Páginas

domingo, 31 de julho de 2022

à direita e ao abismo

Com Jorge Viana fora da disputa ao governo, eleitor só terá uma opção nas urnas: escolher o menos trágico

 

Jorge para o Senado. Jorge para o governo. Jorge desiste da candidatura ao governo. Jorge se define para o Senado. Assim o eleitorado acreano se viu nos últimos meses diante da indecisão do ex-governador e ex-senador petista Jorge Viana sobre qual cargo disputaria nas eleições de 2022. Favorito nas pesquisas de intenção de voto para a única cadeira em disputa para o Senado, Viana ensaiava um retorno ao Palácio Rio Branco diante do possível enfraquecimento eleitoral do governador Gladson Cameli (Progressistas), o que não aconteceu - até o presente momento.


Mesmo com seu desgoverno envolto em denúncias e suspeitas de corrupção até o pescoço e uma gestão desastrosa, Gladson Cameli continua nos braços da galera, e aparenta estar imbatível em sua tentativa de reeleição - ainda que precise enfrentar dois turnos para isso. Diante disso, Jorge Viana não teve outra decisão a não ser se lançar ao Senado para tentar não ficar sem mandato pelos próximos anos. A pressão de aliados como o PSB também acelerou o fim da indecisão.  

Apesar de afirmar aos quatro ventos que sua candidatura não é uma questão de vaidade por já ter ocupado todos os principais cargos eletivos possíveis, o petista preferiu não trocar o certo pelo duvidoso. Aliás, a indefinição prolongada de se apresentar como candidato ao governo ou ao Senado pode ter um elevado custo eleitoral. Muitos eleitores que o esperavam como o “salvador da pátria” na corrida pelo governo para tirar o Acre do atual marasmo em que se encontra podem não mais acompanhá-lo na votação majoritária.

Se de fato a espatifada aliança governista lançar o nome do deputado federal evangélico e bolsonarista Alan Rick (União Brasil) para o Senado, o favoritismo de Jorge Viana não pode ser tão imbatível assim. Mesmo com o bolsonarismo definhando no plano nacional a cada pesquisa - apontando a quase vitória de Lula (PT) já no dia 2 de outubro -, aqui pelo Acre o eleitorado continua fiel ao reacionarismo de direita liderado por Jair Bolsonaro (PL), o que pode beneficiar Rick. Todavia, não sabemos se o parlamentar será candidato ao Senado ou vce de Cameli; tudo depende do humor do senador e dono do União Brasil no Acre, Márcio Bittar.  

Enquanto isso, Jorge Viana se ancora no passado de seus dois mandatos de governador (1999-2006) para ficar competitivo. É certo que o petista pode ser considerado um dos melhores governadores do Acre dos últimos anos, responsável pelo processo de reconstrução do estado após uma herança de escândalos de corrupção, crime organizado estruturado dentro do aparelho estatal e uma economia destroçada deixada por essa mesma direita que voltou ao poder através da vitória de Gladson Cameli em 2018.

Com o Acre caminhando a passos largos para este mesmo triste período,, JV é visto como o único candidato capaz de reverter essa trajetória de retrocesso. Em todas as pesquisas, o ex-governador aparece em segundo lugar na corrida para o Palácio Rio Branco. O petista seria o mais competitivo para enfrentar um governador que, apesar de ainda ser favorito, mostra-se muito desqualificado e despreparado para o cargo, mais as denúncias de corrupção graves que envolvem a pessoa do próprio Cameli.

Certamente estes pontos seriam bastante explorados pelos adversários durante a campanha eleitoral de rádio e TV, deixando o governador contra a parede, o que tenderia (ou não) a beneficiar Jorge Viana. É certo que o petista se apresentaria como o mais qualificado e experiente para novamente reerguer o Acre após quatro anos de desgoverno Cameli. Porém, Viana optou por ir a uma concorrência mais fácil de vencer, que é o Senado.     

Com Jorge Viana fora da disputa, a velha direita arcaica vai se engalfinhar entre si. O perdedor será um só: o Acre, que continuará a galope rumo ao retrocesso. Todos os outros adversários de Gladson Cameli são dissidentes de seu próprio grupo político. Por não terem seus interesses particulares contemplados, acabaram por romper. Portanto, essas candidaturas, muito mais do que se apresentarem em nome do interesse público do Estado, atende apenas a vaidades e interesses pessoais.

