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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

O custo da preservação

 ‘Todos têm responsabilidade para ajudar a cuidar da Amazônia’, diz Lula para parlamentares europeus


 

O candidato afirmou que o Brasil não abre mão de sua soberania sobre a floresta, mas que precisa da cooperação internacional para protegê-la

 

 

Lula em reunião com os parlamentares europeus (Foto: Ricardo Stuckert)

 

 

Em reunião realizada nesta segunda-feira (29) com integrantes do Parlamento Europeu, em São Paulo, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, colocou questões sobre a preservação da Amazônia como um dos principais temas debatidos. O petista afirmou que, caso retorne ao Palácio do Planalto, fortalecerá as relações do Brasil com a União Europeia com vistas a desenvolver ações para a proteção da Floresta Amazônica.


Para Lula, o país tem um papel de liderança nas discussões sobre o enfrentamento às mudanças climáticas. Esse protagonismo passaria, necessariamente, pela preservação da floresta. Lula também afirmou que o Brasil não abre mão de sua soberania sobre o território da Amazônia, mas que precisa da cooperação internacional para protegê-la.  

“Eu quero dizer a vocês que se nós ganharmos as eleições, vai ficar muito bem claro que o Brasil precisa da União Europeia. Nós precisamos de ajuda, nós precisamos de parceria, seja do ponto de vista de investimentos, de troca de ciência e tecnologia, seja do ponto de vista da participação na construção de um mundo efetivamente limpo, sem a emissão de gás carbonico”, disse o petista.

Ao destacar que, apesar de a Floresta Amazônica estar inserida no território brasileiros e dos países vizinhos da América do Sul, a sua preservação é de interesse global.  

“O Brasil pretende construir parcerias com muitos países para que a gente possa dizer que, embora o Brasil seja o dono do território da Amazônia, a Amazônia é de interesse de sobrevivência da humanidade e, portanto, têm responsabilidade para ajudar a cuidar da Amazônia”, ressaltou.

O presidenciável afirmou ainda que seu governo não vai transformar o bioma num santuário. De acordo com Lula, o Brasil pode extrair riquezas da Amazônia, a partir de sua biodiversidade, capaz de sustentar os 30 milhões de moradores da região.

Por mais de uma vez, o candidato afirmou o compromisso de fortalecer a relação do Brasil com a União Europeia se for eleito presidente. O relacionamento do país com o bloco europeu ficou comprometido, justamente, por questões da desconstrução das políticas de proteção da Floresta Amazônica, iniciada após a posse de Jair Bolsonaro na Presidência da República, em 2019. De lá pra cá, as taxas de desmatamento e queimadas dispararam.

As cenas de devastação do bioma, mais a não reação do governo para combater os crimes ambientais, chamaram a atenção do mundo, o que provocou a reação de líderes europeus.  A Noruega, por exemplo, principal financiador do Fundo Amazônia, deixou de enviar recursos. A não aprovação do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia também é vista como consequência da desastrosa política de meio ambiente do governo Jair Bolsonaro.  


Leia a reportagem completa em ((o)) eco

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Metamorfose amazônica

 Da florestania ao agronegócio sustentável, PT do Acre tenta voltar ao governo estadual  


Novamente candidato a governo, Jorge Viana adota um tom ambiental mais suave 

 

O ex-governador do Acre Jorge Viana (PT) em agenda de campanha (Foto:assessoria)


Passados 24 anos desde a primeira vitória do Partido dos Trabalhadores (PT) ao governo do Acre, com a eleição do engenheiro florestal Jorge Viana, os petistas tentam retomar o poder com uma agenda mais “adaptada” ao atual contexto conservador.  Viana é o único sobrevivente ao tsunami bolsonarista que atingiu o Acre nas eleições de 2018, mesmo ele próprio saindo derrotado na disputa ao Senado. Dono de uma boa memória eleitoral por seus dois mandatos no governo – entre 1999 e 2006. 

Foi em sua gestão que aconteceu a reestruturação física e institucional do estado num de seus piores momentos políticos, com a infraestrutura carcomida, as contas públicas arruinadas e a atuação de um esquadrão da morte formado por policiais.  Durante a sua primeira passagem pelo governo, Jorge Viana colocou em prática as ideias de desenvolvimento da economia de base florestal defendida pelos movimentos de seringueiros liderados por Chico Mendes durante a década de 1980.

O petista definiu sua gestão como o “governo da floresta”, e de “florestania” a proposta de assegurar políticas de geração de renda sustentável e serviços públicos para as comunidades da floresta, conciliando crescimento com a preservação da Amazônia.

Nos 20 anos de hegemonia do PT, o modelo da “florestania” foi bastante criticado pelos adversários, acusando-o de ser o responsável pelo “atraso do desenvolvimento econômico” regional. Com isso, a “florestania” passou a ser um peso eleitoral, enquanto os concorrentes pregavam a adoção do agronegócio como a melhor solução, base do discurso que o atual governador, Gladson Cameli (PP), eleito no primeiro turno em 2018.

No pleito de quatro anos atrás, o PT foi varrido de todos os mais importantes cargos eletivos. Os únicos espaços mantidos foram duas cadeiras na Assembleia Legislativa. Em 2020, o partido conseguiu uma vaga na Câmara dos Deputados após o titular, um parlamentar do Republicanos, ser cassado por corrupção eleitoral. A vaga preenchida pelo primeiro suplente da sigla.   

Ao se lançar novamente candidato a governo, às vésperas do prazo final das convenções partidárias, Jorge Viana agora adota um tom ambiental mais suave. Da florestania do passado, seu discurso agora é do agronegócio sustentável – mesmo termo usado pelo atual governo em meio ao crescimento recorde das taxas de desmatamento no estado.

Na última quarta-feira (24), durante visita a um dos maiores frigoríficos da capital Rio Branco, Jorge Viana defendeu a adoção de uma pecuária de baixo impacto. De acordo com ele, durante seu mandato o Acre conseguiu conciliar a produção do campo com a preservação da floresta. Para refutar rótulos de ambientalismo radical aos governos petistas, ele sempre destaca o fato de ter sido durante as gestões do partido que o Acre obteve a certificação internacional de zona livre de febre aftosa.

