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sábado, 28 de setembro de 2013

Mensalão tucano*


Sempre lembrado pelos que não se conformam com os desdobramentos do escândalo petista, o chamado "mensalão tucano", ou "mensalão mineiro", teve o primeiro réu condenado nesta semana.

Trata-se de Nélio Brant de Magalhães, ex-diretor do Banco Rural, sentenciado pela Justiça Federal de Minas Gerais a nove anos e nove meses de prisão --cabe recurso contra a decisão.

Magalhães foi acusado de participar de um esquema do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza com vistas a desviar recursos públicos para o financiamento, em 1998, da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB), então governador de Minas, à reeleição.

O caso, como se vê, é anterior ao próprio mensalão, ocorrido a partir de 2003. Acredita-se que Marcos Valério e outros personagens hoje bastante conhecidos, como seus sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, ensaiassem com o PSDB de Minas o complexo mecanismo que viria a funcionar a favor do PT no plano federal.

Como sócio dos três estava o hoje senador peemedebista Clésio Andrade, então candidato a vice-governador na chapa tucana. Walfrido dos Mares Guia --à época vice de Azeredo e candidato a deputado federal pelo PTB, depois ministro de Lula-- é apontado pelo Ministério Público como um dos organizadores da campanha do PSDB.

Segundo a denúncia, duas empresas públicas de Minas, a Copasa e a Comig (ligadas respectivamente às áreas de saneamento e mineração), canalizaram R$ 3 milhões para Marcos Valério, pelo pagamento de um evento esportivo; mais recursos vieram do banco oficial de Minas, o Bemge.

Num roteiro familiar aos que acompanharam o processo do mensalão, os contratos de Marcos Valério com as estatais mineiras serviram de garantia para empréstimos do Banco Rural. Daí, os recursos terminariam engordando o caixa da campanha tucana.

Eis o que sustentava, em 2007, a peça acusatória do então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.

Saltam aos olhos as semelhanças com o esquema de desvios desenvolvido no governo Lula --o que fragiliza as próprias alegações petistas de inocência quanto ao tema.

Reclama-se, ao mesmo tempo, de que houve pesos e medidas diferentes para o valerioduto petista e o tucano. Tendo ocorrido antes, este conhece ainda mais delongas para ser julgado.

Ao contrário do que se deu no mensalão, a ação mineira foi desmembrada, cabendo ao Supremo Tribunal Federal examinar apenas as acusações contra o núcleo político do esquema.
Sendo inúmeras as possibilidades de recursos em todas as instâncias, é ainda mais necessário acelerar o processo.

Constatação deplorável, os escândalos políticos, no Brasil, não são monopólio de nenhum partido; tampouco os benefícios da morosidade da Justiça, e a impressão de impunidade que daí decorre, surgem como exclusividade de petistas ou tucanos.

*Editorial da Folha deste sábado 

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