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terça-feira, 26 de junho de 2012

O meu, o seu, o nosso partido



“O Tião Viana é o dono do PT e eu sou o dono do PDT.”
Luiz Tchê (PDT-AC)
 

A frase do presidente do PDT acreano, José Luiz Tchê, outorgando a propriedade individual dos partidos resume bem a que ponto chegou a política brasileira. Tchê não comete nenhuma blasfêmia ou disparate. Ele apenas teve coragem de falar o que é real e pronto: os partidos têm, sim, seus donos, e não são os filiados.

A situação partidária no Brasil está em crise. São tantos para dar e vender –se é que o brasileiro tenha coragem de desembolsar um real para comprar algum. Os partidos são propriedades de seus líderes, de preferência quem tenha capital (financeiro e de votos) para sustentá-los. As decisões são tomadas de cima para baixo.

Aos filiados –eles ainda existem – cabe prestar continência e seguir o bonde andando. É difícil dizer que alguém busca um partido hoje por uma ideologia; por trás de uma ficha de filiação sempre há um interesse maior, na grande maioria das vezes com o objetivo de fortalecer seus donos do que a agremiação em si.

No Acre a filha da terra Antônia Lúcia tem pelo menos quatro partidos (PSC, PHS, PTC e PRTB), cuja importância para a democracia brasileira e do Acre são tão importantes quanto a eleição de Tancredo Neves em 1985, ou fim dos governos militares no Acre com a vitória de Nabor Júnior do MDB.

Esta é a política brasileira: manda quem pode, obedece quem tem juízo. Na “Veja” desta semana o cientista político Roberto Romano escreve um artigo mostrando a realidade do sistema partidário nacional. A análise dele se dá em cima da aliança esdrúxula do PT em São Paulo com o PP de Paulo Maluf. O demônio de ontem se transformou no anjo de hoje por tão somente um minuto e meio de tempo de TV.

A seguir os principais trechos do artigo:

“Nossos partidos abusam do eleitor ao mercadejar alianças. Longe de conceitos ou doutrinas, pechincham e barateiam adesões. Não existem diferenças entre eles porque, diriam os petistas juvenis, todos são "farinha do mesmo saco", Weber, Marx, Tocqueville, Bobbio e outros tentaram pensar a política. Hoje ela atinge o impensável.”

“Como o estado é o terreno da politica, com seu enfraquecimento, somem a causa e a razão de qualquer doutrina. Na crise, o primeiro signo letal é a perda de substância programática nos partidos. Partidos projetam formas de estado e sociedade. Eles oferecem aos eleitores um plano de ordem social e jurídica: liberal, socialista etc. “

“Vencendo as eleições, os dirigentes tentam aplicar o prometido. Se vence o socialismo, dele se espera a preeminência do coletivo sobre os indivíduos. Os vencidos seguem para a legítima oposição. Vitorioso o liberalismo, as políticas seguem outras vias. Na democracia, a derrota ou a vitória nunca expulsam os adversários da cena pública. A alternância do mando prolonga a vida do Leviatã. “

“Caso uma agremiação tenha um programa, mas, para atingir e manter indefinidamente o mando, se alie a setores que pregam o contrário do que ela promete ao eleitor, ocorre o estelionato eleitoral. O programa, depois de escolhido, não pertence mais aos eleitos, mas à maioria que o sufragou. Ao quebrarem a fé pública, os partidos chegam à infâmia e a sua política se limita ao camelódromo dos votos.”

“No comércio político, o poder se conquista com votos. Para adquiri-los e livrar-se das despesas de sua compra, o demagogo "usa o poder conquistado ou adquirido para obter benefícios ( ... ). O poder custa, mas rende. Se custa, deve render. O jogo é arriscado: às vezes, custa mais do que rende, se o candidato não é eleito; mas ele rende mais do que custa" (Norberto Bobbio, "A utopia de cabeça para baixo").”

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