Páginas

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Extremos amazônicos

Na Amazônia, Estados mais impactados pelo agronegócio têm menores índices de extrema pobreza 

Balsa é carregada com soja, no rio Madeira, em Porto Velho (RO)
Motivo de perda de sono para ambientalistas que atuam na Amazônia, o agronegócio vem se apresentando nos últimos anos como um dos caminhos mais curtos para a redução da pobreza e suas consequências na região Norte. Pelo menos esta é a conclusão que se pode tirar a partir do “Atlas da extrema pobreza no Norte e Nordeste do Brasil”, referente a 2010, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

De acordo com os dados, Rondônia e Tocantins, Estados que tiveram boa parte de sua vegetação natural impactada por este setor da economia, apresentam os menores números de pessoas vivendo na pobreza e extrema pobreza. Na outra ponta, Amazonas, Acre, Amapá e Roraima, com extensas áreas de floresta mantida em pé em seus respectivos territórios, estão com os piores desempenhos.

Quando se analisa as condições de vida das populações rurais dos Estados amazônicos, Rondônia e Tocantins voltam a ter larga vantagem sobre seus vizinhos. Enquanto o Amazonas (com 90% de floresta preservada) tem 32% de sua população vivendo na pobreza, em Rondônia este índice cai pela metade: 16%.  Rondônia tem a oitava maior pecuária do país e figura entre os principais produtores de soja. Em Tocantins a pobreza chega a 22%.

O Amazonas é seguido por Acre (31%), Roraima (27%) e Amapá (25%). Mas atribuir somente aos negócios do campo benefícios na economia regional cai por terra ao se analisar o Pará, que apresenta os mesmos 32% do Amazonas de habitantes na pobreza. O Pará é um dos que mais sofrem impactos com o desmatamento para a ampliação de pastagens e áreas de cultivo de grãos.

Isso, contudo, não se apresenta o suficiente para o enfrentamento à miséria. A concentração de grandes porções de terra nas mãos de poucos grupos dominantes, a ausência do Estado na intermediação de conflitos e adoção de políticas para um equilíbrio na geração de riquezas são vistos como fatores para empurrar os paraenses para a pobreza.

Quando se analisa a população rural da Amazônia, o Pará tem 56% das pessoas que integram este grupo vivendo na pobreza, e outros 32% na extrema pobreza. Em Rondônia estes números são, respectivamente, de 36% e 14%. O Amazonas é o campeão de moradores do campo em situação de pobreza: 68%; logo abaixo seguem Roraima (62%) e Amapá (57%).

Como se pode observar a partir do atlas elaborado pela ONU, atribuir às atividades da pecuária e agricultura as únicas saídas para uma melhor qualidade de vida para os 25 milhões de habitantes da Amazônia é um risco. O Pará fica como exemplo de que, não basta somente desmatar a floresta em busca de alternativas, é preciso o envolvimento do poder público para se amenizar as distorções.

Rondônia e Tocantins aparentam ter feito o papel certo, apesar de ambos ainda terem muitos desafios a vencer. Além de fomentar as atuais atividades bem-sucedidas do ponto de vista econômico e social para as comunidades locais, exige-se a adoção de novas práticas que gerem melhores resultados. A floresta mantida em pé, com seus recursos explorados de forma sustentável, pode ser um grande ativo econômico nas próximas décadas.  

Por sinal, a atual conjuntura do Planeta exige uma Amazônia preservada e conservada...

Nenhum comentário:

Postar um comentário