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quinta-feira, 27 de abril de 2023

os extremos da Amazônia

 A Política na Floresta 

 



Nos últimos oito meses participei do projeto Eleições 2022 do portal ((o)) eco - jornalismo ambiental. O objetivo foi acompanhar a (in) tensa campanha eleitoral do ano passado, com foco para a questão do meio ambiente. Enquanto jornalista amazônida, incumbe-me da missão de estar atento ao processo político-eleitoral aqui na Amazônia Legal, com as atenções voltadas para as propostas dos candidatos aos mais distintos cargos em disputa - incluindo presidente da República - para a área ambiental.


Aqui no blog, ao longo dos posts abaixo, estão todas as minhas reportagens produzidas entre agosto de 2022 e março último. O trabalho se mostrou desafiador em meio a um dos processos eleitorais mais conturbados da história do país, quando o antigo governo flertava claramente com uma tentativa de golpe de Estado, ao questionar e não aceitar o resultado das urnas.

Além do mais, na área ambiental vivíamos uma verdadeira devastação orquestrada pelo próprio Palácio do Planalto. A política do governo anterior de deixar a boiada passada foi desastrosa para todo o país, com efeitos mais sensíveis no bioma amazônico.   

Após uma disputa no voto a voto - onde tínhamos que escolher entre a continuidade da barbárie ou a defesa da democracia - o petista Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso para exercer o seu terceiro mandato presidencial. Encerrava-se um ciclo devastador para o Brasil não apenas para o meio ambiente, mas para as políticas social, econômica, da saúde, da educação…

Todavia, a vitória de Lula não representou a completa derrota do fascismo e da extrema-direita brasileira representada pelo bolsonarismo. Passados estes oito meses de trabalho político, num período fértil de estudos, pesquisas e conversas com lideranças sociais, ambientais e acadêmicas aqui da região, é lamentável constatar e admitir que os estados que formam a chamada Amazônia Legal são os principais redutos de resistência da agenda bolsonaista.

O fato de a região ter sido bastante impactada pela agenda de destruição ambiental do governo passado em nada afetou o capital eleitoral de Jair Bolsonaro - muito pelo contrário. Está mais do que evidente que discursos em defesa do agronegócio como indutor do “progresso”, com o afrouxamento das regras ambientais para “não atrapalhar” o desenvolvimento, soam como uma sinfonia aos ouvidos de grande parte do eleitorado amazônico.

Não por acaso, em estados como Acre, Rondônia e Roraima, Bolsonaro obteve mais de 70% dos votos válidos. Não por acaso (repita-se), a maioria dos governadores reeleitos aqui está alinhada ao bolsonarismo. No Acre essa força é tão grande que nem mesmo as incontáveis denúncias de corrupção apontadas pela Polícia Federal, na operação Ptolomeu, foram capazes de ao menos colocar em risco a reeleição do bolsonarista Gladson Cameli (PP).

Aqui no Acre, a ascensão do bolsonarismo, nas eleições de 2018, apenas consolidou um fortíssimo antipetismo observado no estado desde 2010, isso num cenário do Partido dos Trabalhadores tendo governado o estado por 20 anos. Esse antipetismo (já caminhando para uma direita mais reacionária e retrógrada) era observado nos resultados das eleições presidenciais, quando os então candidatos do PSDB ao Planalto sempre foram os mais votados por aqui.

De 2010 para cá, as eleições locais sempre passaram a ser apertadas para o PT. As vitórias, muitas das vezes, só eram asseguradas graças ao domínio da máquina pública pelo partido, que resultava na obtenção de mais votos nas urnas. Em 2018, nem mesmo essa vantagem foi capaz de derrotar ou controlar o antipetismo.

O surgimento do bolsonarismo reacionário foi o escape encontrado pelo eleitorado acreano para expurgar o PT da hegemonia política local. Foi aqui, para delírio da plateia presente, que Bolsonaro, enrolado numa bandeira do Acre, transformou o tripé de uma câmera num fuzil e defendeu “fuzilar a petralhada”.

Um dos fatores que mais contribuíram para o antipetismo enraizado na sociedade local foram os discursos da velha direita acreana - agora no poder - em defesa do agronegócio como a única solução para tirar o Acre do atraso econômico em que se encontrava - e ainda se encontra.

Segundo eles, este marasmo era ocasionado pelos 20 anos de “governos da floresta” do PT.  A política ambiental e de “desenvolvimento sustentável" adotadas pelas gestões petistas foram responsabilizadas por todas as mazelas nossas.

As eleições de 2022 mostraram que este sentimento e crença ainda estão bastante enraizados na sociedade acreana, e nos demais estados da Amazônia. Falar ou elogiar a reconstrução da política ambiental é como discursar ao vento. Por aqui, essa reconstrução significa recolocar o agente ambiental dentro das propriedades rurais para multar e “perseguir o homem do campo” - discurso que tem bastante força (e votos) por essas bandas esquecidas do país.

Portanto, a reconstrução da política ambiental na Amazônia não representa só colocar viaturas ou helicópteros do Ibama dentro das fazendas, queimar tratores ou expulsar garimpeiros. Isso só contribuirá para alimentar o antipetismo, o antiambiental e o antilulismo. A reconstrução precisa ser feita com muita inteligência. A região amazônica é um constante barril de pólvoras prestes a explodir - e o bolsonarismo está com o fósforo nas mãos.       

Leia as reportgens produzidas no período eleitoral e de transição para entender um pouco mais da complexa realidade política e social da Amazônia Legal.