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quarta-feira, 4 de março de 2015

O velho, mas não morto rio Acre

Os anos de 2014 e 2015 já entraram para a história do Acre como aqueles em que a natureza mostrou as suas maiores fúrias contra a população. Ano passado foi o isolamento ocasionado por uma BR-364 transformada em mar por um rio Madeira em fúria. Agora, o nosso velho e mal tratado rio Acre também mostra as suas garras. Esta caminha para ser a maior cheia vivida pela capital acreana e os municípios às margens do manancial.

Ainda é a histórica até o próximo “inverno amazônico”. Uma cheia com proporções semelhantes aconteceu em 2012, portanto há menos de três anos. Especialistas no assunto costumam dizer que o intervalo de tempo entre estas catástrofes é bem mais expressivo. Por exemplo, foram necessários 15 anos para uma enchente das proporções de 1997 se repetir.

Mas de 2012 para cá foi um pulo. A cidade de Brasileia nem ainda tinha se recuperado do drama de três anos atrás e se vê novamente como se tivesse sido bombardeada numa guerra de proporções épicas. Este comportamento do tempo e do rio pode nos ser um alerta de que cheias desta magnitude tendem a ser mais frequentes e com mais intensidade.

Ou seja, precisaremos estar mais preparados para encararmos um rio Acre a cada ano mais agressivo. Quem o vê quase morto nos períodos da estiagem jamais imaginaria que ele se transformaria neste monstro de agora. Este é um duro recado da natureza passado ao homem.

O rio Acre vem sendo descuidado ao longo das últimas décadas. Sua mata ciliar há muito já foi perdida. Onde havia árvores só ficaram fazendas e mais fazendas. O Código Florestal brasileiro foi rasgado no Acre, e durante o chamado governo da floresta nada foi feito para minimizar os danos. Não houve nenhuma política séria de recuperação da mata nativa. Não que isso impedisse a atual enchente, mas amenizaria os seus efeitos –assim como na seca.

Não bastasse isso, toneladas de esgoto sem nenhum tipo de tratamento são despejadas em seu leito diariamente. As mudanças climáticas já são uma realidade de nosso cotidiano, e não somente previsões científicas para daqui cinco décadas.

Os governos precisam imediatamente investir em políticas de mitigação de seus efeitos. Tirar famílias de áreas de risco e pensar até na mudança dos perímetros urbanos de algumas cidades.  Se isso não acontecer poderemos ter verdadeiras tragédias com perdas de vidas.

Esta grande cheia é um claro sinal de que o pior ainda pode vir acontecer. Não temos o poder de controlar a natureza, mas sim de nos anteciparmos (pois ela é generosa de emitir recados) para reduzirmos os impactos. Além do mais, cada um de nós precisamos melhorar nossa consciência ambiental, olhando com mais carinho para o nosso velho, mas não morto rio Acre.

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