Páginas

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

E lá se vai 2014...

No Brasil e no Acre 2014 era visto, no campo político, como o ano das mudanças. O povo queria modificações, pois foi para isso que multidões invadiram as ruas do país em 2013. As manifestações abalaram quem estava no poder, independente do partido vermelho ou azul. Está certo que se assegurar na belíssima estrutura de poder não foi fácil para muitos, com um custo (financeiro) bem elevado.

Os marqueteiros precisaram dar um show de pirotecnia para maquiar as velhas rugas das lideranças que se apre4sentavam como o novo ou renovado, mas que no fim representam o mais do mesmo. Porém, mesmo com todo este sentimento de mudança, nada ou quase nada se alterou no espectro político brasileiro e acreano. Como já dito, a manutenção da continuidade dos mesmos grupos em alguns casos foi sufocante.

Em outros, como São Paulo, os tucanos não tiveram dificuldades em caminhar para quase 30 anos de dominação. E olha que o Estado centralizou os movimentos populares mais intensos, com confrontos violentos entre manifestantes e as forças policiais. Geraldo Alckmin (PSDB), enfrentando a pior crise de seca no Estado, nadou de braçada na Cantareira e o PT ficou com a poeira.

No plano nacional Dilma Rousseff (PT) surfava tranquila (mais do que Gabriel Medina), trabalhando para ser reeleita no primeiro turno. Aécio Neves (PSDB) não emplacava e patinava nos 19%; o neófito Eduardo Campos (PSB) era a melhor das surpresas para o eleitor, porém sem estrutura sofria com os 10%. Um trágico desastre aéreo lhe tirou a vida em 11 de agosto. O Brasil ficou abalado, comovido. Uma jovem liderança partia no meio de sua trajetória.

Para o PT restava um velho fantasma oriundo de suas fileiras: Marina Silva (PSB). A emoção em torno da morte de Campos levou a ex-senadora acreana a liderar as pesquisas. Era o fim da reeleição de Dilma e o tiro de misericórdia em Aécio. Mas Marina começou a sofrer uma série de ataques pelo petismo e pelo tucanato. Sua imagem foi arruinada e ela não sobreviveu ao peso da máquina –não foi nem para o segundo turno.

Dilma se reelegeu numa das eleições mais acirradas desde a redemocratização. Pelo Acre, Tião Viana (PT) não teve o melhor dos anos. Seus apoiadores sopravam aos quatro cantos que daria uma surra nos adversários. Falavam numa tal 90% de aprovação popular, que não resultava em transferência de votos.

A oposição, bem a oposição...

Continuava em seu tradicional confronto de egos. Tião Bocalom (DEM), patrocinado pelo senador Sérgio Petecão (PSD), deixou o PSDB por não aceitar a candidatura de Márcio Bittar (PSDB) ao governo. Seus auxiliares mais próximos plantaram em sua cabeça que o governador em 2015 seria ele. Falavam numa onda “Bocalina”, que ninguém o derrotaria.

Acreditando nisso, e numa relação azedada e de tolerância com Bittar, tomou de assalto o Democratas, foi para a disputa e ficou do tamanho que lhe é peculiar. Foi obrigado a fazer campanha para Bittar. Mesmo tendo a maior aliança de partidos de oposição, o tucano não conseguia desbancar a máquina petista.

Um dos principais pecados de sua campanha foi o marketing. A importação do marqueteiro e da cabeça pensante da campanha não falavam a linguagem do telespectador. O eleitor acreano com seu bairrismo não se identificava com ela. Havia a apresentação de propostas, programas e projetos, mas faltava o quê da definição.

Tião Viana tinha uma estrutura de governo e partidárias organizadas e muito pesadas. Sua vantagem econômica o favorecia na cooptação de lideranças da oposição insatisfeitas no ninho tucano.

Além do mais, alguns bicos tucanos falam em abandono do senador eleito Gladson Cameli (PP) na campanha de Bittar na reta final. Há o relato de pressões do vianismo sobre a família Cameli, já que o apoio da jovem liderança estava favorecendo e muito a oposição,  provocando a eminente vitória de Bittar.

Porém não se pode negar o empenho de Gladson nesta empreitada. Assumiu para si a coordenação no Juruá e nas regiões de Tarauacá e Feijó, o que não impediu a expressiva votação do petista Viana nelas. O fato é que teoricamente a oposição ganhou mais um senador. E esta posição Gladson precisará comprovar ao longo do mandato.

Ficar só correndo atrás de solucionar o problema da nossa conexão com a OI ou a Vivo, e se vangloriar de destinar emendas às prefeituras não está à altura de um mandato no Senado Federal.

O eleitor espera ter posições mais claras de Gladson, já que em 2015 a crise do “petrolão” se desenvolverá com mais intensidade. Com seu partido, o PP, envolvido até o pescoço no episódio, é de se esperar uma atuação dele em defesa da ética e no combate aos desmandos na coisa pública.

Talvez a eleição de Gladson tenha sido a que melhor representou o sentimento de mudança do cidadão, e ele precisa atender a esta expectativa. Se assim não for, ficará como mais um eleito apenas pela oposição para atender a um interesse pessoal, e depois jogar no lixo o que vendeu para o eleitor.

Está certo que sua campanha se deu em cima de frases de efeito montadas pelo marketing, onde não sabíamos se era um candidato de oposição ou situação. Mas por estar no campo oposicionista o eleitor votou nele para não dar tantas forças ao grupo no governo.

Este foi 2014 em nossa política: tudo como dantes no quartel de Arantes. O status quo tremeu mas não caiu. O governo fazendo com maestria o uso da máquina num Estado pobre e altamente dependente da economia do contracheque, e a oposição desperdiçando, outra vez mais, o elevado sentimento de mudança do eleitor, que se vê frustrado e obrigado a manter tudo isso que está aí...



Nenhum comentário:

Postar um comentário