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quarta-feira, 4 de novembro de 2015

El Sí de Evo

Foto: Agência Boliviana de Informação
Nunca antes na história nossos vizinhos bolivianos foram tanto às urnas como nesta quase uma década do mesmo presidente ocupar o cargo. Tal constatação aparenta ser contraditória para um país onde os opositores definem Evo Morales como “ditador”, “tirano” e “antidemocrático”.

Depois de garantir o terceiro mandato a Morales no ano passado, a Bolívia volta às urnas no início de 2016 para dizer se o líder esquerdista tem direito a concorrer a mais um mandato em 2019, e ficar no cargo até 2025.

Perdeu as contas? Ele está no cargo desde 2006; até aqui já são nove anos de governo. Com uma eventual re re reeleição em 2019, terá somado quase 20 anos de domínio político. Este também era o projeto do PT no Brasil, mas por se ver encharcado nas denúncias de corrupção e na crise econômica, o partido poderá se contentar somente com 16 anos – isso se a companheira Dilma não deixar o cargo antes (mesmo com a ameaça de intervenção militar da Bolívia no Brasil).

Ao contrário do Brasil, a Bolívia está muito bem, obrigado, no tocante à economia. O vizinho é o que mais cresce na América do Sul, com taxas superiores a 5% ao ano, enquanto nós estamos em recessão amarga. E isso favorece a permanência de Evo Morales na presidência.

Pesquisa do instituto Ipsos publicada no fim de outubro aponta que 48% dos bolivianos votarão no “Sim” no referendo sobre o direito ou não de Morales de disputar o quarto mandato. Os dados mostram uma nação dividida, algo que é característico desde que a Bolívia é Bolívia.

Enquanto o presidente goza de ampla vantagem entre os moradores da zona rural (leia: indígenas, onde ele iniciou sua militância política), nas cidades a situação é menos confortável. A diferença do “Sim” para o “Não” em, todo o país é de 10% - no campo esta diferença salta para 33%.

Se a nação mais pobre de nosso continente continuar a registrar bom desempenho na economia até a data prevista do referendo (21 de fevereiro de 2016), é muito certo que o “Sim” ganhe. Agora, saber se essa mesma economia permanecerá dinâmica e beneficiando os eleitores até a próxima eleição, é a dúvida, que alimenta outra dúvida: a capacidade de Morales em obter o quarto mandato.

Analistas preveem que este ciclo de crescimento da Bolívia já está se esgotando. Percebendo isso, Morales anda pelo mundo em busca de novos parceiros econômicos. Com seus grandes financiadores como Venezuela, Brasil e Argentina encrencados até o pescoço com seus problemas internos, a solução foi atravessar o Atlântico. Esta semana Evo Morales cumprirá uma série de agendas na Europa, começando com a poderosa Alemanha. Lá, foi recepcionado por Angela Merkel.

Mas, independentemente de prognósticos, Morales já entrou para a história como o presidente boliviano a permanecer por mais tempo no cargo. Numa nação onde se dormia numa noite com um presidente e acordava com outro, já é um grande feito. E isso aconteceu sem a necessidade do uso de armas ou golpes militares.

Mesmo assim, seus críticos questionam o modo centralizador e autoritário de governo, sufocando a oposição e colocando sob sua batuta os poderes Legislativo e Judiciário, que chancelam sem nenhum questionamento as decisões políticas do presidente.

E assim caminha a Bolívia...

 

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