A questão em si não se trata somente das chuvas, mas de um complexo de obras que parece ter influenciado, sim, o comportamento de um dos principais rios da região, o Madeira. Passado quase um ano desde aquela cheia histórica, as águas não tiveram vazão. Com a volta das chuvas, logo mais o imponente rio tende a deixar a rodovia debaixo d’água.
Entre a segurança meteorológica das autoridades e a desconfiança popular de que tudo vai se repetir como em 2014, um fato ficou desapercebido. Trata-se da escolha do ex-governador do Amazonas, Eduardo Braga, para um dos ministérios mais estratégicos do país: o de Minas e Energia.
Eduardo Braga é hoje a liderança mais representativa do Norte do país. Saiu como um dos governadores mais bem avaliados do Amazonas, e é um dos aliados de peso da presidente Dilma Rousseff. Não a toa ocupa a pasta pupilo da petista e foi seu líder no Senado no primeiro mandato.
Natural de Belém (PA), Braga tem um grande desafio pela frente: conduzir um dos setores mais importantes da nação: a geração de energia. Esta geração para alimentar a cambaleante indústria nacional. O Brasil precisa produzir eletricidade, é verdade, caso contrário teremos outro apagão como nos tempos tucanos.
Esta busca pela ampliação de seu parque energético levou o governo a investir pesado na construção de usinas hidrelétricas na Amazônia, aproveitando seus imponentes rios com boa quantidade de água 365 dias. Santo Antônio e Jirau são exemplos disso. Não preciso aqui lembrar a discussão ambiental em torno destas obras, que deu origem ao bom duelo entre Dilma e Marina Silva.
A pergunta que fica: a presença de um amazônida à frente do Ministério de Minas e Energias trará alguma diferença para os moradores da região? Os impactos destas obras já foram feitos (como diriam, não adiante chorar o leite derramado). Os custos são elevadíssimos, e o governo finge não ser culpado, preferindo passar o bastão para as chuvas nas terras de Evo Morales.
Teria Eduardo Braga, premiado como um dos governantes mais sustentáveis da Amazônia, a capacidade de levar o governo a adotar políticas sérias de mitigação dos efeitos destas usinas? Certamente Jirau, Santo Antônio e Belo Monte não são os únicos empreendimentos hidrelétricos na Amazônia. Teria ele a coragem de exigir de potenciais novos projetos mais rigor quanto à redução de seus impactos ambientais? Ou o extremo: proibir obras que ameassem a integridade da biodiversidade no entorno?
Aqui não se quer negar a necessidade de termos um sistema elétrico eficiente, nem negar a capacidade de nossos rios de suprir esta demanda.
Mas construir usinas de forma irresponsável como se deu o país não pode aceitar. Ao invés de trazer benefícios para os pobres moradores do Norte, elas tendem a mergulha-los ainda mais na miséria, assim como milhares de quilômetros quadrados de floresta ficaram submersos com as barragens.
Que um caboco à frente das Minas e Energia possa ter um olhar mais sensível para esta pauta tão delicada.
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