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terça-feira, 30 de setembro de 2014

A eleição da indefinição


A menos de cinco dias para o primeiro turno das eleições 2014, a disputa para o governo do Acre tem muito mais interrogações do que certezas, quando o esperado, a esta altura do campeonato, seria o inverso. A única probabilidade de acerto ocorre na disputa para o Senado. Somente um acidente de percurso tira a vitória certa de Gladson Cameli (PP) sobre Perpétua Almeida (PCdoB).

Já para o Palácio Rio Branco as duas perguntas básicas são: Haverá segundo turno ou tudo será resolvido já no domingo? E se houver uma nova rodada quem estará enfrentando Tião Viana (PT)? Márcio Bittar ou Tião Bocalom (DEM)?

Os aliados de Bittar juram de pés juntos que será ele o protagonista da oposição nesta “nova eleição”. O otimismo se expressa mesmo com Vox Populi e Ibope apontando Bocalom atrás de Viana, e com a vantagem do democrata sendo perceptível nas ruas, sobretudo nas camadas mais baixas.

Porém, os bittanistas confiam na força do tucano no interior, em especial no Vale do Juruá das famílias Sales e Cameli. Para eles, será a votação no segundo maior colégio eleitoral que levará o candidato a superar Bocalom. Já do lado do DEM o otimismo é de fazer inveja a qualquer autor de autoajuda.

Para eles, não terá segundo turno que nada, Bocalom derrota o PT no dia 5 e ponto final. Pelos petistas a reeleição será resolvida domingo, sem a necessidade de mais 15 dias de uma campanha desgastada. A situação para Tião é tão complicada quanto 2010. Há quatro anos se viu livre do segundo turno graças ao resultado pífio do candidato Tijolinho (PRTB).

Agora o cenário é outro; os dois candidatos de oposição são competitivos e a soma de suas votações pode ultrapassar o percentual recebido pelo petista. E o mais provável é que isso aconteça, levando em consideração os erros grotescos do Ibope nas últimas eleições do acre., o que deixam os levantamentos sem a mínima margem de confiança.

Ao que tudo indica o que estará em jogo no próximo domingo, muito mais do que a decisão de quem estará no Palácio Rio Branco a partir de 2015, é saber qual dos três principais institutos em atividade hoje no Estado é o menos ruim: Ibope, Vox Popui ou Delta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O privilégio de Marina

Se ao declarar que o seringueiro Chico Mendes fazia parte da elite a candidata a presidente Marina Silva (PSB) causou polêmica, considerar a ex-seringueira uma “privilegiada” também pode soar estranho em meio à sua biografia marcada pela pobreza no Seringal Bagaço e na periferia de Rio Branco. Mas é assim que a classifica seu ex-professor de filosofia na UFAC, Evaristo De Luca: uma privilegiada.

Mas este privilégio, explica ele, não está no aspecto de sua posição social ou econômica, mas no de sua formação intelectual. “A Marina cursou história num dos períodos mais ricos da universidade, com os melhores professores e uma turma de alunos que se destacava, e parte deles está hoje na condução política do Acre”, diz Evaristo.

“A história, a vida da Marina sempre conspiraram a favor dela, por isso digo que ela é uma privilegiada. Saiu analfabeta do seringal e hoje tem esta projeção.”

Como caraterística predominante ainda hoje nos cursos de ciências humanas, a formação dos professores da ex-ministra estava no campo da esquerda marxista. O próprio De Luca era um militante do clandestino PCB (Partido Comunista Brasileiro), proibido de atuar durante o regime militar (1964-185). Para ele, este ambiente acadêmico contribuiu na formação ideológica de Marina, que a levou a militar em partidos de esquerda.

Um dos momentos mais lembrados por de Luca eram os pedidos de ajuda feitos pela aluna para comprar livros, e também obras que ele recomendava para tirar suas dúvidas. O professor se denomina o “mecenas da esquerda do Acre” por também ser um dos diretores da principal escola privada de Rio Branco, o Colégio Meta, ligado à Igreja Católica. Esta posição o levava a dar dinheiro para ajudar Marina na compra de livros.