“Nós vamos trabalhar intensamente para fazer o segundo crescimento da pecuária acreana, que eu chamo de pecuária sustentável, e fazer o Acre crescer com o agronegócio sustentável para fazer com que chegue mais comida à casa das famílias”, disse Viana após o encontro com trabalhadores do frigorífico.

“Eu vou estimular o agronegócio”, afirmou na semana anterior em reunião com famílias de agricultores da comunidade Baixa Verde, zona rural de Rio Branco. “Se ele [o produtor] plantar muita soja e milho vai ter ração para o peixe. Eu não vou ser contra, nem sou contra [o agronegócio]. Eu vou facilitar, facilitar licença [ambiental] para pequeno, médio e grande”, discursou o petista.

Em seu programa de propostas, o ex-governador adota um discurso mais conciliador entre desenvolvimento econômico e preservação da Floresta Amazônica, que ainda ocupa ao menos 86% do território acreano. Usa com recorrência o termo desenvolvimento sustentável para se adotar políticas de crescimento da economia local com respeito ao meio ambiente.  Tenta, assim, não se desfazer por completo dos tempos do “governo da floresta”.

Ele critica a atual situação de alta do desmatamento no estado, afirmando que é possível impulsionar a produção agropecuária a partir das áreas já desmatadas, sem a necessidade de novas aberturas.  Além da recuperação de áreas degradadas ou subutilizadas para aumentar a produção rural, o plano também fala em reflorestar outros pontos desmatados para o Acre ganhar dinheiro por meio de programas de pagamento por serviços ambientais, com destaque para o mercado de crédito de carbono.      


Reportagem produzida para ((o)) eco

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Na corda bamba

Bem posicionado nas pesquisas, Ivo Cassol tem candidatura em Rondônia ‘Sub judice’ no STF


 

Caso derrube a suspensão de seus direitos políticos, Ivo Cassol entrará para o rol dos políticos de Amazônia simpáticos à visão bolsonarista anti-ambiental 

 

Ivo Cassol, ex-governador de Rondônia que perdeu direitos políticos (Foto:Divulgação Facebook)

 


Considerado um dos piores governadores de Rondônia para a preservação da Amazônia, o ex-senador Ivo Cassol, do Partido Progressista (PP), quer voltar ao cargo 20 anos após a sua primeira eleição. Mas, para entrar de fato na disputa, ele aguarda julgamento de recurso no Supremo Tribunal Federal (STF).  Caso receba o aval do STF para concorrer e vença as eleições de outubro, Ivo Cassol tem propostas para a área ambiental que tendem a intensificar, ainda mais, o processo de devastação da Floresta Amazônica em Rondônia, já bastante impactada pelo agronegócio. 

Em seu plano de governo, ele defende “rediscutir as recentes criações de parques” de preservação ambiental e as reservas legais. O candidato, porém, não deixa claro o que seriam essas reservas legais: se as áreas que devem ser mantidas em pé dentro das propriedades rurais ou as unidades de conservação estaduais.

Pelo Código Florestal, as propriedades localizadas na Amazônia Legal devem manter intactas ao menos 80% de sua área total. Esse limite é motivo de muita insatisfação entre os produtores da região amazônica, que querem mais espaço para desmatar dentro das propriedades. O Código Florestal, por sinal, está na mira do candidato. Ele defende estudar e reformular (ainda mais) a Lei 12.651.

Mesmo com todas essas propostas, Ivo Cassol quer inserir Rondônia nos fóruns nacionais e internacionais sobre mudanças climáticas. Apesar de reconhecer que as discussões sobre meio ambiente são importantes no atual contexto, o candidato do PP e aliado do presidente Jair Bolsonaro afirma que elas não podem “atrapalhar nem impedir o nosso crescimento”.

De acordo com pesquisa do Ipec/Rede Amazônica, divulgada na quarta-feira, 24, Ivo Cassol está tecnicamente empatado com o coronel Marcos Rocha (União Brasil), candidato à reeleição. O atual governador tem 30% das intenções de voto, enquanto Cassol aparece com 29%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

A pesquisa ouviu 800 eleitores em 26 cidades de Rondônia entre 21 e 23 de agosto. Ela foi registrada junto ao Tribunal Regional Eleitoral com o número RO-08675/2022.

Apesar da boa posição, a candidatura de Ivo Cassol está sub judice. O julgamento da perda ou manutenção dos direitos políticos de Ivo Cassol pelo STF está previsto para até 2 de setembro. A denúncia se refere a ações de 2013, quando Ivo Cassol – ocupando o cargo de senador – foi condenado pelo próprio STF a uma pena de quase cinco anos por denúncias de fraude quando foi prefeito de Rolim de Moura, no interior de Rondônia.

Em dezembro de 2020, Cassol teve a pena de prisão extinta, mas seus direitos políticos continuam suspensos, o que o impede de concorrer a cargos eletivos. Em decisão monocrática, o ministro do STF, Kássio Nunes Marques, concedeu liminar na qual suspendia os efeitos de inelegibilidade do político rondoniense. A decisão, agora, será analisada pelo plenário do Supremo.

Ivo Cassol governou Rondônia por dois mandatos, entre 2003 e 2010. Foi durante essa gestão que se iniciaram as construções das duas grandes usinas hidrelétricas do rio Madeira: Santo Antônio e Jirau. Ambos os empreendimentos foram tocados pelo governo federal.

Integrantes dos movimentos ambientalistas em Rondônia consultados pela reportagem definem Ivo Cassol como o “Bolsonaro antes do Bolsonaro”. “O que o Bolsonaro representa hoje para a Amazônia o Ivo Cassol já fazia aqui em Rondônia ano atrás”, diz uma fonte que pede a proteção da identidade.

É durante a passagem de Ivo Cassol pelo governo que há o aumento dos casos de invasões às terras públicas, sendo as unidades de conservação o alvo preferido para os grileiros. A Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho, tem seu processo de invasões acelerado por essa época. Hoje, a reserva virou praticamente apenas áreas de fazenda.

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos três primeiros anos de Ivo Cassol como governador, Rondônia volta a apresentar elevação nas taxas de desmatamento, após certo período de estabilidade. Ao todo foram 12,7 mil km2 de Floresta Amazônica devastados, o equivalente a  durante seu primeiro mandato. 


Dias após a publicação desta reportagem, o candidato Ivo Cassol anunciou sua desistência das Eleições 2022 após o STF formar maioria para derrubar a liminar de Nunes Marques que devolva seus direitos políticos.

