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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Voto divorciado


No jargão político costuma-se chamar de voto casado a opção do eleitor de escolher candidatos de diferentes cargos mas que estão no mesmo partido ou coligação. Por exemplo, o voto em Tião Viana e Dilma Rousseff neste domingo, por serem do PT, é um voto casado. Mas nem sempre o cidadão é adepto desta prática, optando por se simpatizar pela figura do candidato do que pelo partido (Se Tião Viana dependesse da imagem do PT, não estaria comemorando a reeleição agora).

Desde 2002 o acreano tem se mostrado um tucano de bico aprumado na disputa presidencial, mas escolhendo o PT para o governo estadual. Neste domingo o eleitor da floresta se mostrou um aecista de carteirinha. O Acre rendeu ao tucano Aécio Neves a terceira maior votação proporcional do país, perdendo para São Paulo (reduto do PSDB) e Santa Catarina.

O senador mineiro ficou com 63,68% dos votos válidos. Em números quantitativos, ele recebeu o apoio de 243.530 acreanos. Votação bem superior à do governador reeleito, Tião Viana. O petista ficou com 196.509 votos, ou 51,29%. Aécio Neves também obteve mais apoio do que o candidato ao Senado, Gladson Cameli (PP), com 218 mil votos.

A grande questão é: por que os acreanos não casaram o voto do PSDB, escolhendo os tucanos Márcio Bittar e Aécio Neves? Se o deputado federal tivesse obtido mais 5% dos votos dados a Aécio, hoje o governador seria ele.

Mas esta tendência do “voto divorciado” não é de hoje. Lula e Dilma sempre perderam no Acre, mas os candidatos de oposição com palanque presidencial tucano não surfaram no banzeiro para desbancar o PT.

Uma explicação lógica não há, pois se houvesse a política não seria uma ciência humana. A opção do eleitor talvez se justifique pela visão mais crítica e rejeição ao governo do PT em Brasília do que aqui. Casar o voto do 45 pode não ser vista como a melhor opção, com o eleitorado receoso de alguma mudança. Os tucanos locais talvez não transmitam a mesma confiabilidade do que as lideranças paulistas.

O eleitor pode aprovar o petismo local, mas rejeitar o nacional. Isso soa contraditório, pois não fosse o apoio de Brasília os petistas acreanos não se sustentariam tanto tempo no poder, administrando um Estado pobre e que depende em mais de 70% da ajuda federal para tocar investimentos de retornos eleitorais.

Portanto, se formos analisar o que passa pela cabeça do eleitor, precisaríamos de um confortável divã para meditarmos até as eleições de 2016. Uma conclusão é certa: voto casado não funciona. Ou seja, o discurso do “unidos somos mais” não cola no eleitor acreano. É cada um por si em busca de seus respectivos votos.

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