“O
Tião Viana é o dono do PT e eu sou o dono do PDT.”
Luiz Tchê (PDT-AC)
A frase do presidente do PDT
acreano, José Luiz Tchê, outorgando a propriedade individual dos partidos
resume bem a que ponto chegou a política brasileira. Tchê não comete nenhuma blasfêmia
ou disparate. Ele apenas teve coragem de falar o que é real e pronto: os
partidos têm, sim, seus donos, e não são os filiados.
A situação partidária no Brasil
está em crise. São tantos para dar e vender –se é que o brasileiro tenha
coragem de desembolsar um real para comprar algum. Os partidos são propriedades
de seus líderes, de preferência quem tenha capital (financeiro e de votos) para
sustentá-los. As decisões são tomadas de cima para baixo.
Aos filiados –eles ainda existem –
cabe prestar continência e seguir o bonde andando. É difícil dizer que alguém
busca um partido hoje por uma ideologia; por trás de uma ficha de filiação sempre
há um interesse maior, na grande maioria das vezes com o objetivo de fortalecer
seus donos do que a agremiação em si.
No Acre a filha da terra Antônia
Lúcia tem pelo menos quatro partidos (PSC, PHS, PTC e PRTB), cuja importância
para a democracia brasileira e do Acre são tão importantes quanto a eleição de
Tancredo Neves em 1985, ou fim dos governos militares no Acre com a vitória de
Nabor Júnior do MDB.
Esta é a política brasileira: manda
quem pode, obedece quem tem juízo. Na “Veja” desta semana o cientista político
Roberto Romano escreve um artigo mostrando a realidade do sistema partidário nacional.
A análise dele se dá em cima da aliança esdrúxula do PT em São Paulo com o PP
de Paulo Maluf. O demônio de ontem se transformou no anjo de hoje por tão
somente um minuto e meio de tempo de TV.
A seguir os principais trechos do
artigo:
“Nossos partidos abusam do eleitor
ao mercadejar alianças. Longe de conceitos ou doutrinas, pechincham e barateiam
adesões. Não existem diferenças entre eles porque, diriam os petistas juvenis,
todos são "farinha do mesmo saco", Weber, Marx, Tocqueville, Bobbio e
outros tentaram pensar a política. Hoje ela atinge o impensável.”
“Como o estado é o terreno da
politica, com seu enfraquecimento, somem a causa e a razão de qualquer
doutrina. Na crise, o primeiro signo letal é a perda de substância programática
nos partidos. Partidos projetam formas de estado e sociedade. Eles oferecem aos
eleitores um plano de ordem social e jurídica: liberal, socialista etc. “
“Vencendo as eleições, os
dirigentes tentam aplicar o prometido. Se vence o socialismo, dele se espera a
preeminência do coletivo sobre os indivíduos. Os vencidos seguem para a
legítima oposição. Vitorioso o liberalismo, as políticas seguem outras vias. Na
democracia, a derrota ou a vitória nunca expulsam os adversários da cena
pública. A alternância do mando prolonga a vida do Leviatã. “
“Caso uma agremiação tenha um
programa, mas, para atingir e manter indefinidamente o mando, se alie a setores
que pregam o contrário do que ela promete ao eleitor, ocorre o estelionato eleitoral.
O programa, depois de escolhido, não pertence mais aos eleitos, mas à maioria
que o sufragou. Ao quebrarem a fé pública, os partidos chegam à infâmia e a sua
política se limita ao camelódromo dos votos.”
“No comércio político, o poder se
conquista com votos. Para adquiri-los e livrar-se das despesas de sua compra, o
demagogo "usa o poder conquistado ou adquirido para obter benefícios ( ...
). O poder custa, mas rende. Se custa, deve render. O jogo é arriscado: às
vezes, custa mais do que rende, se o candidato não é eleito; mas ele rende mais
do que custa" (Norberto Bobbio, "A utopia de cabeça para baixo").”
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