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quinta-feira, 3 de março de 2016

Um Godzilla na Amazônia

El Niño “Godzilla” afeta norte da Amazônia com seca prolongada



No norte da Amazônia uma estiagem incomum causa uma seca prolongada. Em quatro cidades do Estado do Amazonas, a população ribeirinha, que depende da navegabilidade dos rios, está sendo obrigada a caminhar longas horas por leitos de igarapés secos e cursos d´água impróprios para a navegabilidade. Grandes incêndios florestais em Roraima comprometem a qualidade do ar em 13 municípios, que também sofrem com a falta de água potável.

No final de 2015, os cientistas já previam a atual condição climática destas regiões. Segundo eles, o responsável é um fenômeno El Niño mais intenso, chamado de “Godzilla” – em alusão ao nome do monstro gigante que se tornou popular nos filmes japoneses – mas que serve para chamar a atenção do poder público para os danos socioambientais e econômicos trazidos pelo fenômeno.

No último dia 18, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou um alerta da Organização Meteorológica Mundial (OMM) dizendo que o super El Niño atingiu seu ápice nos meses de dezembro e janeiro, mas o fenômeno climático deve se dissipar apenas em junho. Até lá, o El Niño continuará provocando enchentes extremas em algumas partes do mundo e secas extremas em outras, como acontece no norte da Amazônia.

O fenômeno climático El Niño é caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico. O ecólogo Philip M. Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), foi um dos cientistas que previram um quadro difícil para o clima amazônico com o atual evento.

“Esse ano tem um El Niño grande porque já aumentou 3º Celsius a temperatura da água na superfície do Oceano Pacífico, talvez até bem mais do que isso. E é este aumento que dá o gatilho para a formação do El Niño. Além de ser mais quente [em comparação com os fenômenos passados] a temperatura do oceano subiu mais rapidamente do que os outros, e é isso que nos leva a pensar que seria o El Niño Godzilla, muito destrutivo. O El Niño tem provocado grande seca na parte norte da região e mais chuvas na parte sul da Amazônia”, disse Philip Fearnside, que em 2007 foi um dos cientistas que recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC).

No final de 1997 e início de 1998, o clima de Roraima foi afetado por um super El Niño. Segundo pesquisas dos cientistas Philip Fearnside e Reinaldo Imbrózio Barbosa, o fogo consumiu uma faixa estimada em 38.144 km2 em Roraima, incluindo tanto floresta e savana (lavrado). No Pará, os incêndios destruíram 15 mil km2 de floresta, segundo estudo da geógrafa e pesquisadora Ane Alencar, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Em outro biênio, 2002-2003, também sob influência do El Niño mais intenso, foram devastados pelo fogo de 2.000 a 2.500 km2 de florestas em Roraima, diz Philip Fearnside.

Conforme o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão da ONU, as mudanças climáticas (nas chuvas, ventos e na temperatura) podem ter causas naturais, mas há 90% de certeza que elas são consequência da atividade humana. O aumento da temperatura média global da superfície da Terra, chamado de aquecimento global, está relacionado com a emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), diz o estudo.

Na grande seca no biênio 1997-1998, segundo Philip Fearnside, a maior parte dos incêndios florestais e, posteriormente a emissão de GGE, teve relação direta com a ocupação irregular e os desmatamentos.  “Na Amazônia, você tem cada vez mais gente usando mais fogo, mais estradas penetrando a floresta e também muito mais exploração madeireira que contribuem para estes grandes impactos”, disse Fearnside.

De acordo com o ecólogo do Inpa, as secas recordes dos rios amazônicos de 2005 e 2010 não tiveram relação com o El Niño, mas com o aquecimento das águas do Atlântico Norte.

“A grande seca de 2005 atingiu, inclusive, o Acre com grandes incêndios florestais. Esse foi um outro tipo de seca provocado pelo aquecimento do Atlântico, mas ninguém, dentro da memória humana,  lembra de incêndios florestais no Acre, diferente de Roraima”, disse.

Sobre o futuro, o cientista Philip Fearnside é categórico ao afirmar que as mudanças climáticas vão contribuir para novos “Godzillas” surgirem. “As mudanças climáticas estão levando a mais El Niños grandes, não que seja mais frequente ter algum El Niño, mas os grandes são mais frequentes. O aquecimento global tem culpados, a culpa de cada país e de cada pessoa”, afirmou.

“As pesquisas têm mostrado que o aquecimento global está provocando estes grandes El Niños. E isso vai continuar acontecendo no futuro, e com grandes impactos na Amazônia”, completou Philip Fearnside


Veja matéria complet na agência Amazônia Real 

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