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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

garimpo adentro

Promessa de Lula, combate ao garimpo se mostra desafio na Amazônia


Destruição de balsa na região do Médio Juruá, no Amazonas, mostra avanço da mineração ilegal nas regiões intocadas da floresta

 

Destruição de balsa no rio Juruá, no Amazonas (Foto: Divulgação)

Em meio às promessas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de fazer do combate ao garimpo ilegal uma de suas prioridades para a reconstrução da política ambbiental brasileira, a atividae continua a se expandir pela Amazônia, chegand a regiões até então intocadas. É o caso do rio Juruá, no Amazonas, que desde junho deste ano registra a presença de grandes dragas de garimpo. A destruição, no dia 23 de novembro, de uma destas embarcações é a prova da expansão dos garimpeiros pela região do Médio Juruá, ameaçando comunidades ribeirinhas e indígenas. 

A explosão da balsa de garimpo aconteceu no município de Itamarati, distante quase mil quilômetros de Manaus. A operação foi realizada em conjunto entre Polícia Federal, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e PM do Amazonas.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) no Amazonas, a atividade garimpeira vinha ocorrendo em trecho do rio Juruá dentro da Terra Indígena Deni e TI Kanamari do Médio Juruá. Em junho, lideranças indígenas e extrativistas já denunciavam a invasão de suas terras pelas embarcações de garimpo. As denúncias foram levadas ao MPF pelo Fórum do Território Médio Juruá.

A partir de então, ainda no começo de novembro, os procuradores passaram a solicitar junto aos demais  órgãos federais. Entre eles a Agência Nacional de Mineração (ANM) para saber se licenças para a atividade de exploração mineral tinham sido concedidas, sem a devida consulta aos povos indígenas da região. Constatada a ilegalidade, foram iniciados os detalhes para a operação de destruição da draga, realizada em 17 de novembro.

Para representantes de organizações que atuam no Médio Juruá, a rápida reação das autoridades para reprimir o garimpo é essencial para contar o avanço da atividade na área. Conforme os relatos, as duas balsas que operavam no Juruá estavam em fase de prospecção.

O temor era o de que, caso fosse encontrado algum vestígios de ouro, “fofocas” fossem espalhadas e o Juruá ficasse tomado por “balsinhas”. Fofocas é a expressão usada pelos garimpeiros para espalhar informações sobre a presença de ouro numa região.

“Agora é ficar atento para ver se eles não voltam e tentar entender quem financia esse tipo de coisa. Pela estrutura que se tem é uma coisa grande. Essas balsas são grandes. É preciso tentar descobrir quem está por trás “, diz uma fonte ao ((o)) eco, que por questão de segurança pede para não ter  o nome revelado.

Ele também destaca a mobilização dos movimentos sociais da região para denunciar o caso ao MPF. “O garimpo não é uma realidade do Juruá, e espero que não seja nunca. Muito importante essa ação da sociedade civil organizada, e ter conseguido uma resposta tão rápida.” 


Reportagem completa em ((o)) eco

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

a riqueza das migalhas

 Isso virou “troco” para nós, diz governador de Mato Grosso sobre programa REDD


Segundo Mauro Mendes, “migalhas” repassadas por países ricos não recompensam, de forma justa, os serviços ambientais prestados pelo Brasil 

 

Mauro Mendes, governador de MT (Foto: Ascom Planalto)

O repasse de dinheiro internacional por meio de programas de compensação e serviços ambientais  se tornaram insignificantes no bolo das receitas de Mato Grosso em seus programas e políticas para o meio ambiente. Ao menos essa é a afirmação do governador reeleito, Mauro Mendes (União Brasil), em entrevista ao ((o))eco, durante sua participação na conferência do clima da ONU no Egito, a COP-27. Segundo ele, tais recursos passaram a ser “um troco” e “migalha” no conjunto orçamentário do estado.


“Sabe quanto nós investimos só no meu órgão ambiental? São R$ 160 milhões. Por isso que eu não venho aqui atrás de 5 milhões, 10 milhões de dólares. Isso virou troco para nós. Nós estamos aqui para nos comunicar, para compreender e interagir nessa agenda ambiental, mostrar ao mundo aquilo que nós somos e fazemos e queremos respeito”, disse Mauro Mendes.

