínicas da Secretaria de Saúde, e usando de sua influência no governo, Viana Neves teria favorecido a empresa com informações privilegiadas e atuando para que ganhasse as licitações para exames de radiologia.

Todo o esquema, segundo a denúncia, teria ocorrido em 2012 e acabado após a operação policial.  O MPF afirma que a criação da Centro já tinha como objetivo abocanhar as licitações do sistema responsável pela digitalização de imagens radiológica do Estado, da Secretaria de Saúde. Os procuradores dizem que, oito meses antes da concorrência pública, o acordo já estava fechado para que a empresa fosse a vencedora.

Tiago Neves e Narciso Mendes chegaram a ser presos pela Polícia Federal no dia 10 de maio. O sobrinho do governador obteve liberdade um dia depois. Narcisinho, como o empreiteiro é conhecido, e outros 14 acusados, incluindo o ex-secretário de Obras e agora assessor especial de Tião Viana, Wolvenar Camargo, ficaram na cadeia por 40 dias.

O processo da G7 ainda investiga os supostos crimes nos processos de licitações do “Ruas do Povo”, programa do governo que tem como meta asfaltar todas as ruas do Estado. Narciso Mendes Júnior também é investigado em suposta formação de cartel para fraudar e eliminar concorrentes nas licitações do “Ruas do Povo”.

domingo, 19 de outubro de 2014

Confusão numérica

Vox Populi e Ibope apontam vitória de Márcio Bittar 

À primeira vista o leitor pode ficar confuso com esta manchete. Afinal de contas, não foi bem isso que você leu na última semana na imprensa acriana. Por lá as letras gigantes apontavam a vitória consagradora do candidato à reeleição, Tião Viana (PT). Mas explico o porquê deste meu “gancho” (jargão jornalístico para o foco central da reportagem). Levando em consideração os erros grotescos destes dois institutos no primeiro turno, o mais provável é que o vencedor no próximo domingo (26) seja Márcio Bittar (PSDB).

Analisemos os números: a última pesquisa Ibope divulgada dias antes do 5 de outubro, apontava a reeleição de Tião sem o segundo turno. Porém, iremos nos ater aos números de seu adversário direto. Bittar aparecia com 23% das intenções, empatado com os mesmos 23% de Tião Bocalom (DEM).

Ao fim o tucano ficou com 30% dos votos, e Bocalom, 19%. Levando em consideração o resultado, o Ibope subtraiu de Bittar ao menos 7%. Se agora no segundo turno o instituto mostra o candidato com 47%, então é certo dizer que, na verdade, Bittar tem 53%. Já Tião Viana tenderia a ficar com os mesmos 49% da margem de erro do primeiro turno (Ele tinha 47%)

Já com o Vox Populi e seus contratos milionários com o Palácio Rio Branco, a situação é bem mais bizarra. O levantamento do começo do mês indicava que Márcio Bittar teria 19% dos votos. Ou seja, o tucano foi prejudicado aí em 11%. No segundo turno o Vox Populi  o mostra com 43%. Na verdade, reavaliando o erro, o adversário de Tião Viana teria 54%.

Já o governador que o Vox Populi apontava como reeleito com 53%, ficou com 49%. Considerando a margem de erro, o governador continuaria com os mesmos 49%. Esta foi a conclusão à que o blog chegou semanas atrás quando afirmou que Tião Viana tinha alcançado o seu teto de votos. Seria mais fácil a ascensão de Bittar do que a sua. De fato foi o que aconteceu.

O tucano foi o mais beneficiado pela migração dos eleitores de Bocalom. O petista, contudo, mostra claros sinais de estagnação –mesmo com os números maquiados de Ibope e Vox Populi.

Agora o Instituto Delta aponta a virada de Bittar. É impossível? Não. Levando em conta que seu candidato a presidente lidera as pesquisas nacionais e no Acre, Bittar tende a ser carregado por esta onda.  Por aqui o Ibope mostra Aécio Neves (PSDB) com 59%, contra 32% de Dilma Rousseff (PT).

Por estas e outras a minha manchete acima não é tão bizarra assim. O resultado concreto só no domingo. Posso estar completamente certo, como completamente errado. É esperar o Instituto Eleitor.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

As cutucadas de Lula nos Vianas

“Tem muita gente que pergunta pra mim: Lula, por que você gosta tanto do povo do Acre, se em muitas eleições ele não votou em você? É porque não é assim que a gente governa, a gente não governa olhando para o resultado da eleição. Eu gosto de quem votou em mim e não gosto de quem não votou em mim. Não é assim. O meu caráter não é esse. Eu não governo esperando que todos os dias as pessoas acordem me agradecendo. Eu duvido que em algum momento da história da existência do Acre, o Acre recebeu metade do dinheiro que recebeu nestes 12 anos com Dilma e Lula. E nunca perguntei em quem as pessoas votavam. Nunca perguntei que religião tinham, e muitos menos que time torcia. É porque eu achava que o Brasil tinha de ser mais igual, e tinha que tratar o Acre com o mesmo respeito que a gente tratava São Paulo. O presidente da República que tiver vergonha ele não vai tratar bem aqueles que são seus amigos e tratar mal aqueles que não gostam dele. Porque não é uma relação de gostar, mas de tratar o povo com respeito.”

Estas belas palavras foram proferidas pelo ex-presidente Lula (PT) num palanque montado ao pé da bandeira do Acre, no calçadão da Gameleira, debaixo de um sol escaldante de 40 graus. Ao seu lado estavam os irmãos Jorge e Tião Viana, também do PT.

Este discurso representa a síntese de um bom estadista. Não à toa Lula é uma das principais lideranças políticas brasileiras da atualidade. De fato o Acre foi muito beneficiado nos dois governos Lula, e também –eu acho – que no de Dilma, mas numa escala bem menor. É provável que os últimos quatros anos de FHC, com Jorge no Palácio Rio Branco, tenham sido bem mais vantajosos para o Acre do que na comparação com a gestão da presidenta.

