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segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Eleições manauaras

Cabelos brancos” e maturidade de Arthur Virgílio podem ter ajudado na reeleição de tucano 


Fotos: Assessoria Candidato 
A vitória de Arthur Virgílio Neto (PSDB), 70 anos, para mais um mandato à frente da Prefeitura de Manaus pode ser explicada pela estratégia usada por seus marqueteiros de apresentá-lo como o mais experiente e preparado para administrar a cidade em meio a uma grave crise econômica por que passa o país, aliada aos problemas estruturais vividos pela capital do Amazonas.

“Enfrentamos uma crise que exigia experiência para enfrenta-la. 2015 e 2016 foram anos difíceis. 2017 e 2018 também serão anos difíceis e que é preciso um prefeito forte e experiente. Eu não deixei a crise matar Manaus. No Estado foi diferente”, disse o tucano, minutos antes de votar neste domingo.

Segundo ele, além da experiência de ter sido prefeito de Manaus por duas vezes (a primeira foi durante a década de 1980), o “dedo de Deus” também o ajudou a administrar a capital do Amazonas em tempos de cofres vazios. “Teve muito do dedo de Deus e da força que Ele me transmitiu.”

Os efeitos mais imediatos da crise foram a queda de receita e de repasses dos governos do Estado e federal para a prefeitura, o que comprometeu os investimentos. Dependente quase que exclusivamente de seu polo industrial, a cidade viu a recessão causar sérios impactos no setor.  Estima-se que somente este ano 30 mil pessoas foram demitidas das fábricas do Polo Industrial de Manaus.

LEIA TAMBÉM NO VALOR: Tucano é reeleito em Manaus 

Como principal oponente o tucano teve o jovem Marcelo Ramos (PR), de 43 anos de idade, e que nunca ocupou um cargo majoritário, tendo sido eleito apenas vereador e deputado estadual. Apesar da derrota, ele saiu como uma das principais lideranças políticas do Estado para as próximas eleições.

Mesmo se apresentando como o “novo” e o candidato da mudança, ele carregou o peso de ter como um de seus apoiadores o governador cassado José Melo (Pros) e ter no palanque velhos caciques da política local.
A pecha de o “candidato do Melo” explorada pela campanha do PSDB contribuiu para desgastar Ramos. Além de denúncias de corrupção nas quais o governo estadual está mergulhado, problemas de gestão em áreas como Saúde e Segurança Pública contribuem para a crescente impopularidade do governador.

Aliado de Melo até aos 45 do segundo tempo, Arthur Virgílio não pensou duas vezes antes de romper a aliança e buscar acordo com seu antigo adversário, o senador Eduardo Braga (PMDB). Descolado do governo e com uma gestão municipal bem avaliada, Arthur Virgílio parece não ter enfrentado dificuldades para a reeleição, isso num eleitorado não muito afeito a dar dois mandatos para prefeitos.

Desde 1997, quando da aprovação da PEC da reeleição, esta é a segunda vez que um gestor da cidade é reeleito. O primeiro foi Alfredo Nascimento (PR), ministro dos governos Lula e Dilma, que patrocinou a campanha de Marcelo Ramos.

Arthur Virgílio é membro de uma família política tradicional do Amazonas e foi eleito prefeito pela primeira vez em 1988. À época, era filiado ao PSB e teve como concorrente direto o ex-governador Gilberto Mestrinho, uma das principais forças políticas do Estado na década de 1980. Em 1989, Virgílio ajudou a organizar a criação do PSDB.

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Clima doente


Fiocruz diz que mudança climática compromete saúde da população no Amazonas


FABIO PONTES, para a AMAZÔNIA REAL 


(Foto: Joel Rosa/Amazônia Real/2015)
No estudo “Vulnerabilidade à Mudança do Clima”, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) analisou as doenças contraídas pela população do Amazonas nos períodos de secas e enchentes extremas e as relacionou com as taxas de desmatamento e queimadas nesses períodos no estado, que tem a maior cobertura vegetal da Floresta Amazônica atualmente.

A pesquisa também procurou fazer uma análise de como as pessoas estarão suscetíveis a serem impactadas pelas doenças ante as alterações climáticas (no regime de chuvas e na temperatura) em um cenário futuro entre os anos de 2041 a 2070.