Por conta disso, qualquer que seja o resultado das urnas em outubro, o Acre tende a mergulhar, pelos próximos quatro anos, em mais uma onda de ostracismo e desgoverno. As perspectivas não são nada boas quando olhamos o grau de competência técnica e administrativa dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. O eleitor está diante do velho dilema: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O eleitor e a eleitora terão que escolher o menos ruim.

Enquanto isso, Jorge Viana mantém sua empreitada pessoal de se assegurar como Senador da República. Afirma que vai tentar salvar o Acre do pior de Brasília ao lado de Lula. Sem o petista, a esquerda não terá nenhum outro nome competitivo capaz de encarar essa onda bolsonarista que aparenta não dar sinais de tréguas por essas bandas da Amazônia ocidental, e que nos mergulha para um abismo cuja profundidade não conseguimos contemplar.  

Já vivemos tempos bem melhores em nossa política.  

 

Siga-me também no Twitter: 

 @fabiospontes


sábado, 23 de julho de 2022

Os custos políticos de Cameli

Cameli quer rifar a família Bittar; atitude é um desastre político e pode ficar ainda mais isolado



Após ter sido obrigado a aceitar, goela abaixo, o nome de Márcia Espinosa Bittar (PL) como sua pré-candidata a vice na chapa de reeleição, o governador do Acre, Gladson Cameli (Progressistas), trabalha para rifar a esposa (ou ex-esposa) do todo-poderoso senador bolsonarista Márcio Bittar (União Brasil). Conforme relatou o jornalista Luiz Carlos Moreira Jorge, o Crica, Gladson o teria dito, com todas as letras, que Márcia Bittar não será mais sua candidata a vice, e que ninguém o colocará contra a parede.


Desde o começo já se sabia da insatisfação do governador em ter a nada carismática e agregadora Márcia Bittar como sua parceira de chapa majoritária. Todos os aliados torceram o nariz para a dobradinha Cameli-Bittar. Sabem que o nome de um Bittar mais tira votos do que soma. Nem mesmo o apelo à imagem do bolsonarismo ainda tão forte no Acre reduz essa rejeição. Agora, é certo  que esse pé na bunda dado pelo governador - caso realmente se concretize - após toda a festa feita para oficializar a aliança, seria uma grande humilhação para os Bittar.    

Mesmo sendo desagregador, Márcio Bittar tem um forte mandato de senador em Brasília - isso enquanto o bolsonarismo resiste por lá. Como apontam todas as pesquisas, a partir de 2023 o Palácio do Planalto terá um novo-velho ocupante: Luíz Inácio Lula da Silva. Isso só não vai acontecer se Jair Bolsonaro conseguir uma reviravolta ante o amplo favoritismo de Lula ou der um golpe de Estado, sendo a segunda opção a mais provável de acontecer, já que todos os dias o presidente faz ataques contra a democracia.

Além de ainda carregar o bolsonarismo no Acre a galope, Márcio Bittar controla o União Brasil, partido que detém a maior fatia do fundo partidário e muitos minutos de espaço na propaganda eleitoral. É no União Brasil onde também está o deputado federal Alan Rick, rifado, até aqui, por Gladson Cameli na corrida para o Senado. Sem força nem habilidade política, o governador se vê obrigado a abraçar a candidatura natimorta de sua suplente no Senado, Mailza Gomes (Progressistas).

Como escrevi no artigo anterior, Gladson Cameli chega às eleições de 2022 com a aliança partidária de 2018 espatifada. Nestes três anos e meio à frente do Executivo, foi incapaz de manter a unidade de seu grupo político. Agora paga um alto preço por sua arrogância disfarçada de humildade. O governador ainda é o favorito nas sondagens de intenção de voto. Apesar do desgoverno desastroso que faz,  é bem avaliado pelo eleitorado. Seu carisma é inegável, tendo a capacidade de ofuscar todos os defeitos.

Apesar de (ainda) ser forte eleitoralmente, Cameli está muito enfraquecido politicamente. E como sabemos, ninguém ganha uma eleição sozinho, e cada eleição é uma eleição. Se quatro anos atrás ele seria capaz de derrotar todos os adversários já no primeiro turno sem o apoio de ninguém - como costumava vangloriar - a situação hoje é bastante diferente. Ele agora é governador de Estado que tenta a reeleição, e será a vidraça principal de todos os adversários. Tem muitas explicações a dar ao eleitorado.

