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sábado, 25 de agosto de 2018

A oportunidade da metamorfose

Se há no Acre um político que por mais vezes passou por uma metamorfose partidária e ideológica, este é o atual e ainda emedebista Márcio Bittar. A eleição de 2018 é mais um retrato da dança de cadeira pragmática do candidato ao Senado.

De olho na onda de popularidade do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e seu discurso reacionário de combate à violência, Bittar decidiu dar as costas ao presidenciável do próprio partido, o ex-ministro da Fazenda do governo Michel Temer (MDB), Henrique Meirelles, que ocupa as últimas posições nas pesquisas.

Márcio Bittar fez a cúpula do chapão da oposição redigir nota conjunta dos 11 partidos cobrando fidelidade de seus membros. O emedebista não está nada satisfeito com o apoio dado por prefeitos oposicionistas ao candidato petista ao Senado Ney Amorim.  Na prática, porém, o comportamento é outro.

Em vídeo publicado em sua página oficial no Facebook, Márcio Bittar fez declaração pública de que seu candidato ao Palácio do Planalto não é nem Geraldo Alckmin (PSDB) - o oficial adotado pelo governadorável Gladson Cameli (PP) - e tampouco Henrique Meirelles (MDB).

Ele, que estava filiado ao PSDB até o ano passado, afirma compactuar com os mesmos ideais de Bolsonaro. “Um presidente de mãos limpas, para reestabelecer a moral e a ordem em nossa pátria. Por tudo isso, comungando com os mesmos ideais, voto em Jair Messias Bolsonaro”, disse o candidato do MDB.

Até a operação Lava Jato fisgar o senador tucano Aécio Neves (MG) como um dos principais beneficiários do esquema de corrupção entre empreiteiras, grandes empresas nacionais e o poder público em Brasília, Bittar apresentava-o como um político que seria a redenção do Brasil.

Em 2002, disputou e perdeu o Senado pelo PPS – versão atual do extinto Partido Comunista Brasileiro, o partidão. Convertido à ideologia da direita, adotou até mesmo o discurso radical de Jair Bolsonaro. “Chega de passar a mão em cabeça de bandido. Vamos valorizar nossas forças policiais. Lugar de bandido é na cadeia”, disse ele.

O candidato ao Senado defende, ainda, o fim das audiências de custódia, mecanismo usado pelo Poder Judiciário para acelerar o julgamento de pessoas presas em flagrante, e que reduz a superlotação dos presídios, já tão abarrotados.

O ex-membro do partidão se apresenta contra a ideologia de gênero e é contra o aborto. Todas essas declarações, de forma clara, são uma tentativa de obter o voto do eleitorado mais conservador, formando em grande medida pelo eleitorado evangélico. “Precisamos resgatar os princípios da família e os valores cristãos.”

Quando jovem, o ainda emedebista teve sua formação política na extinta União Soviética, onde foi estudar de forma clandestina nos tempos da ditadura militar brasileira (1964-1985).

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Mais com menos

As campanhas dos dois principais candidatos ao governo do Acre em 2018, Gladson Cameli (PP) e Marcus Alexandre (PT), vão sair mais conta do que a reeleição do petista Sebastião Viana em 2014. Há quatro anos, Viana declarou ter gastado R$ 6 milhões em sua tentativa de se manter no cargo, numa disputa que foi decidida em dois turnos.

Quando registrou a candidatura em 2014, Sebastião Viana apresentou como estimativa de gastos R$ 7,8 milhões. Com as novas regras de financiamento em 2018  - que proíbem a doação de empresas -, Gladson e Marcus só podem chegar ao teto de R$ 4,2 milhões, cada.

De acordo com o presidente do PT e coordenador da campanha de Marcus Alexandre, André Kamai, o partido trabalha com uma estimativa de R$ 2,4 milhões no primeiro turno. Este é o mesmo valor já contabilizado pelo Progressistas. O teto imposto pela Justiça Eleitoral é de R$ 2,8 milhões no primeiro turno.

Caso ocorra segundo turno, mais R$ 1,4 milhão está autorizado a ser usado. O principal recurso para bancar a campanha é o fundo eleitoral que cada partido recebeu esse ano. Outra possibilidade é o autofinanciamento por parte dos candidatos e a doação de pessoas físicas.