De acordo com ele, o mundo deve pagar ao Brasil e a Mato Grosso o que é justo pelos serviços ambientais que prestam. “E queremos falar a verdade: Não queremos migalhas, com todo respeito.” O mato-grossense ainda critica o não cumprimento de acordos celebrados em conferências anteriores – como o Acordo de Paris na COP-21 -, que estabeleciam o repasse de ajuda financeira por parte dos países ricos, bem como as suas metas de redução de gases poluentes. 

“Então eles [países ricos] não podem ficar apontando o dedo para o nosso país. Nós também não cumprimos [as metas]. Queremos cumprir, e temos que cumprir. Mas a nossa baliza tem que ser a lei brasileira”, defendeu Mendes. 

Junto com o Acre, Mato Grosso é um dos estados da Amazônia Legal com os marcos legais mais avançados para a implementação de projetos – públicos e privados – que asseguram a assinatura de acordos de programas de pagamento por compensação ambiental, conhecidos  pela sigla em inglês REDD. 

Apesar do pioneirismo, Mato Grosso permanece entre os estados que mais contribuem para a devastação da Floresta Amazônica. O estado também conta com a cobertura dos biomas Cerrado e Pantanal. 

Em 2021, de acordo com o MapBiomas, Mato Grosso ocupou a terceira posição entre os 27 estados no ranking do desmatamento. Ao todo, uma área de 194.498 hectares (quase 2 mil km2) foi desmatada ao longo do ano passado. 

De acordo com o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), no acumulado de 2022, apenas o bioma amazônico já desmatou 1.369 km2 de floresta. 

Após o Pará, conforme os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Mato Grosso é o que mais registra desmatamento na Amazônia. Desde 1988 já são mais de 150 mil km2 de Floresta Amazônica devastada. Grande parte deste impacto é ocasionada pelo avanço do agronegócio. Como se vangloria Mauro Mendes, o estado “é o maior produtor de alimentos do país”. 

Apenas no primeiro mandato do governador bolsonarista, segundo o Inpe, são 5,6 mil km2 de cobertura amazônica derrubada. Os dados ainda não incluem o ano de 2022. Conforme Mauro Mendes, boa parte dos investimentos aplicados pelo estado na área ambiental – dispensando as “migalhas” do REDD – são para o programa de monitoramento em tempo real do desmatamento. 

“Eu diria que tudo que é possível fazer [para reduzir o desmatamento], nós estamos fazendo em Mato Grosso. Nós temos a melhor tecnologia no Brasil hoje para detecção de desmatamento. Nós temos um sistema automático de autuação, que pode ser desenvolvido pelas diversas forças de segurança, que interage, simultaneamente, em tempo real com o Ministério Público para abrir ações de responsabilização”, afirma o governador. 

Quanto à redução nas taxas de devastação, ele afirma que Mato Grosso tem conseguido desacelerar estes impactos, na comparação com as décadas passadas. “Se olhar em 20 anos, num período de 20 anos, nós reduzimos 85%. Se olhar este ano em relação ao ano anterior, nós reduzimos 47%.”

 

Leia esta reportagem completa em ((o)) eco 

quarta-feira, 23 de novembro de 2022

reconstruções políticas

Com o retorno do plano nacional de combate ao desmatamento, Pará deixará liderança do ranking, diz Barbalho


De acordo com governador, 70% do território paraense estão sob responsabilidade da União; com desmonte da política ambiental promovida pelo presidente Jair Bolsonaro, muitas áreas ficaram expostas ao crim


Helder Barbalho, governador do PA (Foto: Ascom Planalto)


A retomada das operações de combate aos crimes ambientais na Amazônia a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República, em conjunto com as ações já desenvolvidas pelos órgãos estaduais, fará com que o Pará, aos poucos, deixe de ocupar as primeiras posições de devastação do bioma. A avaliação é do governador reeleito, Helder Barbalho (MDB), que se mostra confiante com a nova política ambiental a ser adotada pelo Brasil a partir de 2023, após quatro anos de desmonte executado na gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022).