Além da incompetência na administração pública, o atual governador foi atingido em cheio por gravíssimas denúncias de corrupção reveladas por meio da operação Ptolomeu, da Polícia Federal. É claro que todos estes pontos vão ser amplamente explorados pelos oponentes. Gladson Cameli se verá atacado por ex-aliados como o MDB, com a provável candidatura da deputada federal Mara Rocha, e o PSD do senador Sérgio Petecão (também candidato), que em 2018 fizeram campanha para ele. Ambos os partidos são donos de uma ampla exposição no tempo de rádio e TV.

Os caciques destes dois partidos já deram declarações públicas afirmando que, num eventual segundo turno entre Gladson Cameli e Jorge Viana (PT), estarão no palanque do petista, e não do governador, revelando o grau de ranhura que ficou na relação deles. Nem mesmo o poder do cargo de governador tem se mostrado - até agora - capaz de reagrupar as forças políticas que lhe renderam a vitória há quatro anos.  

A Gladson Cameli só lhe restou o apoio do clã Bittar, que mais atrapalha do que ajuda. Para tentar se livrar da pedra no sapato que é ter Márcia Bittar como vice, o governador também pode perder mais este importante apoio, do União Brasil e da família Bolsonaro - que está numa tentativa desesperada de se assegurar no Planalto.

Como se pode ver, o governador acreano está numa situação política delicadíssima; entre a cruz e a espada. Situação esta provocada por ele próprio e sua arrogância de desprezar aliados, achando que apenas seu sorriso maroto e os passos de dançarino asseguram votos nas urnas.

Agora ele vê que o buraco é mais embaixo. Após perder o apoio de aliados tão importantes, sabe que não poderá chutar de forma rasteira a família Bittar. E o preço já foi dito: a candidatura de vice. Ou aceita, ou pulam fora, com a possibilidade de Gladson ter mais um adversário na corrida pelo Palácio Rio Branco: o senador Márcio Bittar, apresentando-se como o candidato oficial de Bolsonaro no Acre.

Nos bastidores se diz que a relação dos Bittar com Cameli, que não era lá já essas coisas, ficou ainda pior diante das articulações subterrâneas para rifar o nome de Márcia Bittar. O estrago está feito, e não sabemos as consequências. A disputa está apenas no começo.     


domingo, 17 de julho de 2022

Análise política na floresta

 Governador do Acre tenta reeleição com grupo político espatifado e envolvido em denúncias de corrupção 

 

 

Gladson Cameli, em convenção de lançamento de candidatura à reeleição (Foto:Assessoria)

Se 4 anos atrás o então senador e candidato ao governo do Acre Gladson de Lima Cameli, do partido Progressistas, nadava de braçada nas articulações políticas e na campanha eleitoral para o Palácio Rio Branco (elegendo-se já no primeiro turno), o mesmo não se pode dizer agora - mesmo ocupando a cadeira de governador.  Além de se revelar um péssimo gestor público à frente do Poder Executivo e um completo amador na construção do diálogo político, Cameli ainda se vê envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção reveladas pela Polícia Federal, em dezembro de 2021, com a deflagração da operação Ptolomeu.


Enfraquecido por todas essas circunstâncias, nem mesmo a caneta de governador repleta de tinta azul é capaz de amenizar os estragos políticos ocasionados por sua inabilidade política, o que atrapalha a tentativa desesperada de reeleição. Se perder a eleição, Gladson Cameli fica sem o foro privilegiado que assegura ser processado e investigado apenas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde tramita o processo da Ptolomeu.

A inabilidade para a construção de alianças político-partidárias é a principal característica do governador bolsonarista. Seu grupo político é marcado pelo fisiologismo do toma lá-dá-cá e uma completa balbúrdia. No governo há o mesmo desastre, com a falta de projetos ou políticas públicas claras, sem planejamento e metas a ser alcançadas; é tudo feito nas coxas, como se diz popularmente.

Ele, por sinal, ancora-se na imagem e no discurso do bolsonarismo para salvar a pele diante de um eleitorado tão reacionário e bolsonarista como é o acreano. Gladson Cameli, por exemplo, foi incapaz de manter a unidade da aliança partidária que o elegeu em 2018. Houve a dissidência de dois importantes partidos: o PSD e o MDB.

