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terça-feira, 24 de setembro de 2013

O rio e a cidade

Cercada pela floresta, Jordão enfrenta dificuldades e tem IDH “muito baixo” 

A forte névoa nem tinha se dissipado por completo nas águas do rio Jordão quando a pequena embarcação do comandante Francisco ancorava na praia. Após oito dias de viagem ele chegava a Jordão, município acreano banhado pelo rio que lhe garante a sobrevivência 365 dias. No batelão, umas dezenas de caixa com óleo de soja eram retiradas e colocadas na carroceria da caminhonete. 

Assim é a rotina às margens do rio, que tem como vizinho a avenida Francisco Dias. Jordão está localizada no meio da Floresta Amazônica, como que perdida no meio do nada. Se não for pela água, o meio fácil para aqui chegar é nos pequenos aviões que encurtam a distância com os centros urbanos mais próximos.

As caixas de óleo, por exemplo, saíram de Tarauacá, cidade com ligação rodoviária com a capital Rio Branco por meio da BR-364. Junto com a embarcação vinha outra com barris carregados de gasolina e diesel. Nesta época viajar em equipe é estratégico para se evitar de ficar encalhado em algum banco de areia. 

O nível do rio está baixo, a navegação fica mais arriscada e estar sozinho não é a melhor das opções. O barco com combustível era aguardado com ansiedade, pois a cidade estava desabastecida. Na praia o funcionário público João Alberto aguardava para encher o galão. Aqui o litro da gasolina sai por R$ 6. 

Estas são as dificuldades mais simples enfrentadas por Jordão. Não à toa o município figura entre os 20 piores no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU. Jordão tem IDH 0,469, o que a coloca no nível “muito baixo”. Os dados foram feitos a partir do Censo 2010 do IBGE. 

Em 2000, o IDH estava em 0,222. Em uma década, a educação foi o segmento analisado que mais evoluiu,
Homens compram gasolina em embarcação
saindo de 0,052 para 0,283 –mesmo assim ainda muito abaixo dos padrões nacionais. Hoje 51% das crianças entre 5 e 6 anos estão na escola, mas apenas 13% dos jovens entre 15 e 17 anos têm o ensino fundamental completo. 

Em 2010, só 12% da população com 18 anos ou mais tinha concluído o ensino médio. A boa notícia é que a taxa de analfabetismo foi reduzida em 48% nos últimos 20 anos. Enquanto o Acre tem uma expectativa de 8,69 anos de estudo para as crianças que começam a vida escolar, em Jordão ela é de 5,73 anos. 

A extrema pobreza foi reduzida em Jordão nas últimas duas décadas; caiu de 71% em 1991 para 49% em 2010. A renda per capita é R$ 178,03; os pobres representam 69% da população economicamente ativa. Quase 90% dos jordãoenses vivem com até dois salários mínimos. 

Nesta cidade amazônica 81% de seus moradores estão vulneráveis à pobreza, enquanto outros 67% estão sem o ensino fundamental completo e em ocupação informal. Outro dado alarmante: 64% dos domicílios não contam com rede de água e coleta de esgoto adequados. 

Os desafios que Jordão precisa encarar são tão gigantes quanto a Floresta Amazônica que a cerca e a deixa isolada. Ao se olhar ao redor as expectativas são as menores possíveis. Aqui é preciso políticas públicas que respeitem as suas particularidades. Em Jordão somente uma atuação eficiente do Estado será capaz de garantir dignidade aos seus habitantes para, quem sabe, na próxima década os indicadores evoluírem. 

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