Outro ponto é uma cutucada indireta de Lula aos governos petistas no Acre. Se ele realizou um governo republicano, ajudando os Estados sem distinção da cor partidária do governador, por aqui esta política, infelizmente, não prevalece. Sabemos que no Acre os prefeitos da oposição são tratados a pão e água pelos governos de Jorge, Binho Marques e Tião Viana.

Que a partir destas palavras o governador Tião Viana, se reeleito no outro domingo (26), repense suas relações institucionais com as prefeituras. Que estas palavras de Lula sejam impressas e pregadas nos gabinetes da Casa Rosada.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Alguém viu o PCdoB por aí?

A  realização do segundo turno no plano nacional e local, mais o nocaute dado por Gladson Cameli (PP) em Perpétua Almeida (PCdoB) pelo Senado, tem feito com que eleitores e analistas deixem de avaliar como fica o futuro do maior aliado do PT no Acre, o Partido Comunista do Brasil, PCdoB.

Apontada como uma das principais forças políticas do Estado, a legenda vem, a cada eleição, diminuindo seu espaço, ou mantido o tamanho que lhe é peculiar. O PCdoB termina 2014 do mesmo tamanho de quando começou sua formatação no Acre, há 24 anos. Em 19990 os camaradas elegeram Sérgio Taboada para a Assembleia Legislativa, no mesmo “blocão de esquerda” que levou os petistas Marina Silva e Nilson Mourão.

O maior auge vermelho talvez tenha sido nestes últimos quatro anos. O PCdoB tinha dois deputados estaduais, uma deputada federal e um de seus fundadores, Edvaldo Magalhães, naquela que pode ser tida como a mais importante das secretarias do governo Tião Viana (PT), a de Desenvolvimento e Indústria. (Tal posição ocasiona ainda ciumeiras dentro do petismo).

O PCdoB acreano sofre do “complexo de majoritário”. Nunca passou de cargos no Legislativo. Sua primeira aposta foi em 1996, quando rompeu com o PT do prefeito Jorge Viana para brigar pelo comando da capital. O resultado foi patético e o PMDB elegeu Mauri Sérgio.

Reatada a relação com o PT, os camaradas foram fieis aliados dos governos petistas. Nos dois mandatos de Jorge Viana no Palácio Rio Branco, Edvaldo Magalhães foi seu líder de ponta a ponta, sem recuar, sem cair e sem temer. A lealdade lhe rendeu a presidência da Assembleia Legislativa no governo Binho Marques (PT).

Foi na condução do Parlamento que dava seus primeiros passos para uma candidatura majoritária. Seu objetivo era uma das duas cadeiras do Senado disponíveis em 2010. Fez uma gestão moderna na Assembleia, concentrou superpoderes (chegou a ser chamado de governador paralelo a Binho) e construiu suas bases para o voo solo.

Mas o momento político não era da Frente Popular. Mesmo tendo como principal cabo eleitoral o carismático e popular Jorge Viana, o camarada não decolava. A segunda cadeira era da oposição. E quem a ocuparia? Sérgio Petecão (PSD), presidente da Assembleia do Acre nos dois mandatos de....Jorge Viana.

Edvaldo perdeu e a mulher, Perpétua Almeida, obtinha a segunda reeleição para a Câmara. Fechadas as urnas já se falava em 2012. O PT estava como carta fora do baralho. Os principais nomes para disputar a prefeitura de Rio Branco eram os do quase governador Tião Bocalom (DEM) e Perpétua Almeida.

PT e PCdoB, então, começaram uma guerra interna dentro da Frente Popular. Perpétua reivindicava o direito do partido de ter uma cadeira num Executivo importante. Os camaradas diziam que já tinham cedido demais para o PT. A legenda de Tião, porém, não recuou um centímetro. Ao PCdoB restou a vice e à Perpétua fazer corpo-mole na campanha de Marcus Alexandre –vindo a declarar apoio somente no segundo turno.

Foi tal postura que fez, agora em 2014, muitos petistas declararem empenho total na campanha dela para o Senado, “mas só no segundo turno”. O fim desta história já conhecemos. Pela segunda vez consecutiva o PCdoB perde uma cadeira para o Senado, deixando a oposição com a maioria, não fez o sucessor de Perpétua na Câmara, e lhe restou apenas um deputado na Assembleia –este sem nenhuma ligação com os grupos dominantes da legenda.

Nos bastidores fala-se em vingnça comunista agora na eleição do segundo turno, uma espécie de empenho de faz de conta na campanha de Tião Viana. Tal postura é pouco provável, pois a eventual vitória de Márcio Bittar (PSDB) implicaria numa onda de comunistas abarrotando as agências da Caixa em busca do seguro deemprego. Então, o melhor é dar aquele abraço nos companheiros petistas para não ficarem na rua da amargura.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Todo Mundo Ama Marina

No Acre, tucanos usam imagem de Marina ao lado de Aécio e Bittar 



Os tucanos acreanos passaram a explorar a imagem da ex-senadora e candidata derrotada à Presidência, Marina Silva (PSB), em parte de seu material de campanha na internet. A imagem da nova aliada veio após Marina anunciar, neste domingo (12), seu apoio à candidatura de Aécio Neves (PSDB). Com a disputa para o governo do Acre também polarizada entre PT e PSDB, Marina ainda não se manifestou sobre em quem votará.

O segundo turno em seu Estado natal é disputado entre o candidato à reeleição Tião Viana (PT) e o deputado federal Márcio Bittar (PSDB). A Rede, principal grupo político representante de Marina no Acre, optou pela neutralidade na corrida pelo Palácio Rio Branco.

