A menina de cabelos pretos amarrados e com roupas de menino
sentada numa banco de cimento se diverte ao ver um imponente pastor alemão ser
treinado por seu policial. A pequena bola verde (talvez recheada com cocaína)
que quica num vai e vem na mão daquele homem com uma farda rajada, parece ser o
último tesourou para o cão disciplinado e treinado para encontrar drogas.
Logo mais ele verá aquela bolinha ser escondida entre as bagagens
descarregadas de um moderno Airbus-A319, que pousou há poucos minutos no Aeroporto
Capitão Aníbal Arab Fadul, em Cobija, a capital do departamento boliviano de
Pando.
Num espaço de poucos metros quadrados e coberto com telhas,
onde a única refrigeração pode ser a fina chuva que começa a cair na Amazônia
boliviana, os passageiros daquela confortável aeronave ficam num
empurra-empurra por suas malas, colocando os pés na lama. Mas antes, o pastor
alemão precisa farejar algo suspeito nelas.
Aquelas onde ele para é um sinal, o policial as retira e
coloca naquele mesmo banco de cimento onde estava sentada a menina.. O
obediente cachorro é como as máquinas de raio-x em aeroportos mais modernos, e
a esteira onde as bagagens perambulam é a capacidade do passageiro de furar o
bloqueio daquelas pessoas que não desgrudam o olho da mala.
Esta é a rotina no aeroporto de Cobija. O pouso daquele
moderno avião que opera nos céus dos mais ricos países do mundo é o mesmo onde
ali crianças disputam a chegada dos carros.
Ajudar o passageiro a carregar a mala pode render algumas
moedas de pesos bolivianos ou de real dos brasileiros que a cada fim de ano vão
buscar seus filhos estudantes de medicina em Santa Cruz de la Sierra ou
Cochabamba.
Vigiar o carro também rende a estes “chicos” um trocado que
certamente vai servir no sustento da família. O aeroporto de uma das cidades
mais pobres do mais pobre dos países da América do Sul não é simples, não
oferecendo nenhum luxo. Os ventiladores no teto substituem o ar-condicionado.
Na parede uma caixa de som serve como o aviso sonoro para a chegada ou a
partida do voo.
O homem que usa o banheiro masculino para urinar é facilmente
visto do lado de fora. Ao lado, três caixas d´água estilo Brasilit garantem o
abastecimento. No estacionamento, o outdoor patrocinado por um banco recepciona
o visitante: Bienvenido a Cobija (Gracias a Ti somos El banco que une toda
Bolívia).
Logo colado está outra placa, esta com uma foto do presidente
Evo Morales anunciando a construção do novo aeroporto, este com arquitetura
moderna e certamente acabando com aquele desconforto no desembarque.
As malas no carro e o regresso se faz necessário. O trânsito
é confuso, os semáforos por pouco não colidem com os aviões tamanha a altura. O
motorista brasileiro desatento certamente passará o sinal vermelho. Se não
causar um acidente pode ser flagrado por um policial e ter que desembolsar uma
nota de R$ 50 para pagar a propina.
É hora de atravessar a ponte e voltar para o Brasil. Do lado
de cá os buracos permanecem nosso cartão de visita, e haitianos continuam a
perambular por Brasileia, no Acre.
A Impressão é que a miséria não escolhe nacionalidade, cor,
credo ou convicção política. Nos buracos da estrada brasileira outra certeza: a
corrupção e a incompetência fazem suas vítimas nos dois lados da fronteira.
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