Páginas

quinta-feira, 18 de maio de 2023

A Política na Floresta

 A distopia de Bocalom

 


Por Fabio Pontes

A entrevista concedida por Sebastião Bocalom (PP) ao colega jornalista Luciano Tavares, no podcast Papo Informal, consolidou as suspeitas de que o prefeito de Rio Branco é um indivíduo que vive uma vida totalmente fora da realidade. Mesmo já entrando para a história como um dos piores prefeitos da capital acreana, ele acredita ser um “grande gestor”. Mesmo com as ruas e avenidas destruídas por crateras, e após ter colocado sucatas para fazer o transporte coletivo, Bocalom chegou ao cúmulo do ridículo de comparar Rio Branco com cidades europeias. Talvez de tanto viajar à Europa, ficando vislumbrado com o glamour do Velho Mundo, Bocalom acredite viver numa Copenhague amazônica.  


É por essas e tantas outras razões - como se achar no direito de pintar o patrimônio público municipal na cor de seu partido, o PP - que eu afirmo que Sebastião Bocalom vive num universo particular chamado Bocalândia. Ele não é prefeito de Rio Branco, mas de Bocalãndia, onde ele acredita ser um senhor feudal, um tirano, onde todos e todas devem se curvar aos seus caprichos e delírios. Ele acredita viver num reino encantado, com fadinhas e duendes vivendo no alto das luminárias pintadas de azul. Onde a Branca de Neve e os sete anões atravessam as ruas (esburacadas) com faixas de pedestre pintadas de azul.    

Logo mais, Bocalom vai retirar a estátua do herói da Revolução Acreana, Plácido de Castro, da praça em frente ao prédio da prefeitura (pintado de azul) para colocar uma dele, com a placa “Grande Gestor”. Quem por ela passar e não se prostrar, estará sujeito à guilhotina em praça pública.

Saindo da distopia de Bocalom e vindo para a nossa dura realidade, o fato é que a capital acreana nunca passou por dias tão terríveis como os atuais - com exceção daquele trágico período pré-1999. Além de termos uma gestão municipal desastrosa, o governo estadual, atolado em escândalos de corrupção, só piora a situação. Apesar de serem do mesmo partido e se identificarem com o bolsononarismo reacionário, Bocalom e Gladson Cameli são adversários políticos. Só vivem para um puxar o tapete do outro nas disputas eleitoreiras.

Prefeitura e governo não sentam à mesa para discutir os problemas da cidade. Não há ações conjuntas entre eles por ações que melhorem a qualidade de vida dos rio-branquenses, assegurar infraestrutura nos bairros, políticas para a juventude, de economia solidária, de combate à violência, de cultura (aí já é pedir muito, né?) O prefeito em seu universo distópico só pensa nas eleições de 2024; o governador em se ver livre da Polícia Federal.

Oficialmente, não é dever do governo estadual executar responsabilidade do município, mas como Rio Branco é a capital do estado e toda a estrutura dos três Poderes aqui está, é dever, sim, do Executivo também zelar pelas boas condições urbanas.

Aqui vivem os acreanos de todos os demais 21 municípios. Aqui é a porta de entrada para quem vem ao Acre, seja para negócios ou fazer um retiro espiritual nas aldeias indígenas, um ecoturismo naquilo que ainda sobrou de floresta. Portanto, também é dever do governo estadual cuidar da infraestrutura da capital. A melhor impressão é aquela que fica.

Até antes de Gladson Cameli ser eleito governador, os antigos ocupantes do Palácio Rio Branco exerciam um pouco a função de “prefeito” da capital. Ao assumir o governo, uma das primeiras medidas de Cameli foi passar para a prefeitura os serviços de zeladoria exercidos pelo Estado nos espaços construídos pelo Estado, como o Parque da Maternidade, do Tucumã, do Ipê, a Via Chico Mendes. Cameli assim o fez alegando não ser função do governo. Na verdade, não queria assumir responsabilidades, como lhe é peculiar.

Até quando a prefeitura estava sob o controle de Socorro Neri - outra derrotada para o nosso bolsonarismo reacionário - as coisas funcionavam. Com Bocalom no poder, a primeira coisa que fez foi pintar todos estes espaços de azul. Destruiu a infraestrutura da Via Chico Mendes, e seu sonho é tirar o nome do líder seringueiro da avenida.

Como bom bolsonarista que é, sua missão é destruir a história e a memória do povo acreano. Aliás, estudar a História é algo que não passa pela cabeça dessa gente. Segundo Bocalom, Neutel Maia, o fundador de Rio Branco, era um político qualquer. Lógico que Neutel Maia é irrelevante, pois quem fundou Bocalândia foi … Bocalom.

Em 2024 temos eleições municipais. Que a sociedade rio-branquense tenha se livrado um pouco mais do ódio ao PT, o antipetismo doentio que tanto nos afunda neste abismo. Não podemos mais viver no fundo deste poço azul. Não podemos mais viver de memórias dos bons tempos que tínhamos - e não faz tanto tempo assim.

A capital acreana não merece viver dias tão ruins. A oportunidade de fazermos a mudança está chegando. Nosso reencontro com as urnas está próximo. Será a chance de, daqui mais uns anos, olharmos para trás e vermos que Bocalândia foi apenas uma distopia, um pesadelo. Que venham dias melhores…

 

 

Apoie o jornalismo crítico e independente da Amazônia a sobreviver.
Colabore! Faça um pix:

Aponte para o QR Code


 


 



Nenhum comentário:

Postar um comentário