O PSD tem como dono no Acre o senador Sérgio Petecão, que será adversário de Cameli na corrida pelo Palácio Rio Branco. O MDB também pode vir com candidatura majoritária própria. Mas até o fim das convenções podemos esperar de tudo do deputado federal Flaviano Melo, proprietário do MDB em terras acreanas. Essa novela já vimos antes. As candidaturas majoritárias do MDB são como voo de galinha; são abatidas pelo próprio Flaviano.

Incapaz de controlar as rédeas de seu próprio partido - que lhe impõe uma candidatura inexpressiva e fadada à derrota ao Senado de Mailza Gomes - Gladson Cameli ficou refém do todo-poderoso senador bolsonarista Márcio Bittar, um dos operadores iniciais do chamado orçamento secreto. Desesperado com a crise familiar, Bittar tenta emplacar a esposa (ou ex-esposa?) em algum cargo de poder e prestígio. A primeira tentativa foi lançá-la ao Senado.

Mesmo apoiando-se na cartilha bolsonarista-evangélica para atrair o eleitorado acreano, ela não decolou nas pesquisas. A única opção restante foi alçar a parceira familiar como vice de um governador politicamente enfraquecido. Márcio Bittar foi o porto-seguro encontrado por Cameli para conter um pouco a Polícia Federal com sua operação Ptolomeu. Com bastante influência diante do clã Bolsonaro, Bittar colocou Cameli diante de Flávio Bolsonaro - apontado como o “controlador político” da PF.

Além disso, Márcio Bittar é festejado por essas bandas da Amazônia como o responsável por enviar bilhões de reais para o cofre do governo acreano. O problema é que ninguém vê a aplicação de tais recursos. A economia do estado está estagnada. O governo não executa nem uma grande obra capaz de manter alguma dinâmica na economia.  

Com essa dívida de gratidão, a Gladson Cameli não restou outra opção a não ser aceitar Márcia Espinosa Bittar como sua vice. Essa imposição feita goela abaixo desagradou muitos aliados, mas que também não reagiram para não perder seus confortáveis cargos comissionados na estrutura do Estado. Conforme relatos da imprensa, nem o próprio governador está satisfeito em ter Marcia Bittar como sua vice, mas não tem coragem de peitar o senador ante sua fragilidade política.  

Mesmo atolado em denúncias de corrupção e com uma gestão desastrosa à frente do governo, Gladson Cameli ainda aparece como favorito nas pesquisas eleitorais. É verdade que seu favoritismo já foi bem maior antes de todos esses escândalos. Nenhuma sondagem aponta ele eleito já no primeiro turno. Teria que ir para uma segunda rodada para se manter no Palácio Rio Branco.

Não se sabe ao certo qual impacto terá o nome de Márcia Bittar como vice. É certo que ela pode mais atrapalhar do que ajudar, mesmo sendo uma mulher e capaz de atrair o voto feminino. Todavia, ela integra um velho clã político local não visto com muita simpatia pela população local. Por aqui, a família Bittar é apontada apenas como interessada em usar politicamente o estado para se dar bem, preferindo aportar seus investimentos em regiões como Brasília ou Campo Grande (MS).

Isso piora ainda mais a situação de um governador acusado de implementar a chamada República de Manaus, transformando o Acre num paraíso das empresas do Amazonas que passaram a vender do cotonete ao alfinete para o governo Cameli. Certamente os incontáveis escândalos de corrupção que envolvem o governo serão bastante explorados pela oposição (esta última, por sinal, será tema de outro artigo).

E assim, politicamente enfraquecido e com sua aliança partidária de 2018 espatifada, Gladson Cameli tentará ficar mais uns três anos no governo. É certo que, se reeleito, abandonará o palácio em 2026 para concorrer ao Senado, pois não sabe ficar sem ocupar um cargo político. Assim, o Acre ficará nas mãos da família Bittar. 


Gladson ainda tem mais alguns dias antes do início oficial da campanha eleitoral para tentar mostrar alguma força e resistência. Não sabemos se terá coragem para se livrar de uma vice tão pesada quanto Márcia Bittar e colocar o Progressistas no lugar e lançar outro nome mais competitivo para o Senado.

