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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Na corda bamba

Bem posicionado nas pesquisas, Ivo Cassol tem candidatura em Rondônia ‘Sub judice’ no STF


 

Caso derrube a suspensão de seus direitos políticos, Ivo Cassol entrará para o rol dos políticos de Amazônia simpáticos à visão bolsonarista anti-ambiental 

 

Ivo Cassol, ex-governador de Rondônia que perdeu direitos políticos (Foto:Divulgação Facebook)

 


Considerado um dos piores governadores de Rondônia para a preservação da Amazônia, o ex-senador Ivo Cassol, do Partido Progressista (PP), quer voltar ao cargo 20 anos após a sua primeira eleição. Mas, para entrar de fato na disputa, ele aguarda julgamento de recurso no Supremo Tribunal Federal (STF).  Caso receba o aval do STF para concorrer e vença as eleições de outubro, Ivo Cassol tem propostas para a área ambiental que tendem a intensificar, ainda mais, o processo de devastação da Floresta Amazônica em Rondônia, já bastante impactada pelo agronegócio. 

Em seu plano de governo, ele defende “rediscutir as recentes criações de parques” de preservação ambiental e as reservas legais. O candidato, porém, não deixa claro o que seriam essas reservas legais: se as áreas que devem ser mantidas em pé dentro das propriedades rurais ou as unidades de conservação estaduais.

Pelo Código Florestal, as propriedades localizadas na Amazônia Legal devem manter intactas ao menos 80% de sua área total. Esse limite é motivo de muita insatisfação entre os produtores da região amazônica, que querem mais espaço para desmatar dentro das propriedades. O Código Florestal, por sinal, está na mira do candidato. Ele defende estudar e reformular (ainda mais) a Lei 12.651.

Mesmo com todas essas propostas, Ivo Cassol quer inserir Rondônia nos fóruns nacionais e internacionais sobre mudanças climáticas. Apesar de reconhecer que as discussões sobre meio ambiente são importantes no atual contexto, o candidato do PP e aliado do presidente Jair Bolsonaro afirma que elas não podem “atrapalhar nem impedir o nosso crescimento”.

De acordo com pesquisa do Ipec/Rede Amazônica, divulgada na quarta-feira, 24, Ivo Cassol está tecnicamente empatado com o coronel Marcos Rocha (União Brasil), candidato à reeleição. O atual governador tem 30% das intenções de voto, enquanto Cassol aparece com 29%. A margem de erro é de três pontos percentuais.

A pesquisa ouviu 800 eleitores em 26 cidades de Rondônia entre 21 e 23 de agosto. Ela foi registrada junto ao Tribunal Regional Eleitoral com o número RO-08675/2022.

Apesar da boa posição, a candidatura de Ivo Cassol está sub judice. O julgamento da perda ou manutenção dos direitos políticos de Ivo Cassol pelo STF está previsto para até 2 de setembro. A denúncia se refere a ações de 2013, quando Ivo Cassol – ocupando o cargo de senador – foi condenado pelo próprio STF a uma pena de quase cinco anos por denúncias de fraude quando foi prefeito de Rolim de Moura, no interior de Rondônia.

Em dezembro de 2020, Cassol teve a pena de prisão extinta, mas seus direitos políticos continuam suspensos, o que o impede de concorrer a cargos eletivos. Em decisão monocrática, o ministro do STF, Kássio Nunes Marques, concedeu liminar na qual suspendia os efeitos de inelegibilidade do político rondoniense. A decisão, agora, será analisada pelo plenário do Supremo.

Ivo Cassol governou Rondônia por dois mandatos, entre 2003 e 2010. Foi durante essa gestão que se iniciaram as construções das duas grandes usinas hidrelétricas do rio Madeira: Santo Antônio e Jirau. Ambos os empreendimentos foram tocados pelo governo federal.

Integrantes dos movimentos ambientalistas em Rondônia consultados pela reportagem definem Ivo Cassol como o “Bolsonaro antes do Bolsonaro”. “O que o Bolsonaro representa hoje para a Amazônia o Ivo Cassol já fazia aqui em Rondônia ano atrás”, diz uma fonte que pede a proteção da identidade.

É durante a passagem de Ivo Cassol pelo governo que há o aumento dos casos de invasões às terras públicas, sendo as unidades de conservação o alvo preferido para os grileiros. A Reserva Extrativista Jaci-Paraná, em Porto Velho, tem seu processo de invasões acelerado por essa época. Hoje, a reserva virou praticamente apenas áreas de fazenda.

Conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), nos três primeiros anos de Ivo Cassol como governador, Rondônia volta a apresentar elevação nas taxas de desmatamento, após certo período de estabilidade. Ao todo foram 12,7 mil km2 de Floresta Amazônica devastados, o equivalente a  durante seu primeiro mandato. 


Dias após a publicação desta reportagem, o candidato Ivo Cassol anunciou sua desistência das Eleições 2022 após o STF formar maioria para derrubar a liminar de Nunes Marques que devolva seus direitos políticos.

 

Leia reportagem completa em ((o)) eco

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