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domingo, 17 de julho de 2022

Análise política na floresta

 Governador do Acre tenta reeleição com grupo político espatifado e envolvido em denúncias de corrupção 

 

 

Gladson Cameli, em convenção de lançamento de candidatura à reeleição (Foto:Assessoria)

Se 4 anos atrás o então senador e candidato ao governo do Acre Gladson de Lima Cameli, do partido Progressistas, nadava de braçada nas articulações políticas e na campanha eleitoral para o Palácio Rio Branco (elegendo-se já no primeiro turno), o mesmo não se pode dizer agora - mesmo ocupando a cadeira de governador.  Além de se revelar um péssimo gestor público à frente do Poder Executivo e um completo amador na construção do diálogo político, Cameli ainda se vê envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção reveladas pela Polícia Federal, em dezembro de 2021, com a deflagração da operação Ptolomeu.


Enfraquecido por todas essas circunstâncias, nem mesmo a caneta de governador repleta de tinta azul é capaz de amenizar os estragos políticos ocasionados por sua inabilidade política, o que atrapalha a tentativa desesperada de reeleição. Se perder a eleição, Gladson Cameli fica sem o foro privilegiado que assegura ser processado e investigado apenas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), onde tramita o processo da Ptolomeu.

A inabilidade para a construção de alianças político-partidárias é a principal característica do governador bolsonarista. Seu grupo político é marcado pelo fisiologismo do toma lá-dá-cá e uma completa balbúrdia. No governo há o mesmo desastre, com a falta de projetos ou políticas públicas claras, sem planejamento e metas a ser alcançadas; é tudo feito nas coxas, como se diz popularmente.

Ele, por sinal, ancora-se na imagem e no discurso do bolsonarismo para salvar a pele diante de um eleitorado tão reacionário e bolsonarista como é o acreano. Gladson Cameli, por exemplo, foi incapaz de manter a unidade da aliança partidária que o elegeu em 2018. Houve a dissidência de dois importantes partidos: o PSD e o MDB.

O PSD tem como dono no Acre o senador Sérgio Petecão, que será adversário de Cameli na corrida pelo Palácio Rio Branco. O MDB também pode vir com candidatura majoritária própria. Mas até o fim das convenções podemos esperar de tudo do deputado federal Flaviano Melo, proprietário do MDB em terras acreanas. Essa novela já vimos antes. As candidaturas majoritárias do MDB são como voo de galinha; são abatidas pelo próprio Flaviano.

Incapaz de controlar as rédeas de seu próprio partido - que lhe impõe uma candidatura inexpressiva e fadada à derrota ao Senado de Mailza Gomes - Gladson Cameli ficou refém do todo-poderoso senador bolsonarista Márcio Bittar, um dos operadores iniciais do chamado orçamento secreto. Desesperado com a crise familiar, Bittar tenta emplacar a esposa (ou ex-esposa?) em algum cargo de poder e prestígio. A primeira tentativa foi lançá-la ao Senado.

Mesmo apoiando-se na cartilha bolsonarista-evangélica para atrair o eleitorado acreano, ela não decolou nas pesquisas. A única opção restante foi alçar a parceira familiar como vice de um governador politicamente enfraquecido. Márcio Bittar foi o porto-seguro encontrado por Cameli para conter um pouco a Polícia Federal com sua operação Ptolomeu. Com bastante influência diante do clã Bolsonaro, Bittar colocou Cameli diante de Flávio Bolsonaro - apontado como o “controlador político” da PF.

Além disso, Márcio Bittar é festejado por essas bandas da Amazônia como o responsável por enviar bilhões de reais para o cofre do governo acreano. O problema é que ninguém vê a aplicação de tais recursos. A economia do estado está estagnada. O governo não executa nem uma grande obra capaz de manter alguma dinâmica na economia.  

Com essa dívida de gratidão, a Gladson Cameli não restou outra opção a não ser aceitar Márcia Espinosa Bittar como sua vice. Essa imposição feita goela abaixo desagradou muitos aliados, mas que também não reagiram para não perder seus confortáveis cargos comissionados na estrutura do Estado. Conforme relatos da imprensa, nem o próprio governador está satisfeito em ter Marcia Bittar como sua vice, mas não tem coragem de peitar o senador ante sua fragilidade política.  

Mesmo atolado em denúncias de corrupção e com uma gestão desastrosa à frente do governo, Gladson Cameli ainda aparece como favorito nas pesquisas eleitorais. É verdade que seu favoritismo já foi bem maior antes de todos esses escândalos. Nenhuma sondagem aponta ele eleito já no primeiro turno. Teria que ir para uma segunda rodada para se manter no Palácio Rio Branco.

Não se sabe ao certo qual impacto terá o nome de Márcia Bittar como vice. É certo que ela pode mais atrapalhar do que ajudar, mesmo sendo uma mulher e capaz de atrair o voto feminino. Todavia, ela integra um velho clã político local não visto com muita simpatia pela população local. Por aqui, a família Bittar é apontada apenas como interessada em usar politicamente o estado para se dar bem, preferindo aportar seus investimentos em regiões como Brasília ou Campo Grande (MS).

Isso piora ainda mais a situação de um governador acusado de implementar a chamada República de Manaus, transformando o Acre num paraíso das empresas do Amazonas que passaram a vender do cotonete ao alfinete para o governo Cameli. Certamente os incontáveis escândalos de corrupção que envolvem o governo serão bastante explorados pela oposição (esta última, por sinal, será tema de outro artigo).

E assim, politicamente enfraquecido e com sua aliança partidária de 2018 espatifada, Gladson Cameli tentará ficar mais uns três anos no governo. É certo que, se reeleito, abandonará o palácio em 2026 para concorrer ao Senado, pois não sabe ficar sem ocupar um cargo político. Assim, o Acre ficará nas mãos da família Bittar. 


Gladson ainda tem mais alguns dias antes do início oficial da campanha eleitoral para tentar mostrar alguma força e resistência. Não sabemos se terá coragem para se livrar de uma vice tão pesada quanto Márcia Bittar e colocar o Progressistas no lugar e lançar outro nome mais competitivo para o Senado.

A sorte está lançada….     

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