 

Leia reportagem completa em ((o)) eco

domingo, 28 de agosto de 2022

apenas a fotografia

 Fórum de Governadores da Amazônia: boas intenções, poucos resultados

 

Na visão de muitos políticos locais, o fortalecimento do agronegócio consiste apenas em fragilizar os mecanismos de proteção ambiental

 


 

Governadores da Amazônia Legal reunidos em fórum em Belém, no Pará, em 2021 (Foto:Secom/AC)

 

Composta por nove estados da Federação, a Amazônia Legal tem como uma de suas características a diversidade de povos e culturas. Nessa região continental, não há homogeneidade; cada estado tem seus traços próprios. E, quase sempre, um está de costas para o outro. A busca de uma maior aproximação política entre os governos se dá durante as reuniões anuais do Fórum dos Governadores da Amazônia Legal, que desde 2017 também passou a ser um consórcio.


Apesar de na teoria o fórum buscar uma unificação de intenções por parte dos governadores para políticas de desenvolvimento sustentável da região, a cada eleição essa “unidade” é desfeita com a posse de governadores com as mais diferentes visões do que este conceito representa para a Amazônia. Neste cenário, cada gestor procura atender apenas aos interesses das próprias bases.   

Nas eleições de 2018, todavia, a avalanche bolsonarista que tomou de conta da região ocasionou a vitória de candidatos a governador com as mesmas visões de Jair Bolsonaro para meio ambiente e preservação da Floresta Amazônica: o “progresso” a todo e qualquer custo ambiental, deixando a boiada passar em nome do fortalecimento do agronegócio como carro-chefe para a economia dos estados.

Essa visão oscila entre o atual grupo de governadores conforme a maior ou menor aproximação “ideológica” ou de interesses com Jair Bolsonaro. A exceção ficou com o maranhense Flávio Dino, do PSB. O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), também tentou um certo distanciamento, mas sem bater de frente com o Palácio do Planalto. Os maiores atritos ocorreram apenas durante o período crítico da pandemia da Covid-19. Tons mais críticos ao presidente da República também são feitos pelo governador do Amapá, Waldez Góes.  

Já o alinhamento incondicional vieram dos bolsonaristas do Acre, Gladson Cameli (PP), do Amazonas, Wilson Lima (União Brasil), de Rondônia, coronel Marcos Rocha (União Brasil), de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil) e de Roraima, Antônio Denarium (PP). O governo de Tocantins já há tempos enfrenta instabilidade por parte dos eleitos não terminarem o mandato em meio a escândalos de corrupção.  

Apesar do nome pomposo de Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, a busca pela sustentabilidade parece não ter guiado a política econômica dos atuais governos eleitos em 2018. O aumento das taxas de desmatamento e de queimadas detectadas pelos sistema de monitoramento do bioma desde 2019 atestam esse contrassenso.

Mesmo com o governo federal tendo a obrigação pela preservação da Floresta Amazônica – por grande parte de suas terras serem da União –, os governos estaduais também dividem essa responsabilidade. Ela se dá não apenas pela proteção das unidades de conservação estaduais, mas também pela adoção de políticas econômicas de baixo impacto ambiental, como investimentos em tecnologias para aumentar a produção rural nas áreas já abertas (além de recuperar as degradadas) e substituir o uso do fogo pela mecanização agrícola.    

Por conta da maior proximidade das comunidades ribeirinhas, extrativistas, agricultores e indígenas com as lideranças locais, essa “política dos governadores” tem muito mais influência na preservação ou devastação da Amazônia. E estes impactos são amenizados ou reduzidos muito mais por meio de políticas voltadas para a produção rural ou de fomento a uma economia de base florestal, do que apenas por ações de combate e repressão aos crimes ambientais.

Quando nenhuma dessas frentes é viabilizada, tem-se a receita completa para a destruição do meio ambiente. O resultado são os casos de invasões a terras públicas (grilagem) e a expansão da agropecuária para áreas preservadas. Na visão de muitos políticos locais, o fortalecimento do agronegócio consiste apenas em fragilizar os mecanismos de proteção ambiental, “não atrapalhando a vida de quem quer produzir”.

Com a possibilidade de a maioria dos atuais governadores bolsonaristas da Amazônia Legal se reeleger nas eleições de outubro, há poucas chances de mudanças radicais para as políticas de meio ambiente nos estados nos próximos quatro anos. Mesmo a vitória de seus principais adversários não implica em ruptura de visão, pois a defesa do agronegócio como solução para o desenvolvimento regional aparece em seus planos de governo e discursos.

E, dessa forma, as reuniões do Fórum de Governadores da Amazônia Legal continuarão apenas com o propósito de reunir os chefes dos Executivos locais para uma confraternização, com a busca pelo desenvolvimento sustentável restrito ao campo das boas intenções.

Na prática, a situação vai ficando insustentável. 


Reportagem produzida para ((o)) eco

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Uma verde confusão

Candidato do PV ao governo defende organizar a mineração em Roraima

 


O candidato ao governo de Roraima segue a tese presidencial de que seria possível liberar a extração de minérios nos territórios indígenas

 

Rudson Leite, o candidato ao governo de Roraima pelo Partido Verde (PV), que integra a federação de legendas progressistas da base do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem como uma de suas principais propostas para a economia local o fortalecimento da mineração no estado.  Ele inclusive se diz favorável a um tema polêmico, a mineração em Terras Indígenas, proposta em um projeto de lei do executivo federal. “Havendo acordo, possibilidade da lei avançar, então haverá a mineração. Mineração é diferente de garimpo. Eu falei em mineração e não em garimpo. A mineração é feita por cooperativas ou empresas”, afirma Rudson Leite, em entrevista ao ((o))eco. 

 A proposta do candidato de defesa da mineração chama a atenção tanto pelo fato de partir de um filiado do Partido Verde, como pelo tema ser um dos mais sensíveis, do ponto de vista socioambiental, para Roraima.  O estado vive uma das piores invasões a um território indígena nacional. São mais de 20 mil garimpeiros ilegais dentro da reserva do povo Yanomami, situação que já causou muita degradação ao meio ambiente e denuncias de estupro, assassinato de sete indígenas (sendo quatro crianças) e o agravamento de doenças e da fome nas aldeias.