Há quatro anos, o comitê financeiro de Sebastião Viana alcançou receitas de R$ 4,8 milhões. Grande parte desse dinheiro saiu de doações de empresas; naquele ano esse tipo de doação não estava proibido. As empreiteiras figuravam como as principais doadoras para os cofres petistas naquela eleição no Acre.

Os demais candidatos ao Palácio Rio Branco (Coronel Ulysses (PSL), Janaína Furtado (Rede) e David Hall (Avante)) declararam como despesas o teto eleitoral. Diante da estrutura pobre de seus partidos, é pouco provável que alcancem a cifra dos R$ 2,8 milhões.

O PSL de Jair Bolsonaro, por exemplo, abriu mão do fundo eleitoral (composto por verba pública) para passar a imagem de respeito ao eleitorado. Sem essa fonte, o coronel Ulysses Araújo vai trabalhar com as pequenas doações de simpatizantes e o autofinanciamento.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Nobreza no Parlamento

(Arte:Ray Melo/AC24horas)
Na política se diz que o cargo de senador da República é o de maior prestígio dentro da estrutura do Poder Legislativo. Na balança, um membro do Senado tem bem mais peso do que um deputado federal. Ao contrário de um integrante da Câmara, um senador tem oito anos de mandato.

Diz-se que apenas os mais notáveis podem ocupar função tão prestigiada. Em 2018, quando duas cadeiras estão na disputa, os mais nobres dos acreanos estão nessa corrida. E essa nobreza aqui é no sentido de poder aquisitivo dos candidatos.

Dados levantados junto à prestação de contas dos sete postulantes ao cargo mostram que quatro apresentam uma respeitada posse de bens, com expressiva evolução do patrimônio nos últimos anos.

O caso do emedebista Márcio Bittar é o que mais chama a atenção. Mesmo sem ter ocupado função pública nos últimos quatro anos e declarar a profissão como historiador, seu patrimônio evoluiu 314% de 2014 para cá; naquele ano, ele perdeu para Sebastião Viana (PT) a disputa pelo governo do Acre.

Há quatro anos, o então governadorável tucano declarou ao TRE um patrimônio de R$ 1,5 milhão. Agora, desempregado na política no período e filiado ao MDB de Michel Temer, ele é dono de bens orçados em R$ 6,5 milhões; o emedebista é mais rico até mesmo que o senador Gladson Cameli, que declarou R$ 2,9 milhões.

Quem também experimentou um milagre da multiplicação nestes quatro anos é o deputado estadual Ney Amorim. O candidato ao Senado pelo PT informou à Justiça Eleitoral posses avaliadas em R$ 1,2 milhão. Em 2014, quando buscava mais um mandato no Parlamento acreano, ele tinha R$ 359 mil.

No quadriênio como presidente da Assembleia Legislativa, o petista multiplicou por três suas propriedades, investindo, sobretudo, em terrenos. No Senado desde 2011, Sérgio Petecão (PSD) também viu o patrimônio ir às alturas; ao contrário de Ney e Bittar, este salto ocorreu num intervalo de tempo maior.

Apesar de ter perdido seus “Petebus”, o parlamentar teve alta de 277% na posse de bens. Quando disputou pela primeira vez o cargo no Senado, o pesedista entregou declaração de renda de R$ R$ 282 mil; agora ela está em R$ 1 milhão.

Petecão investiu no período na aquisição de veículos automotores e imóveis; na declaração de 2010, Petecão não afirmou ter posses no mercado imobiliário.

Entre os políticos com mandato, o petista Jorge Viana foi o que teve a menor evolução patrimonial, em percentual. De 2011 até 2018 ela foi de 59%. Oito anos atrás suas posses eram de R$ 2,3 milhões, estando agora em R$ 3,7 milhões. Dos postulantes ao Senado, ele acumula duas rendas: o salário de senador e a pensão de ex-governador do Acre.

Como o concorrente mais “franciscano” para a Casa da Federação está o ex-reitor da Universidade Federal do Acre Minoru Kimpara (Rede). Seu registro de bens é de R$ 850 mil, sendo todos investimentos imobiliários. A declaração de bens de Pedrazza (PSL) não está disponível no portal do TSE.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

JV está com medo da máquina


(Foto: Fabio Pontes/ago/12)
O ex-governador e atual senador Jorge Viana (PT), que até bem pouco tempo era eleito para qualquer cargo no Acre sem nem ao menos precisar ir à rua pedir voto (lógico que isso é uma hipérbole), agora está com receio do uso da máquina trabalhando a favor de seus adversários.