A sorte está lançada….     

sábado, 16 de julho de 2022

10 anos no ar

Em 2022, este blog completa uma década no ar. São 10 anos analisando e noticiando as coisas de nosso Acre e da Amazônia. De uma cobertura quase exclusiva para os assuntos políticos locais, também passei a escrever sobre meio ambiente, questões amazônicas, crise migratória na nossa tríplice fronteira, povos indígenas, mudanças climáticas e tudo o mais o que afeta a sociedade acreana. Ah, neste tempo ainda mudaram até o nosso gentílico de acreano para acriano, mas me mantive subversivo e continuo a escrever da velha forma.

Nestes 10 anos, muitas coisas mudaram no Brasil e no Acre. No país vivemos hoje uma verdadeira tragédia econômica e social desde a chegada da extrema direita reacionária ao Palácio do Planalto. Nos dias atuais, há o risco de você ser executado em sua festa de aniversário se o tema estiver relacionado a uma ideologia política que não agrade o outro. Neste período, milhões e milhões de brasileiros voltaram a sofrer com a fome.  A nossa democracia está sob constante ameaça e incerteza.

No Acre a situação não é diferente. Após 20 anos de hegemonia política do Partido dos Trabalhadores, a velha direita que dominava o poder desde os tempos da horripilante ditadura militar (1964-1985) voltou ao poder - agora travestida com novas roupas e caras, mas com o mesmo pensamento (ou a falta dele) retrógrado e arcaico de sempre. Assim como o restante do Brasil, voltamos a mergulhar na miséria - isso num estado já sempre pobre e marcado pela desigualdade social.      

Em 2012, quando este blog nasceu, vivíamos um ano eleitoral de plena normalidade institucional. Nossas instituições eram respeitadas e a democracia não sofria nenhum tipo de risco. Há 10 anos, tínhamos uma disputa municipal. O agora prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom (Progressistas), era o franco favorito para ser o novo prefeito da capital. Viu sua vantagem desmoronar diante da poderosa máquina petista que virou o jogo e elegeu o então inexpressivo Marcus Alexandre (PT).

Bocalom só veio a ganhar uma disputa majoritária em 2020, pegando carona na onda bolsonarista que devasta o Brasil e o Acre. Todos eles, diga-se, eleitos a partir do voto das urnas eletrônicas, tão massacrada por eles neste momento.

Em 2022 vamos voltar às urnas em mais uma eleição geral. No entanto, o ambiente político é bem diferente. Não sabemos nem mesmo se vamos ter eleições. Hoje há no poder um presidente golpista que a toda hora atenta contra a nossa democracia. Por meio de seus discursos, fomenta o ódio e a violência, pregando a eliminação do outro. Ele não tem adversários políticos, mas inimigos.

Vivemos um dos piores momentos políticos da história brasileira. O fantasma da ditadura militar é ressuscitado por Jair Bolsonaro e seus asseclas. É neste triste e sombrio momento de nossa história que o blog sobrevive, resistindo, fazendo o jornalismo independente e crítico de sempre, sem se curvar ao poderio econômico de quem esteja no poder.

Que a partir deste histórico ano eleitoral de 2022, um novo período possa ser construído. Que o Brasil e o Acre possam reencontrar o caminho da normalidade institucional, o seu reencontro com o desenvolvimento econômico para tirar nossa população da extrema pobreza na qual se encontra. Estaremos aqui, neste cantinho abandonado do país, acompanhando todo o processo eleitoral, defendendo a democracia e as nossas liberdades contra os ataques do bolsonarismo.

Que daqui 10 anos este mesmo blog ainda possa estar no ar para testemunhar a recuperação do Brasil. Infelizmente ainda vamos levar muito tempo para nos recuperar da atual tragédia política em curso. Que essa página de nossa história possa, de uma vez por todas, ser jogada na lata do lixo para nunca mais ser recuperada.  