“Houve uma vez que ela me pediu um livro que fizesse uma interpretação, uma análise de conjuntura. Eu emprestei o clássico 18 de Brumário de Luís Bonaparte, do [Karl] Marx”, diz. A obra foi devolvida por Marina? “Não me lembro”, responde sorrindo.

O professor recorda que o arcebispo de Rio Branco, Dom Moacyr Grechi, lhe pedia atenção e ajuda a Marina. “Como ele conhecia minha tendência política costumava me dizer: ‘oh vermelhinho dá uma atenção lá para a Marina’. Dom Moacyr, afirma De Luca, também foi um dos principais mentores da candidata.

Além de influenciar Marina na sua formação intelectual, De Luca foi quem garantiu o primeiro emprego de Marina como professora após formada. “Tive a honra de assinar a ficha de contratação dela.” O emprego foi pedido pela própria ex-senadora, recém-separada do primeiro casamento e com dois filhos para criar. Em sala de aula ficou pouco mais de um ano, logo depois iniciando sua trajetória política.

 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Marina radical

A formação ideológica da candidata à Presidência da República Marina Silva (PSB) a partir de sua militância na organização PRC (Partido Revolucionário Comunista) se refletiu na atuação de seus primeiros mandatos eletivos conquistados no Acre, entre o final da década de 1980 e começo dos anos 1990. O “radicalismo” foi sua principal marca durante os mandatos –todos pelo PT - na Câmara Municipal de Rio Branco (1989-1990) e na Assembleia Legislativa (1991-1994).

Esta é a opinião de seus ex-colegas de plenário nas duas Casas ouvidos pela coluna. De devolução de recursos extras pagos aos vereadores, a pedidos de criação de CPIs e ao pedido de impeachment do governador do Acre à época, a atuação da ex-ministra é apontada como “muito radical” e “polêmica” por lideranças daqueles anos conturbados da história política acreana.

 “Nós fazíamos uma oposição acirrada, nosso objetivo era derrubar o governo, criar todas as condições para derrubar o governo. Não tinha diálogo, não tinha acordo”, lembra o então parceiro de Marina na bancada petista, Nilson Mourão, 62, agora secretário de Direitos Humanos de Tião Viana (PT).

O “radicalismo” da presidenciável quando deputada estadual foi interrompido por alguns meses quando precisou se ausentar do Estado para tratar a saúde fragilizada, herança dos tempos em que morou no Seringal Bagaço.

Foi durante o mandato de Marina que o Estado viu o governador Edmundo Pinto (PDS) ser assassinado em um hotel de São Paulo. Para a polícia paulista foi um latrocínio (roubo seguido de morte), enquanto até hoje para os acreanos mais antigos foi um crime político, por conta de denúncias de corrupção numa das principais obras de infraestrutura da cidade, o Parque da Maternidade.



Outro episódio da época foi o incêndio do prédio da Assembleia Legislativa, em 30 de abril de 1992. Também apontada como retaliação política pelo funcionamento da CPI do Parque da Maternidade, a tese é descartada pelo ex-presidente da Casa, José Bestene (PP). Ele, por sinal, foi eleito para assumir o parlamento com o apoio da minúscula bancada de esquerda (três deputados) liderada por Marina.

“Para obter o apoio do grupo da Marina precisei atender a uma série de exigências dela. A primeira era garantir a livre atuação da oposição, não permitindo que a máquina do governo sufocasse sua atuação por meio de indicações, requerimentos e outros instrumentos legais”, diz Bestene.

Foi nesta fase, após o assassinato de Pinto e a ascensão do vice Romildo Magalhães (PDS) que a oposição, conduzida por Marina, fez o pedido de impeachment do governador. “Foi um dos momentos mais tensos da Assembleia, o governador chegou a determinar a invasão do prédio pela PM, deputados entravam armados no plenário e nesse meio a Marina colocando lenha na fogueira”, recorda o ex-deputado.

“O pedido de impeachment foi rejeitado por o governo fazer valer sua força e cooptou alguns deputados que se manifestavam a favor da cassação.”

Na Câmara Municipal os principais embates de Marina ocorriam com a líder do prefeito Jorge Kalume, Nabirra Bestene, irmã de José Bestene. “Ela era muito radical, tinha a postura de ser contra tudo e contra todos, qualquer projeto que fosse à votação ela rejeitava. A única matéria que ela votou a favor foi a Lei Orgânica do Município a partir de um consenso”, destaca a ex-vereadora.