Logo ele que era conhecido como a máquina política mais eficiente do estado até bem pouco tempo, atropelando tudo e todos. E o adversário do petista não está do lado de lá, mas dentro de seu próprio partido, o PT.

Jorge Viana tem como adversário direto não o senador Sérgio Petecão (PSD) ou o ex-deputado federal Márcio Bittar (MDB), ambos na chapa de Gladson Cameli (PP). Este adversário é o presidente da Assembleia Legislativa, Ney Amorim (PT).

Pela primeira vez e em uma tacada arriscada, o PT decidiu sair numa chapa puro-sangue para o Senado. A legenda já chegou a ter dois senadores: Marina Silva e Tião Viana. Porém, ambos foram eleitos em eleições diferentes, não dividindo o mesmo palanque, com o voto casado.

Jorge Viana e Ney Amorim sabem ser muito difícil o eleitor acreano votar duas vezes no PT para o Senado. Nessa disputa, só um sobreviverá. Por isso, desde o começo do ano, eles vêm travando uma batalha nos bastidores, com torpedos sendo disparados de um lado para o outro.

O que mais tem irritado Viana é o modus operandi de Amorim. Aproveitando-se do cargo de presidente da Assembleia, com um orçamento de alguns milhões de reais, o também petista coopta qualquer liderança na capital e no interior. Aos poucos ele vem recebendo o apoio de prefeitos até da oposição, minando territórios de JV.

É lógico que esse apoio não é por amor à causa – que não sabemos qual é ela. Nos bastidores, os apoiadores de JV afirmam que Ney Amorim fará uma campanha milionária para o Senado, em tempos de vacas magras com o fim do financiamento empresarial e o uso exclusivo do fundo eleitoral.

Enquanto isso, o senador promete fazer uma campanha quase franciscana, apenas com o seu time mais próximo, apostando muito mais na fidelidade de seus eleitores, que o reconhecem nas urnas por suas passagens pelo governo do Acre e a prefeitura da capital.

Mas nem de todo JV fará uma campanha com o pires na mão. Uma das possibilidades de uso de dinheiro nessa eleição é o autofinanciamento, com o uso dos próprios recursos e bens para bancar os custos da campanha.

O petista não é o mais pobre entre todos os homens. Desde 2006 recebe uma pensão de ex-governador, que a acumula com a de senador desde 2011. É lógico que isso não se compara com uma estrutura de poder quando se tem o comando de um dos Poderes.

Ainda mais com a fama de JV de não ser o tipo de político de torrar o seu dinheiro, sobretudo com a “aquisição” de apoiadores.

Infelizmente nesse duelo todo quem mais perde é o eleitor – em especial aquele que não se vende, e escolhe seu candidato a partir de análises subjetivas. O bom mesmo é que o dinheiro não faça a diferença na hora do voto. Às autoridades eleitorais – TRE, MP Eleitoral e PF – caberá fiscalizar e punir eventuais derrames de grana em tempos de financiamento público.   

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Criador e criatura

Jorge Viana diz que Marcus aprendeu o que há de bom, e não carrega o defeito de seus criadores




(Foto: Agência de Notícias do Acre)


O senador Jorge Viana (PT), primeiro governador petista eleito do Acre, em 1998, afirma que o candidato ao governo do Acre Marcus Alexandre Viana (PT) aprendeu o que há de bom com os criadores políticos do ex-prefeito da capital, mas que não carrega os seus defeitos. Até 2012, o engenheiro civil Marcus Viana era mais um técnico na estrutura do governo, escolhido pelos irmãos Viana para representar o “novo” no processo de renovação política do PT no poder.

Eleito prefeito de Rio Branco seis anos atrás, agora Marcus é ungido pelo vianismo para tentar dar continuidade à ocupação do PT no governo. O principal desafio de Marcus é justamente vencer a rejeição do eleitorado ao desgaste provocado pelos 20 anos de gestões petistas no Acre.

Desde 2010 o partido tem enfrentado eleições acirradas, vencendo os pleitos com pouca diferença em relação aos adversários. “O Marcus Alexandre, em certa medida, é a boa mudança aqui no Acre. Acho que com a candidatura do Marcus Alexandre nós estamos oferecendo um cara muito trabalhador, um cara que aprendeu tudo de bom comigo, com o Binho, com o Tião, e não trouxe os nossos defeitos juntos”, diz Jorge. 

