Na terça-feira, quando índios
invadiram o plenário da Câmara, além da correria dos deputados e funcionários,
o que de mais interessante aconteceu foi o comentário do deputado Miro
Teixeira, do PDT do Rio: “ É a primeira vez que tem mais índio que cacique nesse
plenário”, ironizou o deputado. E foi uma manobra dos “caciques” governistas
que mais mobilizou a atenção dos políticos nesses últimos dias, que
demonstraram mais uma vez que quando é para tratar de assunto de interesse
próprio são ágeis e rápidos.
Só que desta vez houve eficiência
dos dois lados, e a fusão do PPS com o PMN superou todos os obstáculos
burocráticos e fez-se em tempo recorde. Por isso, a mais recente manobra
governista para limitar a atuação política de prováveis adversários da presidente
Dilma na corrida presidencial em 2014 não deve ter grande repercussão no
resultado final para o grid de largada, pois tanto a ex-senadora Marina Silva
quanto o governador de Pernambuco Eduardo Campos têm alternativas partidárias
além dos novos partidos que os apoiariam.
Campos tem o PSB, uma força
partidária mediana, mas com poder de atrair alianças. Já Marina tem a
alternativa de voltar a concorrer pelo Partido Verde enquanto organiza a sua
REDE. Além do mais, tendo sido aprovada a fusão do PPS com o PMN antes mesmo
que a votação na Câmara acontecesse, o novo partido estará apto a participar
das eleições presidenciais com todos os direitos dos partidos existentes, e
provavelmente apoiará Campos.
O que o tratoraço governista pode
provocar é uma rede de apoios a Marina que acabará provavelmente no Supremo
Tribunal Federal. O que mais se fala hoje no Congresso é sobre a necessidade de
defender as minorias da fúria majoritária, e é disso que se trata agora. O novo
partido Movimento Democrático, fruto da fusão do PPS com o PMN, poderá servir
de apoio a Marina para uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo,
numa tentativa de reverter a decisão do Congresso de retirar as condições
mínimas de uma nova legenda subsistir.
A base da ADIN serão justamente
os votos de vários ministros do Supremo ao julgar o pedido do PSD de ter tempo
de propaganda eleitoral e acesso ao Fundo Partidário depois de ter tido a
legenda oficializada pelo TSE. Vários deles fizeram a mesma afirmação em seus
votos: já que a nova legenda foi aceita, seria condená-la à morte por inanição
não permitir que concorra em igualdade de condições com os demais partidos,
proporcionalmente ao tamanho de sua bancada.
Esse argumento, o de que a
maioria tenta sufocar o direito de uma minoria, será a base argüição de
inconstitucionalidade. Mas mesmo que a ação não seja recebida pelo Supremo,
criou-se no meio político um movimento de solidariedade a Marina Silva, com o
apoio do PSB de Campos e do PSDB de Aécio Neves que pode semear uma unidade política
na oposição que não se viu nas últimas eleições.
O PSB já teve Ciro Gomes e
Garotinho como candidatos contra Lula, mas os dois voltaram à aliança com o PT
no segundo turno. O máximo que fizeram candidatos saídos da base do governo,
como Cristovam Buarque do PDT em 2006 e Marina Silva, do PV em 2010, foi
ficarem neutros no segundo turno, sem explicitar a dissidência.
Essa demonstração de arrogância
da maioria está permitindo que cresça na oposição um sentimento comum de que é
preciso união de forças para derrotar a base governista. Além disso, alguns
partidos que formalmente fazem parte da aliança que apóia a presidente Dilma
estão gostando muito do cerco que os prováveis adversários da reeleição estão
fazendo a eles, como Eduardo Campos, que sugere que pode vir a convidar um nome
do PDT para ser seu vice. Fala-se no senador Cristovam Buarque, pernambucano
como Campos, mas com atuação política em Brasília. Ou Aécio Neves, que flerta
tanto com o PP quanto com o PR da família Garotinho, em busca de um palanque
forte no Rio de Janeiro.
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