Um de seus principais líderes, Doutor Julinho, que perdeu a disputa pela Assembleia Legislativa, é casado com a chefe da Casa Civil de Tião, Márcia Regina. Outros marineiros também ainda mantêm relações com a gestão petista. Além do mais, a ex-ministra é amiga de antigas lutas dos irmãos Viana, sobretudo com o senador Jorge Viana (PT).

Em eleições passadas, Marina foi adversária deste atual grupo de oposição que tenta acabar com a hegemonia de 16 anos de PT no Estado.

Sem se importar muito com isso, alguns tucanos tentam pegar carona na onda de popularidade da ex-senadora por aqui. Na votação do primeiro turno Marina obteve 41,99% dos votos, sendo Aécio Neves o segundo colocado.

No auge da popularidade de Marina, quando aparecia em empate técnico com Dilma Rousseff (PT) e derrotando a presidente num possível segundo turno, alguns membros do tucanato acreano diziam que a candidata do PSB (partido  aliado de Tião Viana) teria sua campanha no Acre organizada pela oposição. A virada de Aécio, contudo, evitou tal imbróglio eleitoral.


Aspas 
“Sobre Marina Silva e o Acre, a nossa líder não apoia nem o candidato a reeleição Sebastião Viana, nem o candidato Márcio Bittar, qualquer uso da imagem ou do nome dela é, além de indevido, oportunismo político. Nossa posição é coletiva e de independência em relação ao segundo turno local e as duas candidaturas que estão concorrendo ao governo do Estado. Sem mais.”

Carlos Gomes, Coordenador da Rede Sustentabilidade no Acre


Voto a voto

Delta mostra empate técnico entre Tião Viana e Márcio Bittar 

Gina Menezes/Contilnet 

A primeira pesquisa ContilNet/Delta realizada no segundo turno das eleições deste ano, mostra um empate técnico entre os candidatos Tião Viana (PT) e Marcio Bittar (PSDB).De acordo com os dados levantados pelo Instituto Delta, após entrevista com 1.200 eleitores, Tião Viana tem 47,5% dos votos, contra 46,8% do tucano Marcio Bittar.

O que mais chamou atenção na pesquisa, realizada entre os dias 8 e 12 de outubro, foi que grande maioria dos votos de Tião Bocalom (DEM) migrou para Marcio Bittar, neste segundo turno.

Pelo menos 5% dos entrevistados se dizem indecisos, enquanto que 0,7% disseram que irão votar em branco ou anular os votos. A pesquisa tem uma margem de erro de 3% e está registrada o Tribunal Regional Eleitoral sob o número AC-00063/2014.

A pesquisa Delta/ContilNet constatou, ainda, que 12,42% do eleitorado acreano mostra disposição para mudar o voto. 83,58 dizem que não mudariam de candidato e apenas 4% não sabe ou não respondeu.

domingo, 12 de outubro de 2014

O voto jovem

No último domingo, o domingo do primeiro turno, os acreanos foram às urnas para eleger seu mais novo senador da República: Gladson Cameli (PP), de 36 anos. Sua vitória já era esperada tanto pelos números das pesquisas quanto pela onda popular que sua candidatura ganhou pelas ruas das cidades, sobretudo em Rio Branco.

Ele tornou-se um fenômeno, dizia-se nas rodas de conversa. É o político da moda, caiu nas graças do povão. E é o que foi refletido no resultado final: uma diferença de mais de 82 mil votos sobre sua adversária direta, Perpétua Almeida (PCdoB).

Gladson Cameli é sobrinho do ex-governador Orleir Cameli, o mais demonizado pelos então oposicionistas petistas. O PT exerceu a oposição mais radical de todos os tempos no governo Orleir, operando de todas as formas para impedir a sua governabilidade.

Entre as líderes desta oposição estava a então senadora Marina Silva. Em resumo, Orleir só não foi chamado de santo pelos petistas, mas todo o resto que você possa imaginar disso não foi poupado.

O sobrinho tem como uma de suas missões políticas reparar a história política do ex-governador, morto em 2013 vítima de câncer. Se alguns achavam que o fato do parentesco com Orleir seria prejudicial, a aposta foi errada. Durante a campanha Gladson percebeu que, mesmo com todos os ataques sofridos, a imagem de seu tio é positiva entre os eleitores, em especial no interior.

Mas esta relação familiar não foi o fator preponderante para a vitória acachapante de Gladson sobre Perpétua. Sua eleição faz parte da histórica tradição acreana de optar por políticos jovens. A escolha pela juventude sempre foi um fator na hora do acreano escolher seus representantes.

Foi assim com o primeiro governador eleito do Acre, José Augusto de Araújo, quando derrotou o tradicional José Guiomard dos Santos, um dos líderes do Movimento Autonomista.

Depois vieram as eleições de Flaviano Melo (PMDB) para prefeito de Rio Branco, Edmundo Pinto (PDS) para governador em 1990, e Jorge Viana (PT) prefeito da capital, em 92. A própria eleição da jovem Marina Silva para o Senado, em 1994, também tem esta relação.

Assim como estes jovens eleitos no passado se destacaram na política local, sendo ainda hoje referência, Gladson caminha para trilhar o mesmo caminho. Já provou isso como deputado federal, eleito aos 27 anos. “Diziam que eu ia ser um menino mimado na Câmara, fui determinado a mostrar o que queria”, recorda ele, hoje um campeão na liberação de emendas e indicações.

