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terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O velho no novo

Ao olhar a lista de secretários para o segundo mandato de Tião Viana (PT) percebe-se a crueldade praticada pelo tempo –sobretudo na política. Neste campo, quanto mais o tempo passa, mais a liderança precisa se agarrar ao que há de mais velho e retrógrado para se sustentar. Já perto de completar 20 anos no poder, o petismo acreano sabe bem o que é isso. Enfrentando eleições a cada pleito mais acirradas, o partido recorre ao loteamento de cargos públicos entre os mais diversos segmentos sociais; até mesmo aliar-se ao que antes era considerado a escória da humanidade.

Alguns dos escolhidos por Tião Viana representam bem esta velha e nova prática. Não há nomes novos, somente algumas mudanças de posição. Aqueles que podem ser tidos como novidade na verdade sempre estiveram operando no mundo longe dos holofotes da opinião pública. O cidadão não poderia esperar uma reviravolta de 360 graus no primeiro escalão do governo.

Talvez o anúncio mais ilustre tenha sido de Francisco Nepomuceno, El Carioca, para a secretaria de Relações Institucionais. Ele apenas assumirá de fato o que vinha fazendo de direito. Desde 1999 ele é o responsável pela condução de todas as relações políticas do Palácio Rio Branco com os movimentos sociais e as demais instituições do Estado. Os sindicalistas mais antigos os conhecem bem.

Sempre foi o homem forte dos governos petistas e comanda com maestria o PT. Gabriel Gelpeck sair do desconhecido mundo do segundo escalão é uma recompensa por ter deixado o PSB de joelhos para o PT no primeiro e segundo turno, com a campanha da presidenciável Marina Silva (PSB) quase que ao deus-dará.  Gelpeck é um técnico competente e bem preparado para assumir uma secretaria.

Pode ser que sua nomeação seja a única que levou em conta o fator político mais competência. O resto é tudo a pura acomodação. Fico a me questionar o que um policial federal fará numa secretaria de Habitação. Tomara que pelo menos Jamyl Asfury, como bom agente da lei, contenha a sangria das denúncias de corrupção reveladas na Habitação por meio da operação G7, realizada pela....Polícia Federal.

O fiel PCdoB ficou tão pequeno quanto o seu resultado nas urnas. Se antes Edvaldo Magalhães comandava a pasta mais poderosa da gestão petista, agora terá que se contentar em fiscalizar as obras do Ruas do Povo. O último chefe do setor que tinha pretensões políticas com o programa de pavimentação acabou ficando 40 dias preso pela PF.

Edvaldo tem uma tarefa nada fácil: primeiro é combater a execução de obras de péssima qualidade, e segurar o ímpeto de empreiteiros por contratos e mais contratos –cujas obras feitas se vão com as primeiras chuvas. Eleitoralmente o comunista pode sair fortalecido pelos impactos destes investimentos em saneamento e asfalto, mas precisará de toda ferocidade stalinista para enfrentar velhos vícios no Depasa.

A missão do primeiro escalão do ”novo” governo de Tião é não repetir os erros do anterior. Muitos secretários se achavam mais importantes do que o próprio governador. Mostrar serviço para o cidadão e não só o chefe é o maior dos desafios. S assim tivessem agido o time velho, Tião não teria uma reeleição tão apertadíssima.

Outro desejo é que o próprio governador não patrocine a maléfica ideia de que seus secretários usem toda a estrutura de suas pastas para assegurarem vitórias nas urnas em 2018. Nos 12 anos de governo Jorge Viana e Binho Marques esta sempre foi uma prática rejeitada. Misturar a administração pública com interesses eleitoreiros não é a melhor das gestões republicanas, há sempre o abuso de poder.

A prova? Dos três secretários de Tião Viana candidatos em 2014, dois se elegeram. O terceiro por muito pouco também conseguia uma cadeira no Parlamento. Que a partir de agora as secretarias sejam geridas não com vistas às eleições de 2018, porém objetivando sempre a busca de resultados por serviços públicos de excelência para quem de fato é o patrão: o contribuinte.
 

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