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sábado, 23 de fevereiro de 2019

O milagre da soja!


Roberto Duarte (de costas) com os deputados originais da oposição (Foto: Sérgio Vale)



Nestas duas últimas semanas que passaram, o neófito deputado estadual Roberto Duarte (MDB) se destacou como a grande surpresa na legislatura recém-empossada. Eleito na mesma coligação e pedindo voto para Gladson Cameli (PP), o emedebista tem dado muito mais trabalho ao governo do que os oposicionistas PT e PCdoB, juntos.

Roberto Duarte é até motivo de brincadeira entre os opositores. “Só faço aquilo que meu líder mandar”, diz o petista Daniel Zen. “Estou sem ter o que fazer aqui”, completa o líder do PCdoB, Edvaldo Magalhães. Como toda brincadeira tem um quê de verdade, esse caso não é exceção.

O primeiro embate do líder do governo, Gerlen Diniz (PP), não foi com Magalhães ou com Zen, mas com Duarte. Para quem chegou agora, o comportamento do deputado pode ser visto como, de fato, uma surpresa; porém não o é.

Roberto Duarte tem ido para o confronto com o Palácio Rio Branco apenas porque não teve seus interesses atendidos. Primeiro, chegou a almejar a presidência da Assembleia Legislativa. Como motivo evocava o MDB ter eleito a maior bancada da Casa, e o partido ter saído como o campeão de votos para o Parlamento.

Gladson Cameli pediu que ele desistisse da idéia para a cadeira de presidente ser ocupada por Nicolau Júnior (PP). Em troca, recebeu a garantia de que ficaria com o poderoso cargo de primeiro-secretário; não ficou nem com um, nem com o outro. Daí começou a rebelião.

Passou a se apresentar como deputado independente, ao invés de ir oficialmente para o outro lado. Com isso ganhou a alcunha de “oposição genérica”. Desde o começo dos trabalhos na Aleac tem tido um mandato parlamentar exemplar, como a população espera de todo os seus representantes.

Tem cobrado o governo, criticado as falhas e reivindicado soluções. Assim foi sua atuação enquanto vereador; porém, lá ele de fato era oposição, já que a prefeitura era comandada pelo PT. Agora o jogo é diferente. Oficialmente ele é aliado do governo Gladson Cameli, e seu partido está muito bem acomodado com os almejados cargos comissionados.

Mas pelo que se viu na sexta, 22, as farpas de Roberto Duarte com o Palácio Rio Branco foram moídas pela máquina colheitadeira na fazenda de soja que os dois visitaram, acompanhados da ministra Tereza Cristina (Agricultura). Os dois trocaram afagos e sorrisos, deixaram as mágoas de lado e, juntos, foram colher os bons frutos (ou soja) da boa relação entre MDB e PP.

A próxima semana no Parlamento será crucial para se ter uma noção do novo comportamento de Roberto Duarte na Casa. Se a bandeira branca será erguida, é um claro sinal de que seus interesses (naturais na política) foram atendidos pelo governo. Se não, a oposição continuará com mais esse reforço (instável).

Na realpolitik tudo funciona assim: ou se é governo ou se está na oposição. O centro é só o local da cidade está o prédio da Aleac. O parlamentar é independente até quando suas barganhas não são atendidas. A oposição é para poucos e corajosos. Vide o caso daqueles eleitos em outubro pela Frente Popular, e que agora são Gladson Cameli desde criança. 

Pelo menos este fardo Roberto Duarte não carregará - só o de não se definir como governista ou oposicionista, o que vai deixando seu eleitorado muito, muito confuso. 
   

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