Não há dúvidas de que ele será um dos melhores senadores que o Acre já elegeu. Ele é obstinado e determinado naquilo que quer. Tem a ambição política de sempre fazer o melhor, não aceita o mais ou menos. E é esta ambição que o trouxe até aqui, e o levará a degraus bem superiores neste começo de trajetória como majoritário.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Bagaceira socialista

O Partido Socialista Brasileiro (PSB) no Acre de Marina Silva está numa confusão só. A legenda que enfrenta uma saia-justa desde a decisão, em 2013, de Eduardo Campos de lançar candidatura própria à Presidência da República, e romper com o PT , no Acre nunca fez questão de se afastar um milímetro do petismo. A razão para isso é simples: seus principais líderes ocupam espaços na administração Tião Viana (PT).

Com a trágica morte de Campos os socialistas acreanos ficaram encrencados ao ver a ascensão de Marina, e sua onda que ganhou corpo no Estado, o que lhe rendeu a vitória nas urnas. Como o PSB iria cair de cabeça na campanha da ex-senadora estando coligado com o PT de Dilma Rousseff?

Até aí tudo bem, as duas siglas encontraram o meio-termo por não haver tantos conflitos de interesse. O problema é agora, com a decisão da executiva nacional de migrar para Aécio Neves (PSDB). Assim como no plano nacional, o segundo turno é polarizado entre PT e PSDB. Rivais históricos, tucanos e petistas colocam no centro da artilharia o PSB.

E o abate do PSB foi interno, sem ser preciso tropas do PT e PSDB dispararem um único tiro. Os militantes socialistas de base, que se autodenominam como os que estão debaixo de sol e chuva defendendo o parido, não estão nada satisfeitos com a decisão da direção regional de abraçar a candidatura de Dilma.

“O PT e a Dilma passaram o primeiro turno destruindo a nossa candidata [Marina], inventando absurdos numa luta desigual e agora vou ser obrigado a fazer campanha pra ela? Eu não farei isso, meu candidato é o Aécio, vou seguir a orientação nacional”, diz José James, coordenador sindical do PSB e vice-presidente da CTB, central ligada ao partido.

Segundo James, vários são os filiados do PSB que também adotarão Aécio Neves no Acre por descordarem do apoio a Dilma. Para ele, a direção partidária tomou uma decisão restrita a um pequeno grupo, sem levar em consideração e vontade da grande maioria. Ou seja, a velha política tão criticada por Marina prevaleceu como nunca em sua atual legenda nas bandas do seringal Bagaço.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Os varadouros de Marina no Acre

Após o PSB e a Rede se definirem sobre como vão se comportar neste segundo turno presidencial entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), a dúvida é quanto ao mesmo proceder das duas legendas no Acre, a terra natal de Marina Silva (PSB). Fundadora do PT no Estado e ainda mantendo fortes laços com alguns companheiros locais, Marina saiu do primeiro turno como uma das principais lideranças do Estado, carregada. Sobretudo, pela “marola” que a fez crescer e depois recuar nas pesquisas para presidente.

No Acre ela obteve 41,99% dos votos válidos. Em seguida veio Aécio Neves (29,08%) e Dilma Rousseff (27,98%). Uma reversão significativa quando comparado com 2010; naquela eleição a ex-senadora ficou em terceiro lugar. Agora é saber como estes eleitores de Marina vão votar para presidente e governador aqui na nossa floresta.

Dizer que a grande maioria de seus eleitores aqui é anti-PT ou contra Dilma seria desleal. Parte deste eleitorado tem simpatia por ela e pelo modelo petista do Acre. Por sinal, fatia expressiva dos cargos comissionados acomodados na gestão Tião Viana (PT) votou e fez campanha para Marina. Mas o grosso da estrutura governista esteve empenhado no palanque de Dilma.

É pouco provável que o PSB acreano siga o mesmo rumo do nacional de apoiar Aécio. Por estas bandas os socialistas estão comprometidos até o pescoço com o PT e seus confortáveis cargos. A Rede é uma incógnita tanto quanto Marina. Com nenhuma força política não elegeu seus dois candidatos a deputado estadual: o Doutor Julinho que disputava pelo PSB e Francineudo Costa, do PV.

Segundo informações, a Rede se reunirá no sábado para decidir o futuro no segundo turno. Com relação às eleições para o governo local, a tendência é de neutralidade, não declarando apoio nem a Tião nem a Márcio Bittar (PSDB). No nacional, a Rede liberou os filiados a escolher Aécio.

Mesmo assim, nos bastidores, alguns integrantes da Rede mostram simpatia pelo palanque tucano de Bittar. Tal sinal é um descontentamento com as operações realizadas pelo PT para eleger sua bancada na Assembleia Legislativa, enfraquecendo as demais candidaturas.

Esta “vingança”, contudo, não é o suficiente para ameaçar a reeleição do petista Viana.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Erro de cálculo

Uma passada esta manhã pela Assembleia Legislativa, na primeira semana após a votação de domingo, mostrou um clima de velório no Parlamento estadual, após a lavada que o povo decidiu fazer nas cadeiras. A renovação de 75% revelou o sentimento de insatisfação do eleitor com a atuação desta legislatura –a pior desde o processo de redemocratização do país. Se esta renovada foi excelente para o cidadão, saiu péssima para Tião Viana (PT) e suas pretensões de reeleição.

A afirmação parece contraditória quando o PT fez cinco deputados estaduais –a maior bancada. A Frente Popular obteve a maioria, com 15 cadeiras, assegurando ao Palácio Rio Branco boa governabilidade. Mas, então, por que o resultado do Legislativo foi péssimo para o Vianismo?

Eleger cinco deputados estaduais trouxe um alto custo para a campanha de reeleição de Tião. Houve um erro de cálculo que fará o partido abrir as torneiras para assegurar a lealdade de importantes apoiadores. O PT tinha como aliado de coligação o PEN (Partido Ecológico Nacional), que chegou a ter a maior bancada com sete deputados, e agora tem cinco.

