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quinta-feira, 11 de julho de 2013

As vítimas da PEC

Esta é a última semana de trabalhos na Assembleia Legislativa. Ufa, ainda bem! Agora só em agosto. Caso o Parlamento continuasse por mais algumas semanas era provável que não ficaria intacta nenhuma daquelas reluzentes vidraças do prédio na Arlindo Porto Leal.

Os deputados entram em suas merecidas férias de meio de ano no pior dos climas. A ousadia de assinar a PEC que propõe o fim do pagamento de aposentadoria a ex-governadores custou muito caro aos membros da base de sustentação de Tião Viana (PT).

Em público o Palácio Rio Branco não assume nenhum posicionamento quanto à questão. Mas nos bastidores trava-se uma guerra surda, mas que ganhou eco na tarde desta quarta-feira: Jonas Lima, do PT. Ele foi o escolhido para ser o bode expiatório do governo para a retaliação que prosseguirá de hoje em diante.

Mas por que Jonas Lima, deputado do partido do governador? Vamos começar do começo. Deputado em primeiro mandato, Jonas é primo do deputado federal Taumaturgo Lima e do secretário Mâncio Lima Cordeiro (Fazenda). Liderança evangélica, suas convicções sempre tiveram em conflito com as bandeiras liberalizantes do PT, como casamento gay e descriminalização do aborto.

Nada que isso transforme Jonas Lima num inimigo interno. As divergências com o petismo começaram, precisamente, na eleição de 2012. Tendo como base eleitoral o Vale do Juruá, e o município de Mâncio Lima, ele tinha como candidato a prefeito o também parente Isaac Lima, do PT.

Isaac tinha Jonas, que tinha Taumaturgo, mas que não tinha Tião Viana tampouco o PT. O Palácio Rio Branco estava dedicado à campanha do PMDB. Do PMDB? Sim. O prefeito Gleidson Rocha tinha como vice o PCdoB de Edvaldo Magalhães. Por isso o governo fez vista-grossa com a candidatura de Isaac Lima, que perdeu por uma diferença de 50 votos.

Desde então a relação entre Jonas, PT e governo não foi a mesma. Logo depois ele passou a perder espaços dentro do Executivo. Cargos que antes pertenciam ao deputado foram repassados a outros aliados do PT no Juruá, como o ex-prefeito de Rodrigues Alves, Francisco Deda (PP).

Desprestigiado dentro do grupo político, ele passou a perceber outras tentativas de enfraquecê-lo. Para exteriorizar toda esta insatisfação, ele decidiu assinar a PEC do Gilberto Diniz (PTdoB); desde então foi emitida sua sentença de morte política por parte do petismo.

Porém, como pano de fundo de todo este impasse, há outros interesses que envolvem o assessor especial do governo, Francisco Nepomuceno, o Carioca. (olha ele ai outra vez). A PEC foi apresentada por um deputado inimigo de Tião Viana, que é Gilberto Diniz. Qualquer aliado jamais poderia assiná-la. A proposta ganhou apoio popular e os deputados ficaram contra a parede.

Assinar a PEC e ficar bem com o eleitor, mas ser tratado como inimigo pelo governo? Diante desta situação, os deputados do PT decidiram consultar a Executiva Estadual para saber qual o posicionamento a ser adotado. Este aconselhamento foi pedido ao presidente petista Leonardo Brito e a Carioca.

Eles informaram que não poderiam repassar orientações sem a presença de Tião Viana, ausente do Acre em viagem a Brasília. O mesmo pedido foi feito pelos demais deputados da Frente Popular ao conselho político da aliança, mas foi dada a mesma desculpa.

Sem saber o que fazer, o líder do governo na Aleac, Astério Moreira (PEN), decidiu liberar a base; cada um ficasse à vontade para assinar ou não. Com a omissão da direção partidária e a pressão da opinião pública, os deputados foram para o tudo ou nada.

Moisés Diniz, presidente do PCdoB e ex-líder do governo, foi o primeiro a assinar e ser seguido por seus colegas da base; o estrago estava feito. A PEC ganhou corpo e pode ser votada em agosto.

Começou então a caça às bruxas. Quem foi o culpado? A resposta foi uma só: a falta de articulação política entre governo e Assembleia. Retirado desta função desde o início do governo Tião Viana, Carioca queria dar o recado de que toda esta balbúrdia ocorreu pela falta de seus carões e imposições com a base na Aleac –ou seja, sem sua presença ficou tudo uma casa da mãe Joana na Casa do Povo.

Agora Carioca irá surgir como o salvador da pátria e retomar a posição que reinou triunfalmente nos governos Jorge Viana e Binho Marques. Alguém tinha que pagar o preço. O escolhido foi Jonas Lima, cujas portas foram, literalmente, fechadas no governo.

Jonas Lima é persona non grata no Palácio Rio Branco. Em reunião realizada no final da tarde de terça no gabinete do governador com todos os deputados da base, Jonas foi convidado para uma conversa em particular. Além dele estavam os demais integrantes da base petista e o dirigente Leonardo Brito.

O partido passou a orientação: o companheiro deveria fazer um pedido de desculpa público por ter assinado a PEC do Gilberto e outras rusgas internas. O pedido deveria ser feito diante das câmeras e ter ao seu lado o presidente da Assembleia, Élson Santiago (PEN).

Somente com esta atitude o governador Tião Viana passaria a dialogar com ele e a base. Jonas não aceitou, e sua situação só se agravou. Por isso o governador fez apenas uma saudação aos parlamentares na reunião, sem perder muito tempo com eles. 

Além do fator Carioca, outro ingrediente levou os deputados a assinarem a PEC. A insatisfação com os secretários de Tião candidatos a deputado em 2014. Em situação de vantagem, os secretários contam com a máquina do Estado para usarem como bem entenderem no fortalecimento de suas candidaturas. Não são poucas as queixas dos parlamentares ao governo sobre eventuais abusos cometidos pelos secretários, o que tem sido ignorado.

Esta novela mexicana ainda renderá bons capítulos...

Vamos aguardar ansiosamente o seu desfecho!     

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