“A minha expectativa de que unir os esforços da agenda estadual com a agenda nacional permitirá com que a fotografia com que o cenário do estado do Pará seja um cenário novo, e de prosperidade ambiental em que nós possamos efetivamente conciliar as vocações existentes no Estado com sustentabilidade e, por outro lado, efetivamente fazer com que a floresta em pé seja um ativo”, disse Helder em entrevista ao ((o))eco, durante a COP-27, que aconteceu em novembro no Egito.

De acordo com Helder, apesar do governo estadual desenvolver operações de comando e controle nas áreas de posse do Estado, outros 70% do território, de responsabilidade da União, estão vulneráveis para a prática de crimes diante da omissão do governo federal.

Mesmo assumindo um papel de protagonismo nacional e internacional de “governador da Amazônia” – ante a saída proposital do governo Bolsonaro de todos os acordos de cooperação para a região – o Pará  permanece nas primeiras posições do ranking do desmatamento e das queimadas.

Segundo o mais recente boletim do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), em outubro o Pará respondeu, sozinho, por mais da metade (56%) dos 600 km2 de floresta derrubada no bioma. Uma das áreas mais ameaçadas pelo avanço do desmatamento no Pará é a Floresta Estadual do Paru, na região da Calha Norte do estado.

Conforme o Imazon, a unidade de conservação ocupou a quinta colocação entre as áreas protegidas da Amazônia mais desmatadas em outubro. O dado é preocupante por revelar a migração da devastação do bioma na porção mais norte do território paraense, considerado mais preservado – até o presente momento.

Mesmo com resultados tão negativos, Helder Barbalho afirma que o Pará tem apresentado redução nas taxas de desmatamento na comparação de um ano para outro, mas reconhece que o estado ainda ocupa o topo da destruição da floresta.

“É importante destacar a redução comparativa 2019-2020 e 21 com os níveis de 2022. Portanto, nós conseguimos assegurar desaceleração das taxas de desmatamento no Estado, e este é um importante vetor que precisa ser continuado sob a ótica de que nós estamos muito próximos de garantir já a reversão para assegurar com que o Estado não mais conviva com os índices de desmatamento que lamentavelmente, no seu histórico, traz”, analisa ele.

Ao contrário do que diz o governador reeleito, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento não desacelerou no Pará nos últimos anos. Em 2019, o estado teve uma área desmatada de 4.200 km2; em 2020, chegou-se a 4.900 km2. Ano passado, o estado devastou 5.200 km2 de cobertura florestal.


a íntegra desta reportagem está em ((o)) eco

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

justificativas nem tão justificáveis

 As pessoas estão em primeiro lugar, diz governador de RO sobre extinção de UCs


Segundo Marcos Rocha, muitas áreas protegidas foram criadas com moradores já com título de posse; UCs também são alvo preferencial da indústria da grilagem no estado 

 

 

Ao ter o seu primeiro mandato à frente do governo de Rondônia marcado por iniciativas que extinguiram unidades de conservação, o governador reeleito, coronel Marcos Rocha (União Brasil), diz que a medida é adotada para garantir “justiça e o direito” das pessoas que já ocupavam essas áreas, antes de serem transformadas em reservas.  Foi com essa justificativa que, dois dias antes da votação do segundo turno, ele assinou decreto pondo  fim à Estação Ecológica Soldado da Borracha, localizada entre os municípios de Porto Velho e Cujubim.


“A preservação do meio ambiente é importante, mas existem algumas situações bem complexas no estado de Rondônia. Por exemplo, pessoas que já tinham documento da área já há muitos anos, e depois quando se criou uma unidade de conservação em cima desses locais. E aí, ficou o que agora? Eles têm o direito ou não têm o direito?”, afirmou Marcos Rocha ao ((o))eco, durante a sua participação na Conferência do Clima da ONU, a COP-27, no Egito. 

