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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Preservação do látex

Foto: Agência de Notícias do Acre
A fábrica estatal de preservativos em Xapuri, Natex, (distante 190 km de Rio Branco) tinha como principal objetivo em sua fundação ser a pioneira no mundo na produção de camisinhas tendo o látex extraído de seringais nativos como sua principal matéria-prima, diferenciando-se, assim, de suas concorrentes. Todo este projeto começou a sair do papel em 2008.

A meta se mostrava ousada diante de uma atividade em decadência e que desperta pouco interesse entre os seringueiros que ainda tentam sobreviver através do extrativismo vegetal.

Outro fator que poderia vir a prejudicar o propósito inicial era (e é) a dificuldade de acesso aos seringais mais distantes por conta do “inverno amazônico”, como é chamado é período chuvoso da região, que varia de outubro a abril. São estes dois fatores que hoje fazem a Natex ter que recorrer mais ao látex retirado de seringais de cultivo do que de seringueiras nativas no coração da floresta.

Para garantir a essência de sua marca, a Natex faz estoque do látex de seringais naturais durante os meses de chuva. Mesmo com o leite da seringueira de plantio sendo maioria em algumas épocas, a diretora-executiva da Natex, Dirlei Bersch, afirma que a presença de látex nativo ainda é a grande diferença da estatal acreana, que tem o Ministério da Saúde como seu único cliente.

Por ano a empresa consome 300 toneladas de látex, para uma produção de 100 milhões de camisinhas. Dentro da fábrica são 170 empregados diretos. Para manter seu estoque de seringa natural, a Natex tem cadastrado 700 seringueiros dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes. Mas a produção é comprada de, no máximo, 500.

Para estimular os seringueiros a manter a lida do corte das árvores, o governo estadual paga um subsídio considerável pelo quilo do produto. O desembolso chega a R$ 4,40. A empresa, como contrapartida, paga outros R$ 3,60, chegando a um total de R$ 8. Para especialistas, somente este preço atrativo é capaz de incentivar os moradores da reserva a continuar fornecendo a principal matéria-prima da Natex.

A fábrica tem um concorrente peso-pesado: os bois que são bem mais vantajosos –com lucro mais alto e rápido – quando comparados com a extração do látex ou a coleta da castanha –que respondem a determinados períodos do ano.

O principal desafio da fábrica de preservativos nos próximos anos será se manter competitiva e atrativa para o morador da floresta ainda investir nos métodos tradicionais de corte da seringueira, fornecendo a base da principal diferença da Natex no mercado.

Se assim não for, a estatal, instalada no berço da luta de Chico Mendes pelo desenvolvimento sustentável, poderá ser mais uma entre tantas a ter os seringais plantados como seus fornecedores do insumo.

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