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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O parlamentarista Tião Viana

O café da manhã oferecido por Tião Viana aos deputados que assumem suas cadeiras na próxima semana pode ser considerado como um dos eventos políticos mais importantes da história recente do Acre. Nos anos recentes não me lembro de um ato como este. Estivemos sempre acostumados ao toma lá dá cá da base com o governo, e com as farpas contínuas da oposição. Colocar deputados do PSDB e do PMDB na mesma mesa do governador petista é um marco.

(Será que se Wherles Rocha (PSDB) ainda fosse deputado haveria este desjejum?)

E os aplausos vão para ambos os lados. Ao Palácio Rio Branco pela atitude cavalheira, e à oposição por baixar um pouco a guarda neste momento. (Aqui fica meu elogio mesmo com este jornalista ter sido descartado pela assessoria de Tião para acompanhar o evento).

O gesto de Tião Viana é herança direta de seus 12 anos de passagem pelo Senado. A casa da federação foi sua escola política. O mandato de senador foi o primeiro cargo público de Tião, enquanto o irmão assumia um Acre aos frangalhos deixado pela oposição. Sentar com os parlamentares mostra o respeito dele para com seu berço, o Legislativo. Lá aprendeu que a boa relação entre os poderes é um dos princípios do estado democrático de direito.

Mas, infelizmente, este respeito, na prática, deixa muito a desejar. O Parlamento acreano tornou-se uma subsecretaria do Palácio Rio Branco nos governos do PT –não que em governos passados a relação respeitasse ao pé da letra o princípio constitucional da independência dos poderes.

Muito mais do que esta cordialidade de comer tapioca e bolo de macaxeira na mesma mesa dos deputados, o governo, com toda sua força política, deveria acenar à Assembleia Legislativa de que vai ingerir menos em seus trabalhos nos próximos anos.

O governador tem mais de dois terços das cadeiras. A aprovação de projetos de seu interesse mais o boicote a matérias da oposição que lhe tragam desconforto não terão nenhuma dificuldade. A pequena oposição, fragilizada após o fechamento das urnas, precisa ser respeitada e suas livres funções garantidas pelo novo presidente da Mesa Diretora, que é a primeira entidade a colocar o Parlamento de joelhos diante  do governo.

A sociedade espera que a reunião de quarta marque um novo começo entre os dois poderes, com o mais legitimo na representação popular (a Assembleia) tendo sua soberania assegurada. Já que o lema deste segundo mandato de Tião é um “novo Acre”, que a promíscua relação de subserviência do Legislativo fique apenas nas páginas da História.

Caso isso de fato aconteça, Tião Viana entrará para estas mesmas páginas como um dos governadores mais democráticos do Acre, dividindo o posto com o também petista Binho Marques. Até aqui ele tem se comportado como um bom democrata, deixando um pouco de lado a práxis dos “anos de chumbo” dos dois mandatos de seu irmão, Jorge Viana, no Palácio Rio Branco.

Que o “Novo Acre” apresentado ao povo não seja somente mais uma ideia mirabolante da cabeça dos marqueteiros de Tião. Torçamos para que o que há de pior nas velhas e retrógradas relações políticas e oligárquicas  dos últimos 100 anos de nossa história sejam jogadas na lixeira, com um Acre verdadeiramente democrático e republicano construído daqui em diante –independente dos partidos no poder.  

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