Páginas

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Obrigado, Moura


Em seu espaçoso e confortável escritório na sede da Recol Distribuidora, localizado na Via Chico Mendes, o empresário Roberto Moura tinha no canto da mesa de mármore uma mala preta recheada de cartelas de remédios.

Toda vez que sentia um mal-estar recorria ao recipiente em um busca de um comprimido; era uma farmácia completa; desde cápsulas para dor de cabeça, controle da pressão às suas vitaminas para suportar a correria do dia-a-dia.

Foi lá onde o encontrei pela primeira vez para conversar sobre minha permanência no site Agazeta.net após receber uma outra proposta de trabalho. Lá também ficou acordada minha continuidade à frente da coluna Quentinhas da Redação.

Nunca tive experiência nenhuma com colunismo, mas ele gostou do meu estilo e lá queria o meu trabalho. Seu Roberto, ou Moura, era assim como seus funcionários o tratavam. Preferia o chamar de Moura, mas tive muito pouco contato com ele.

Muitas pessoas na rua me abordavam e questionavam como a empresa ainda me segurava mesmo com o meu estilo de fazer jornalismo, um estilo que não agrada aos petistas no Palácio Rio Branco: o da crítica e do questionamento.

(em qualquer outro veículo de comunicação do Acre já estaria na rua da amargura)

Durantes estes dois anos e meio em que trabalhei na Agazetas.net, o empresário nunca ligou para dizer o que devia ou não deveria escrever na coluna. E olha que as pancadas em seus aliados tanto do governo quanto da oposição não eram poucas. Não raro os descontentes o acionavam por telefone, mas ele jamais transferiu esta pressão para mim.

Vez por outra eu recebia umas broncas dos superiores diretos dentro do portal. Era pedido mais cautela e reduzir o poder da artilharia. Foi por meio de Roberto Moura que aprendi na vida a importância de vez por outra nós ficarmos com os dois pés no freio –e que sempre há o momento certo de acionar o acelerador.

No jornalismo esta cautela é essencial. Minha pouca idade e imaturidade muitas das vezes não me faziam entender e aceitar estes morde e assopra da vida. Ainda era aquele jovem que “achava que ia mudar o mundo”, mas entendi que o sistema engole a tudo e a todos. -aos trancos e barrancos a gente acaba aprendendo.

Mesmo com tantas pressões Roberto Moura nunca cedeu ao pedido de “homens fortes” por minha demissão, e me manteve empregado em sua empresa. A ele sou muito grato por esta oportunidade e será uma lição e uma gratidão que vou levar pelo resto da vida –até quando Deus me conceder o direito de respirar.

O jornalismo acreano sentirá falta deste empresário, um homem de cara fechada mas de um coração generoso. Era por meio de sua emissora de televisão que o Acre ainda podia respirar um pouco de democracia, onde a oposição tinha certo espaço para expor suas críticas –a TV Gazeta foi a válvula de escape em meio à censura petista.

Não sei o que será daqui para a frente. Quanto a mim, continuarei a fazer meu trabalho jornalístico. Como Roberto Moura me ensinou de forma indireta, no momento certo irei para a trincheira, e no momento certo recuar.

Esta talvez seja a melhor estratégia na Arte da Guerra 

Nenhum comentário:

Postar um comentário