Para o senador, Marcus Alexandre representa uma transição segura. Sem citar nomes, ele afirmou que o Acre não pode experimentar uma aventura. “Se nós cairmos numa aventura, eu não sei aonde vai dar.” As pesquisas de intenção de votos divulgadas até aqui apontam o candidato governista atrás do senador Gladson Cameli (PP). 

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Intervenção na intervenção



Um mês após pedido de intervenção, Segurança do Acre continua sem auxílio federal

Parlamentares entregam a Temer pedido de intervenção no Acre (Foto: Assessoria Presidência)


No último sábado, 11 de agosto, completa-se um mês desde que parlamentares de oposição ao governo Sebastião Viana (PT) se reuniram com o presidente Michel Temer (MDB), no Palácio do Planalto, para entregar o pedido de intervenção federal na Segurança Pública do Acre. A solicitação ocorreu após o estado ter registrado, à época, 20 execuções em menos de duas semanas.

Na reunião, os parlamentares passaram um diagnóstico da situação vivida pelos acreanos, e pediram ajuda federal nos moldes da intervenção adotada desde o começo do ano no Rio de Janeiro. Do presidente e dos ministros presentes, eles receberam a promessa de ajuda por meio da atuação dos serviços de inteligência federais e da apresentação de um plano de ação.

Leia também: 

A Temer, bancada pede intervenção federal na segurança do Acre e presidente promete uso do Serviço de Inteligência

Entrevistado por ac24horas na ocasião, o deputado Major Rocha (PSDB) informou que, dali 15 dias, os ministros Raul Jungmann (Segurança Pública) e o general Sérgio Etchegoyen (Segurança Institucional) viriam ao Acre apresentar a estratégia de atuação das forças federais. Um mês depois, nem um nem outro colocou os pés no estado.

A reportagem procurou a Secretaria de Segurança Pública do Acre para saber qual ajuda de fato o estado recebeu de Brasília após a barulheira política ocasionada pelo pedido de intervenção. Segundo o titular da pasta, Vanderlei Thomas, o Acre não teve nenhum reforço federal para as ações de combate à criminalidade.

“O que nós temos de novo durante este período é exatamente nada. Nós não tivemos nenhum contato oficial com o governo federal se disponibilizando. Pelo contrário, as emendas de bancada que estavam em condições de ser liberadas não foram liberadas antes do período eleitoral”, diz Thomas.

Sobre a promessa de envio de soldados da Força Nacional para reforçar as fiscalizações nas regiões de fronteira, o secretário afirma que o Acre não contou com este aporte. Segundo ele, os membros da força federal que estão no estado são um pequeno efetivo que veio apenas para ministrar cursos aos policiais acreanos, e cuja vinda estava prevista antes do pedido de intervenção.

“Não tem nenhuma relação com aplicação efetiva de operações de rua.” A ação federal mais expressiva que ocorreu no período foi a Operação Ajuricaba 3, do Exército, organizada pela 17º Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Porto Velho, que teve atuação no Acre e em Rondônia.

A atuação dos militares também já estava programada para ocorrer antes do pedido de intervenção federal, e já teve suas atividades encerradas. Vanderlei Thomas destaca que o único reforço concreto ocorrido foi das próprias forças estaduais. “Enquanto secretário de Segurança, estou nas ruas junto com as polícias há mais de 30 dias.”

Ele dá como exemplo a Operação Ilha Grande, realizada em Cruzeiro do Sul, que prendeu mais de 100 pessoas envolvidas com as facções criminosas e o tráfico de drogas. Apesar de certa redução no número de assassinatos no período, as facções continuaram sua guerra que resulta na execução de rivais a qualquer hora do dia e da noite.

Até 31 de julho último, o estado teve registrados 253 assassinatos; pouco menos da metade do observado em todo o ano passado, de 530. Uma das retóricas do governo Sebastião Viana (PT) para explicar a atual crise de violência no Acre é a omissão do governo federal em não patrulhar as áreas de fronteira com a Bolívia e o Peru.

O controle das rotas da droga produzida e exportada pelos dois vizinhos é o principal motivo da disputa sanguinária entre as facções criminosas, que usam o tráfico como sua grande fonte de financiamento.

A reportagem  entrou em contato com as assessorias de imprensa do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e do Palácio do Planalto para apresentar quais ações foram elaboradas para o Acre após o pedido de intervenção, mas não houve o envio de respostas até o momento.