Destes, três tentavam a reeleição: o presidente da Casa, Élson Santiago, o líder de Tião Viana, Astério Moreira, e o líder do governo nas horas vagas, Jamyl Asfury, tamanha sua bajulação ao Executivo. Todos pleitearam a aliança com o PT, vista como a melhor opção, e esperavam todo apoio do Palácio Rio Branco como retribuição à sua lealdade cega –transformando o Parlamento numa susecretaria petista.

Mas não foi o que aconteceu: o PT acionou a máquina para eleger os seus candidatos, deixando os deputados do PEN despenados; nenhum se reelegeu. A situação é considerada como o maior erro político no Acre já cometido nos últimos anos. O fato é que o PT esperava ter a reeleição de Tião já no domingo, o que liquidava os deputados que eles tinham como alvo, fazendo o governador chegar a 2015 reinando absoluto.

O segundo turno era uma ideia remota para os petistas. Aliás, ela nem se passava pela cabeça. A postura agressiva desagradou até alas dentro do PT. Para alguns grupos, o partido e a estrutura do governo estiveram focados somente na eleição dos apadrinhados da Democracia Radical, (DR), a tendência majoritária da legenda, deixando as demais ao leu –não o de Brito.

O único eleito fora deste grupo é Jonas Lima, da Democracia Socialista (DS). Nos bastidores da Aleac há ainda a informação de que os governistas trabalharam duro pela não reeleição de alguns deputados apontados como indigestos, incluindo Eber Machado (PSDC) e Edvaldo Souza (PSDC).

O desafio do governo vai ser convencer os grupos políticos de todos os deputados abandonados e liquidados da Assembleia a se dedicarem com afinco na ameaçada campanha de reeleição de Tião Viana.

A dúvida é saber quanto isso custará. A máquina do Estado já está inchada de indicados partidários. Oferecer cargos para parlamentares acostumados com o gostinho poder nas mãos, será como oferecer migalhas.

Ou o governador equaciona este problema, ou pode ver a debandada de apoios políticos importantes irem para o lado tucano, como forma de retaliação à operação política mais desastrada dos últimos tempos.

Viana x Bittar

Uma análise fria do que foi o primeiro turno das eleições para o governo do Acre mostra que as chances de vitória do tucano Márcio Bittar sobre o petista Tião Viana são bem maiores –mesmo que a diferença entre ambos seja de menos de 1.000 votos. Isso, óbvio, dependerá do comportamento de cada candidato nos 20 dias de segundo turno. A razão para o favoritismo de Bittar é simples: a votação recebida por Viana no domingo representa o limite do limite do eleitorado pró-governo.  

Sua única possibilidade de crescer é tirar votos da oposição (um fator complicado ante o alto sentimento antigoverno), convencer os votos nulos a apostar no 13 e conquistar aqueles que não foram votar domingo a ir à urna dia 26. Uma verdadeira operação de guerra. 
  
Já Bittar receberia naturalmente os 19% de votos de Tião Bocalom (DEM), o que já garante o empate com o atual governador e seus 49%. A tendência mais lógica –com a imprecisão da ciência política – é que os eleitores de Bocalom migrem para Márcio Bittar (PSDB). Quem optou pelo ex-prefeito de Acrelândia carrega o mesmo sentimento de rejeição ao petismo do eleitor de Bittar. 

A união forçada da oposição nesta nova disputa pode favorecê-la dentro daqueles eleitores que pregam de forma veemente esta unidade para derrotar o PT, mas que se vê descrente com o jogo de egos destes grupos. A insatisfação do eleitor com este racha oposicionista o leva a optar pelo PT por não ver segurança suficiente para entregar o governo a opositores que não conseguem se unir em torno de um projeto. 

Nos últimos 16 anos o acreano passou por uma lavagem cerebral de unidade da Frente Popular que só existe para inglês ver. Esta mesma união é apontada como o sucesso das gestões petistas que tiraram o Acre do buraco deixado “por esta oposição que está aí querendo voltar”.  A Bittar cabe a tarefa de conquistar o eleitorado que vota no PT “porque é o jeito”. 

Se a oposição corrigir os erros do primeiro turno, mostrar unidade e transmitir segurança ao eleitor mais conservador, a possibilidade da vitória tucana é real. Esta engrenagem é a chave para o fim do ciclo do petismo.  

Além do mais, Bittar terá em seu palanque um senador eleito, Gladson Cameli (PP), cuja principal função será distribuir abraços e beijinhos para o eleitor –o que assegurou sua lavada sobre Perpétua Almeida (PCdoB). 

Por seu lado, Tião Viana (PT) terá o peso da máquina para se livrar do pesadelo da derrota. A principal estratégia é desidratar a oposição, apontando os seus erros, os pecados do passado e partindo para o que sabem fazer de melhor: a desconstrução do adversário com os métodos mais sórdidos. (Vide o caso Marina Silva). 

Além disso, o Palácio Rio Branco tende a começar a operação de cooptação dos candidatos a deputado estadual e federal das coligações de Bittar e Bocalom derrotados domingo. O mesmo que aconteceu em 2012 para assegurar a dramática vitória de Marcus Alexandre (PT), quando o poderio da máquina ofereceu mundos e fundos até para candidatos de 30 votos –só para enfraquecer Bocalom. 

As cartas estão na mesa. O jogo será jogado. A cada lado está lançada a sorte de conduzir as melhores articulações.  

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Os números da eleição

Acalmado os ânimos deste primeiro turno e após um breve descanso depois da cobertura de domingo, o momento requer uma análise do que foi o resultado das urnas para o Palácio Rio Branco. A atenção se volta para os maiores colégios eleitorais acreanos. A conclusão é simples: os votos de Rio Branco e Cruzeiro do Sul foram essenciais para assegurar o segundo turno.

