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sábado, 31 de março de 2018

Vácuo petista


Com renúncia de Marcus, PT perde único prefeito entre as capitais

A renúncia do engenheiro civil Marcus Alexandre Viana à Prefeitura de Rio Branco fará com que o Partido dos Trabalhadores (PT) perca seu único representante entre as prefeituras das 26 capitais.

A reeleição de Marcus  ainda no primeiro turno das eleições de 2016 foi vista como um “trunfo” após o partido perder nos maiores colégios eleitorais. A derrota nas urnas foi vista como consequência das denúncias de corrupção envolvendo o PT na Operação Lava Jato.

Com a escolha do prefeito para ser o candidato do PT à sucessão de Tião Viana, a prefeitura da capital cairá no colo da professora Socorro Neri, filiada ao PSB. A única forma dos petistas se manterem (pelo menos de direito e não apenas de fato) à frente da gestão municipal é fazendo com que Neri assine sua ficha de filiação à legenda.

Metamorfoses

Meses antes de ser anunciada como a vice de Marcus Alexandre, Socorro Neri estava no PSDB e era apontada como a candidata dos tucanos. Desentendimentos internos, porém, fizeram a professora universitária abandonar o ninho do tucanato.

Apesar de oficialmente a gestão da prefeitura não ficar com o PT, a tendência é que o partido continue a dar as cartas. Os petistas se manterão no controle da máquina municipal.

Pelas regras eleitorais, Marcus Alexandre precisa deixar a cadeira de prefeito até o dia 7 de abril, seis meses antes das eleições. Procurada, a assessoria do prefeito não informou a data oficial da renúncia. Já Socorro Neri vai exercer um mandato-tampão até 2020.

Trajeto interrompido


Não é só Marcus Alexandre que abandonará o cargo no meio do caminho. Seu principal adversário, o senador Gladson Cameli (Progressistas), também terá que largar o mandato em Brasília se for eleito governador em outubro.

Abandonar o trem em pleno movimento é um dos maiores desgastes para o currículo de um político. E o PT sabe usar como ninguém essa tática. Agora o feitiço parece estar contra o feiticeiro, pois o partido se vê obrigado a abandonar a Prefeitura de Rio Branco para assegurar o vianismo no poder.

Neófito na política ao se lançar candidato a prefeito em 2012, Marcus Alexandre usou como principal arma para desgastar seu concorrente e então favoritos nas pesquisas, Tião Bocalom (à época PSDB), a imagem de que, se eleito, Bocalom usaria a prefeitura apenas como trampolim para disputar o governo dali dois anos. A estratégia deu certo, Marcus Alexandre virou o jogo e venceu a disputa. 

Desta vez é Marcus Alexandre quem precisará se explicar ao leitor sobre o porquê de abandonar a prefeitura num momento em que a cidade enfrenta grave crise de infraestrutura (com as ruas tomadas por buracos), e outras deficiências em setores como a saúde.   

terça-feira, 27 de março de 2018

Tiroteio eleitoral

Aumento da violência coloca policiais como protagonistas em eleição no Acre

O crescimento descontrolado dos casos de assassinatos e crimes contra o patrimônio no Acre nos últimos anos coloca policiais que decidiram trilhar o caminho da política como figuras centrais na disputa pelo governo. Se nas últimas eleições os vices tinham papel de coadjuvante, em 2018 seus históricos de atuação agentes do Estado pode fazer alguma diferença no atual clima de insegurança vivido pelos eleitores.

Apontados como favoritos para polarizar a sucessão de Tião Viana (PT), o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre (PT), e o senador Gladson Cameli (Progressistas) escolheram como seus vices policiais. O do petista é o delegado da Polícia Civil e atual secretário de Segurança, Emylson Farias, filiado ao PDT.

Já Cameli terá como companheiro de chapa o major da Polícia Militar Wherles Rocha, o Major Rocha (PSDB). O tucano está afastado das funções de policial desde 2010, quando foi eleito deputado estadual após liderar um motim de PMs por melhores salários e condições de trabalho.

Vindo por fora e tentando salvar sua candidatura ao governo está o coronel Ulysses Araújo, que no Acre se apresenta como embaixador de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), presidenciável que pega carona na crise da segurança pública do Brasil e promete colocar ordem na casa, dando “carta-branca para policial militar matar”, como declarou durante sua passagem por Manaus em dezembro.

A segurança pública, aliás, tende a estar no centro da eleição presidencial de 2018, apesar de o tema ser de responsabilidade dos Estados. Tratar o assunto é uma forma de tirar votos de Bolsonaro e não deixá-lo como o único salvador da pátria. Praticamente todos os pré-candidatos, ao apresentar seus nomes aos eleitores, abordaram o assunto.


