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segunda-feira, 2 de março de 2015

Apagão hidrelétrico

O Acre é de fato um Estado de paradoxos. Temos um clima regulado, com períodos de chuvas e estiagem bem definidos. Se agora contamos com a fartura de água vinda do céu, vamos ter que pagar uma fatura de energia mais cara por conta da seca nos principais reservatórios do país, cujo volume de água é insuficiente para gerar energia para toda a demanda nacional.

Esta “benção divina” não é um privilégio só do Acre, mas de toda a Amazônia. O vizinho Estado de Rondônia é uma potência hidrelétrica, Rondônia passou a ser uma das principais matrizes energéticas do Brasil por conta do rio Madeira.

Lá estão as usinas hidrelétricas de Jiraus e Santo Antônio. Motivo de polêmica, sua construção é apontada como o motivo para o comportamento agressivo do rio nos últimos anos. Em 2014 ele invadiu grandes áreas de terra e estradas. Agora as chuvas se intensificaram e o Madeira volta a invadir a BR=364, ameaçando um novo isolamento do Acre.

Cientistas a serviço do governo diziam que este fenômenos só se repetiria daqui 200 anos...Os fatos e as fotos estão aí para mostrar o contrário. Por enquanto as usinas do Madeira têm trazido muito mais transtornos do que benefícios aos moradores da região. À época do anúncio das usinas dizia-se que elas reduziriam o preço da energia -balela.

Exemplo disso é o mais recente aumento da tarifa de energia autorizado pela Aneel. O Acre, como integrante do Sistema Interligado Nacional (SIN), está comprando energia de usinas termelétricas, enquanto tem a poucos quilômetros de distância duas grandes usinas alimentadas por um Madeira transbordante.

Desde fevereiro tenho solicitado da Eletrobras no Acre a lista das usinas geradoras onde ela compra a energia distribuída aos acreanos. A empresa, contudo, se recusa a fornecer tal dado. Alega a demora dizendo que esta informação está centrada em Brasília. Mas o reajuste de 5,5% da tarifa dado aos seus consumidores mostra que a Eletrobras/AC está comprando eletricidade de termelétricas.

Enquanto nossa região tem uma enorme fartura de água, com os rios caudalosos, a empresa nos presenteia com a energia mais cara e poluente das termelétricas. Um paradoxo em tanto. A pergunta é: Por que a Eletrobras não compra energia das usinas do Madeira?

Falta de geração por lá não é. Segundo informa o consórcio operador de Santo Antônio, até o fim do ano passado, 12 turbinas com capacidade de atender mais de quatro milhões de pessoas estavam em operação. A quantidade é mais do que suficiente para a demanda acreana. Mas a Eletrobras prefere, não se sabe a razão, adquirir energia de termelétricas, e nós, consumidores, enquanto nos vemos submersos pelas chuvas do “inverno amazônico”, somos obrigados a arcar o custo desta geração.

Felizes são os Amazonenses que contam com grandes rios para sua produção energética, e estão livres da ineficiência da Eletrobras para o fornecimento e cobrança da energia.

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