A vazante (também chamada de seca) na bacia do Rio Amazonas e seus afluentes é um fenômeno natural que acontece todos os anos, entre os meses de junho a outubro, assim como a enchente (ou cheia), que ocorre de novembro a maio.

Segundo a pesquisa “Vulnerabilidade à Mudança do Clima”, nos eventos climáticos severos, como estiagem prolongada e altas temperaturas no período da vazante, as doenças de veiculação hídrica abatem mais a população, como a diarreia e a desidratação.

Já no período chuvoso e da enchente no Amazonas, os mosquitos vetores se proliferam aumentando os casos de doenças como dengue, malária e leishmaniose. Outra infecção comum nesta época é da leptospirose, ocasionada pelo contato do homem com água contaminada pela urina do rato e que, se não tratada, pode provocar a morte.

O objetivo do estudo, que foi publicado em setembro,  é subsidiar a implementação do Plano Nacional Brasileiro de Adaptação às Mudanças Climáticas, sob a responsabilidade do governo federal, e orientar as políticas dos governos estaduais visando à proteção da população em seus territórios, diz a Fiocruz.

Júlia Alves Menezes, pesquisadora da Fiocruz em Minas Gerais, e que coordenou os estudos sobre o Amazonas, afirma que para subsidiar o estudo foram utilizadas informações de pesquisas de diferentes instituições, incluindo os componentes ambientais, sociais, demográficos, epidemiológicos e climáticos. Segundo ela, o índice de exposição da população aos impactos da mudança climática global foi composto por um índice de cobertura vegetal e um índice de desastres naturais.

Os dados da cobertura vegetal, continua a pesquisadora, foram retirados do Prodes (Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, sediado em São Paulo. “E levou em conta o percentual de mata nativa que foi desmatada em cada um dos 62 municípios do Amazonas no período pesquisado [2003 a 2015]”, disse Menezes.

A pesquisadora afirma que no índice de desastres naturais o estudo considerou a suscetibilidade do município, o número de pessoas em risco por esse ciclo de fumaça (das queimadas) e também de chuvas da série histórica.

“E para ocorrência [da vulnerabilidade] nós consideramos o desflorestamento, enchentes e incêndios florestais que ocorreram em cada município e o número de mortes por esses eventos”, afirmou Júlia Alves Menezes.

Leia reportagem e estudo completos AQUI 

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Crises vizinhas -e a nossa

Roraima avalia decretar emergência por crise migratória venezuelana 

O governo de Roraima estuda a possibilidade de nas próximas semanas decretar situação de emergência por conta da entrada massiva de venezuelanos que deixam o país por conta da grave crise econômica. As cidade fronteiriças de Roraima têm recebido um grande número de imigrantes em busca de melhores condições de vida, já que na Venezuela falta o essencial para a sobrevivência, como alimentos e remédios.

Em 2016, o número de pedido de entrada no Brasil por venezuelanos superou o registrado nos últimos cinco anos. A estimativa é que mais de 30 mil pessoas já tenham atravessado a fronteira entre os dois países.

 A questão também já preocupa o governo federal. Uma reunião interministerial está marcada para acontecer na próxima semana no Palácio do Planalto. Entre os órgãos que vão participar estão os ministérios da Justiça, Casa Civil, Relações Exteriores, Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência.

O governo de Suely Campos (PP) ainda não decretou situação de emergência por avaliar que a medida implicará no aumento de imigrantes, já que uma estrutura de acolhimento e suporte com ajuda federal seriam implementadas. Como os demais Estados, Roraima enfrenta dificuldades nas contas públicas por conta da crise brasileira, o que impossibilita o governo de acolher os imigrantes.

Sem previsão de uma trégua política na Venezuela que resulte na melhora da economia, a tendência é que o Brasil continue a receber mais venezuelanos.

Roraima avalia recorrer ao mesmo decreto de calamidade feito pelo Acre em 2013 por conta da crise provocada pela entrada de haitianos no Estado. Integrantes do governo estadual formaram um “gabinete de emergência” que analisa os impactos da questão migratória.

Desde o primeiro semestre, o governo roraimense vem expulsando, com a ajuda da PF, venezuelanos que estavam de forma irregular no Brasil. Somente esta semana 140 tiveram que sair do Brasil.