Além da estação ecológica extinta às vésperas das eleições, Marcos Rocha também foi o autor do projeto de lei complementar (PLC 80/2020) cujo objetivo era a redução das áreas da Reserva Extrativista Jaci-Paraná e do Parque Estadual do Guajará-Mirim. Ambas as unidades são bastante pressionadas pelo crime de invasões de terra, a grilagem.  No caso da Resex Jaci-Paraná, praticamente todos os moradores tradicionais foram expulsos pelos grileiros.

A desafetação das duas UCs é vista como um incentivo e prêmio ao crime da grilagem. O PLC foi aprovado sem nenhum tipo de resistência pela Assembleia Legislativa, formada por uma maioria parlamentar ligada aos interesses do agronegócio. Após a aprovação e sanção de Rocha, o Ministério Público de Rondônia entrou com pedido de inconstitucionalidade da lei, sendo deferido pelo Tribunal de Justiça.

Sobre a região de Guajará-Mirim, Marcos Rocha criticou o fato de, de acordo com ele, mais de 90% do território do município serem formados por unidades de conservação (federais e estaduais), além de terras indígenas. A região forma um dos principais cinturões-verdes de Rondônia, tornando-a bastante cobiçada por madeireiros e grileiros.

Ao todo, as áreas protegidas (o que inclui as UCs federais e estaduais, além das terras indígenas) representam 42,41% do território rondoniense.

Questionado pela reportagem se tem intenções de revogar os demais decretos de criação de áreas protegidas, assinados no último ano de gestão do governo Confúcio Moura (MDB), em 2018, o atual governador  deixou a resposta entrelinhas. Todavia, ao afirmar que pretende priorizar as pessoas que estão dentro dessas áreas, pode-se entender que adotará a mesma lógica do fim da Estação Ecológica Soldado da Borracha.

“A gente, a gente tem que fazer o que é justo, certo. Para todos, inclusive as pessoas, é o que eu falei, como se fosse a nossa casa, a gente tem que pensar assim, a gente ia brigar e a mesma coisa as pessoas lá estão brigando, elas querem o direito da terra que já era delas. Então, é questão de justiça. Vou fazer tudo que for legal e tecnicamente correto para poder ajudar primeiro a população”, disse.

Perguntado se possui planos de criar outras unidades de conservação, para recompensar as extintas, o governador afirmou apenas que sua política será a de proteger as atuais áreas de floresta ainda não tomadas pelo agronegócio. Segundo ele, Rondônia tem preservado 60% de seu território.

O governador reeleito também afirmou não ter um plano de combate ao desmatamento para o segundo mandato. “A gente quer preservar os 60% que nós já temos. Manter os 60%, Então, para isso, a gente tem que ter tecnologia”, resumiu.  Conforme os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Rondônia é o terceiro estado com a maior taxa de incremento do desmatamento dentro da Amazônia Legal, atrás do Mato Grosso e Pará.

Desde 2008 já foram mais de 14,1 mil km2 de floresta derrubada. Entre 2019 e 2021 o estado apresentou aumento da área destruída: 4,5 mil km2 no período. O ano passado foi o pior desde 2008. 


reportagem publicada em ((o)) eco

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

com que roupa eu vou....

 Na COP 27, governador reeleito do Acre apresenta roupagem mais ambiental


Gladson Cameli, governador do AC Foto: Secom Acre)


Eleição de Lula com promessa de retomada da política ambiental justifica mudança de comportamento, depois de 4 anos com estado apresentando altas recordes de desmatamento e queimadas 


Após ter sido eleito para o governo do Acre, em 2018, com o discurso de desburocratizar a legislação e a política ambiental herdada dos 20 anos de governos petistas, Gladson Cameli (PP) se prepara para o seu segundo mandato falando mais em preservação da floresta e sustentabilidade. Pelo menos essas foram as suas falas para a comunidade internacional durante sua passagem pela conferência da ONU para o clima, a COP 27.


A eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República pode ser vista como o principal motivo para a guinada mais ambiental do governador acreano, assim como os demais gestores bolsonaristas da Amazônia Legal. Tanto no primeiro quanto no segundo turno das eleições de 2022, Gladson Cameli fez campanha para Jair Bolsonaro (PL). No Acre, o atual presidente obteve 70% dos votos válidos. 

