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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Uma floresta espatifada

A Política na Floresta:

a velha direitona continua no balaio de gatos, e esquerda já respira sem ajuda de aparelhos  

 

O tabuleiro está formado e as cartas estão na mesa para a disputa ao governo do Acre, naquela que já entrou para a história como uma das eleições mais importantes do país. O atual momento de ataque às instituições, ao sistema eleitoral e à democracia promovidos por Jair Bolsonaro (PL) fazem as eleições de 2022 serem únicas. Mesmo com todo este ambiente tenebroso no qual o Brasil se meteu desde 2018, os acreanos terão um farto cardápio de opções para decidir quem vai ocupar o Palácio Rio Branco pelos próximos quatro anos.


E o mais interessante é que essa fartura se dá, sobretudo, graças à inabilidade política do atual ocupante da sede do Executivo acreano, Gladson de Lima Cameli (Progressistas). Nem mesmo o fato de deter o controle da máquina foi suficiente para ele manter a unidade da aliança que o elegeu quatro anos atrás - já no primeiro turno. Este espatifamento era mais do que esperado diante da incompetência de Gladson para construir governabilidade na Assembleia Legislativa. Nos primeiros dois anos, a relação do Executivo com o Parlamento foram de uma verdadeira zorra.

O custo agora está aí. O governador terá como adversários diretos nesta eleição os senadores Sérgio Petecão (PSD) e Márcio Bittar (União Brasil), além da deputada federal Mara Rocha (MDB). Todos eles estiveram no palanque e pediram votos para Gladson Cameli em 2018.

A parlamentar bolsonarista, por exemplo, campeã de votos na corrida para a Câmara quatro anos atrás, é irmã do atual vice-governador Major Rocha, que rompeu com Cameli logo no primeiro ano de mandato. Nas pesquisas sem o nome de Jorge Viana (PT), a jornalista Mara Rocha aparece em segundo lugar. É uma forte candidata e está num partido robusto.

Rocha é o autor das principais denúncias que colocam o governo dos Progressistas na lama da corrupção até o pescoço.  Como vingança por ter as portas fechadas no governo (ficou até sem o gabinete de vice), o major da PM lança a candidatura da irmã ao governo pelo MDB, partido que também rompeu com o Palácio Rio Branco. Já Márcio Bittar lança-se candidato aos 45 minutos do segundo tempo também como retaliação a Cameli, por este ter rifado a esposa, Márcia Espinosa Bittar (PL), da candidatura de vice na chapa governista de reeleição.

Com o ato, Bittar retira o poderoso e robusto União Brasil com dinheiro e tempo de TV da coligação do PP - e ainda leva o PL de Bolsonaro, também sob domínio dos Bittar no Acre. Já Sérgio Petecão (PSD) é candidato ao governo do Acre desde que as urnas de 2018 foram fechadas. Político profissional que se apresenta como “100% popular”, Petecão acreditava (ou acredita) que seu destino é ser governador.

Logo no começo, a relação entre Gladson e Petecão não era a das melhores, pois sempre se viram como adversários em 2022. O senador chegou a ter espaços dentro do governo, mas logo os aliados foram exonerados dos cargos de confiança. Confiança, por sinal, é algo que não existe entre as velhas figuras da direitona acreana. Mesmo no poder, nunca deixaram de ser um balaio de gatos, como eram definidos pelo PT enquanto também se digladiavam para tirar os petistas do poder.

A unidade de 2018 durou pouco. Agora é cada um para o seu lado em busca dos próprios interesses. Eles não têm a mínima visão de Estado, do que seja fazer política pública, de um projeto real para o Acre. Ao chegarem ao poder, revelaram todas as suas incompetências. O resultado é o retrocesso no qual o Acre se meteu nos últimos anos, com muitas e muitas pessoas indo embora daqui em busca de melhores condições de vida noutros estados.


A esquerda voltou a respirar       


E a esquerda acreana, que estava sem candidatura ao governo do Acre até a tarde de sexta-feira, 5 de agosto, o último dia das convenções, voltou a respirar sem a ajuda de aparelhos, com o lançamento de Jorge Viana (PT). Após 20 anos de plena hegemonia política por estes rincões da Amazônia, os petistas poderiam ter a vexatória situação de não oferecer um palanque para Lula, líder nas pesquisas presidenciais até aqui.

Após muitas idas e vindas sobre qual cargo majoritário disputaria - lançando-se candidato ao Senado -, Jorge Viana, enfim, decidiu ir para o sacrifício na tentativa de um retorno ao Palácio Rio Branco, abrindo mão da vitória quase certa para o Senado. Nas pesquisas feitas até o momento, Jorge Viana aparece em segundo lugar nas intenções de voto, atrás de Gladson Cameli; com isso, a disputa tende a ficar polarizada entre os dois.

Mesmo com um sentimento antipetista e anti-Lula ainda bastante resistente por essas bandas do Aquiry, Viana tem a seu favor a boa memória e elevada aprovação de sua passagem pelo governo - entre 1999 e 2006. Definido como o governo da reconstrução, ele assumiu o Acre num dos piores momentos, com a estrutura do Estado literalmente carcomida, com o crime organizado penetrado nos corredores do poder e as contas públicas na lona.

Outro fator é que Viana também enfrenta um adversário desqualificado e sempre despreparado para os debates, e que nada tem a mostrar de concreto sobre bons feitos de seu governo - que chamo de desgoverno. Ao contrário, Cameli deve prestar muitas contas sobre as denúncias de corrupção que lhe são imputadas pela Polícia Federal, que o define como o chefe de organização criminosa responsável por suposto desvio de R$ 800 milhões dos cofres públicos.   

Se a eleição for para o segundo turno entre Viana e Cameli, a corrida ficará ainda mais disputada no voto a voto. Mais no andar de baixo, a esquerda vem com a candidatura do cientista político Nilson Euclides, do PSOL. Outro degrau abaixo, só para ocupar espaço, o Avante aposta na candidatura de David Hall. Os nomes estão postos ao eleitorado acreano, que em outubro vai decidir o futuro do Acre pelos próximos anos. Será uma disputa bem interessante e essencial para definir qual Acre queremos. Não basta a fartura de candidatos, é preciso qualidade de proposta.

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