O senador Sérgio Petecão (PSD), coordenador da bancada no Congresso Nacional e autor do pedido de intervenção, não foi localizado para comentar a questão.     

sábado, 11 de agosto de 2018

Alfinetadas supremas


(Foto: Agência STF)
Magoado com declarações de Cármen Lúcia sobre violência no Acre, Sebastião alfineta ministra em carta

Os comentários feitos pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Cármen Lúcia, ao jornalista Frederico Vasconcelos, da “Folha de São Paulo”, sobre a situação da violência no Acre irritaram o governador Sebastião Viana (PT)., levando-o a escrever uma carta endereçada a ela.

A Vasconcelos, a presidente da mais alta Corte do país disse ter ficado “profundamente impactada” com os relatos da criminalidade que colocam o Acre no topo dos estados mais violentos do país. No último dia 20 de julho, a presidente do STF esteve em Cruzeiro do Sul cumprindo agenda.

Dos membros do Judiciário acreano, ela recebeu relatos sobre o atual momento vivido pelo Acre na área da segurança pública, como a superlotação dos presídios e o elevado número de presos provisórios. Conforme ac24horas mostrou nesta quinta (9), 36% das pessoas presas no estado ainda aguardam sentença condenatória, segundo dados do CNJ.

Em Rondônia, essa quantidade é de 20%. “O índice de encarceramento no Acre é três vezes maior do que a média dos estados. Ela [Cármen Lúcia] pediu mais celeridade no julgamento dos casos de presos provisórios custodiados na penitenciária Manoel Néri da Silva, em Cruzeiro do Sul”, escreveu o jornalista da Folha.

Como de costume, a primeira estratégia de Sebastião foi tentar desqualificar o trabalho de Frederico Vasconcelos. “Cheguei a pensar, inicialmente, em má-fé jornalística. A matéria, todavia, mostra que não”, disse o petista.

Numa alfinetada ao Judiciário, Sebastião Viana escreveu que a questão do superencarceramento e de presos provisórios não é um problema do seu governo, mas do Tribunal de Justiça do Acre. 

O governador, também numa cutucada à autoridade máxima do Judiciário brasileiro, disse ter ficado espantado com o desconhecimento, por parte de Cármen Lúcia, da realidade da violência no interior do país.

“Cheguei a pensar no filme “Eram os Deuses Astronautas?”, como se alguém de outro tempo, de outra realidade, estivesse tendo informações, pela primeira vez, a respeito da realidade da violência no Brasil.”

Sebastião Viana disse ter tentado por várias vezes audiências com a presidente do STF para lhe repassar informações sobre a realidade da violência no interior do país, em especial na região amazônica.

O objetivo era expor a ela seu clichê de que a responsabilidade da atual crise da segurança no Acre é do governo federal por não proteger as áreas de fronteira.

No documento, o governador acreano ainda elenca uma série de investimentos que seu governo tem realizado na área da segurança pública, como a construção de novos presídios e o aumento dos investimentos no setor, saindo, segundo ele, de R$ 175 milhões para mais de R$ 507 milhões em seus oito anos à frente do Palácio Rio Branco. 

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Omissão partidária

Com PT e PP envolvidos em corrupção, Marcus e Gladson escondem seus partidos

A estratégia de omitir o vermelho e a estrela símbolos do PT, adotada pelos marqueteiros do partido no Acre desde 2012 como estratégia para reduzir os danos do desgaste da longevidade dos petistas no poder, agora é copiada pelos aliados do senador Gladson Cameli (PP), candidato ao governo do Acre.

Ao contrário do PT, o PP tem como desafio não o desgaste do tempo, mas a imagem de corrupção que lhe está impregnada no plano nacional. Junto com PT e MDB, os progressistas formam a trinca de legendas que operacionalizou o esquema de corrupção na Petrobras, o petróleo, descoberto pela Lava Jato. 

As convenções dos dois partidos tiveram como ponto alto deixar de fora do material publicitário exposto os seus respectivos símbolos. Nos eventos da Frente Popular, um e outro militante da esquerda ainda se arrisca a usar roupas vermelhas. Na convenção do dia 21, por exemplo, o candidato Marcus Viana (PT) usou a tradicional blusa polo, agora de cor verde.

