Sempre lembrado pelos que não se conformam com os desdobramentos do escândalo petista, o chamado "mensalão tucano", ou "mensalão mineiro", teve o primeiro réu condenado nesta semana.
Trata-se de Nélio Brant de Magalhães, ex-diretor do Banco
Rural, sentenciado pela Justiça Federal de Minas Gerais a nove anos e nove
meses de prisão --cabe recurso contra a decisão.
Magalhães foi acusado de participar de um esquema do
publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza com vistas a desviar recursos
públicos para o financiamento, em 1998, da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB),
então governador de Minas, à reeleição.
O caso, como se vê, é anterior ao próprio mensalão, ocorrido
a partir de 2003. Acredita-se que Marcos Valério e outros personagens hoje
bastante conhecidos, como seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz,
ensaiassem com o PSDB de Minas o complexo mecanismo que viria a funcionar a
favor do PT no plano federal.
Como sócio dos três estava o hoje senador peemedebista
Clésio Andrade, então candidato a vice-governador na chapa tucana. Walfrido dos
Mares Guia --à época vice de Azeredo e candidato a deputado federal pelo PTB,
depois ministro de Lula-- é apontado pelo Ministério Público como um dos
organizadores da campanha do PSDB.
Segundo a denúncia, duas empresas públicas de Minas, a
Copasa e a Comig (ligadas respectivamente às áreas de saneamento e mineração),
canalizaram R$ 3 milhões para Marcos Valério, pelo pagamento de um evento esportivo;
mais recursos vieram do banco oficial de Minas, o Bemge.
Num roteiro familiar aos que acompanharam o processo do
mensalão, os contratos de Marcos Valério com as estatais mineiras serviram de
garantia para empréstimos do Banco Rural. Daí, os recursos terminariam
engordando o caixa da campanha tucana.
Eis o que sustentava, em 2007, a peça acusatória do então
procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
Saltam aos olhos as semelhanças com o esquema de desvios
desenvolvido no governo Lula --o que fragiliza as próprias alegações petistas
de inocência quanto ao tema.
Reclama-se, ao mesmo tempo, de que houve pesos e medidas
diferentes para o valerioduto petista e o tucano. Tendo ocorrido antes, este
conhece ainda mais delongas para ser julgado.
Ao contrário do que se deu no mensalão, a ação mineira foi
desmembrada, cabendo ao Supremo Tribunal Federal examinar apenas as acusações
contra o núcleo político do esquema.
Sendo inúmeras as possibilidades de recursos em todas as
instâncias, é ainda mais necessário acelerar o processo.
Constatação deplorável, os escândalos políticos, no Brasil,
não são monopólio de nenhum partido; tampouco os benefícios da morosidade da
Justiça, e a impressão de impunidade que daí decorre, surgem como exclusividade
de petistas ou tucanos.
*Editorial da Folha deste sábado
Nenhum comentário:
Postar um comentário