Considerando a soma dos demais 20 municípios, Tião Viana (PT) estaria hoje soltando fogos pela reeleição. Ao contrário de 2010, quando o então tucano Tião Bocalom ganhou em colégios importantes, incluindo a capital, Bittar não obteve o primeiro lugar em nenhum. Ao contrário, sempre viu o petista numa distância bastante segura.

Até em Cruzeiro do Sul, reduto de sua vice Antônia Sales (PMDB) e do prefeito Vagner Sales (PMDB), apontado como o mais bem avaliado da Amazônia Ocidental, Oriental e estatal, o tucano ficou atrás. No Juruá, o candidato ainda tinha o apoio de Gladson Cameli (PP), eleito senador com uma ampla margem.

Em Cruzeiro do Sul Tião Viana ficou com 46,92%, contra 37,85% de Bittar. Os números mostram a força do governador no segundo maior eleitorado, capaz de conter até os Sales e os Camelis.

Não se pode negar o empenho destes clãs na candidatura do PSDB, mas é certo que, em primeiro lugar, estavam muito mais voltados para fazer prevalecer seus próprios interesses –o que é natural na política. Cada um tinha suas candidaturas de conveniência, o que pode ter deixado Bittar um pouco morno.

Com o jogo resolvido para eles, talvez agora estejam de corpo e alma junto de Bittar. Em Rio Branco, onde o PT esperava ser carregado nos braços do povo graças a Marcus Alexandre (PT), o eleitor voltou a mostrar sua divisão, exposta sobretudo na eleição de prefeito de 2012.

O resultado na capital foi quase que semelhante ao geral do Estado. Tião Viana (48,55%), Márcio Bittar (30,92%) e Tião Bocalom (19,53%). Somando os votos da oposição, Tião Viana, outra vez mais, sai derrotado em Rio Branco.

Os números mostram que 2014 não têm nada de diferente de 2010. A diferença é a divisão da oposição em duas candidaturas, mas que pode ter sido essencial para influenciar o segundo turno. O desejo de mudança do eleitor é o mesmo.

Em seus quatro anos, Tião Viana não conseguiu amenizar o sentimento anti-PT do acreano e tem sua reeleição seriamente ameaçada. Neste segundo turno, quem errar menos leva o troféu.

Foi por pouco, Márcio



Quem acompanhou a apuração das eleições no Acre durante a noite de domingo (5) percebeu que o resultado das urnas era tão indefinido quanto foi ao longo de três meses de campanha. Até a prorrogação da etapa final, a reeleição de Tião Viana (PT) já era tida como certa. Mas, com o abrir dos 30% das urnas restantes, a maioria da capital, o cenário foi mudando. Como aquela bola que entra no gol tirando tinta da trave, assim a oposição conseguiu amenizar seu sofrimento e provocou o segundo turno –para desespero do Palácio Rio Branco.

As eleições, mais uma vez, mostraram que nenhum instituto acertou as projeções; nem mesmo o tal Delta, tão ovacionado pelos oposicionistas. A surpresa foi o desempenho de Tião Bocalom (DEM). Pelos quatro cantos dizia-se que sua vitória já era certa, ou que pelo menos seria ele, e não Márcio Bittar (PSDB), na nova disputa para o governo.

E aqui neste artigo o tema é, justamente, o tucano. Com Ibope e Vox Populi apontando vantagem de Bocalom, a sobrevivência de Bittar pode ser tida como uma “surpresa”. Mas do ponto de vista político nem tanto assim; o deputado tinha estrutura partidária maior do que o democrata, reunindo em torno de si 10 partidos e as principais lideranças da oposição, além de ampla vantagem no tempo de TV e rádio.

Portanto, sob este aspecto seria mais provável ele ir para o segundo turno. Márcio Bittar também tem muito mais vantagem do que Bocalom quando o assunto é confiança e segurança transmitidas ao eleitor –isso é possível medir no índice de rejeição de ambos. Carrega menos reprovação do eleitor e se mostrou o mais preparado, na oposição, para os debates com Tião Viana.

O tucano poderia ter um desempenho melhor nas urnas não fosse uma propaganda eleitoral de baixa qualidade. Seus quase 10 minutos de exposição, quatro a mais do que o PT, não foram bem aproveitados. O marketing tucano ficou atrelado aos velhos clichês da publicidade eleitoral, sem apresentar renovação. Os programas foram na maioria quadrados e o telespectador já tinha na ponta da língua o roteiro. Conduzidos por marqueteiros importados em cima da hora, mostravam desconhecimento sobre nossa realidade política.

A força de Bittar na TV não foi suficiente para tirá-lo do patamar dos 25% registrados nas pesquisas, o que desmotivava até seus aliados mais próximos. Mas o tucano teve a sorte de absorver parte do sentimento de mudança do acreano, e obteve uma votação até expressiva: 30,10%, ou 116.948 votos.

Márcio Bittar trabalhou duro para construir sua atual aliança. Foi para o embate, enfrentou desgastes (e muitos), porém sobreviveu. Em nenhum outro Estado foi construída uma aliança de oposição desta envergadura. Mas todo este esforço do tucano foi ameaçado por uma propaganda eleitoral que deixou muito a desejar, quase dando a vitória para Tião Viana no primeiro turno. 

Agora o segundo turno não é sorte. O candidato precisará rever seu plano de marketing para um melhor diálogo com o eleitor acreano, um bairrista que até o momento não se viu identificado com a sua campanha. Quem acompanha nossa política sabe que a cara do Acre é essencial para o sucesso nas urnas, e isso a Frente Popular faz muito bem, obrigado.