No plano de governo de Rudson Leite, o destaque não é exatamente para os minérios de alto valor, como o ouro, ou para mineração em Terras Indígenas, mas para a extração de argila direcionada à construção civil. Ele também afirma que vai construir, caso eleito, o Centro Comercial da Mineração, para reunir, num mesmo espaço, empresas que fazem a venda de argila, brita, areia, seixo e barro.

Apesar de o plano não tratar diretamente da extração ilegal de ouro, fica quase impossível dissociar a questão da garimpagem num dos estados da Amazônia onde a atividade mais se intensificou desde a eleição de Jair Bolsonaro (PL).  

A Terra Indígena Yanomami, cuja área abrange os estados de Roraima e Amazonas, passou a ser uma das mais invadidas pelos garimpeiros desde 2018. A simpatia do atual presidente da República e candidato à reeleição pela extração de minérios é tanta,  que este  já chegou a chamar a atividade em decreto (10.966) de “mineração artesanal em pequena escala, com vistas ao desenvolvimento sustentável regional e nacional”.

A defesa da mineração dentro das terras indígenas é outra das bandeiras de Jair Bolsonaro. Em fevereiro de 2020, o presidente enviou à Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL 191) para legalizar a prática, proibida pela Constituição Federal.  A legislação segue em tramitação com forte oposição das lideranças indígenas de todo o país.

Outro ato da Presidência que piora a situação em Roraima foi proibir, e até punir, servidores da área ambiental que destruíssem maquinários do garimpo durante as operações. O tema chegou a ser retomado na fala de Bolsonaro durante sabatina do Jornal Nacional, nesta segunda-feira (22).

Em maio, a Assembleia Legislativa de Roraima seguiu a indicação presidencial e aprovou uma lei que proíbe os órgãos estaduais de também destruírem equipamentos de garimpo apreendidos durante as fiscalizações. A lei foi sancionada pelo governador Antônio Denarium (PP).
Sim a mineração em TI

O candidato ao governo de Roraima segue a tese presidencial de que seria possível liberar a extração de minérios nos territórios indígenas. O estado tem a maior reserva indígena do país, com 9.419 hectares de floresta. De acordo com o candidato, a mineração poderia ser praticada na forma de um sistema de rodízio da área a ser explorada, com menos impactos ambientais.

“A mineração que eu defendo é a mineração organizada, e não a garimpagem na marra. A mineração é o caminho para que a gente possa explorar nossos recursos minerais com sustentabilidade”, disse o candidato do PV ao ((o))eco.

Mas, Rudson Leite, afirma que não foi essa prática que abordou em seu plano de governo, mas sim a mineração mais voltada para a extração de insumos para a construção civil, como a argila retirada das margens dos rios. Quando não fiscalizada e normatizada, tal tipo de exploração também causa sérios danos ambientais para o leito e as margens dos mananciais.

“Eu defendo a organização do setor de argila, de onde se fabrica o tijolo, a areia, e aqui essa atividade é feita na beira dos rios. Essas pessoas têm de ser organizadas, orientadas”, conclui.  


Reportagem publicada em ((o)) eco

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

teoria e prática

 Barbalho tenta reeleição no Pará sem cumprir promessa de reduzir desmatamento


Com um plano de governo vago, o paraense é acusado de manter um discurso novo, mas com práticas antigas. Mesmo badalado internacionalmente, devastação segue 

 

Helder Barbalho, governador do Pará: boas intenções, poucos resultados práticos (Foto: Secom/PA)

 

Ao assumir o papel entre os governadores da Amazônia Legal de uma liderança em defesa do bioma, ante a devastação da floresta impulsionada pela política anti-ambiental de Jair Bolsonaro (PL), o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), tenta permanecer no cargo sem tirar o Pará da primeira posição do ranking do desmatamento ou amenizar os conflitos na luta pela terra que o tornam o estado um dos mais violentos do país em confrontos e execuções no campo.  


Herdeiro de uma das principais oligarquias políticas da região, Helder Barbalho encarnou a imagem de governador disposto a preencher o espaço político de proteção da Amazônia em meio a um dos piores momentos de devastação da floresta. Com os olhos do mundo voltados para a região, enquanto o governo Bolsonaro deixava a boiada passar, Barbalho quis assumir para si o protagonismo e a responsabilidade pela defesa da Amazônia. 

Enquanto os governos europeus deixavam de enviar recursos para projetos de conservação, ele tentava convencê-los de que os governos estaduais seriam capazes de conduzir as ações para proteger a Amazônia, bastando para isso ter recursos em caixa.

Essa boa articulação política acabou por dar a ele o título de “governador da Amazônia” – cargo que lhe foi transferido sem nenhuma resistência pelos demais governadores da Amazônia Legal, a grande maioria simpática à política ambiental de Jair Bolsonaro.

Assim, Helder Barbalho passou a ser a referência dentro e fora do Brasil como a “alternativa” para conter a devastação da mais importante floresta tropical do mundo. Além de governador, passou a ser o “embaixador” da Amazônia, representando o país nos encontros internacionais sobre meio ambiente, como as Conferências Mundial do Clima, as COPs.

Também levou para o Pará grandes eventos de importância internacional, como o Fórum Mundial de Bioeconomia, realizado em outubro de 2021, em Belém.   

Mas, internamente, o emedebista parece não ter feito o seu dever de casa, e o Pará permanece como o exemplo a não ser seguido em termos de proteção da floresta e das suas populações. O estado é o líder em desmatamento e queimadas, além de conflitos por terra que resultam na morte de camponeses, quilombolas e indígenas.

O estado também registra os maiores casos de atentados contra os defensores das causas sociais e ambientais. De acordo com o relatório Conflitos no Campo, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de 2021, duas pessoas foram assassinadas no Pará em disputa pela terra; um indígena e um camponês. Ainda conforme o estudo, o estado registrou 156 casos de conflitos por terra envolvendo mais de 31 mil famílias.

Quanto à preservação da Amazônia, o Pará apresenta dados nada satisfatórios, mesmo com Helder Barbalho ter instituído uma força-tarefa de instituições estaduais para combater o desmatamento. Segundo o mais recente boletim elaborado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), o Pará respondeu por 34% dos 1.749 km2 de floresta perdida em julho passado. Foram 583 km2 de desmatamento dentro do estado. Na comparação com o mesmo mês de 2021, houve redução de 24%..