Contradições 
Apontado por Marina Silva como integrante da “ala sadia” do PMDB, o ex-deputado João Correia considera a candidata a presidente da República uma das parlamentares mais atuantes naquele período. Mas critica sua postura de “omissão” quando o governo do então aliado Jorge Viana (PT) fez aprovar, em 2002, o retorno do pagamento de pensão para ex-governador.  Neste ano Marina tentava a reeleição para o Senado.

“Uma das bandeiras do PT nacional era o fim da pensão para ex-governadores, e aqui no Acre a Marina comprou para si esta briga. Seus discursos eram ácidos quando tocava neste assunto. Estranhei o silêncio dela quando, no apagar das luzes do primeiro mandato do Jorge Viana, o PT aprovou a emenda que garantia o retorno desta regalia”, afirma Correia.        

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Salve a Salvatti

A visita da ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Ideli Salvatti, ao Acre nesta sexta e sábado seria com bons propósitos de agenda oficial para tratar de temas relacionados à sua pasta, sobretudo a imigração de haitianos para o Brasil tendo Brasileia como porta de entrada. Como se trata de compromisso oficial, óbvio, todas as suas despesas e da equipe da secretaria foram pagas com recursos públicos.

Aproveitando o momento eleitoral em que o Acre passou a ser um dos centros das atenções do país por ser o berço político de Marina Silva (PSB), Salvatti não poderia perder a oportunidade para alfinetar a adversária direta de sua chefe, a presidente Dilma Rousseff (PT), que, assim como Salvatti, corre o risco de ficar desempregada a partir de 1º de janeiro de 2015 caso se confirme as pesquisas que apontam a vitória da ex-seringueira Marina no segundo turno.

Ao lado de companheiros das antigas de Marina no Acre, como os irmãos Jorge e Tião Viana, a ministra soltou umas indiretas para marina. Mas a questão principal não é essa; afinal, no calor da disputa o bateu-levou vai se acirrar ainda mais quando as pesquisas voltarem a mostrar (ou não) o amplo favoritismo da ex-senadora pelo Estado.

O que chama a atenção do eleitor é o fato de uma ministra em agenda oficial, paga com nosso dinheiro, tirar tempo para fazer picuinhas eleitorais. O contribuinte brasileiro não merece este tipo de atitude. Por estas e outras que o debate sobre o fim da reeleição ganha força. O Brasil não está preparado para a reeleição, pois seus homens públicos, desde 1500, não sabem fazer a diferenciação entre o patrimônio do Estado e o privado.

A institucionalização da reeleição já foi marcada por escândalos de corrupção. Houve a denúncia de compra de apoio no Congresso –inclusive envolvendo políticos do Acre hoje aliados do petismo - por parte do governo FHC para garantir a possibilidade de disputar um segundo mandato. É diante de abusos cometidos como estes por Ideli Salatti que a proposta de Marina Silva de acabar com a reeleição ganha força. Ou seja, se a ministra tinha como meta enfraquecer a candidatura adversária, seu tiro acabou por sair pela culatra.

E agora, José? 
Certamente os irmãos Viana ficaram numa saia-justa com a crítica de Salvatti. Mesmo devotos e admiradores de Marina Silva, eles nada podem fazer para evitar o bombardeio petista. Caso entrem na frente da artilharia, correm o risco de serem fatalmente atingidos. Criticar a ex-companheira também não dá. Vai que ela vira presidente e Tião consiga a proeza da reeleição, a quem eles vão recorrer em busca de recursos em 2015?

Antes tarde....
Mas a boa notícia nisso tudo é que, enfim, a campanha de Tião Viana agora tem um plano de governo para apresentar em seu programa eleitoral. Pois até aqui o eleitor tem visto muito clipe e blá-blá-blá. Após quatro anos de governo e outros 12 de seu partido à frente do Estado, Tião Viana parece estar atrasado em mostrar ao eleitor o que planeja para os próximos quatro anos, e isso quando a campanha caminha para a reta final e decisiva.