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sábado, 12 de março de 2016

Resex Chico Mendes, 26 anos

Reserva Chico Mendes completa 26 anos de existência 

A reserva extrativista batizada com o nome do principal líder seringueiro da Amazônia, Chico Mendes, completa neste 12 de março 26 anos de existência. Criada quase dois anos após o assassinato de Chico Mendes, em dezembro de 1988, a reserva é um dos símbolos da luta do movimento seringueiro na região contra a invasão dos “paulistas” que, apoiados pelo governo militar, chegavam ao Acre para transformar a floresta em grandes pastagens para o gado.

Passadas duas décadas desde a transformação do que sobrou de floresta em unidade de conservação, a reserva ainda enfrenta a pressão do agronegócio. No interior dos seus 970.537 hectares, o boi divide com o extrativismo a principal fonte de sobrevivência das famílias.

Em artigo produzido para o blog, a chefe da Reserva Chico Mendes, Silvana Lessa, avalia que as riquezas florestais podem ser um grande ativo econômico capaz de gerar renda e riqueza para as comunidades extrativistas, reduzindo o impacto de atividades predatórias sobre a área.

“No dia que as pessoas entenderem os benefícios que a floresta promove -alimentos, madeira, óleos, recursos genéticos, resinas, essências, manutenção dos mananciais hídricos e muitos outros -, vamos ter muito mais resultados positivo”, diz a responsável pela reserva.

Aproveitando a data, o blog republica (clique aqui) matéria produzida, em 2015, sobre os 25 anos da Resex, mostrando como a entrada do manejo madeireiro comunitário tem impactado a vida dos moradores. À época, entrevistei Raimundo Mendes, o Raimundão, primo de Chico e braço direito do líder seringueiro nos movimentos de resistência nos seringais de Xapuri durante a década de 1980.


Resex Chico Mende, a floresta e suas oportunidades.

Por Silvana Lessa 





Em 12 de março de 1990 através de Decreto Presidencial, criou-se a Reserva Extrativista Chico Mendes, símbolo da luta dos seringueiros em defesa da Floresta Amazônia. São 26 anos buscando, no esforço coletivo, promover o desenvolvimento social, econômico e ambiental das duas mil famílias que residem nos seus quase um milhão de hectares.

Grandes iniciativas têm sido promovidas na Resex Chico Mendes ao longo destes 26 anos, a grande maioria destas busca consolidar iniciativas sustentáveis a partir dos produtos florestais. Este tem sido o trabalho das cinco Associações Concessionárias (lideradas pelos moradores) e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), com apoio de muitas instituições governamentais e não governamentais.

Recente estudo realizado pela empresa Andiroba, com apoio do Fundo Brasileiro para Biodiversidade  (Funbio), apontou ocorrência de cacau nativo em toda a Resex Chico Mendes, reafirmando a riqueza da floresta  e suas oportunidades.

O cacau nativo é considerado pelo mercado um produto nobre bastante apreciado pelas grandes empresas de chocolate no mundo, com boas experiências de trabalhos realizados em outras unidades de conservação, a exemplo da Resex Arapixi (em Boca do Acre, Amazonas).

O cacau na Resex Chico Mendes vem se destacando como uma alternativa econômica a ser desenvolvida pelos moradores do rio Iaco, em Sena Madureira, e do Seringal Floresta, em Xapuri, trabalho que é desenvolvido com apoio da Universidade Federal do Acre (Ufac) e a Cooperfloresta (Cooperativa de Produtos Florestais do Acre).

Outro importante projeto que esta sendo trabalhado para atender a demanda de mercado  são as sandálias de borracha, a qual a Associação de Moradores e Produtores da Resex Chico Mendes de Assis Brasil está buscando parceria para implementar uma fábrica para produzir sandálias a partir do látex natural, com estampas e designer que façam a diferença, contribuindo com a economia das famílias extrativistas e valorizando os produtos florestais.

Os problemas enfrentados pela unidade nos últimos anos, são gerados pela grande pressão antrópica (desmatamento, retirada ilegal de madeira e caça predatória),  em razão de ser a reserva um lugar de oportunidades.  A Resex é um grande fragmento de floresta que margeia a BR-317, trecho que interliga os municípios de Rio Branco e Assis Brasil, concentrando uma imensa área de oportunidade para extração de produtos; infelizmente parte destes de forma ilegal, a exemplo da madeira.

No entanto, a castanha tem sido a força econômica das famílias no interior da unidade. Há famílias que chegam a superar a renda anual de mais de R$ 30 mil só com a castanha. Podemos afirmar que 40% da castanha produzida no Acre são originárias da Resex Chico Mendes.

As reservas extrativistas têm sido sempre o tema de discursão quanto a sua função e papel na manutenção e conservação das florestas. Os resultados positivos são sempre contestado por grupos ou discursões que são contrárias às iniciativas implementadas, a exemplo do Manejo Florestal Comunitário.

O ICMBio tem promovido o monitoramento da biodiversidade nas unidades de conservação objetivando avaliar, a médio e longo prazo, as condições dos ecossistemas existentes. Este conhecimento vai contribuir nas tomadas de decisões. Na Resex, o monitoramento da biodiversidade tem sido instalado, inclusive em atividades, a exemplo do manejo florestal comunitário, avaliando os impactos da atividade do manejo madeireiro sobre a floresta.

No dia que as pessoas entenderem os benefícios que a floresta promove -alimentos, madeira, óleos, recursos genéticos, resinas, essências, manutenção dos mananciais hídricos e muitos outros -, vamos ter muito mais resultados positivos. Um belo exemplo é a nascente do Riozinho do Rola, responsável pelo abastecimento de água em Rio Branco, que está no interior da Resex Chico Mendes.

Os sucesso das reservas extrativistas vão além da Chico Mendes.  São 89 em todo Brasil, e no Acre ainda temos a Resex Cazumba Iracema, Riozinho da Liberdade e Alto Juruá, cada uma delas com suas especificidades, porém com um objetivo em comum: proteger os meios de vida e a cultura das populações tradicionais.

*Silvana Lessa é chefe da Reserva Extrativista Chico Mendes 

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