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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Divisão de cadeiras

Muito mais do que chorar as mágoas da derrota na eleição passada, a oposição acreana tem como dever, a partir de 2015, pensar com que roupa virá para 2018. Não se trata apenas de parafrasear Noel Rosa, mas de fato traçar uma nova roupagem para as próximas eleições gerais. Até o momento o receituário não tem agradado ao eleitor, ansioso por mudanças, mas preferindo deixar tudo como está aí.

Neste embate estará a briga pelo Senado, que num Estado pequeno como o Acre ganha proporções épicas. Um dos pontos de interrogação é saber se a chamada oposição dupla-face (entenda abaixo o que é) tirará do PT a hegemonia das cadeiras, derrotando uma de suas principais estrelas: o senador Jorge Viana (PT).

Serão duas vagas em questão. É certo que o petismo continue com uma cadeira. Neste embate só há uma certeza: nem governo tampouco oposição leva as duas para si; será bem partilhado pelo eleitor, como tem sido historicamente.

A dúvida fica em torno de como a oposição entrará em campo. Assim como o governo pode ter uma disputa interessante, com os irmãos Viana brigando pelos mesmos votos e para os mesmos cargos, os oposicionistas podem ficar num beco sem saída.

Hoje o candidato natural é Sérgio Petecão (PSD). O senador, mesmo com um mandato aquém do esperado e sempre à sombra de Renan Calheiros (PMDB-AL), vê sua imagem desgastada. Desde 2012 só se meteu em trapalhadas eleitorais. A ele foi atribuída a derrota dos opositores à prefeitura de Rio Branco, depois de dividir o palanque.

O mesmo agora em 2014, após patrocinar Tião Bocalom para sair do PSDB e ir para o DEM, levando à outra divisão de candidaturas. Mas não se pode negar a militância do senador na campanha de Márcio Bittar (PSDB) no segundo turno, após ver a candidatura de sua esposa para a Câmara naufragar.

E é justamente o tucano Bittar que desponta como o grande favorito da oposição para o Senado em 2018. Mesmo com a derrota para o governo ele se configura numa das lideranças políticas do Estado. Ainda tem a vantagem de ter um partido autêntico de oposição no Acre e em Brasília, diferente do PP de Gladson Cameli e o PSD de Petecão, que em Brasília curvam-se aos interesses de Dilma Rousseff.

(Esta é a chamada oposição dupla-face)

Mas Bittar ainda pode ser um bom quadro para o Palácio Rio Branco. Precisa aproveitar os próximos quatro anos para passar mais tempo pelo Acre e se aprofundar melhor nos nossos problemas e apontar as soluções. Somente sua experiência de passar dias atolado numa BR-364 em Sena Madureira não o gabarita como conhecedor profundo de nossa realidade.

Ele é um bom político. Tem experiência e boa formação intelectual. Boas armas para um político de cargos majoritários. Seus aliados tucanos dizem que a vitória para o Senado é quase certa.

Só resta  saber como ele vai operar dentro da oposição para tirar a força de um concorrente já assentado na cadeira, além de enfrentar o peso de um vianismo, mesmo que há tempos este esteja se arrastando para se assegurar no poder. O amanhã nos dirá como esta equação será resolvida. Antes de 2018 o calendário exige passarmos por 2016.

Prestação de contas 
Até o momento o eleitor de oposição do Acre não viu como seus senadores eleitos por este campo se posicionaram com relação à CPI da Petrobras no Senado. Até ontem já havia 23 assinaturas de apoio. Gladson Cameli (PP) e Sérgio Petecão (PSD) devem satisfação. Será que o custo de ocupar cargos na Mesa Diretora foi jogar no lixo a confiança do eleitorado acreano?

JV paz e amor 
Este parece ser o novo estilo de Jorge Viana. O combativo senador petista vem deixando de lado seu já tradicional estilo aguerrido, optando pelo apaziguamento. Aparenta querer pegar onda no “Camelismo”, de agradar a gregos e troianos, com bonitas frases de efeito redigidas pelo marketing, e conquistar eleitores. Em seu caso é mais reconquistar ante o desgaste de 20 anos de domínio.

Reconhecimento 
Nada mais justo do que o ex-prefeito Raimundo Angelim (PT) ser escolhido para liderar a bancada federal. Sua boa votação fez a diferença. Mas, muito mais do que isso, foi seu expertise sobre o caminho das pedras nos ministérios em Brasília para conquistar recursos que pesou. Como prefeito de Rio Branco ele soube como ninguém carregar o pires em busca de dinheiro para a capital.

Força mantida 
Tirada da secretaria de Saúde, Suely Melo continua com bastante força diante de Tião Viana. Ele atua como sua assessora especial, e qualquer assunto mais delicado é designada diretamente por ele para resolver. Na mais recente cheia do rio Tarauacá esteve diretamente envolvida nas ações de ajuda do Estado à prefeitura de Rodrigo Damasceno.

Cartilha tucana 
Que Wherles Rocha (PSDB-AC) será uma das principais vozes da oposição na Câmara dos Deputados isso não há dúvidas. Seu retrospecto de enfrentamento ao petismo lhe oferece a credencial. Mas lá é diferente daqui. Numa bancada de 54 deputados tucanos, ele terá de suar muito a camisa para virar uma referência nacional. Precisará de muita calma, ou pode gastar munição desnecessária e sair abatido deste tiroteio.

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