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quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Marina radical

A formação ideológica da candidata à Presidência da República Marina Silva (PSB) a partir de sua militância na organização PRC (Partido Revolucionário Comunista) se refletiu na atuação de seus primeiros mandatos eletivos conquistados no Acre, entre o final da década de 1980 e começo dos anos 1990. O “radicalismo” foi sua principal marca durante os mandatos –todos pelo PT - na Câmara Municipal de Rio Branco (1989-1990) e na Assembleia Legislativa (1991-1994).

Esta é a opinião de seus ex-colegas de plenário nas duas Casas ouvidos pela coluna. De devolução de recursos extras pagos aos vereadores, a pedidos de criação de CPIs e ao pedido de impeachment do governador do Acre à época, a atuação da ex-ministra é apontada como “muito radical” e “polêmica” por lideranças daqueles anos conturbados da história política acreana.

 “Nós fazíamos uma oposição acirrada, nosso objetivo era derrubar o governo, criar todas as condições para derrubar o governo. Não tinha diálogo, não tinha acordo”, lembra o então parceiro de Marina na bancada petista, Nilson Mourão, 62, agora secretário de Direitos Humanos de Tião Viana (PT).

O “radicalismo” da presidenciável quando deputada estadual foi interrompido por alguns meses quando precisou se ausentar do Estado para tratar a saúde fragilizada, herança dos tempos em que morou no Seringal Bagaço.

Foi durante o mandato de Marina que o Estado viu o governador Edmundo Pinto (PDS) ser assassinado em um hotel de São Paulo. Para a polícia paulista foi um latrocínio (roubo seguido de morte), enquanto até hoje para os acreanos mais antigos foi um crime político, por conta de denúncias de corrupção numa das principais obras de infraestrutura da cidade, o Parque da Maternidade.



Outro episódio da época foi o incêndio do prédio da Assembleia Legislativa, em 30 de abril de 1992. Também apontada como retaliação política pelo funcionamento da CPI do Parque da Maternidade, a tese é descartada pelo ex-presidente da Casa, José Bestene (PP). Ele, por sinal, foi eleito para assumir o parlamento com o apoio da minúscula bancada de esquerda (três deputados) liderada por Marina.

“Para obter o apoio do grupo da Marina precisei atender a uma série de exigências dela. A primeira era garantir a livre atuação da oposição, não permitindo que a máquina do governo sufocasse sua atuação por meio de indicações, requerimentos e outros instrumentos legais”, diz Bestene.

Foi nesta fase, após o assassinato de Pinto e a ascensão do vice Romildo Magalhães (PDS) que a oposição, conduzida por Marina, fez o pedido de impeachment do governador. “Foi um dos momentos mais tensos da Assembleia, o governador chegou a determinar a invasão do prédio pela PM, deputados entravam armados no plenário e nesse meio a Marina colocando lenha na fogueira”, recorda o ex-deputado.

“O pedido de impeachment foi rejeitado por o governo fazer valer sua força e cooptou alguns deputados que se manifestavam a favor da cassação.”

Na Câmara Municipal os principais embates de Marina ocorriam com a líder do prefeito Jorge Kalume, Nabirra Bestene, irmã de José Bestene. “Ela era muito radical, tinha a postura de ser contra tudo e contra todos, qualquer projeto que fosse à votação ela rejeitava. A única matéria que ela votou a favor foi a Lei Orgânica do Município a partir de um consenso”, destaca a ex-vereadora.

Contradições 
Apontado por Marina Silva como integrante da “ala sadia” do PMDB, o ex-deputado João Correia considera a candidata a presidente da República uma das parlamentares mais atuantes naquele período. Mas critica sua postura de “omissão” quando o governo do então aliado Jorge Viana (PT) fez aprovar, em 2002, o retorno do pagamento de pensão para ex-governador.  Neste ano Marina tentava a reeleição para o Senado.

“Uma das bandeiras do PT nacional era o fim da pensão para ex-governadores, e aqui no Acre a Marina comprou para si esta briga. Seus discursos eram ácidos quando tocava neste assunto. Estranhei o silêncio dela quando, no apagar das luzes do primeiro mandato do Jorge Viana, o PT aprovou a emenda que garantia o retorno desta regalia”, afirma Correia.        

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