No chamado “calendário do desmatamento”, o Pará também teve queda. Entre agosto de 2021 a julho deste ano foram 3.853 km2 de floresta derrubada; no período de agosto de 2020 a julho de 2021 foram 4.147 – redução de 7%. Após uma certa estabilidade entre 2008 e 2018 nas taxas de incremento de desmatamento no Pará, o estado voltou a apresentar alta a partir de 2019, paralelo a ascensão do bolsonarismo.  

Em seu plano de governo para a primeira campanha (2018), Helder falava em redução de 11% da área desmatada entre 2021 e 2022 nos territórios de atribuição estadual. O Relatório Anual do Desmatamento (RAD), elaborado pelo Mapbiomas, aponta que em 2021 o Pará permaneceu na primeira posição dos estados brasileiros que mais desmataram sua cobertura vegetal. 


leia a reportagem completa em ((o)) eco

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

o ambiente político

 Meio ambiente diferencia planos dos candidatos ao executivo de Rondônia 

 

Coronel Marcos Rocha (União), governador de Rondônia e candidato à reeleição (Foto: Facebook)
 

O senador Marcos Rogério, que ficou famoso em rede nacional pela defesa intransigente do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante as sessões da CPI da Covid, é um dos candidatos ao governo de Rondônia. Nos primeiros dias de campanha, Marcos Rogério surpreende por um discurso, aparentemente, um pouco distanciado do radicalismo bolsonarista anti-ambiental. Pelo menos é o que se pode concluir a partir da leitura de seu plano de governo.


Logo na primeira página, o documento diz que Rondônia “não pode ficar com a fama injusta de ser um estado que desmata”. “Rondônia possui algumas das maiores reservas ambientais do mundo, com mais de 60 áreas preservação.”  

De fato, o estado possui uma grande quantidade de unidades de conservação (estaduais e federais) e de terras indígenas. Porém, nem mesmo a força da lei as protegem de serem alvos constantes de invasões por madeireiros e grileiros. 

Muitas dessas, por sinal, são fomentadas até mesmo por lideranças políticas locais, embasados no discurso da necessidade de se fazer o assentamento de famílias não beneficiadas por programas de reforma agrária. Na visão deles, a manutenção destas terras como reservas ambientais “travam” o progresso rondoniense.

É essa elevada influência do agronegócio na economia e na política local que faz de Rondônia um dos redutos mais fortes do bolsonarismo na região Norte.  

Na Amazônia, realizar campanhas eleitorais com agendas voltadas para a preservação da Floresta Amazônica e o combate a crimes ambientais muitas das vezes resulta em menos votos nas urnas.
Concorrente oposto Um exemplo do discurso hegemônico na região são as declarações do atual governador bolsonarista, Coronel Marcos Rocha (União Brasil), que buscará a renovação do mandato.

“Rondônia é o Estado da agricultura e do agronegócio”, lê-se no plano apresentado por Rocha, que exatamente em seu primeiro mandato elevou a “fama injusta de ser um estado que desmata”.  

Na prática, a realidade é outra. Conforme os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rondônia é o terceiro estado com a maior taxa de incremento do desmatamento dentro da Amazônia Legal, atrás do Mato Grosso e Pará. Desde 2008 já foram mais de 14,1 mil km2 de floresta derrubada. Entre 2019 e 2021 o estado apresentou aumento da área destruída: 4,5 mil km2 no período. O ano passado foi o pior desde 2008.

A devastação se dá também dentro das áreas protegidas como a Terra Indígena Karipuna e a Uru-Eu-Wau-Wau. A política de gestão ambiental do governo Marcos Rocha está alinhada com a de Jair Bolsonaro. Desde a campanha eleitoral o discurso era de não atrapalhar a vida de quem é do campo e quer produzir.

A assessoria do governo Marcos Rocha tem sido procurada para comentar o assunto, mas as respostas não são enviadas. Ao que parece, caso seja reeleito, o meio ambiente continuará fora das prioridades do governador. O tema ficou em último lugar entre os oito tópicos de seu plano de governo.

Enquanto isso, na contra mão de seu adversário direto, Marcos Rogério, promete adotar uma economia verde. “Transformaremos nossas florestas num poderoso ativo econômico”.

Mas, ao mesmo tempo que mostra boas intenções para a preservação da Amazônia, o senador bolsonarista defende um programa de regularização fundiária que passa pela autodeclaração. A medida é uma das mais criticadas por especialistas, pois seria uma forma de legalizar áreas griladas, resultado de invasões.  


quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Autores de proposta que ameaça Reserva Chico Mendes e Parque Nacional disputam governo do Acre


Dois candidatos ao governo do Acre defendem reduzir unidades de conservação e promover o agronegócio no estado que já foi símbolo da proteção da Amazônia 


Dep. federal Mara Rocha e o senador Márcio Bittar; bolsonaristas e ligados ao agronegócio



Parlamentares idealizadores de um projeto de lei que afeta duas importantes unidades de conservação do Acre concorrem ao executivo estadual. Eles defendem reduzir o tamanho da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes e rebaixar o Parque Nacional da Serra do Divisor para a categoria de Área de Proteção Ambiental (APA). Uma das candidatas é a deputada federal Mara Rocha, que trocou o PSDB pelo MDB, e também é autora do PL 6024, apresentado em novembro de 2019 no Congresso Nacional. O projeto foi apadrinhado pelo senador Márcio Bittar (União Brasil), outro candidato. Ambos são ligados ao setor do agronegócio e ao bolsonarismo. 

A dupla é crítica contumaz das normas e regras ambientais, acusando-as de serem entraves para o desenvolvimento econômico da região e de atenderem a interesses estrangeiros. A retirada de pelo menos 22 mil hectares da Resex Chico Mendes, prevista no texto do projeto, atende a interesses de um grupo de moradores da unidade de conservação que respondem a processos por danos ambientais por desmatarem além do permitido. Eles já derrubaram boa parte da floresta dos antigos seringais, transformando-os em médias e grandes fazendas de gado.

Este mesmo grupo recorre com frequência a Mara Rocha e a Márcio Bittar quando se sentem incomodados pelas fiscalizações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Também em novembro de 2019, eles tiveram reunião com o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para reclamar das operações do ICMBio.

