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quinta-feira, 21 de maio de 2015

Os companheiros haitianos

Enquanto os companheiros petistas do governo do Acre, governo federal e da prefeitura de São Paulo não chegam a um acordo, a novela da imigração haitiana parece nunca ter um capítulo final. No meio desta queda-de-braço os imigrantes são quem pagam o preço. Após uma viagem desgastante cortando a América e sofrerem todo tipo de violência por parte das quadrilhas de coiotes, ao entrar no Brasil se deparam com a ineficiência dos gestores públicos tupiniquins.

Aqui se precisa reconhecer o trabalho humanitário desenvolvido pelo governo Tião Viana desde o começo desta problemática. O Acre nunca se recusou a oferecer o mínimo de dignidade para estas pessoas. Porém, para um Estado pobre e de pouca oportunidade para os seus habitantes, já não há mais de onde tirar recursos para ajuda-los.

E o governo federal –mesmo com seu aporte muito modesto – continua a dar as costas para uma responsabilidade que é sua. Tião Viana precisa ficar prostrado de joelhos para que Brasília tome para si uma atribuição única e exclusiva da União. Além de fazer pouco caso com o problema, o Planalto ainda deixa o Acre de mãos vazias.

A melhor solução, óbvio, é enviar os imigrantes para o principal centro econômico do País: São Paulo. É lá onde estão as melhores oportunidades de emprego e salários. O Acre não tem o que oferecer a estas pessoas, que querem apenas uma chance de recomeçar suas vidas após o drama do trágico terremoto de 2010.

Se a poderosa prefeitura da maior cidade brasileira reclama que o envio dos haitianos compromete sua rede de assistência social, o que dirá do Estado do Acre, cujo orçamento é até cinco vezes menor do que a gestão paulistana. Os imigrantes precisam de oportunidade, e não podem mais ficar em condições subumanas no abrigo de Rio Branco, e numa terra já falida e cujo principal empregador (o governo) está bastante inchado com seus apoiadores eleitorais.

Dilma Rousseff, quando de sua visita ao Acre em março, recepcionou os haitianos levados pelos petistas para a entrega de casas populares, dando as boas vindas, e afirmando que no Brasil receberiam toda a acolhida. Mas, assim como todo o discurso oficial daquele dia, tudo ficou no papel. Se o governo federal continuar a dar os ombros para a imigração haitiana, o Brasil precisará ser denunciado a organismos internacionais de direitos humanos.

Quem sabe assim Brasília saia de sua inércia.

Pesos e medidas 
Não encontra consistência a declaração do porta-voz Leonildo Rosas de que o Ministério da Justiça tenha interrompido o envio dos imigrantes por pressão da prefeitura de São Paulo. Primeiro que não é um prefeitura qualquer, mas do maior colégio eleitoral do Brasil. Rosas tentou menosprezar uma prefeitura do porte da paulistana. Mas a decisão da interromper o transporte aconteceu na noite de reportagem publicada na “Folha de São Paulo” comunicando a nova remessa dos imigrantes para a cidade. O fato não agradou a prefeitura petista, que procurou o aliado governo federal.  

Bom progresso 
Notícia mais cômica na política acreana não poderia haver senão a da retirada da assinatura do deputado do PP, Nicolau Júnior, do pedido de criação da CPI da BR-364. O gesto provou a completa falta de habilidade e traquejo político do parlamentar e de seu partido. Era óbvio que o requerimento seria rejeitado pelo governo na votação em plenário, ficando o desgaste para a base governista. Contudo, o PP, que já enfrenta crise de credibilidade por sua posição dúbia, (“oposição” aqui e base de Dilma lá) acaba por naufragar de vez pelas bandas do rio Juruá.

Bom progresso II 
A atitude soa estranha já que, em entrevista recente, a principal estrela do PP, o senador Gladson Cameli, afirmou não temer investigações no governo de seu tio Orleir Cameli (1995-1998), quando da construção da rodovia. É óbvio que Nicolau Júnior não tomou a decisão de retirar o apoio sem o aval de seu grande padrinho político, o senador Gladson. É essa a oposição acreana que tanto critica o PT, mas acaba fazendo o mesmo. E o eleitor que pensou ter votado numa determinada linha de atuação política acabou levando o gato por lebre.

Escapatória 
O que vem salvando o PP no Acre, diga-se de passagem, é seu bom deputado Gherlen Diniz, de Sena Madureira. O parlamentar tem uma excelente formação intelectual –antenado com os assuntos da política internacional até os buracos em seu reduto eleitoral – é um político que dá a cara a tapas e tem posicionamento. Em tempos de crises de representatividade, são de homens públicos nesta linha que a sociedade precisa, e não daqueles que vivem de clichês e chavões, querendo agradar a Deus e ao diabo.

Aquartelados 
O militar Wherles Rocha (PSDB) poderia ser um bom deputado federal não fosse seu estilo metralhadora desgovernada de atuação na Câmara. Sua acusação de superfaturamento no preço das passagens para os haitianos chegarem a São Paulo não tem consistência, além de ser pobre. O governo não está comprando bilhetes para os imigrantes, mas fretando ônibus exclusivos que cortarão o País sem interrupções ou “escalas” em rodoviárias. Além do mais, o dinheiro é do Ministério da Justiça, que exerce controle rígido sobre cada centavo pago.

Acerto tucano 
Os tucanos acertaram bem ao levar para seu ninho o ex-deputado federal Henrique Afonso; aquisição melhor não poderia ter acontecido. Acerto melhor seria ainda mais se ele fosse candidato a prefeito não em Cruzeiro do Sul, mas na própria capital Rio Branco. Afonso é uma liderança política que cairia fácil no gosto do eleitorado rio-branquense, e não enfrentaria nenhuma dificuldade em ameaçar a reeleição do prefeito Marcus Alexandre (PT), mergulhado nos buracos da cidade.

Caos urbano 
Por falar em prefeito, está na hora de Marcus Alexandre emitir decreto para a capital entrar em estado de calamidade pública tamanho o abandono de Rio Branco. Não há dúvidas de que a capital precisa de uma intervenção federal urgente diante da falência da administração petista do técnico e gestor, que caminha para tirar de Mauri Sérgio (PMDB) o título de pior prefeito da história de Rio Branco. Não é o mínimo exagero fazer tal comparação, nem tampouco afirmar que Alexandre não demora muito para superar seu rival.

Sede nova 
O Ministério Público Federal está prestes a se mudar para seu novo endereço, no complexo administrativo localizado às margens da Via Verde. Após décadas funcionando numa casa no centro de Rio Branco, a instituição vai para um prédio de arquitetura moderna e funcional. A sede antiga ficará para servir como a delegacia da Polícia Rodoviária Federal, que deixará para trás a divisão do velho imóvel com o Dnit, na BR-364.        

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