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sexta-feira, 7 de agosto de 2015

6 de Agosto

No banco das escolas e nos livros de História os acreanos aprenderam desde cedo um dos momentos mais marcantes neste mais de um século de formação do Estado. Aproveitando-se da ressaca dos militares bolivianos pela comemoração da independência do país vizinho, um exército maltrapilho, formado por seringueiros fez um ataque surpresa à base da Intendência da Bolívia em Xapuri, em 6 de Agosto de 1902, dando início ao que ficou conhecida como Revolução Acreana.

Esta força paramilitar da floresta era liderada por um brasileiro, o gaúcho José Plácido de Castro. Ele fez uso de seus estudos de estratégia de guerra nos tempos que em serviu ao Exército para conduzir os rebeldes pela então Amazônia boliviana. A versão romântica da história afirma que o movimento se deu pela fadiga dos brasileiros que moravam nesta região da cobrança de impostos exorbitantes e pela opressão do governo de La Paz.

Por conta disso, foram dados os passos para libertar a região da Bolívia e transformá-la em Brasil. Daí a versão de que o acreano é o povo que optou e lutou por ser brasileiro. Mas por trás desta historiografia oficial há um lado nem sempre escancarado. O interesse maior não era o patriotismo dos seringueiros nordestinos, mas dos grandes barões da borracha que queriam se livrar da sobrecarga tributária da Bolívia, ampliando, assim, seus negócios e lucros.
 
A região do Acre era uma das mais ricas na produção do látex, a matéria-prima da borracha. Grandes seringais garantiam a retirada do produto enviado para os mercados dos Estados Unidos e da Europa, que viviam o apogeu da indústria automobilística.

O Acre tinha o que eles queriam: a borracha para produzir os pneus dos carros que substituíam as carroças com sua tração animal por veículos com motores à combustão. O “ouro verde” da Amazônia, como ficou conhecida a borracha (outros a chamam de ouro branco ou ouro preto), trazia milhares de dólares aos coronéis e seus seringais.

Enquanto isso, os seringueiros continuavam na miséria das colocações. Acordavam de madrugada para tirar o látex da seringueira e à tarde produzir a borracha que só podia ser vendida ao patrão. Impulsionados pelos coronéis de barranco, estes seringueiros pegaram seus rifles usados para a caça e para se livrarem de animais perigosos enquanto cortavam a floresta para “sangrar” a seringueira, eles formaram um exército para expulsar os bolivianos.

Mesmo sem nenhum preparo militar, mas dominando a floresta, enquanto os soldados da Bolívia, a maioria vinda da região andina, estes seringueiros, há 113 anos, deram os primeiros passos para a construção daquilo que hoje é o Acre.

A guerra na selva durou pouco mais de cinco meses, com a Bolívia se rendendo e tendo início os acordos diplomáticos para o encontro da paz. A Revolução Acreana iniciou em 6 de agosto de 1902 e foi concluída em 24 de janeiro de 1903.

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