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quarta-feira, 24 de junho de 2015

Rios do tráfico

A Operação Iaco, realizada pela Polícia Federal na semana passada, revelou aquilo que nós, moradores da Amazônia, já sabíamos há tempos: nossos rios, além de serem as nossas estradas da integração, passaram a ser usados pelos traficantes como rotas do tráfico. E o pior é saber que a estrutura policial para combater este tipo de crime é praticamente nula.

A própria Polícia Federal responsável pelo policiamento de fronteira pena para realizar seus serviços. Além de ter a atuação de seus carros limitada para conter gastos, a instituição não conta com um grupamento fluvial para realizar ações contínuas de combate aos “traficantes d’água”.

A assessoria diz que a PF conta com embarcações em sua estrutura, mas que por falta de condições não realiza um trabalho mais ostensivo nos rios. Na estrutura do Estado a situação é pior. Lembro-me de que no governo Binho Marques chegou-se a criar um pelotão fluvial da Polícia Militar. Muito festim foi solto para a entrega de “voadeiras” para os batalhões de Epitaciolândia e Brasiléia, na fronteira com Bolívia e Peru.

Mas os nossos rios continuam sendo um excelente corredor de passagem para os criminosos –não só de drogas, como de armas, contrabando de produtos. Nossa posição estratégica não permite ao poder público agir com tal omissão. Temos como vizinhos os dois maiores produtores de drogas do mundo. A nossa fronteira está escancarada para quem quiser passar.

O Brasil não tem uma política séria de proteção das fronteiras, faz vista grossa e ainda passa a mão na cabeça dos governos amigos que contribuem para fomentar o tráfico no continente. O reflexo disso é a violência urbana que a cada dia assola comunidades no País todo. Nossos presídios no Acre estão abarrotados de jovens cooptados pelo tráfico. Em um Estado pobre e de raríssimas oportunidades de emprego, a juventude se torna alvo fácil para o tráfico, com sua promessa de lucro alto e rápido.

Esta é a hora da “bancada da fronteira” reforçar projetos de mudança na Constituição para tirar o Exército dos quartéis e coloca-lo como polícia de fronteira. Está provado que a estrutura da Polícia Federal é deficitária. Não que a presença militar nestas áreas acabe com o crime, mas é um bom reforço –sobretudo no patrulhamento dos rios.

Se assim nossas autoridades não procederem, vamos continuar assistindo aos nossos meninos e meninas com os futuros destruídos pelo tráfico, e nós, jornalistas, noticiando as próximas operações Iaco, Juruá, Envira, Purus, Môa...

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