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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Foi por pouco, Márcio



Quem acompanhou a apuração das eleições no Acre durante a noite de domingo (5) percebeu que o resultado das urnas era tão indefinido quanto foi ao longo de três meses de campanha. Até a prorrogação da etapa final, a reeleição de Tião Viana (PT) já era tida como certa. Mas, com o abrir dos 30% das urnas restantes, a maioria da capital, o cenário foi mudando. Como aquela bola que entra no gol tirando tinta da trave, assim a oposição conseguiu amenizar seu sofrimento e provocou o segundo turno –para desespero do Palácio Rio Branco.

As eleições, mais uma vez, mostraram que nenhum instituto acertou as projeções; nem mesmo o tal Delta, tão ovacionado pelos oposicionistas. A surpresa foi o desempenho de Tião Bocalom (DEM). Pelos quatro cantos dizia-se que sua vitória já era certa, ou que pelo menos seria ele, e não Márcio Bittar (PSDB), na nova disputa para o governo.

E aqui neste artigo o tema é, justamente, o tucano. Com Ibope e Vox Populi apontando vantagem de Bocalom, a sobrevivência de Bittar pode ser tida como uma “surpresa”. Mas do ponto de vista político nem tanto assim; o deputado tinha estrutura partidária maior do que o democrata, reunindo em torno de si 10 partidos e as principais lideranças da oposição, além de ampla vantagem no tempo de TV e rádio.

Portanto, sob este aspecto seria mais provável ele ir para o segundo turno. Márcio Bittar também tem muito mais vantagem do que Bocalom quando o assunto é confiança e segurança transmitidas ao eleitor –isso é possível medir no índice de rejeição de ambos. Carrega menos reprovação do eleitor e se mostrou o mais preparado, na oposição, para os debates com Tião Viana.

O tucano poderia ter um desempenho melhor nas urnas não fosse uma propaganda eleitoral de baixa qualidade. Seus quase 10 minutos de exposição, quatro a mais do que o PT, não foram bem aproveitados. O marketing tucano ficou atrelado aos velhos clichês da publicidade eleitoral, sem apresentar renovação. Os programas foram na maioria quadrados e o telespectador já tinha na ponta da língua o roteiro. Conduzidos por marqueteiros importados em cima da hora, mostravam desconhecimento sobre nossa realidade política.

A força de Bittar na TV não foi suficiente para tirá-lo do patamar dos 25% registrados nas pesquisas, o que desmotivava até seus aliados mais próximos. Mas o tucano teve a sorte de absorver parte do sentimento de mudança do acreano, e obteve uma votação até expressiva: 30,10%, ou 116.948 votos.

Márcio Bittar trabalhou duro para construir sua atual aliança. Foi para o embate, enfrentou desgastes (e muitos), porém sobreviveu. Em nenhum outro Estado foi construída uma aliança de oposição desta envergadura. Mas todo este esforço do tucano foi ameaçado por uma propaganda eleitoral que deixou muito a desejar, quase dando a vitória para Tião Viana no primeiro turno. 

Agora o segundo turno não é sorte. O candidato precisará rever seu plano de marketing para um melhor diálogo com o eleitor acreano, um bairrista que até o momento não se viu identificado com a sua campanha. Quem acompanha nossa política sabe que a cara do Acre é essencial para o sucesso nas urnas, e isso a Frente Popular faz muito bem, obrigado.

Como já virou lugar-comum na política, segundo turno é uma nova eleição. Cabe a Márcio Bittar corrigir os erros, correr atrás de Bocalom e seus eleitores e conquistar os insatisfeitos da base governista. Nunca antes na história deste Estado houve uma chance tão clara de o PT ter sua hegemonia ameaçada: e isso funciona como um imã na política partidária.

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