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sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O privilégio de Marina

Se ao declarar que o seringueiro Chico Mendes fazia parte da elite a candidata a presidente Marina Silva (PSB) causou polêmica, considerar a ex-seringueira uma “privilegiada” também pode soar estranho em meio à sua biografia marcada pela pobreza no Seringal Bagaço e na periferia de Rio Branco. Mas é assim que a classifica seu ex-professor de filosofia na UFAC, Evaristo De Luca: uma privilegiada.

Mas este privilégio, explica ele, não está no aspecto de sua posição social ou econômica, mas no de sua formação intelectual. “A Marina cursou história num dos períodos mais ricos da universidade, com os melhores professores e uma turma de alunos que se destacava, e parte deles está hoje na condução política do Acre”, diz Evaristo.

“A história, a vida da Marina sempre conspiraram a favor dela, por isso digo que ela é uma privilegiada. Saiu analfabeta do seringal e hoje tem esta projeção.”

Como caraterística predominante ainda hoje nos cursos de ciências humanas, a formação dos professores da ex-ministra estava no campo da esquerda marxista. O próprio De Luca era um militante do clandestino PCB (Partido Comunista Brasileiro), proibido de atuar durante o regime militar (1964-185). Para ele, este ambiente acadêmico contribuiu na formação ideológica de Marina, que a levou a militar em partidos de esquerda.

Um dos momentos mais lembrados por de Luca eram os pedidos de ajuda feitos pela aluna para comprar livros, e também obras que ele recomendava para tirar suas dúvidas. O professor se denomina o “mecenas da esquerda do Acre” por também ser um dos diretores da principal escola privada de Rio Branco, o Colégio Meta, ligado à Igreja Católica. Esta posição o levava a dar dinheiro para ajudar Marina na compra de livros.

“Houve uma vez que ela me pediu um livro que fizesse uma interpretação, uma análise de conjuntura. Eu emprestei o clássico 18 de Brumário de Luís Bonaparte, do [Karl] Marx”, diz. A obra foi devolvida por Marina? “Não me lembro”, responde sorrindo.

O professor recorda que o arcebispo de Rio Branco, Dom Moacyr Grechi, lhe pedia atenção e ajuda a Marina. “Como ele conhecia minha tendência política costumava me dizer: ‘oh vermelhinho dá uma atenção lá para a Marina’. Dom Moacyr, afirma De Luca, também foi um dos principais mentores da candidata.

Além de influenciar Marina na sua formação intelectual, De Luca foi quem garantiu o primeiro emprego de Marina como professora após formada. “Tive a honra de assinar a ficha de contratação dela.” O emprego foi pedido pela própria ex-senadora, recém-separada do primeiro casamento e com dois filhos para criar. Em sala de aula ficou pouco mais de um ano, logo depois iniciando sua trajetória política.

 

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