Como já virou lugar-comum na política, segundo turno é uma nova eleição. Cabe a Márcio Bittar corrigir os erros, correr atrás de Bocalom e seus eleitores e conquistar os insatisfeitos da base governista. Nunca antes na história deste Estado houve uma chance tão clara de o PT ter sua hegemonia ameaçada: e isso funciona como um imã na política partidária.

domingo, 5 de outubro de 2014

União matrimonial

Os petistas acreanos não estão nada satisfeitos com os militantes do PCdoB. Segundo informações, o clima não é o dos melhores na relação entre os dois principais partidos da Frente Popular, o que ainda seria resquícios da disputa de 2012. Um acusa o outro de abandono de suas candidaturas: o PT diz que os camaradas estão mais empenhados na campanha de Marina Silva (PSB) do que de Dilma Rousseff (PT).

A simpatia do PCdoB pela ex-senadora do Acre se dá por influência de Fabio Vaz, marido de Marina, e braço direito de Edvaldo Magalhães (PCdoB), marido de Perpétua Almeida (PCdoB), na Secretaria de Desenvolvimento.  

Por seu lado, o PCdoB se queixa de corpo-mole dos petistas na campanha de Perpétua para o Senado, não vendo esforço suficiente para reverter a vantagem de Gladson Cameli (PP). Mas não é bem isso que os membros do partido de Tião Viana (PT) afirmam; segundo eles, há, sim, empenho da militância para ajudar a candidatura de Perpétua.

Tião Viana pode até assegurar a reeleição hoje, terá direito a comemorar muito, mas amanhã já terá muitos problemas para enfrentar, principalmente acalmar os ânimos dos comunistas, com a dor de cotovelo provocada pela possível derrota para o Senado.  

Dia D

No Acre, Marina afirma que sentimento de mudança a levará ao segundo turno 




A candidata a presidente da República pelo PSB, Marina Silva, votou na manhã deste domingo em Rio Branco (AC), na sede do Incra. Mesmo com as últimas pesquisas Datafolha e Ibope apontando uma virada de Aécio Neves (PSDB) e sua possível ida para o segundo turno com Dilma Rousseff (PT), a ex-senadora afirmou que o sentimento de mudança do eleitor, exposto nas manifestações de junho do ano passado, a levará para a segunda rodada da disputa eleitoral.

“A melhor pesquisa será a deste primeiro turno”, disse ela.  “Chegamos até aqui e estamos confiantes de que estaremos no segundo turno. Hoje mais de 70% das pessoas afirmam querer mudanças. O sentimento de mudança não mudou, não oscilou de jeito nenhum. É este sentimento, conectado com as manifestações de junho [de 2013], que nos levará para o segundo turno”, destacou.

Questionada sobre um possível apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno, Marina disse que “o segundo turno será tratado no segundo turno”. “Nós vamos para o segundo turno. A base de nossa campanha foi o programa [de governo], e é com ele que nós vamos ganhar, e com a consciência dos brasileiros.”

De acordo com ela, numa nova disputa eleitoral em que ela venha estar presente, o tempo da propaganda será igual. A candidata afirmou que Dilma e Aécio estiveram unidos numa campanha de ataques a sua pessoa. “Nossos adversários não apresentaram um programa, mas estamos confiantes de que ter respeito aos brasileiros vale a pena, e que os brasileiros irão honrar este respeito.”

Marina criticou a atual situação da economia brasileira, que, segundo ela, corrompe o poder de compra do trabalhador com inflação e juros altos. “O país não está crescendo. A presidente Dilma está entregando o país pior do que encontrou, com inflação, com juros altos, com baixo crescimento, com problemas na saúde, na educação, na segurança, com corrupção”, destacou.

Marina Silva chegou ao seu local de votação acompanhada do marido, Fabio Vaz, e do pai, seu Pedro. Na frente uma pequena militância do PSB a aguardava, além de eleitores que foram até a seção eleitoral para tirar uma foto com a candidata.
   

sábado, 4 de outubro de 2014

Maioria ou minoria?

No Acre, oposição (ou situação) terá maioria no Senado a partir de 2015 

Pela primeira vez, desde 1999, quando Jorge Viana (PT) assumiu o Palácio Rio Branco e deu início aos sucessivos mandatos da Frente Popular, o PT pode começar um novo governo tendo apenas um senador na base de apoio: justamente o hoje senador Jorge Viana, o único sobrevivente em todo este processo de desgaste do petismo e do Vianismo. (o que será tema de um novo artigo depois). 

A partir de 2015 a maioria no Senado pode ser da oposição ou da situação. Como assim? Primeiro é preciso combinar com o eleitor para saber se Tião Viana (PT) obterá a reeleição. Pesquisas no Acre são motivo de chacota. Toda vez que pergunto a alguém sobre a disputa para o governo me respondem: impossível o Tião perder. 

A mesma coisa ouvia durante 2010, quando Ibope apontava o petista com quase 60% das intenções de voto; deu no que deu. Por isso, pra mim, não há nenhum favorito nas eleições deste domingo. Por isso o PT pode ter a oposição de Sérgio Petecão (PSD) e Gladson Cameli (PP), ou o PT pode ser oposição ao governo de Márcio Bittar (PSDB) ou Tião Bocalom (DEM). 

O favoritismo está nas mãos (ou dedos) dos eleitores. Garantias mesmo só do “riquinho” Gladson Cameli (PP), que se aproveitou muito bem da desastrada campanha de Perpétua Almeida (PCdoB). 

Tentar desqualificar Cameli como o “riquinho” e o “playboy de Manaus”, cuja eleição o “papai compra”, foi o maior exemplo de burrice e amadorismo político praticado pela Frente Popular. O efeito foi totalmente inverso –quanto mais tocavam neste assunto, mais Cameli crescia nas pesquisas. Se ele quisesse, poderia dispensar o dinheiro do papai, e mesmo assim estaria eleito senador só com seu sorriso Colgate. 