Conforme noticiado à época, a reunião teve resultado satisfatório para o grupo, pois a partir de então Salles determinou o fim das fiscalizações ambientais. Não por acaso, a UC está entre uma das mais impactadas pelo desmatamento e as queimadas nos últimos três anos na Amazônia Legal.

O encontro foi intermediado por Márcio Bittar e Mara Rocha, e contou com a participação de outros membros da bancada federal do Acre. Entre eles estava o senador Sérgio Petecão (PSD), que também disputa o governo do estado.

A última demonstração de força política deles foi a exoneração do chefe da Resex Chico Mendes, o servidor de carreira do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Flúvio Mascarenhas. A demissão aconteceu após a especulação de que o instituto faria uma grande operação de retirada de gado de dentro da reserva; tudo não passava de especulação, mas as pressões políticas resultaram na queda do servidor.  

Com o Acre ainda sendo território fértil do bolsonarismo na região amazônica, Mara Rocha e Márcio Bittar tentam surfar na popularidade do presidente da República, ecoando a retórica anti-ambiental e de defesa do agronegócio. As duas candidaturas representam o racha dos partidos de direita na disputa pelo governo local. Em 2018, todos estavam no mesmo palanque que elegeu Gladson Cameli (PP) governador.

A candidatura de Mara Rocha é a mais consolidada com o agronegócio acreano. Como vice de sua chapa ela tem o fazendeiro Fernando Zamora. À Justiça Eleitoral, ele define sua ocupação como “produtor agropecuário”. A candidata de Mara Rocha ao Senado é Márcia Bittar (PL), esposa de Márcio, que se apresenta como a representante legítima do presidente Jair Bolsonaro pelas terras acreanas. 


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terça-feira, 16 de agosto de 2022

O clima das eleições

Brasil volta às urnas sem a opção de “candidatura verde” em 2022


A lacuna de candidaturas ligadas às propostas ambientais ocorre mesmo com a pauta do meio ambiente sendo uma das mais debatidas pela sociedade 


O Brasil volta às urnas neste ano de 2022 num dos processos eleitorais mais importantes desde a redemocratização sem candidatos a presidente com nomes ligados diretamente à agenda ambiental.  É a primeira vez desde as eleições de 2010 que o eleitorado não terá à disposição uma “candidatura verde”.A lacuna ocorre mesmo com a pauta do meio ambiente sendo uma das mais debatidas pela sociedade brasileira desde 2019, e diante da desestruturação da política ambiental promovida pelo governo Jair Bolsonaro (PL), que tenta permanecer por mais quatro anos no Palácio do Planalto. 

Conforme consta nos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 12 candidatas e candidatos vão disputar os votos de mais de 156 milhões de brasileiros. Essa diversidade de candidaturas envolve os partidos das mais diversas matizes, mas sem nenhum oficialmente ligado à agenda de proteção da natureza – como PV ou Rede. 

Nas três últimas eleições presidenciais, a ex-senadora Marina Silva concorreu como a candidata oficial da pauta ambiental por conta de seu histórico de militância política no Acre, sendo parceira das lutas lideradas por Chico Mendes em defesa dos povos da floresta. Foi pelo estado que ela obteve os dois mandatos consecutivos de senadora pelo PT. Em 2003, assumiu o Ministério do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 

Após desentendimentos e romper com o partido de origem, Marina se lançou candidata à Presidência em 2010 pelo PV. Em 2014, concorre como vice na chapa de Eduardo Campos (PSB), assumindo a campanha após a morte do ex-governador de Pernambuco num acidente aéreo.  Ela ficou em primeiro lugar nas pesquisas logo após a tragédia, mas ficou desidratada diante dos ataques frequentes promovidos pelos adversários, sobretudo Dilma Rousseff (PT) que buscava sua reeleição. 

Após a campanha, a ex-senadora decidiu criar seu próprio partido, nascendo a Rede Sustentabilidade (REDE), por onde voltou a pleitear a cadeira de presidente em 2018. Mas, ao contrário dos últimos pleitos, Marina teve uma votação pífia: 1% dos votos.

Com uma mudança de domicílio eleitoral, Marina concorre ao cargo de deputada federal por São Paulo em 2022. Em sua terra natal, a onda bolsonarista e anti-ambiental que ainda persiste na região a inviabilizaria para vencer a qualquer cargo.   


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falta de planos

Plano de governo de Bolsonaro defende “harmonização ambiental” e põe em xeque dados do desmatamento do Inpe


O plano de governo de Jair Bolsonaro para reeleição tem propostas questionáveis e um acerto para apoiar a Amazônia

 

Sem expor propostas plausíveis para tirar o Brasil do atual desastre ambiental no qual se encontra, o presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro (PL), apresenta um plano de governo bastante vago para a política de meio ambiente. Com 48 páginas, o documento inclui conceitos que vão de “desenvolvimento sustentável” ao “mercado de carbono”, até o “hidrogênio verde”, mas no tocantes a propostas, se restringe a apresentar um balanço das ações desenvolvidas nos últimos três anos de combate às queimadas e ao desmatamento. 

Porém, a proposta omite dados oficiais sobre a aceleração da devastação dos biomas ocasionada pela adoção de uma agenda anti-ambiental e anti-indígena liderada próprio governo.  Num dos pontos, o plano fala sobre a necessidade de se adotar tecnologias mais confiáveis para os sistemas de monitoramento dos impactos ambientais.

O presidente da República bate de frente e questiona os dados sobre desmatamento e queimadas da Amazônia elaborados pelo próprio governo federal por meio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe, defendendo a adoção de outros modelos.  

“Para este Plano de Governo, é fundamental, até para que o assunto tenha a necessária transparência, que seja determinado o desenvolvimento de metodologias que consolidem as bases de dados e harmonizem os resultados no sentido de balizar as políticas públicas contra queimadas de maneira mais assertiva”, diz trecho do documento.

Ao abordar a questão amazônica, o plano enfatiza o discurso sobre a soberania do Brasil na região. Essa é a retórica recorrente usada por Bolsonaro para afirmar que as críticas internacionais sobre o aumento de crimes ambientais seriam apenas interesses de governo estrangeiros pela floresta.

 “A Amazônia brasileira é um patrimônio da Nação brasileira. A soberania brasileira é inquestionável e inegociável.”. O documento ainda trata da regularização fundiária e da concessão de áreas de floresta ao setor privado como base para a “exploração racional e sustentável da Amazônia”. Com a explosão dos casos de invasões de terras públicas na região a partir de 2019, a regularização fundiária é um tema sensível.