Nesta quarta-feira (16), Gladson Cameli teve seu primeiro encontro com o presidente eleito, durante a leitura da Carta da Amazônia, redigida pelo Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, na COP 27.

“As pessoas que vivem na Amazônia precisam ter recursos para uma sobrevivência com qualidade de vida. E isso passa não só pela geração de empregos, mas também pela melhoria da nossa educação, da saúde pública, da segurança dos cidadãos e cidadãs, através de uma vigilância efetiva das nossas fronteiras”, discursou Cameli.

Nos últimos quatro anos, Cameli adotou a mesma cartilha de Jair Bolsonaro (PL) para a política de proteção ambiental: as mudanças das regras ambientais e a fragilização das ações de comando e controle para o combate aos crimes contra o meio ambiente. 

Como consequência, desde 2019 o Acre, estado que já foi pioneiro em termos de proteção aos 85% de cobertura florestal nativa, passou a registrar níveis recordes de desmatamento e queimadas.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), no primeiro ano do governador bolsonarista, o estado apresentou um incremento de 706,82 km2 no desmatamento. No acumulado entre 2019 e 2021, a área total desmatada é de 2.259,34 km2.     

O ano passado, por sinal, foi o pior na série histórica do INPE, cuja medição oficial começou em 1988. Ao longo dos 12 meses de 2021, o Acre derrubou 889 km2 do bioma amazônico. Mesmo com todos esses resultados desastrosos, Gladson Cameli sempre fez questão de participar de todas as conferências da ONU e outros encontros internacionais para o meio ambiente e mudanças climáticas.

“Eu posso te garantir que preservar isso não quer dizer que é o retrocesso da geração de emprego, pelo contrário é você se atualizar aos tempos atuais, e isso já temos provas no concreto que isso é viável e vou intensificar mesmo essa fiscalização”, afirmou Cameli, em entrevista ao ((o))eco na COP 27.

O governador chegou a culpar a situação da pandemia pela redução das fiscalizações ambientais no Acre. Segundo ele, com as medidas de isolamento social, agentes e policiais acabaram por reduzir as operações em campo. Agora, afirma ele, haverá uma política de retomada das ações de comando e controle para proteção da floresta.

“Eu vou manter os acordos [dos programas REDD), vou intensificar mais [as fiscalizações]. Nós temos um dos melhores programas de monitoramento do meio ambiente lá instalado já no Estado e inclusive ajuda até na questão da segurança também. Nós vamos focar nesses pontos para que a gente não venha aí final do ano que vem tá sofrendo aí esses esses aumentos”, disse ele. 

 

reportagem publica na íntegra em ((o)) eco



terça-feira, 8 de novembro de 2022

o mundo da floresta

 Amazônia é pauta retomada nas relações internacionais com novo presidente Lula


Primeiro compromisso do presidente eleito no exterior é a COP-27, onde nova política para o meio ambiente do país deve ser apresentada

 

 

 

Fotografia de Sérgio Vale (Secom/Acre)

 

A preservação da mais importante floresta tropical do mundo, a Amazônia, apresenta-se como o ponto mais importante para a reconstrução da política internacional do Brasil, bem como a imagem do país no exterior, após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência da República. Ao receber os cumprimentos de presidentes e primeiros-ministros, Lula ouviu sobre a necessidade de o Brasil reestruturar suas ações de proteção da Amazônia, assumindo, assim, o protagonismo global no combate às mudanças climáticas.


Um exemplo desta conversa aconteceu com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, com quem Lula conversou por telefone um dia após a votação do segundo turno. O gesto mostrou o peso e a responsabilidade de Lula para reposicionar o Brasil no debate climático global. 

As questões amazônica e ambiental foram tratadas nos telefonemas com os líderes da França, Emmanuel Macron, da Espanha, Pedro Sánchez, e da Alemanha, Olaf Scholz. A Amazônia também foi um dos temas discutidos por Lula com o vizinho Gustavo Petro, da Colômbia. A participação do presidente eleito na conferência do clima da ONU no Egito, a COP-27, como primeiro compromisso internacional é a prova da relevância do debate ambiental.

