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segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

A lenda da Amazônia

A crise hídrica no Sudeste brasileiro que pode causar o colapso no abastecimento de água nas nossas “selvas de pedra” tem provocado um importante debate: a Floresta Amazônica existe e sua preservação não traz consequências só para quem mora nos remotos Estados do Norte. Vez por outra quando o assunto ambientalismo vira atração na São Paulo Fashion Week, a Amazônia é lembrada na chamada grande imprensa.

Agora, a qualquer divulgação de dados sobre o desmatamento da floresta, a Amazônia ganha as capas dos “jornalões”, recebe artigos com análises de especialistas e ganha infográficos no “Jornal Nacional” e “Fantástico”. Aos poucos os brasileiros que nunca se preocuparam em saber a localização da Amazônia procuram saber mais um pouco sobre ela toda vez que vão abrir o chuveiro para tomar banho, e nada cai dele.

Contudo, muito mais do que só a questão do “salvem a Amazônia” e nossos peixes-boi, é preciso lembrarmos que temos 25 milhões de brasileiros vivendo nesta região. E desde que o Brasil é Brasil continuamos com nossos problemas históricos. As velhas oligarquias –de direita e de esquerda – continuam a mergulhar nosso habitantes na miséria, criando grandes latifúndios, e os conflitos de terras com suas vitimas tradicionais.

Na semana passada assistimos à chacina de uma família inteira no Pará, em mais um exemplo da omissão do Estado brasileiro numa reforma agrária séria para o Norte. São criados os projetos de assentamentos com as famílias literalmente despejadas neles. Manter a floresta em pé com sua consequente contribuição para o equilíbrio do clima no planeta passa necessariamente em garantir dignidade aos seus moradores.

A ocupação irregular de terras e o descontrole do Estado continuará a provocar índices recordes de desmatamento que tira o sono de qualquer brasileiro que compreende a importância da Amazônia. Investir em tecnologia para se aumentar a produtividade sem a necessidade de ariri novas áreas é uma das soluções mais plausíveis, mas que parece travar nos gabinetes dos burocratas em Brasília.

Falar da Amazônia é fácil, encarar suas hostilidades e desafios é o grande problema.

Punir os desmatadores com rigor também é uma boa solução. Mas as multas milionárias aplicadas pelo Ibama aos grandes fazendeiros se perdem nos corredores dos tribunais, enquanto o pequeno continua sendo fortemente reprimido, levando-o a mergulhar ainda mais na pobreza. Assegurar valores competitivos de fato aos produtos madeireiros e não-madeireiros manejados de forma sustentável também assegura a competividade do extrativismo vegetal, ante lucratividade rápida e fácil do boi.

Estas são soluções de conhecimento amplo, mas que se emperram na má vontade política de nossos representantes, boa parte deles financiados pelos velhos grupos que querem manter a Floresta Amazônica como os quintais de suas mansões. Que esta crise hídrica leve à elite pensante do centro-sul a cobrar ações mais enérgicas de Brasília, pois neste país só a voz rouca das ruas paulistanas parecem ser ouvidas. É melhor se agir agora antes que a Amazônia vire, logo mais breve, apenas em imagens salvas no Google. Frear o desmatamento garantirá mais água na Cantareira e o fim de cálculos enfadonhos para sabermos em quantos Pacaembus caberia a floresta desmatada no último mês.

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