O temor é que essas propostas de “regularização” de propriedades rurais a toque de caixa acabem por fomentar, ainda mais, a prática da grilagem. Com o governo Bolsonaro, terras indígenas e unidades de conservação registraram aumento nos casos de invasões.  


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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

a fronteira da devastação

 Governadores da nova fronteira do desmatamento buscam reeleição 

A criação de uma zona do agronegócio na divisa do Acre, Amazonas e Rondônia (ainda) não avançou, mas a devastação da floresta disparou. Mas nada disso parece mudar a vontade do eleitorado da região

 

 

Os governadores do AC, Gladson Cameli, e de RO, Marcos Rocha (Foto:Secom/AC_


Os governadores dos três estados da Amazônia que mais chamaram a atenção pelo recente aumento do desmatamento chegam às eleições de 2022 como favoritos à reeleição. Seguidores da cartilha do presidente Jair Bolsonaro (PL), de fragilização da política de proteção ambiental, Gladson Cameli (Progressistas), do Acre; Coronel Marcos Rocha (União Brasil), de Rondônia; e Wilson Lima (União Brasil), do Amazonas, recorrem ao discurso de fortalecer o agronegócio como forma de impulsionar o desenvolvimento.


Uma das formas encontradas para isso foi a adoção de práticas – como o enfraquecimento das fiscalizações e mudanças na legislação estadual – que resultam (no aumento ) na devastação da Amazônia em seus respectivos estados. 

Em 2021, o Amazonas ficou em segundo lugar como o estado que mais aumentou a área desmatada do bioma, conforme os dados do Relatório Anual do Desmatamento no Brasil 2021 (RAD21), elaborado pelo MapBiomas com base em dados oficiais.

Em 2021, o Amazonas perdeu 194.498 hectares de floresta, com um aumento de 50% na comparação com 2020, ficando atrás apenas do Pará no ranking nacional de desmatamento no bioma. Rondônia teve desmatados 130.266 hectares da cobertura florestal do território; outros 64.147 hectares da Amazônia desapareceram no Acre no mesmo período. Todos os três apresentaram ampliação na área de floresta perdida ante 2020.

Em 2019, os três governos ensaiaram a criação de uma zona de desenvolvimento comum do agronegócio na área da tríplice divisa. A proposta seria seguir o modelo da zona chamada Matopiba, formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Para isso, até um nome foi dado: Amacro – sigla para Amazonas, Acre e Rondônia.

A iniciativa não decolou, mas as pressões sobre a preservação da Amazônia nesta tríplice divisa amazônica só aumentaram. A desestruturação dos órgãos ambientais, não só por parte de Brasília, como também nos estados contribuiu.

Segundo o relatório do MapBiomas, Amazonas e Rondônia têm quatro dos dez municípios brasileiros responsáveis por 23% da área total desmatada no país. Todos eles estão justamente na região que formaria a Amacro, incluindo a capital rondoniense, Porto Velho.

Os municípios do Amazonas campeões em desmatamento estão na porção sul do estado: Lábrea, Apuí e Humaitá. Dos 50 municípios do país líderes em desmatamento, três estão no Acre: Feijó (23º), Sena Madureira (41º) e Tarauacá (46º).


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reduto bolsonarista

 Bolsonarismo resiste na Amazônia, mas eleitores se dividem no voto a voto


É apenas na região Norte que Jair Bolsonaro lidera na pesquisa espontânea. Na estimulada, quando os eleitores são apresentados aos nomes dos concorrentes, Lula aparece em primeiro lugar, porém ambos empatam tecnicamente A 50 dias do primeiro turno para as Eleições 2022, a situação é bem diferente de 2018 na Amazônia. No último pleito, Bolsonaro obteve uma votação expressiva em quase todos os estados da região Norte. Mas, segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha para presidente da República, Jair Bolsonaro disputa a preferência dos eleitores da Amazônia com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no voto a voto.

Mas, em muitos dos antigos redutos do Bolsonarismo, a defesa de uma agenda anti-ambiental e do agronegócio ainda ganha muito mais simpatia do que rejeição. É o caso do Acre, que após 20 anos de governos petistas voltados para uma política de valorização de uma economia de base florestal, deu a Jair Bolsonaro a maior votação proporcional do país no segundo turno de 2018. 

Conforme a pesquisa do Instituto Badra, divulgadas no começo de junho no Acre,  Jair Bolsonaro lidera com folga as intenções de voto para presidente da República. Entre os acreanos, o atual presidente tem 47% da preferência. Lula fica com 29%. O instituto ouviu 1.056 pessoas na capital e interior entre os dias 27 a 29 de maio. Ela está registrada junto à Justiça Eleitoral com o número BR-03966/2022.

A pesquisa do Instituto Datafolha ouviu 2.556 pessoas nos dias 27 e 28 de julho em 183 cidades brasileiras. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. Ela está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-01192/2022.

Os resultados apresentam números diferentes conforme os cenários. No questionário espontâneo, Bolsonaro tem a preferência de 36% dos eleitores dos estados da Amazônia quando são questionados em quem votariam para presidente. Lula recebe 33% das citações. Na pesquisa estimulada, quando os eleitores são apresentados aos nomes dos concorrentes, Lula aparece em primeiro lugar numericamente, mas empatado com Bolsonaro dentro da margem de erro de dois pontos percentuais.

No Norte, o petista receberia 41% dos votos; o atual presidente teria 39%. Assim como na espontânea, o empate técnico entre Lula e Bolsonaro só acontece entre os estados amazônicos. Considerando apenas os votos válidos, os dois permanecem no empate técnico. Ao se avaliar a rejeição dos candidatos, Bolsonaro está à frente entre os candidatos nos quais os eleitores do Norte não votariam de jeito nenhum: 43%; Lula tem 40%.

Se a eleição presidencial for decidida no segundo turno entre Lula e Bolsonaro, volta a se ter empate técnico. O petista recebe 47% das intenções de voto, ante 46% do presidente da República. Outra vez, é apenas no Norte que há essa proximidade numérica no segundo turno. A pesquisa Datafolha não traz cenários por estados, mas são as diferenças locais dentro da própria região que ainda não mostram Bolsonaro à frente de Lula.  