Em 2012, a cor escolhida pelos marqueteiros foi o amarelo. As bandeiras vermelhas da militância também precisaram ser abandonadas. Até mesmo o azul – cor símbolo dos tempos da polarização PT x PMDB – foi incorporado no material gráfico do petista.

Gladson Cameli também aparenta não querer muita aproximação com os símbolos do PP. O partido, por sinal, mudou de nome para amenizar os danos causados pelo noticiário frequente de parlamentares do PP como recebedores de dinheiro de propina desviado da Petrobras.

O próprio nome de Cameli foi citado pelos delatores do esquema, sendo depois as investigações sobre o senador encerradas por insuficiência de provas. De Partido Progressista, virou apenas Progressistas. Por Brasília a sigla PP era “traduzida” como “Partido do Petrolão”.

Honra ao mérito

Após barrar juiz, general do Exército recebe a mais alta condecoração do Acre


(Foto: Agência de Notícias do Acre)
O general José Eduardo Leal de Oliveira, comandante da 17º Brigada de Infantaria de Selva, sediada em Porto Velho, unidade do Exército à qual o Comando de Fronteira Acre é subordinado, está entre os homenageados pelo governador Sebastião Viana (PT) com a entrega da Ordem da Estrela do Acre medalha da Ordem do Mérito Plácido de Castro.

Próximo ao general, Sebastião costuma mencioná-lo com frequência em entrevistas e postagens em suas redes sociais como parceiro na disposição de tropas do Exército no combate dos crimes na região de fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Essa proximidade com os dois países é apontada como uma das principais causas para o aumento da violência.

O governador constantemente faz críticas ao governo federal por não fazer sua parte na proteção dos limites fronteiriços, mas enaltece o esforço dos militares em realizar operações esporádicas no enfrentamento à criminalidade.

Outro fato relevante envolvendo o general no Acre foi seu atrito com membros do Poder Judiciário do Estado. Em julho do ano passado, ele impediu que o juiz da Vara de Execução Penal de Cruzeiro do Sul, Hugo Torquato, acompanhasse uma inspeção do Exército no presídio da cidade.

No fim de julho, a Procuradoria Militar determinou o arquivamento da representação feita contra o general.  A procuradoria reconheceu a “legalidade do ato atribuído à autoridade militar” e disse não ter encontrado “indícios de comportamento criminoso” por parte do comandante da brigada.

O comandante da Polícia Militar, coronel Marcos Kimpara, e do Corpo de Bombeiros, Carlos Batista da Costa, também recebem a condecoração. No começo de julho, quando da entrega do pedido de intervenção federal na segurança pública feito por parte da bancada ao presidente Michel Temer (MDB), cada um redigiu nota de repúdio afirmando que o gesto representava a desvalorização dos trabalhos feitos pelas corporações estaduais.

Os secretários Vanderlei Thomas (Segurança Pública) e Carlos Flávio Portela (Polícia Civil) também recebem a honraria; eles também redigiram suas próprias notas condenando o pedido de intervenção feito pela oposição.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Tamanho não é documento

Maior em quantidade, Frente Popular reúne partidos mais inexpressivos

A Frente Popular do Acre (FPA), aliança política que há 20 anos comanda o Palácio Rio Branco, chega às Eleições 2018 como a maior coligação partidária. Ao todo, o grupo do candidato Marcus Alexandre Viana (PT) reúne 15 partidos. No chapão da oposição, 11 legendas apoiam a candidatura do senador Gladson Cameli (PP).

Apesar da vantagem numérica, a Frente Popular é a aliança que agrega o maior número de partidos inexpressivos, os chamados nanicos. Com baixíssima representação na Câmara dos Deputados (alguns nem isso tem), essas legendas contribuem com escassos segundos no tempo da propaganda eleitoral, principal objeto de desejo para a composição das alianças.

Levando em conta os dados do Tribunal Superior Eleitoral para dividir os segundos a que cada partido terá direito para se expor no rádio e na TV, a Frente Popular soma pouco mais de 10 minutos.  Já o chapão da oposição contabiliza 14 minutos. Este, contudo, ainda não é o tempo definido para cada um. O cálculo final levará em conta o tempo total de cada bloco, dividido pelo número de coligações registradas. 

Quando o assunto são recursos financeiros, a chapa governista também está em desvantagem. Levantamento feito por ac24horas mostra que, dos 12 maiores partidos na partilha do Fundo Eleitoral, apenas quatro estão com Marcus Viana: o PT, o PSB, o PDT e o PRB.

