Páginas

sábado, 7 de dezembro de 2019

A resistência do legado

Ângela Mendes evita apoio de governo Cameli e faz vaquinha para a Semana Chico Mendes 


Ângela Mendes: governo Cameli atua no sentido de destruir legado de Chico Mendes (Foto: Márcio Pimenta)


A ativista ambiental e filha de Chico Mendes Ângela Mendes decidiu evitar o apoio do governo Gladson Cameli (PP) na organização da semana dedicada à luta e ao legado do líder seringueiro, a Semana Chico Mendes. Para ela, seria incoerente buscar ajuda de uma gestão que despreza os valores deixados por seu pai na busca pela preservação da floresta, defensor de modelos econômicos sustentáveis.

Neste primeiro ano de Gladson Cameli à frente do governo, o Acre voltou a registrar níveis recordes de desmatamento após 15 anos de relativo controle. Apoiado pelos setores mais conservadores da sociedade acreana – sobretudo os ruralistas – a gestão Cameli tem no grande agronegócio sua principal promessa de “destravar” o desenvolvimento econômico do Acre.

O total de área desmatada dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes aumentou 208% em 2019, quando comparado com 2018. No ano passado, o desmatamento acumulado no interior da unidade de conservação foi de 24,58 km2. Agora, em 2019, é de 74,48 km2. Este é o pior resultado da série histórica iniciada em 2008 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Além do desdém do atual governo para com as políticas ambientais do estado, os parlamentares da chamada bancada da motosserra iniciaram ofensiva legislativa para rever o tamanho da unidade de conservação idealizada por Chico Mendes, o que beneficiaria os maiores desmatadores e infratores da Resex.

A Semana Chico Mendes ocorre entre os dias 15 e 22 de dezembro. O líder seringueiro foi  assassinado em 22 de dezembro de 1988, durante uma tocaia no quintal de sua casa, em Xapuri, quando se preparava para tomar banho. Chico Mendes ganhou fama internacional por sua luta em defesa da floresta quando a Amazônia era destruída para a abertura de fazendas de gado entre as décadas de 1970 e 1980.

Um dos movimentos de resistência mais conhecidos foram os empates, quando seringueiros formavam correntes humanas para impedir o avanço de jagunços e máquinas contratados para derrubar a floresta.

“Entendemos que não há o menor cabimento de dialogar com o governo que aí está. Primeiro, porque a gente quer que seja uma semana de fato da sociedade civil, independente de qual governo seja. Segundo, por causa desses desastres, destes retrocessos, o governo [Gladson] não tem de forma alguma atuado para manter, para defender o legado do Chico. Muito pelo contrário. O que temos visto é no sentido de fragilizar”, diz a filha do líder seringueiro. 

Segundo ela, a Semana Chico Mendes ocorre desde 1989 – com registros oficiais a partir de 1993 - como forma de manter vivo o histórico de luta de seu pai, bem como cobrar a punição de seus assassinos. Recentemente, um integrante do governo Gladson Cameli defendeu, em uma conversa de grupo de WhatsApp, que os mandantes da  morte de Chico Mendes fossem condecorados.

Além da Semana Chico Mendes, desde 2004 o governo do Acre entrou como colaborador e passou a realizar o Prêmio Chico Mendes de Florestania. O objetivo era premiar pessoas e instituições que atuam ou desenvolvem projetos para a preservação da floresta. Com a gestão Gladson Cameli este evento foi cancelado.

A vaquinha virtual da Semana Chico Mendes se encerra na próxima terça-feira, 10 de dezembro. A meta é alcançar a cifra de R$ 20 mil. Até o momento foi arrecadado pouco mais de R$ 4,8 mil.   






Nenhum comentário:

Postar um comentário