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segunda-feira, 8 de agosto de 2022

Uma floresta espatifada

A Política na Floresta:

a velha direitona continua no balaio de gatos, e esquerda já respira sem ajuda de aparelhos  

 

O tabuleiro está formado e as cartas estão na mesa para a disputa ao governo do Acre, naquela que já entrou para a história como uma das eleições mais importantes do país. O atual momento de ataque às instituições, ao sistema eleitoral e à democracia promovidos por Jair Bolsonaro (PL) fazem as eleições de 2022 serem únicas. Mesmo com todo este ambiente tenebroso no qual o Brasil se meteu desde 2018, os acreanos terão um farto cardápio de opções para decidir quem vai ocupar o Palácio Rio Branco pelos próximos quatro anos.


E o mais interessante é que essa fartura se dá, sobretudo, graças à inabilidade política do atual ocupante da sede do Executivo acreano, Gladson de Lima Cameli (Progressistas). Nem mesmo o fato de deter o controle da máquina foi suficiente para ele manter a unidade da aliança que o elegeu quatro anos atrás - já no primeiro turno. Este espatifamento era mais do que esperado diante da incompetência de Gladson para construir governabilidade na Assembleia Legislativa. Nos primeiros dois anos, a relação do Executivo com o Parlamento foram de uma verdadeira zorra.

O custo agora está aí. O governador terá como adversários diretos nesta eleição os senadores Sérgio Petecão (PSD) e Márcio Bittar (União Brasil), além da deputada federal Mara Rocha (MDB). Todos eles estiveram no palanque e pediram votos para Gladson Cameli em 2018.

A parlamentar bolsonarista, por exemplo, campeã de votos na corrida para a Câmara quatro anos atrás, é irmã do atual vice-governador Major Rocha, que rompeu com Cameli logo no primeiro ano de mandato. Nas pesquisas sem o nome de Jorge Viana (PT), a jornalista Mara Rocha aparece em segundo lugar. É uma forte candidata e está num partido robusto.

Rocha é o autor das principais denúncias que colocam o governo dos Progressistas na lama da corrupção até o pescoço.  Como vingança por ter as portas fechadas no governo (ficou até sem o gabinete de vice), o major da PM lança a candidatura da irmã ao governo pelo MDB, partido que também rompeu com o Palácio Rio Branco. Já Márcio Bittar lança-se candidato aos 45 minutos do segundo tempo também como retaliação a Cameli, por este ter rifado a esposa, Márcia Espinosa Bittar (PL), da candidatura de vice na chapa governista de reeleição.

Com o ato, Bittar retira o poderoso e robusto União Brasil com dinheiro e tempo de TV da coligação do PP - e ainda leva o PL de Bolsonaro, também sob domínio dos Bittar no Acre. Já Sérgio Petecão (PSD) é candidato ao governo do Acre desde que as urnas de 2018 foram fechadas. Político profissional que se apresenta como “100% popular”, Petecão acreditava (ou acredita) que seu destino é ser governador.

Logo no começo, a relação entre Gladson e Petecão não era a das melhores, pois sempre se viram como adversários em 2022. O senador chegou a ter espaços dentro do governo, mas logo os aliados foram exonerados dos cargos de confiança. Confiança, por sinal, é algo que não existe entre as velhas figuras da direitona acreana. Mesmo no poder, nunca deixaram de ser um balaio de gatos, como eram definidos pelo PT enquanto também se digladiavam para tirar os petistas do poder.

A unidade de 2018 durou pouco. Agora é cada um para o seu lado em busca dos próprios interesses. Eles não têm a mínima visão de Estado, do que seja fazer política pública, de um projeto real para o Acre. Ao chegarem ao poder, revelaram todas as suas incompetências. O resultado é o retrocesso no qual o Acre se meteu nos últimos anos, com muitas e muitas pessoas indo embora daqui em busca de melhores condições de vida noutros estados.


A esquerda voltou a respirar       


E a esquerda acreana, que estava sem candidatura ao governo do Acre até a tarde de sexta-feira, 5 de agosto, o último dia das convenções, voltou a respirar sem a ajuda de aparelhos, com o lançamento de Jorge Viana (PT). Após 20 anos de plena hegemonia política por estes rincões da Amazônia, os petistas poderiam ter a vexatória situação de não oferecer um palanque para Lula, líder nas pesquisas presidenciais até aqui.

Após muitas idas e vindas sobre qual cargo majoritário disputaria - lançando-se candidato ao Senado -, Jorge Viana, enfim, decidiu ir para o sacrifício na tentativa de um retorno ao Palácio Rio Branco, abrindo mão da vitória quase certa para o Senado. Nas pesquisas feitas até o momento, Jorge Viana aparece em segundo lugar nas intenções de voto, atrás de Gladson Cameli; com isso, a disputa tende a ficar polarizada entre os dois.

Mesmo com um sentimento antipetista e anti-Lula ainda bastante resistente por essas bandas do Aquiry, Viana tem a seu favor a boa memória e elevada aprovação de sua passagem pelo governo - entre 1999 e 2006. Definido como o governo da reconstrução, ele assumiu o Acre num dos piores momentos, com a estrutura do Estado literalmente carcomida, com o crime organizado penetrado nos corredores do poder e as contas públicas na lona.

Outro fator é que Viana também enfrenta um adversário desqualificado e sempre despreparado para os debates, e que nada tem a mostrar de concreto sobre bons feitos de seu governo - que chamo de desgoverno. Ao contrário, Cameli deve prestar muitas contas sobre as denúncias de corrupção que lhe são imputadas pela Polícia Federal, que o define como o chefe de organização criminosa responsável por suposto desvio de R$ 800 milhões dos cofres públicos.   

Se a eleição for para o segundo turno entre Viana e Cameli, a corrida ficará ainda mais disputada no voto a voto. Mais no andar de baixo, a esquerda vem com a candidatura do cientista político Nilson Euclides, do PSOL. Outro degrau abaixo, só para ocupar espaço, o Avante aposta na candidatura de David Hall. Os nomes estão postos ao eleitorado acreano, que em outubro vai decidir o futuro do Acre pelos próximos anos. Será uma disputa bem interessante e essencial para definir qual Acre queremos. Não basta a fartura de candidatos, é preciso qualidade de proposta.