Ainda durante a campanha eleitoral, Lula já colocava a proteção da Amazônia como uma de suas prioridades para um eventual terceiro mandato. Entre as promessas estava a retomada das ações de combate ao desmatamento, ao garimpo ilegal e as invasões a terras indígenas. Todos estes problemas se agravaram nos últimos qutro anos.

Desde 2019, com a chegada de Jair Bolsonaro (PL) ao Palácio do Planalto, o Brasil passou a ser visto como um pária na comunidade internacional, justamente por conta da política anti-ambiental e anti-indígena adotadas por seu governo.

Como consequência, todos os biomas passaram a registrar aumentos recordes nas taxas de desmatamento, com a devastação da Amazônia sendo a que mais chama a atenção do mundo por sua importância na regulação do clima.

Com sua estratégia de deixar a “boiada passar”, o governo Bolsonaro acabou por deixar o Brasil isolado na política de relações internacionais. A visão anti-globalista e de escolher apenas países governados pela direita, adotada pelo Itamaraty, também contribuiu para agravar o isolamento.

Com o retorno de Lula ao Planalto, a perspectiva é de o país reconstruir a política internacional, tendo o compromisso de recuperar as políticas de preservação da Floresta Amazônica como um de seus principais trunfos. Em entrevista ao O Globo, o ex-chanceler dos dois primeiros governos Lula, Celso Amorim apontou a questão climática como um dos nortes da política externa a partir de 2023.

“Há uma clareza de que o clima é um tema central nas ações internas relativas ao desenvolvimento e na política internacional”, disse Amorim, cotado para voltar a assumir o Ministério das Relações Exteriores.

Ex-governador e ex-senador pelo Acre, o engenheiro florestal Jorge Viana (PT) avalia que, após a questão econômica, com prioridade no combate à fome e à pobreza, outra preocupação do presidente eleito é a agenda ambiental para lidar com as mudanças climáticas, estando a Amazônia na posição central.

“O país que tem a maior floresta tropical do planeta, e que pegou nos últimos anos o governo Bolsonaro na contramão da história, pode e precisa se recompor imediatamente diante do mundo, com um posicionamento político que o presidente Lula já tem assumido em fazer com que o Brasil volte a ser protagonista no enfrentamento das mudanças climáticas”, afirma Viana ao ((o)) eco.

Em 2012, Jorge Viana foi o relator do novo Código Florestal no Senado. “O Brasil vai ter que se reposicionar para dentro e para fora. No caso específico da Amazônia, eu acho que nessa agenda de enfrentar as mazelas sociais e enfrentar as mudanças climáticas, a Amazônia é a joia da coroa. Não dá para o Brasil querer cumprir suas metas de redução, e ajudar o mundo a reduzir as emissões [dos gases do efeito estufa] sem ter florestas no meio”, ressalta ele.

Para o petista, a Amazônia tem um grande potencial nos próximos anos ao assumir este protagonismo global. “Eu entendo que abre-se para a Amazônia uma oportunidade extraordinária. Nós podemos ter a implementação de programas de restauração florestal, de fim do desmatamento ilegal e melhor aproveitamento das áreas com grande ganho econômico para quem vive na Amazônia e para todo o Brasil”.

“Nós nunca tivemos a oportunidade tão grande de inserir a Amazônia na economia brasileira, com a força da biodiversidade, com o papel que a nossa região tem a cumprir na agenda do clima como agora”, analisa o ex-governador acreano.  


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uma vazante na política

Com política ambiental vaga, Wilson Lima é reeleito enquanto Amazonas sofre com seca


Reeleição acontece em meio a aumento das taxas de devastação num dos estados que ainda mantém grande parte do território preservado; comunidades são impactadas por eventos climáticos extremos 


Em meio ao aumento nas taxas de desmatamento e queimadas, além da intensificação dos processos de mudanças climáticas, com as enchentes e secas ocorrendo de forma mais severas, o Amazonas reelegeu o jornalista Wilson Lima (União Brasil) para o cargo de governador.  Em seu programa de governo para a campanha de 2022, Lima deixou de apresentar propostas claras de combate aos crimes ambientais. Em contrapartida, no campo para a economia, tem como uma das principais promessas a repavimentação da BR-319, cujos impactos  tendem a agravar ainda mais o cenário de devastação no estado. 