Sem trabalho, muitos partem para a informalidade, vendendo produtos nos semáforos de Boa Vista. Por conta da proximidade e interligação rodoviária, Manaus também passou a ser um dos destinos dos venezuelanos. A comunidade tem aumentado a cada dia na cidade.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

RDS do Tupé

População tradicional da RDS do Tupé vive conflito ambiental no Amazonas 


FABIO PONTES, para a AMAZÔNIA REAL 



O Amazonas tem grandes extensões de florestas e bons exemplos de que a população tradicional pode sobreviver em áreas protegidas em equilíbrio com a natureza. Mas na unidade de conservação Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé os moradores vivem um conflito ambiental. A indígena da etnia Baré, dona Jeremias de Souza Tavares, 52 anos, é moradora da Comunidade Nossa Senhora do Livramento, que fica dentro da reserva. Mãe de 12 filhos, ela diz que é proibida pela Prefeitura de Manaus de praticar atividades básicas como fazer o roçado para plantar, além  de caçar e pescar para a subsistência da família.

“Eu sou índia da etnia Baré, e quantas vezes você viu índio tocar fogo na floresta? A gente só derruba o que vai usar para o nosso sustento. O terreno não está nem a metade derrubado [de árvores] porque eu aproveito a terra no que posso aproveitar. Tem castanha, pupunha, manga, açaí. Tem tudo de onde eu tiro meu sustento”, afirma Jeremias Tavares.

Considerada um paraíso da biodiversidade amazônica e localizada a menos de 25 quilômetros da área urbana de Manaus, a RDS do Tupé foi criada em 2005 por meio de decreto municipal para amenizar os impactos socioambientais da especulação imobiliária e a exploração ilegal dos recursos naturais em seu interior. Há 11 anos a população tradicional da reserva espera pela regulamentação do plano de manejo, que é o documento que estabelece o zoneamento e as normas de uso e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade de conservação.


Diz o Decreto 8.044 que criou a RDS do Tupé que a Prefeitura de Manaus deve promover na reserva “o desenvolvimento sustentável das populações tradicionais que habitam a área de 11.930 hectares, com prioridade ao combate à pobreza”. Em outro ponto diz que será o plano de manejo que vai definir a “regulamentação das atividades econômicas dentro da reserva”.

O plano de manejo da RDS do Tupé foi elaborado por meio de consultorias contratadas pelo projeto Corredores Ecológicos, com recurso do Ministério do Meio Ambiente. A agência Amazônia Real apurou que a elaboração do plano de manejo foi concluída em 2008, na gestão do ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB), que assumiu o cargo em 2005. O documento precisaria da aprovação do Conselho Deliberativo da RDS do Tupé, o que não aconteceu durante a administração do ex-prefeito Amazonino Mendes (PDT) de 2009 a 2012.

Em 2013, assumiu a prefeitura Arthur Virgílio Neto (PSDB). Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semmas), atualmente o plano de manejo da RDS do Tupé passa por reformulação.

A previsão, diz a Semmas, é que até o fim do ano a revisão esteja concluída. Isto é, depois das eleições de outubro em que Arthur Virgílio concorre à reeleição.

Entre as atividades que deveriam ser regulamentadas para garantir a sobrevivência da população tradicional estão a caça, a pesca e o roçado, além de ações para o lazer e turismo de base comunitária. A reportagem da Amazônia Real teve acesso ao plano de manejo em vigor. O documento não deixa claro quais atividades econômicas estão permitidas ou vetadas dentro da reserva. Sem as normas um conflito ambiental se intensifica dentro da RDS do Tupé.

Maria Rosanir da Silva Oliveira, 54 anos, é a secretária da Associação da Comunidade Nossa Senhora do Livramento. Em entrevista à reportagem, ela disse que desde 2014 os moradores do Tupé não conseguem fazer as roças para os plantios.

“Temos 30 pedidos para fazer roçado e a Semmas não libera. Não lemos o plano de manejo, nenhum conselheiro tem esse documento. Sem o plano, ficamos impedidos de colocar o nosso roçado, de construir uma casa, fica tudo inviável para nossa subsistência, não podemos fazer nada”, disse.

