Páginas

domingo, 31 de julho de 2022

à direita e ao abismo

Com Jorge Viana fora da disputa ao governo, eleitor só terá uma opção nas urnas: escolher o menos trágico

 

Jorge para o Senado. Jorge para o governo. Jorge desiste da candidatura ao governo. Jorge se define para o Senado. Assim o eleitorado acreano se viu nos últimos meses diante da indecisão do ex-governador e ex-senador petista Jorge Viana sobre qual cargo disputaria nas eleições de 2022. Favorito nas pesquisas de intenção de voto para a única cadeira em disputa para o Senado, Viana ensaiava um retorno ao Palácio Rio Branco diante do possível enfraquecimento eleitoral do governador Gladson Cameli (Progressistas), o que não aconteceu - até o presente momento.


Mesmo com seu desgoverno envolto em denúncias e suspeitas de corrupção até o pescoço e uma gestão desastrosa, Gladson Cameli continua nos braços da galera, e aparenta estar imbatível em sua tentativa de reeleição - ainda que precise enfrentar dois turnos para isso. Diante disso, Jorge Viana não teve outra decisão a não ser se lançar ao Senado para tentar não ficar sem mandato pelos próximos anos. A pressão de aliados como o PSB também acelerou o fim da indecisão.  

Apesar de afirmar aos quatro ventos que sua candidatura não é uma questão de vaidade por já ter ocupado todos os principais cargos eletivos possíveis, o petista preferiu não trocar o certo pelo duvidoso. Aliás, a indefinição prolongada de se apresentar como candidato ao governo ou ao Senado pode ter um elevado custo eleitoral. Muitos eleitores que o esperavam como o “salvador da pátria” na corrida pelo governo para tirar o Acre do atual marasmo em que se encontra podem não mais acompanhá-lo na votação majoritária.

Se de fato a espatifada aliança governista lançar o nome do deputado federal evangélico e bolsonarista Alan Rick (União Brasil) para o Senado, o favoritismo de Jorge Viana não pode ser tão imbatível assim. Mesmo com o bolsonarismo definhando no plano nacional a cada pesquisa - apontando a quase vitória de Lula (PT) já no dia 2 de outubro -, aqui pelo Acre o eleitorado continua fiel ao reacionarismo de direita liderado por Jair Bolsonaro (PL), o que pode beneficiar Rick. Todavia, não sabemos se o parlamentar será candidato ao Senado ou vce de Cameli; tudo depende do humor do senador e dono do União Brasil no Acre, Márcio Bittar.  

Enquanto isso, Jorge Viana se ancora no passado de seus dois mandatos de governador (1999-2006) para ficar competitivo. É certo que o petista pode ser considerado um dos melhores governadores do Acre dos últimos anos, responsável pelo processo de reconstrução do estado após uma herança de escândalos de corrupção, crime organizado estruturado dentro do aparelho estatal e uma economia destroçada deixada por essa mesma direita que voltou ao poder através da vitória de Gladson Cameli em 2018.

Com o Acre caminhando a passos largos para este mesmo triste período,, JV é visto como o único candidato capaz de reverter essa trajetória de retrocesso. Em todas as pesquisas, o ex-governador aparece em segundo lugar na corrida para o Palácio Rio Branco. O petista seria o mais competitivo para enfrentar um governador que, apesar de ainda ser favorito, mostra-se muito desqualificado e despreparado para o cargo, mais as denúncias de corrupção graves que envolvem a pessoa do próprio Cameli.

Certamente estes pontos seriam bastante explorados pelos adversários durante a campanha eleitoral de rádio e TV, deixando o governador contra a parede, o que tenderia (ou não) a beneficiar Jorge Viana. É certo que o petista se apresentaria como o mais qualificado e experiente para novamente reerguer o Acre após quatro anos de desgoverno Cameli. Porém, Viana optou por ir a uma concorrência mais fácil de vencer, que é o Senado.     

Com Jorge Viana fora da disputa, a velha direita arcaica vai se engalfinhar entre si. O perdedor será um só: o Acre, que continuará a galope rumo ao retrocesso. Todos os outros adversários de Gladson Cameli são dissidentes de seu próprio grupo político. Por não terem seus interesses particulares contemplados, acabaram por romper. Portanto, essas candidaturas, muito mais do que se apresentarem em nome do interesse público do Estado, atende apenas a vaidades e interesses pessoais.

Por conta disso, qualquer que seja o resultado das urnas em outubro, o Acre tende a mergulhar, pelos próximos quatro anos, em mais uma onda de ostracismo e desgoverno. As perspectivas não são nada boas quando olhamos o grau de competência técnica e administrativa dos candidatos mais bem posicionados nas pesquisas. O eleitor está diante do velho dilema: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. O eleitor e a eleitora terão que escolher o menos ruim.

Enquanto isso, Jorge Viana mantém sua empreitada pessoal de se assegurar como Senador da República. Afirma que vai tentar salvar o Acre do pior de Brasília ao lado de Lula. Sem o petista, a esquerda não terá nenhum outro nome competitivo capaz de encarar essa onda bolsonarista que aparenta não dar sinais de tréguas por essas bandas da Amazônia ocidental, e que nos mergulha para um abismo cuja profundidade não conseguimos contemplar.  

Já vivemos tempos bem melhores em nossa política.  

 

Siga-me também no Twitter: 

 @fabiospontes


Nenhum comentário:

Postar um comentário