Wilson Lima obteve o segundo mandato com 56,65% dos votos válidos. Ele concorria com o senador e ex-governador Eduardo Braga (MDB), que ficou com 43,35% da votação. Lima era o candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL), enquanto Braga sustentava o palanque de Lula (PT). Por  lá, o petista saiu vitorioso. No Amazonas, o presidente eleito obteve 51% dos votos válidos, contra 48,90% de Bolsonaro.

Boa parte da campanha de segundo turno no Amazonas aconteceu com comunidades ribeirinhas e indígenas sendo impactadas pela seca extrema que atingiu a bacia do rio Solimões, sobretudo no Alto e Médio Solimões. Outros importantes afluentes e igarapés também foram impactados. Dos 62 municípios, 59 decretaram algum tipo de status de Defesa Civil, seja situação de emergência ou de atenção por conta da vazante dos mananciais. 

Municípios nas bacias do Amazonas, Negro, Juruá, Madeira e Purus também foram ou estão afetados pela seca. Ou seja, o fenômeno atinge todo o território do estado. No começo do ano, algumas destas regiões foram afetadas por outro problema: as enchentes.

Agora com o período de estiagem, comunidades inteiras ficaram isoladas, impossibilitadas de sair ou chegar por conta do nível crítico da vazante. O acesso à água para consumo e necessidades básicas ficou comprometido, o que levou a Defesa Civil a ter que agir para evitar  o colapso.  

A seca extrema acontece logo após o estado registrar grandes enchentes ao longo da última década. Rios como o Negro, o Amazonas, Juruá  e Madeira, além do próprio Solimoes, foram motivo de preocupaçção por conta do transbordamento. Em junho de 2021, o rio Negro, em Manaus, atingiu o maior volume de cheia  em quase 120 anos de medição: 29,98m. O nível superou o recorde anterior, de 2012, que foi de  29,97m.

Os eventos climáticos extremos têm se acentuado por quase todos os estados da Amazônia Legal. Eles passam a ocorrer com intensidade maior e num intervalo de tempo mais curto. Todos estes fenômenos afetam não apenas as comunidades rurais, como também as urbanas. Mesmo com todos estes cenários, as autoridades locais aparentam não tratar  o tema com a devida seriedade política.

A falta de propostas para as ações de Defesa Civil por parte do governador reeleito do Amazonas é um dos exemplos. Isso no estado de maior extensão territorial do país, cuja logística para respostas rápidas em auxílio às comunidades encontra barreiras exatamente nessa grande dimensão territorial, além das dificuldades de comunicação.

De acordo com o Relatório Anual do Desmatamento (RAD), do Mapbiomas, em 2021, a área de floresta derrubada no Amazonas foi de 194.498 hectares; alta de 50% em relação a 2020. O estado saiu da quarta para a segunda colocação do ranking do desmatamento no país, atrás somente do Pará.

Entre janeiro e setembro de 2022, conforme dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, o Imazon, o Amazonas registrou uma área desmatada de 2.399 km2. No mesmo período de 2021, foram 1.923 km2. Em 2022, o Amazonas ficou em terceiro lugar no registro de focos de queimadas entre os nove estados da Amazônia Legal. Até setembro, segundo o Inpe, foram 18.571 registros de focos de calor.     

Mesmo com o aumento expressivo das taxas de desmatamento nos últimos anos, o Amazonas tem grande parte de seu território conservado. Maior estado do Brasil em extensão territorial (com mais de 1,5 milhão de km2), o Amazonas mantém uma cobertura florestal de 91%.

E a reconstrução da BR-319, prevista no programa de governo de Wilson Lima, é apontada como grande ameaça para toda essa área de floresta, pois levaria o chamado “arco do desmatamento” para a porção mais norte da Amazônia. Hoje, o desmatamento se concentra na parte sul do Amazonas, nos municípios acessíveis pelo trecho pavimentado da BR-319 e a Transamazônica. 


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