Segundo a secretária, nas assembleias gerais, onde os 12 conselheiros da reserva que representam as seis comunidades tradicionais se reuniram, a Semmas não apresentou uma solução para concluir as normas do plano de manejo, permanecendo o impasse.

“Nossa última reunião foi no dia 22 de agosto passado. Tivemos uma assembleia geral e fizemos muitas perguntas para o gestor (funcionário da Semmas), mas ele não soube responder. Fico muito triste com tudo isso. Alguém tem que olhar pra gente. Nós somos a população tradicional da reserva, temos a nossa responsabilidade. Não podemos sair daqui para trabalhar em Manaus, onde o transporte é caro, a comida é cara. Nosso meio de vida é aqui. É aqui que temos que viver desta terra, preservando ela”, disse Rosanir Oliveira, que mora no Tupé há 29 anos.


veja a reportagem completa AQUI 

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Disputa Baré

Com segundo turno em Manaus, Virgílio e Ramos vão em busca de eleitores de candidatos derrotados 


FABIO PONTES, para o VALOR 

A definição do novo prefeito de Manaus vai acontecer no segundo turno e terá como protagonistas o atual prefeito Arthur Virgílio Neto (PSDB) e o ex-deputado estadual Marcelo Ramos (PR). O fim da apuração aconteceu às 19h45 (20h45 em Brasília). Com 100% das urnas fechadas, o resultado foi de 35,17% dos votos para Virgílio e de 24,86% para Ramos. O resultado já era projetado pelas pesquisas de intenção de voto divulgadas na semana passada.

Desde o início da campanha os dois vêm brigando pela preferência do eleitorado manauara. Agora, Virgílio e Ramos vão em busca dos votos dos eleitores dos demais sete candidatos que saíram derrotados. A surpresa ficou com o petista José Ricardo, o “homem da Kombi”, como ficou conhecido por fazer a campanha no teto do carro. As pesquisas o apontavam sempre entre 5 a 6% da preferência dos entrevistados.

Ele ultrapassou o ex-prefeito Serafim Corrêa (PSB) e ficou com 10,99% dos votos, na quarta posição. Corrêa (que aparecia em terceiro nas pesquisas) foi ultrapassado pelo deputado federal Silas Câmara (PRB), que ficou na terceira colocação ao receber 11,17% dos votos. O duelo entre o prefeito tucano e seu adversário do PR se concentrará para buscar a maioria desta fatia do eleitorado.

Dos três candidatos, apenas José Ricardo tinha um tom mais duro de críticas ao prefeito Arthur Virgílio, alvo preferencial de todos os concorrentes durante os dois debates na TV promovidos em Manaus. A aliança entre o petista e tucano está. A dúvida é saber até que ponto José Ricardo estaria disposto a apoiar Marcelo Ramos, já que os principais partidos de sua coligação votaram pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O eleitorado de Silas Câmara é formado por parte das igrejas evangélicas de Manaus. A família do deputado lidera a Assembleia de Deus no Amazonas e detém emissoras de TV e radio voltados para o público evangélico. O fechamento de alianças estará condicionado aos arranjos para 2018. Nos bastidores Silas Câmaras já estaria articulando uma candidatura ao Senado.

A se levar em consideração as pesquisas que analisam a rejeição dos candidatos, Marcelo Ramos pode ser apontado como o favorito para conquistar os eleitores que votaram nos outros candidatos. A rejeição a Arthur Virgílio, segundo pesquisa Ibope/Rede Amazônica (afiliada Rede Globo) do último dia 16 de setembro, era de 19%. Ramos era o menos rejeitado: 8%.

Por outro lado, Arthur Virgílio tinha sua gestão avaliada como ótima ou boa por 41% dos entrevistados. Já para desgastar o concorrente, o prefeito tucano poderá explorar o fato de um de seus principais cabos eleitorais ser o governador cassado José Melo (Pros), que enfrenta momento de desgaste ante a população do Estado por conta do fechamento de unidades de saúde e outros problemas agravados pela crise nas finanças públicas.

Além da escolha de Virgílio e Ramos para uma nova disputa no segundo turno, os eleitores de Manaus também elegeram os seus 41 vereadores da Câmara Municipal.

Leia matéria completa no VALOR ECONÔMICO