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Consolidação da destruição

 “Governantes do Acre querem destruir a história de Chico Mendes”, diz filha do líder seringueiro 

 

Atacada por vândalos, estátua de Chico Mendes fica jogada no centro da cidade (Foto: Juan Diaz)

 

A estátua do líder seringueiro Chico Mendes foi arrancada da base e  jogada ao chão da Praça Povos da Floresta na sexta-feira (1º), no centro de Rio Branco (AC). A cena de vandalismo contra o patrimônio público representa o desrespeito à história do Acre e também a consolidação do desmonte da política de proteção da Amazônia promovida pelo governador bolsonarista Gladson Cameli (Progressistas). Essa é a análise feita pela coordenadora do Comitê Chico Mendes e filha do ambientalista, Ângela Mendes.

Além da estátua, a casa em madeira onde Chico Mendes viveu e foi assassinado, em 1988, na cidade de Xapuri, sofre com o abandono e a deterioração desde a chegada de Cameli ao governo do Acre, em 2019.

Para Ângela Mendes, há uma clara tentativa dos atuais governantes acreanos de destruir toda a história de vida e de luta protagonizada por seu pai e outros seringueiros em defesa da floresta na década de 1980. Até mesmo manifestações artísticas com representações de Chico Mendes foram censuradas pelo governo Cameli. Foi o caso de um grafite com a representação de seu rosto feito numa das paredes do Mercado dos Colonos, a poucos metros de onde ficava a estátua. A arte foi apagada de forma arbitrária, com  tinta azul.

“Desde que assumiu, o governo caminha de acordo com os interesses do agronegócio, dos grandes fazendeiros. Isso consolida o descaso do governo com a nossa cultura, com a nossa história, com a memória de toda essa luta dos povos da floresta, liderada pelo meu pai e que repercutiu em todo o mundo”, afirma Ângela.

Testemunha das mobilizações políticas organizadas por Chico Mendes, o ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva (PT) se manifestou sobre o episódio da destruição da estátua do líder seringueiro. “Assassinaram Chico Mendes e isso não matou suas ideias. Os que vandalizaram sua estátua em Rio Branco também tentam apagar a sua memória, mas também não terão sucesso”, escreveu o petista no Twitter.

Como destaca a filha, Chico Mendes é o nome do Acre mais conhecido no Brasil e exterior, um símbolo mundial em defesa das causas ambientais. “Os três governos, nas três esferas, estão alinhados no projeto de desmonte não só da política ambiental, mas também de tudo aquilo que o meu pai representou para essa política de meio ambiente, para que o Brasil fosse, em tempos passados, referência nesta pauta ambiental”, ressalta Ângela.

Na análise dela, enquanto o governo federal de Jair Bolsonaro (PL) atua para destruir a política de proteção ambiental do país, no plano local os governos estadual e municipal trabalham em conjunto para destruir a história e o legado de Chico Mendes. “Hoje nós entendemos, mais do que nunca, que isso faz parte de um projeto. A destruição da estátua do meu pai pode até ter sido um ato de vandalismo, mas acima de tudo ela está  inserida dentro desse projeto de apagar a história que ele representa”, ressalta.

Instalada no coração da capital acreana desde 2003, a estátua de Chico Mendes foi esculpida no tamanho real do homenageado e já vinha sofrendo com o descaso há algum tempo. A homenagem original era do líder seringueiro de mãos dadas com seu filho pequeno. A estátua da criança foi roubada e nunca recuperada. O governo também não colocou outra no lugar. Desta vez, a imagem do líder seringueiro foi a vítima, ficando o fim de semana todo abandonada no chão aos olhos de todos.

Na noite de domingo (3), um protesto liderado por Ângela foi organizado no local. Com velas e cartazes, os manifestantes pediram para que o monumento fosse restaurado e devolvido ao lugar. A Praça Povos da Floresta está localizada em frente ao Palácio Rio Branco, sede do governo acreano, e ao lado da Assembleia Legislativa. Tanto a praça como a estátua foram construídas durante o chamado “governo da floresta” (1999-2006), liderado pelo petista Jorge Viana.   

Após 20 anos de gestões do PT no Acre – partido que teve como um dos fundadores justamente Chico Mendes – o bolsonarismo tomou conta das urnas no processo eleitoral de 2018. Dessa forma, a direita acreana, que detinha a hegemonia política do estado na época do assassinato de líderes seringueiros como Chico Mendes e Wilson Pinheiro, voltou aos espaços de comando com “novas caras”, representadas por Gladson Cameli, cujo tio, Orleir Cameli, já havia sido governador entre 1995 e 1998.  


Leia a reportagem completa na Amazônia Real