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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

As águas que não se foram

Os acreanos, coitados, nem bem saíram do pesadelo da grande cheia do rio Madeira no primeiro trimestre do ano e já se veem às voltas de uma nova crise de desabastecimento. Mesmo com todas as mais brilhantes mentes científicas a serviço do governo dizendo que um transbordamento igual ao último só daqui a 100 anos, o fato é que as águas estão a poucos metros de, novamente, invadir a BR-364, deixando o Acre isolado do restante do país.

Uma nova crise é eminente. Precavidos, os empresários já preparam o estoque de alimentos para não sofrerem prejuízos –sendo que muitos ainda pagam a conta de março. A continuar neste ritmo, até as famílias vão se precaver, preparando-se para mais uma vez passar a madrugada em postos de gasolina, e pagando numa botija de gás preço de ouro.

Não sou um expertise no assunto, mas a impressão que fica é a de que as usinas do Madeira têm sim influência neste novo comportamento do rio. Quem mora em Porto Velho diz que, na verdade, as águas da cheia nem vazão tiveram, o que explica o elevado nível em que se encontra para o mês de dezembro. O pior é que as chuvas na Amazônia ocidental estão só no começo.

Como o rio não voltou ao seu leito normal, com grandes regiões ainda inundadas, a tendência é a expansão deste volume para outras áreas, incluindo a BR-364, única via de ligação do Acre com o Brasil. Pode ser que o inverno amazônico deste início de 2015 não seja tão rigoroso quanto o passado.

Pelo menos aqui no Acre temos presenciado um inverno seco e muito quente –ao menos no meu bairro. O maior susto foi do rio Tarauacá, mas logo voltou a adormecer. Os movimentos da natureza são imprevisíveis, apesar de alguns dizerem o contrário. E nós precisamos nos adaptar às mudanças e suas  consequências.

Uma das medidas seria elevar o nível da rodovia que ficou submerso. Passado quase um ano nem mesmo a recuperação do asfalto foi tida como prioridade, ficando meses e meses na terra batida. A construção da ponte sobre o Madeira na região do Abnã terá que levar em conta estes fenômenos, ou caso contrário ficará inutilizada nas cheias.

O governo Dilma precisa recompensar Acre e Rondônia pelos impactos causados por hidrelétricas feitas para suprir a demanda energética do Sul maravilha, enquanto os amazônidas se veem submersos por um rio transfigurado pela engenharia humana. O que não pode novamente é o centro da capital de um Estado ficar alagado, nem outro Estado faltando os alimentos mais básicos na mesa das famílias.

O território brasileiro há séculos deixou de ser somente uma faixa litorânea definida pelo Tratado de Tordesilhas. Pensar a nação em todo o conjunto de sua múltipla diversidade é o dever de qualquer governante a ocupar o Palácio do Planalto.    

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