Até em Rio Branco, onde os comunistas definiam como território seguro para Perpétua, o candidato se tornou o xodó dos eleitores. Gladson Cameli terá uma ampla vantagem nos dois maiores colégios: a capital e Cruzeiro do Sul, sua terra natal. E olha que por aqui Perpétua teve como cabo eleitoral o superstar prefeito Marcos Alexandre (PT), apontado pela companheirada como “o cara”. 

Como se viu, nem a suposta popularidade de Alexandre foi capaz de soterrar o carisma de Cameli. Ao prefeito caberá calçar as sandálias da humildade para pedir emendas ao senador Gladson Cameli. Pelas ruas já se fala até em disputa pelo governo em 2018 entre Marcus Alexandre e o progressista –isso, lógico, primeiro contando com a reeleição petista em 2014. 
   

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Um apagão de memória

Após ficar mais de duas horas sem energia elétrica e só a solar queimando a minha cuca durante a manhã, estou eu aqui de volta a escrever alguma coisa de inútil para vocês –isso se uma nova mucura não se “atrepar” no linhão e nos deixar penando de novo. Apagão por apagão, nós aqui no Acre estamos acostumados a este péssimo serviço de fornecimento de energia –pagamos por uma luz cara e de baixa confiabilidade.

O apagão desta quinta serviu como um antídoto para não termos um apagão de memória de nossos velhos problemas de sempre, por mais que a campanha da Frente Popular tenha, por 45 dias no rádio e na TV, tentado nos fazer acreditar que moramos numa Veneza amazônica. E o mais triste é nos lembrarmos que, de nossos candidatos ao governo, ouvimos poucas propostas para a solução de nossos problemas mais básicos.

Ao contrário, ouvimos muito engodos, como o da quase universalização no acesso à agua tratada e coleta de esgoto, 16 parques industriais num Estado carente da oferta de emprego. Enquanto a oposição promete não deixar roubar, todos os dias somos roubados pelas empresas de energia, telefonia...

Enquanto outros falam em enxugar a máquina, nossos celulares transformam-se em máquinas obsoletas com serviço de transmissão de voz e dados precários. Estes são os problemas mais corriqueiros e que somos capazes de driblar com o nosso jeitinho brasileiro.

O problema é o nosso “apagão social”, com pessoas levando até seis meses para um atendimento com especialista na rede pública de saúde. Dias desses um taxista me contou seu caso. Precisava de uma consulta com especialista. Ao ir ao hospital foi informado de que os pacientes de março ainda estavam na fila de espera para serem chamados. Ele, como deu entrada em junho, sabe-se Deus quando.

Moramos num Estado pobre, onde os cidadãos mais pobres são submetidos aos mais variados tipos de violência. A mesma violência que leva a elite a transformar suas mansões em bunkers. A solução? Se o povo nos der mais quatro anos iremos ver o que dá para fazer, já são 16 anos de poder e não temos muita pressa mesmo. E se ganharmos a eleição? Chegando lá veremos o que é possível.

E assim, a cada eleição, nossos apagões de memória na frente da urna nos levam a continuarmos a viver na Terra do Sempre.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A TV desligada

Confesso para vocês que o meu interesse pelas eleições 2014 tem sido o menor possível. Este desinteresse revela-se tanto na corrida pelo governo do Acre como pelo Palácio do Planalto, mesmo com a alta possibilidade de uma acreana estar no comando do país em 2015. Mas o nível de nossos políticos tem estado tão ruim que a melhor opção é ficar afastado de toda essa “guerra santa” da briga pelo poder.

Se em outras eleições preparava até pipoca com guaraná para assistir ao programa eleitoral, desta vez a televisão passou a maior parte do tempo desligada. Nem os debates foram motivo de atração. O eleitor não confia mais no que o candidato do poder diz –já que não cumpriu nada do que prometeu há quatros anos – e tem muitas dúvidas sobre as promessas da oposição de recriar a roda.

Além das agressões a que somos submetidos nestes debates. No desta terça, organizado pela Rede Globo para o governo do Acre, por exemplo, me recusei a ficar no sofá e decidi dormir quando o candidato à reeleição Tião Viana (PT) teve a ousadia de dizer que 92% da população têm acesso a água tratada, e outros 70% a coleta de esgoto.

Nossos municípios estão sempre nas últimas posições nos rankings de saneamento básico, e falar algo desta natureza é um atentado ao cidadão que, enquanto assistia ao debate, tinha que suportar o fedor do esgoto na porta de casa –se bem que duvido que um cidadão nestas condições iria perder tempo vendo o debate.

Já Tião Bocalom (DEM) continua acreditando no Acrelândia Way como melhor forma de nos transformar na potência emergente do Brasil –segundo Tião Viana ele faliu até uma autoescola da família (aquele momento de descontração). Bocalom cita informações desencontradas sobre previdência (sem saber se é a estadual ou federal) e só fala em resolver os problemas sem explicar como.

Para ele, seu grande trunfo é não deixar roubar, como se já não fosse obrigação de qualquer homem público combater a corrupção.

Neste meio caminho sobra Márcio Bittar (PSDB) com propostas que ainda não conseguem convencer, sobretudo na área da saúde. Mas ainda consegue transmitir segurança ao eleitor com ações de gestão básicas, como reduzir o tamanho da máquina para sobrar recursos em setores essenciais.

Entre um candidato que não cumpriu suas três principais promessas de governo –asfaltar todas as ruas do Estado, terminar a BR-364 e entregar 10 mil casas populares – e outro que promete acabar com a fome no mundo sem dizer como, o tucano Bittar surge como o menos ruim.

Com um cenário destes, outro motivo não justifica a falta de interesse do eleitor pelo processo de escolha de seus representantes. A TV desligada é a melhor forma de termos a certeza de que não seremos vítimas de propaganda enganosa a partir de 2015.