No plano nacional, o quarteto vai contar com quase R$ 460 milhões. Os outros oito maiores caixas partidários estão com MDB, PSDB, PP, PR, PSD, DEM, PTB e Solidariedade. Somadas, essas legendas reunidas no palanque de Gladson Cameli contarão com R$ 967 milhões.

PMB e PPL, dois partidos recém-criados e que estão na Frente Popular, não chegam a R$ 1 milhão para fazer campanha em todo o país. Vale ressaltar que o financiamento público será a única fonte de financiamento dos políticos em 2018, já que estão proibidas as doações de empresas. 




Frente Popular 
             Chapa oposição
PT                                   PP    
PCdoB                            PSDB
PSB                                MDB   
PSDC                             PR
PMB                               PSD
Podemos                        PTB
Pros                                DEM
PRB                               Solidariedade
PV                                 PPS
PRP                               PMN
PSOL                             PTC
PDT
PHS
PPL
PRTB

As 12 maiores verbas do fundo eleitoral (dados nacionais)

MDB - R$ 234.232.915,58
PT - R$ 212.244.045,51
PSDB - R$ 185.868.511,77
PP - R$ 131.026.927,86
PSB - R$ 118.783.048,51
PR - R$ 113.165.144,99
PSD - R$ 112.013.278,78
DEM - R$ 89.108.890,77
PRB - R$ 66.983.248,93
PTB - R$ 62.260.585,97
PDT - R$ 61.475.696,42
SD - R$ 40.127.359,42

Novos, velhos tempos

A dois meses das eleições, Acre tem quadro definido para disputa majoritária

A exatos dois meses da votação do primeiro turno das Eleições 2018, o Acre já tem o cenário da disputa majoritária definido, após a realização das convenções dos principais partidos. Na semana passada o quadro ficou incerto ante a possibilidade de saída da disputa do coronel Ulysses Araújo (PSL).

Após desistir da desistência, Ulysses é recolocado na disputa, pondo fim ao que tendia a ser uma eleição plebiscitária entre Gladson Cameli (PP) e Marcus Alexandre (PT), as candidaturas que melhor representam o establishment da política acreana desde a redemocratização.

Correndo por fora nessa velha guerra do vermelho contra o azul vem a Rede de Marina Silva, a presidenciável que exerceu seus dois mandatos no Senado pelo PT do Acre. Sem alianças e recursos, o partido tem como candidata ao governo a vereadora por Tarauacá Janaína Furtado. Ela, por sinal, é a única mulher na corrida majoritária – tanto para o governo quanto para o Senado.

Ainda mais por fora vem a novata legenda Avante, aventurando-se com a candidatura do ilustre desconhecido David Hall.

Senado
Para o Senado o número de candidatos é maior, porém sem grandes novidades a ser apresentada ao eleitorado. Os dois ocupantes das cadeiras em disputa não querem perde-las, buscando mais oito anos na Casa da Federação. O mais veterano é Jorge Viana, que há 18 anos ocupa cargos eletivos entre prefeito de Rio Branco, governador e senador pelo PT.

Os petistas tentam o feito histórico de eleger dois senadores. O atual presidente da Assembleia Legislativa, Ney Amorim (PT), busca voos mais altos. Desde 2002 o grupo político há vinte anos no poder (a Frente Popular do Acre), não tem a maioria no Senado.

No campo da oposição figuras também já bem conhecidas miram a cobiçada cadeira de senador da República. Sérgio Petecão (PSD), após ser eleito em 2010 numa onda de voto anti-PT no Acre, visto como o candidato de protesto, quer se manter na cadeira. O cenário político é aposto ao de oito anos atrás. Quem está de olho nesta vaga é o emedebista Márcio Bittar, que em 2002 concorreu (e perdeu) ao Senado pelo PPS.

Bittar é o candidato tanto do chapão de partidos oposicionistas reunidos em torno de Gladson Cameli quanto do coronel Ulysses Araújo. O candidato um da chapa do policial militar é o advogado Pedro Luís Pedrazza.

A única candidatura vista como outsider é a do ex-reitor da Universidade Federal do Acre Minoru Kimpara (Rede). Ele é apontado como o capaz de mais receber o voto de mudança do eleitor insatisfeito com a atual crise da política brasileira, protagonizada pelas velhas raposas e partidos do país.