Guerra por votos


Para a oposição ao governo petista do Acre, a escolha de Emylson Farias para vice de Marcus Alexandre foi um tiro no pé. Afinal, o pedetista está envolvido diretamente na política de segurança do Estado nos últimos 12 anos. Ocupa a pasta da Segurança desde o início do governo Tião Viana (2011-2018) e foi secretário de Polícia Civil na gestão Binho Marques (2006-2010).

Foi neste período que o Acre teve o maior crescimento nos índices de criminalidade, com o aumento na atuação das facções criminosas. Vários bairros da capital e interior são hoje dominados por líderes destes grupos.

Para amenizar a situação, a estratégia do governo é culpar o governo federal pela crise da segurança acreana ao não controlar as fronteiras com Bolívia e Peru. Nos governos de Dilma e Lula, contudo, os petistas acreanos nem ao menos tocavam no assunto, preferindo fazer vista-grossa para a ausência de patrulhamento com os vizinhos produtores de drogas.

Já Major Rocha terá que tirar do fundo da gaveta alguma iniciativa ou projeto que tenha contribuído para fortalecer a instituição para a qual trabalhou. Seu histórico de atuação como policial militar também tende a fazer a diferença - ou nenhuma.

Para o eleitor, porém, o que interessa é que muito mais do que um jogo de acusações, a campanha de fato tenha propostas sérias para a segurança pública, e que dias de paz voltem a reinar no pacato Estado do Acre.  

quinta-feira, 22 de março de 2018

O bom e velho jornalismo

Após ter passado os dois últimos anos fora do Acre, desde o começo do mês para cá voltei -desta vez para ficar. Foi um biênio vivendo entre a vizinha Manaus e São Paulo. Um período de rico aprendizado e aquisição de novos conhecimentos.

Uma temporada sabática para ampliar a visão profissional e pessoal. Assim como a vida é feita de idas e vindas, precisamos sair e depois voltar. Assim é comigo.

Por Manaus tive a grata oportunidade de escrever na Agência de Jornalismo Amazônia Real, um veículo voltado para a cobertura dos assuntos amazônicos, seus problemas e sua gente; uma área da qual sou apaixonado em cobrir.

Desde cedo na profissão me interessou cobrir a questão ambiental do Acre, Estado que à época experimentava um novo modelo de desenvolvimento econômico com a chegada do PT ao poder, o “governo da floresta”. Termos como desenvolvimento sustentável, sustentabilidade, preservação e conservação florestal passaram a ser parte da vida dos acreanos.

Por aqui também sempre atuei na cobertura política -outra editoria em que me desenvolvi e me especializei. Não com diplomas ou certificados, mas com a convivência diária neste meio, estando no olho do furacão e com muitas leituras sobre essa envolvente área.

Em Manaus também tive a oportunidade de continuar como repórter colaborador da Folha de São Paulo. Acompanhei a crise política por que passou o Amazonas causada pela cassação de um governador eleito pelas urnas -mas que, para a Justiça  Eleitoral, estava viciada em fraudes.

Fiz a cobertura da acirrada eleição municipal de 2016 na maior capital do Norte. Ano passado os amazonenses voltaram às urnas para eleger um governador-tampão após a queda definitiva de JOsé Melo. O velho cacique Amazonino Mendes ressurgiu das cinzas e foi eleito.

Além da Folha, passei a escrever para outros veículos como Valor Econômico e a revista Veja, em especial seu portal na internet. Foram e têm sido experiências únicas na vida de um jornalista em início de carreira, apesar de quase já uma década atuando na reportagem.

Ainda em 2017 morei por quatro meses em SP. Convidado pela Agência Folha participei da 61o Turma de Treinamento da Folha. Essa, sem dúvidas, foi a maior de todas as experiências. Junto com outros colegas do país, vivemos e conhecemos um pouco da vida do maior jornal brasileiro.

De lá continuei a escrever sobre as questões amazônicas. Como se diz no jargão jornalístico, emplaquei boas pautas nas páginas da quase centenária Folha.

Mas o tempo me trouxe de volta ao Acre, lugar que é a minha escola de vida e do jornalismo. Aqui iniciei e desenvolvi minha carreira. Estou de volta para novos desafios.

Desafios em um ano que caminha para ser histórico no Brasil com as eleições de outubro, após termos passado por um traumático processo de impeachment e uma grave crise econômica - da qual ainda não saímos em definitivo.

Os tempos são outros. Vivemos uma época de histerias, de extremos, de paixões políticas exacerbadas. As redes sociais viraram campo de guerra. Tempos de proliferação de notícias falsas (as fake news).

Por conta disso, a existência do bom e velho jornalismo de credibilidade se faz ainda mais necessária. Um jornalismo livre de paixões e interesses pessoais, sem ativismo, cujo único interesse seja informar o leitor com todos os pontos de vista, o pluralismo de opiniões. Um jornalismo que critique, que fiscalize e que denuncie.

Este é o desafio que me imponho a encarar ainda mais, como sempre o fiz nestes quase 10 anos de profissão.

E prometo não voltar a deixar o blog tanto tempo desatualizado.